Sim, César, eu aceito!
Parte da série Unconditionally
Chegamos à sala e chamamos a atenção de boa parte dos que lá já estavam, César sentou logo do meu lado no lugar que antes Ju ocupava.
- César, esse é o lugar da Ju! - disse sem paciência.
- Tudo bem Vini, sento atrás de você! - Ju me olhou como que dizendo, “não cria caso”.
- Olha se não é o novo casal top da escola, o viadinho sem graça, e o viadinho encrenqueiro. - gritou Max assim que entrou na sala.
O momento foi tenso segurei César na cadeira, e olhei firme em seus olhos.
- Me chama de viado de novo, pra ver se não quebro tua cara, idiota! - César berrou socando a mesa, enquanto eu o segurava.
- Opa, deixa eu ir pro fundo que a bicha tá estressada! - debochou Max.
Logo em seguida Gabriel e Rodrigo chegaram também, Rodrigo me cumprimentou com um aceno, e Cesar o observou todo tempo.
- Que festa ontem cara, mas o que deu em você pra defender o viadinho do dono dele. - pude ouvir Max falar para Rodrigo.
- Cara deixa de ser trouxa! - Rodrigo bufou.
O professor de português entrou na aula, sentia-me num ambiente tenso, estava sempre na defensiva, e meu pé continuava incomodando, talvez eu devesse retornar ao médico.
A duas aulas de português demoraram mas acabaram, era hora do intervalo, e a primeira coisa que César fez foi me chamar para a nossa tão esperada conversa.
- Vamos conversar, na quadra II eu conheço um cantinho tranquilo! - ele sorriu para mim.
Apenas assenti com a cabeça.
- Ju, nos encontramos na aula. - disse pra Ju.
- Claro Vini, se precisar estou no celular. - ela olhou desconfiada para César.
- Ela não vai mesmo com a minha cara. - César resmungou.
- Não tem motivos, né? - disse sarcasticamente.
- Vem vamos! - César pegou na minha mão.
Saímos em direção à quadra, chegando lá sentamos no topo das arquibancadas, César estava nervoso, ele apenas segurava minha mão, e olhava em direção a quadra.
- Vai começa com suas perguntas, eu falo o que tenho pra falar quando você terminar. - ele não olhava para mim.
- Em primeiro lugar, o que nós somos? Em segundo você me ofendeu ontem, ofendeu minha amiga hoje, arranjou briga ontem, me deu um comprimido que eu nem sei o que era, e além de tudo tem um ciúmes descontrolado. Por fim que é você?
- Bom meu nome é César Cavallieri, tenho 18 anos. Não! Nunca fui reprovado, é que às vezes precisava sair da escola, por motivos que um dia eu prometo contar, e aí acabava ficando infrequente. Não curto esse mundinho fútil da escola. Sim te dei um comprimido, mas era só um analgésico com cafeína. Eu te devo desculpas, por ontem, fui um idiota, prometo tratar sua amiga com respeito, e só isso, pois não gosto dela. E por último, eu não sei explicar o que aconteceu quando te vi, eu simplesmente senti! Não vou mentir, senti tesão, vontade de te pegar... cara essa tua bunda! - ele sorriu. - Mas não foi só isso, algo mais me fez ficar obcecado a ponto de ir atrás de você no banheiro, sem nem mesmo saber se você ia sentir o mesmo. Só quando te beijei, é que percebi que eu era correspondido. Enfim, depois de tudo isso, com todos os erros e falhas, se você aceitar, eu quero muito te fazer feliz, e ser feliz! Aceita namorar comigo? - ele finalmente olhou em meus olhos.
