CAPITULO 3 - PRIMATAS DA NOITE

Conto de Puckerman como (Seguir)

Parte da série TAWAPAYÊRA

"Abomináveis ceifadores de almas rasgam as entranhas da mata, o terror Karajá"

Canibais, devoradores de homens, ferozes, seres renegados, primatas da noite rasgavam as entranhas da mata em busca de nós. Eu e Jaci corríamos feito loucos sendo perseguidos pelos abomináveis ceifadores de almas. Aquelas criaturas eram cruéis e monstruosas, comiam pessoas e incendiavam tudo o que havia ao redor. Eram os renegados por Tupã, condenados á vagar pela escuridão da mata, com seus corpos negros e obscuros.

Por algumas vezes minha companheira de viajem caiu, e eu tive que carrega-la. A sorte é que eles não eram muito rápidos, mas eram ágeis o suficiente para rasgar sua pele e devorar até sua alma. Meu corpo doía, estava cansado, com sede, faminto. A perseguição ainda continuava e eu me via caindo a qualquer momento e já estava quase para desistir. Meu pé tropeçou em um grande ganho que estava estirado ao chão, perdendo totalmente o equilíbrio, caí e depois disso minha vista escureceu, vi apenas Jaci parando de correr e me estendendo a mão. Estávamos mortos os dois e eu não conseguiria cumprir minha missão.

Acordei já ao anoitecer, minha cabeça doía e não estava enxergando quase nada. Quando finalmente me situei, observei Jaci sentada em um tronco de arvore desenhando algo no chão. Quando ela percebeu que eu havia acordado veio ao meu encontro.

-Você está bem?

-Eu... Acho que sim! Mas... O que houve? Onde estão os canibais?

-Eles se foram... Está tudo bem!

-Mas como?

-Eu não sei direito, mas acho que o meu colar nos salvou!

-O seu colar? Como?

-Quando você caiu eu gritei e uma luz branca se iluminou daqui de dentro assustando os abomináveis!

-Onde você arrumou esse colar?

-Era de minha mãe! Quando eu nasci ela morreu, mas deixou isso para mim...

-Parece ser abençoado por Tupã!

-Pode ser... Mas vamos? Está anoitecendo e precisamos atravessar o Rio Negro antes de chegar na próxima tribo!

-Sim, vamos!

Começamos a caminhar, fomos calados a maior parte do tempo, eu ainda estava surpreso por estar vivo graças á um objeto abençoado, afinal não foi tão má ideia trazer aquela indiazinha comigo. Quando chegamos no rio uma cena assombrosa me surpreendeu.

"No rio sombrio as águas conduzem as cinco canoas sobrenaturais rumo ao além"

Um cortejo das aparições daqueles que não voltam mais, Inakahuel emerge das águas, uma criatura monstruosa, que foi despertada para rituais malignos. Na ponta dos barcos adoradores de espíritos, feiticeiros e mensageiros conduzem as embarcações. Um grito ensurdecedor vinha daquela terrível cena: O TSAKAKÁ TE CHAMA, SAI DA ÁGUA!

Nos escondemos e observamos o cortejo se distanciar, quando finalmente estava fora do nosso alcance e de sermos percebidos, atravessamos o rio com uma pequena canoa que estava escondida por entre as árvores e seguimos caminho até a tribo Baniwa que estava bem próxima. Quando chegamos lá encontramos destruição. Desespero na aldeia, índios devorados, corpos mutilados, ossos, trilhas de caveiras, os primatas da noite passaram por ali, abomináveis ceifadores de almas destruíram tudo e não deixaram nenhum sobrevivente. Jaci desabou em lágrimas e entrou em uma oca, eu a segui também horrorizado com tamanha monstruosidade e terror que existia fora dos limites de nossas aldeias. Escolhemos a oca mais afastada e dormimos, já que definitivamente não seria ali que Serpentária estaria escondida.

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