CAPITULO 2 - TRIBOS DO BRASIL

Conto de Puckerman como (Seguir)

Parte da série TAWAPAYÊRA

"Quando o tambor anunciar, estrela que veio pra iluminar a aldeia Tawapayêra"

Com o nascer de um novo dia minha jornada se iniciava. Minha busca por vingança correria todas as tribos do Brasil, se necessário, até encontrar a peçonhenta Serpentária, cobra gigante que havia levado a alma de meu pai o grande pajé Parikás embora. Aquilo não seria fácil, de forma alguma, pois a maldita era mística e poderia ser cobra e se transformar em pessoa ao mesmo tempo.

Diz à lenda que a única forma de reconhecer a fera na forma humana, seria vendo a marca da cobra na pele da pessoa, mas foi algo que nunca nenhum dos aventureiros descobriu, isso porque a lenda também fala que quem conseguir matar a cobra terá os habilidades do animal, incluindo o dom de se transformar em um rastejante. Muitos guerreiros indígenas já saíram em busca da Serpentária, mas os poucos que voltaram, estavam cegos ou loucos.

O maior orgulho do Parikás sempre foi a organização e a obediência dos integrantes da nossa aldeia, eles possuíam muito respeito pelo meu pai. Mesmo com o luto instaurado entre nós, eu deveria partir e cumprir minha missão. Tratei de deixar o Coaraci, nosso menino sol, para liderar e guiar o povo até meu retorno vivo ou morto. Caso eu retornasse morto, Coaraci se tornaria o novo pajé e seria o líder de nossos povos.

Me despedi de todos da aldeia e parti pelas trilhas dentro da mata, guiado por Tupã e com fé nos guerreiros lendários para trilhar comigo a estrada da incerteza. O primeiro local que iria seria a aldeia Apurinã, famosa por seus rituais milagrosos e suas lindas belezas naturais, conhecida também pelas fortes investidas por controle soberano sobre as outras raças que viviam na floresta. Começaria com um peixe grande. Assim que cheguei na aldeia, um jovem veio me cumprimentar e pedir explicações da visita.

-Olá! O que o traz a nossa aldeia? Vejo que é um pajé! Tem o colar dos deuses.

-Sou Adam, estou de passagem! Gostaria de pedir descanso por dois dias em Apurinã!

-Venha me acompanhe! Vou leva-lo até o Xambré, nosso pajé!

Pude perceber nos olhos do rapaz curiosidade, afinal, nenhum pajé abandonava sua tribo e saia em busca de algo na floresta. Essa missão era sempre dos guerreiros, o pajé sendo um líder deveria permanecer na sua tribo e apenas auxiliar os demais.

-Então quer dizer que o pajé está a procura de algo muito grande?!

-Sim, eu estou!

-Poderia me dizer do que se trata?

-É claro, peço apenas que fiquemos a sós!

-Jaú vai trazer um beiju para o pajé que nos visita hoje! Mas não tenha pressa de retornar!

-Sim senhor! – disse o jovem índio que me acompanhou até ali saindo.

-Agora pode me explicar jovem pajé, o que faz por essas bandas?

-Xambré eu estou atrás da Serpentária!

-A peçonhenta? – nesse instante ele soltou seu fumo e se levantou da rede em que estava deitado para prestar atenção na minha história.

-Ela mesma! Meu pai foi morto alguns dias atrás pela maldita e agora eu quero vingança!

-Mas filho, você sabe o que conta a lenda...

-Eu sei! Que nunca nenhum homem conseguiu pelo menos ferir a bicha!

-E mesmo assim pretende continuar?

-Sim pajé, por isso estou aqui! Fiquei sabendo que agora ela passa mais tempo na sua forma humana do que na forma de animal.

-E acha que ela está escondida aqui?

-Não sei, mas tenho que começar por algum lugar! Pode me ajudar?