Eu estava surtando, como assim? Eu nem sabia se era mesmo gay, e já ia me assumir dessa forma. E minha mãe? Uma coisa era certa ela não poderia saber de nada, pelo menos por enquanto. O fato era, que problemas e dúvidas a parte, eu não poderia ficar inerte ante a tudo o que César acabara de dizer, aquilo era o mais fofo, que alguém como César poderia ser, ai aquele biquinho... Ele mexia comigo, e não importava se eu era gay, hetero, bi, ou qualquer outro desses rótulos que a sociedade nos obriga a colar na testa, eu o queria, queria amar e ser amado, desejar e ser desejado, já tinha passado tempo demais sendo invisível, era minha hora de ser feliz, minha resposta não podia ser outra.
- Sim, César, eu aceito! - meus olhos estavam marejados.
- Acabaram as perguntas é! - ele sorriu e partiu pra cima de mim, num beijo que parecia ter conectado nossas almas. - Agora sim, você é só meu! - César parecia orgulhoso, de sua atitude.
- Só seu! Mas você precisa me prometer que vai aprender a se controlar, controlar sua impulsividade. - disse com as mãos envoltas em seu pescoço.
- Eu prometo, vou fazer de tudo para não te decepcionar. - ele estava diferente naquele momento.
Resolvemos não ser tão ostensivos, na escola, César até então era hetero, e eu nem sabia ao certo, optamos por não mentir, mas sim por sermos discretos. Saímos da quadra e encontramos a Ju indo para a sala de aula, César cumpri sua promessa.
- Julia, desculpa ter sido um idiota com você. - ele parecia tranquilo.
- Não esquenta, eu sei que você é assim com todo mundo. - todos rimos.
- É sério, eu estava mesmo perturbado. - ele disse tímido a ela.
- Fica tranquilo! Se o Vini acredita em você eu também acredito, conheço ele há uns dois dias, mas é coisa de vidas passadas, sabe? Que merda é essa, eu não entendo nada de vidas passadas. - Julia gargalhou, fazendo com que ríssemos junto.
- Eu não entendo de vidas passadas, mas considero você como uma irmã, nunca tive uma amiga assim. Na verdade nunca tive amigos. - falei baixando os olhos.
- Não fica assim meu amor, você agora tem a mim, e a Julia. - César passou a mão no meu rosto, e me deu um selinho no canto da boca.
Enquanto caminhávamos em direção à sala de aula, pude perceber que quando as pessoas dizem que tudo na vida tem um momento certo para acontecer elas tem razão! Há uns dois ou três dias atrás, eu estava esperando ficar mais velho, trabalhar, sair de casa, envelhecer e morrer. Hoje eu quero aproveitar cada minuto da minha adolescência, descobrir coisas novas como a festa de ontem, amar incondicionalmente, sem medos, nem preconceitos, e por incrível que pareça, quero que tudo passe muito devagar.
A aula de matemática passou incrivelmente rápido, e com a ajuda do César, que parece se dar muito bem com a matéria, eu e a Ju, acabamos rapidinho os exercícios. Juntei minhas coisas e fui acompanhado por Julia e César até a saída.
- Vou indo, ainda tenho que ir para a parada! - disse desanimado.
- Quer que eu peça pro Josué (motorista), te levar? - perguntou Ju.
- Não, Julia, agora eu levo ele todo dia pra casa! - César segurou minha cintura.
- Como pretende me levar gênio? - perguntei sem entender.
- Ué no meu carro! - ele sacudiu as chaves que acabara de tirar da mochila.
- Eu hein, que muleque metido! - Julia riu dando um tapinha no ombro de César.
Ele rapidamente apertou um botão do chaveiro, e as luzes de um Hyundai Veloster preto piscaram do outro lado da rua. Foi quando Rodrigo apareceu atrás da gente.
- Vini, eu percebi que você tá meio que mancando, quer que eu te leve pra casa novamente? Afinal a culpa foi minha. - ele sorriu, e seus olhos verdes brilharam contra o sol.
- Quem te disse que você, podia chamar ele assim? E que história é essa de “a culpa foi minha”, o que tu fez com ele? - César estava irado novamente.
...