CAPITULO 4 – BICHO FOLHARAL

Conto de Puckerman como (Seguir)

Parte da série TAWAPAYÊRA

“Ele vai te caçar, ele vai te pegar! Te condenar, o espírito da mata!”

Nossa jornada continuava á todo vapor, depois de nos recuperarmos daquele terrível incidente, nos dirigimos para a próxima aldeia, a Pataxó. Estávamos á um dia de viajem, já animados com a possibilidade de ser aquele o local onde Serpentária se encontraria, afinal, ela gosta de sangue de guerreiros e naquela aldeia os maiores nomes se encontravam. Lendas espalhadas por toda a Amazônia contava os grandes feitos dos guerreiros de Pataxó, corajosos, destemidos, valentes e cheios de fé. Estava muito ansioso para conhecer de perto o sobrevivente da busca pela rastejante, era ali onde residia. Quem sabe não me ajudasse com alguma coisa para localizar a criatura? Tinha fé.

No começo da tarde, quando atravessávamos o rio Sucuriú, começamos a ouvir um tremendo barulho. Eu e Jaci nos escondemos e começamos a procurar de onde aquele som vinha, já temia que fosse algum canibal dizimando índios perdidos. Ao nos aproximar do local, percebemos que havia vários homens ali com motosserras, correntes, armas de fogo e tratores. Eles estavam derrubando ás árvores que dão vida á nossa floresta, pertencentes ás grandes indústrias. Não tinha percebido a expressão que Jaci fez quando viu aquele desmatamento, foi de ódio. Eu tenho certeza que vi seus olhos mudarem de cor para um vermelho escarlate, ou foi impressão minha. Quando escutamos um tiro e vimos um caçador aparecer com alguns animais mortos para levar e retirar sua pele, minha companheira explodiu e correu em direção á eles, por sorte eu fui mais rápido e a segurei.

-Me larga! Eles têm que pagar Adam! Isso não é certo, matar os pobres animais assim... Eles merecem a morte!

-Ei, calma! Eles são muitos, não daremos conta!

-Não importa, não vou deixar que esses monstros destruam a mãe natureza e seus filhos! Não vou!

-Calma, eu tenho um plano... Nós dois não conseguiremos detê-los, mas eu sei quem pode sozinho!

-Quem? – Jaci me perguntou curiosa.

-Bicho Folharal!

-Ora, vamos! Todos sabem que é lenda! Não seja tolo...

-Não! Ele é real... Quando eu tinha seis anos eu o vi ajudando meu pai! E ele me ensinou a chama-lo!

-E como faremos isso?

-Espere...

Comecei a fazer um círculo na terra e a desenhar a figura do guardião das matas, depois me ajoelhei e fiz o chamado:

“Embalo de rede, norte das canoas boia o peixe-boi nas águas do rio. Bicho Folharal cochila na mata, vai o currupira amarra o caçador com a corda”.

-É esse o chamado? Que sem sentido...

-Psiu! Fica quieta e observe!

Uma rajada de vento começou a surgir trazendo com sigo nuvens pesadas e negras. Os homens que estavam descontraídos se assustaram quando a imagem de um bicho da altura de um jequitibá se formou na frente deles. Seu corpo era feito de troncos, folhas e galhos, seu rugido soava como um trovão, forte como um mogno.

Bicho Folharal deu a sentença dos caçadores e avançou até eles destruindo tudo o que eles possuíam. Todos correram, mas os galhos do guardião os prenderam enquanto sues braços afundava os equipamentos e tudo que era arma nas mãos dos humanos. O destino daqueles homens não poderia ser outro a não ser desaparecer na floresta.

Jaci observou tudo em silencio, mas pude perceber que ela estava aliviada. Eu a entendo, também fiquei enfurecido com aquele desrespeito com a nossa natureza. Depois que Bicho Folharal desapareceu por entre as matas, eu e minha companheira de jornada voltamos a seguir o nosso caminho. Fomos pra Pataxó.

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