-Não sei como, mas se tiver algo que lhe sirva é só me avisar!

-Houve algo estranho aqui nos últimos dias? Algum índio sumiu ou voltou ferido? Ou apareceu alguém novo por aqui?

-Mas como ferido?

-Eu consegui, antes da cobra partir levando meu pai, acertar uma lança que passou de raspão no corpo da maldita. Só que depois ela se transformou em espírito e sumiu!

-Entendo... Você sabe que vivemos em um mundo cheio de guerras e aqui não seria diferente! Confrontos com os Tupinambás são constantes e muitos dos nossos voltam feridos, mas se quiser dar uma olhada com o nosso curandeiro talvez ele possa dizer se notou algo diferente!

-Seria de grande ajuda pajé!

-Mas faça isso amanhã, hoje vamos celebrar sua presença na aldeia!

Fiquei muito feliz em saber que poderia contar com a ajuda do pajé para tentar encontrar a Serpentária, só que deveria fazer tudo em segredo para ela não descobrir e fugir. Ao anoitecer acompanhei a celebração que fizeram em minha homenagem e me diverti muito, mas fui deitar cedo para que estivesse pronto para um novo dia.

Conversei rapidamente com o curandeiro que não me ajudou muito, os feridos naquela semana haviam sido poucos e os que ainda estavam doentes e que com muito sacrifício se despiram na minha frente, eu não encontrei nada que pudesse ligar eles á cobra. Como eu disse, não seria nada fácil! Eu já estava me preparando para seguir viajem quando fui surpreendido por uma linda moça que me observava tranquilamente.

-Olá!

-Oi!

-Sou Jaci!

-Sou Adam!

-O pajé viajante não é?

-Sim! O viajante!

-E para onde está indo?

-Em busca de minha missão!

-Entendo... Eu sempre quis sair daqui, sabe? Ir atrás de uma aventura, da natureza, viver algo novo! Mas as índias aqui não tem vez, somos obrigadas a ter filhos e a fazer comidas aos nossos irmãos.

-Realmente isso deve ser bem triste!

-Meu maior desejo sempre foi ser livre e ir atrás da minha própria missão! Eu invejo os guerreiros lendários!

-Tem coisas que mesmo nós pajés, não conseguiremos mudar! Desculpa...

-Me leve consigo, por favor!

-Eu... Eu não posso! Sua tribo precisa de você aqui!

-Eles não estão nem ai para mim, nem ao menos sabem que eu existo! Por favor, é o que eu mais desejo em toda a minha vida! Não destrua o meu sonho...

-Jaci eu sinto muito, mas estou em uma jornada perigosa, uma moça como você atrasaria meus planos!

-Eu sou mais forte do que você imagina!

-Tenho certeza disso... Mas não!

-Tudo bem, mas vai precisar de uma bela índia morena para atrair a Serpentária quando encontra-la!

-Como... Como sabe dela? E como sabe disso?

-Há algum tempo atrás ela se apresentou aqui na forma de um guerreiro muito valente, e eu vi em seu braço a marca da serpente! A única pessoa que conseguiu identifica-la fui eu, por isso digo que eu serei muito importante para você!

-Olha, eu... Tudo bem! Você pode vir comigo! Mas escondido, não quero uma guerra intertribal por sua causa!

-Obrigado! Você não vai se arrepender!

Assim que saí da tribo Jaci me alcançou, ainda não sabia se tinha sido uma boa ideia leva-la comigo, mas como ela tinha sido a única pessoa que já conseguiu ver a marca talvez pudesse ser de grande ajuda. Caminhamos por alguns quilômetros mata adentro, estávamos indo direto para a tribo Baniwa, que estava do outro lado do rio negro. Quando Jaci se queixou de dor no pé e se encostou em uma árvore, escutei um barulho estranho. Ao virar os meus olhos, percebi mais adiante uma legião de canibais, um terror tomou conta do meu corpo.

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