3. Imprevisível

Conto de Patch Cipriano como (Seguir)

Parte da série Soul Rebel

JEFFRIBEIRO - Obrigado pelo comentário, e pode ficar tranquilo, pretendo ir até o fim com essa série.

***

(3. Imprevisível)

Thiago me olhou friamente. Seu olhar era mortal, assassino. O fitei com a mesma intensidade mas não pude manter o contato visual, eu simplesmente não conseguia quando se tratava de Thiago. Seus olhos eram como um buraco negro que sugava tudo mas não devolvia nada. Era impossível olhar para Thiago e não se sentir indefeso.

Encerrei o contato visual recuperando minha imunidade e arrastei Diana para longe dali. Ela não perguntou nada e achei melhor assim. Não saberia o que responder. Conversamos um pouco, e assim que o alarme tocou Diana e eu seguimos para a sala de aula.

(...)

- Muito bem gente - Dizia um animado professor Gustavo - Já se passou a primeira semana de aula, e a mordomia acabou. Diana?

Diana olhou para Gustavo com seriedade. Ela havia trocado de lugar, e agora sentava ao meu lado na carteira dupla.

- Sim professor? - Respondeu Diana.

- O que é preciso para poder inocentar ou culpar alguém de um crime? - Perguntou Gustavo.

- Provas contra ou favor da pessoa em questão. - Diana respondeu com convicção.

- E como é que conseguimos essas provas... - Gustavo passou o indicador pela sala, parando em mim. - Ethan.

- Sondado o indivíduo em questão. - Respondi.

- Quero que diga com suas palavras.

- An... Investigando. - Falei, mas pareceu uma pergunta.

- Investigando. - concluiu Gustavo - Muito bem, aposto que você tem um motivo para estar sentado ao lado de Diana, certo? Em uma semana, vocês já puderam se conhecer bem não é mesmo?

Diana me chutou por baixo da mesa e eu entendi o que ela quis dizer. Gustavo nem imaginava o quanto nos conheciamos. Na verdade, eu e Diana descobrimos uma ligação forte entre nós que juramos não quebrar nunca.

- E é uma pena que você conheça tanto essa pessoa que está ao seu lado. - Continuou o professor - Por que a familiaridade quebra todo tipo de senso investigativo. As provas de que Diana é culpada de assassinato podem estar bem à sua frente, mas você não vai querer entrega-las. Por isso, a partir de hoje vamos quebrar a familiaridade.

Eu tinha um mal pressentimenteo sobre onde aquele assunto acabaria, mas esperei que Gustavo concluisse.

- A partir de hoje Ethan, você e Diana não são mais parceiros de aula, assim como Thiago e Jean, Larissa e Danielle também não são. Na verdade, quero que o aluno que se senta do lado direito da carteira dupla passe para a carteira de trás, e o que se senta na última venha para a primeira.

Diana ficou inconformada, mas ela não podia ir contra as ordens, correr o risco de perder a bolsa seria frustrante para ela. Diana pegou a mochila rosa e passou para a carteira de trás enquanto eu a olhava sorrindo. Olhei para frente novamente e observei meu novo parceiro de aula se levantar sem vontade alguma da cadeira e sentar-se ao meu lado. Aparentemente, Thiago estava gostando daquela ideia tanto quanto eu.

- Okay, todos em seus lugares? - Thiago varria a sala com o olhar para verificar - Então tudo bem. A tarefa do dia é sondar seu novo parceiro. Quero um relatório com as características, personalidades, hobbies... Enfim, tudo o que puder descobrir sobre seu novo parceiro.

Escrevi "Thiago Summers" no topo da folha e o olhei. Ele já escrevia na folha dele, e não era pouca coisa. A folha já estava quase completa, e eu quis ver o que ele estava escrevendo sobre mim. Dois minutos ao meu lado não o davam o direito de pensar algo sobre mim.

Estiquei o pescoço o máximo que minha coragem permitia, mas Thiago escondeu a folha abaixo do seu braço.

- Acho que você deve fazer a própria redação. - Falou sem ser muito arrogante.

- Ah, sim. - Falei destacando uma folha nova do caderno - Como prefere que fique seu nome? Summers ou Vittiello?

Thiago pareceu pensar um pouco, mas concluí que aquilo era gozação com a minha cara. Muito engraçado.

- Apenas Thiago. - Ele respondeu.

Escrevi "Thiago Vittiello" e o olhei com um olhar desafiador. Thiago sorriu calorosamente por apenas um segundo, mas já foi suficiente para causar um choque térmico em mim, já que eu estava acostumado com um olhar profundo e gélido. Meu coração parou por alguns segundos, e concluí que ele me dava medo.

- Tem algum hobbie? Alguma tarefa em tempo livre? - Perguntei ainda tentando me recuperar.

- Não tenho tempo livre. - ele concluiu.

- O que é que você faz o dia inteiro então? - Perguntei incrédulo.

- Tiro fotos... - Eu ia escrever fotografia mas ele interrompeu - Espera, ainda não terminei. Tiro fotos de pessoas. Uma em especial. Ele é herdeiro do maior centro de pesquisas clínicas do país, e acha que esse trono vai deixá-lo confortável para o resto da vida, e também para suas futuras gerações. Ele também toca violão e piano e dizem que canta muito bem, mas ele odeia sua própria voz gravada. Interessante, não?

Novamente meu coração parou, mas desta vez achei que ele não voltaria a bater. Thiago estava falando de mim.

- Você não sabe nada sobre mim. - Falei.

- Só o que você mostra Ethan. Você é previsível, tenta manter uma linha de vida segura, tem medo de se arriscar. Sua vida é baseada em planos e controle.

Cerrei os punhos e o fuzilei com os olhos. Ele sabia mais sobre mim do que qualquer outra pessoa, e algo me dizia que ele não estava flertando.

- Todos tentam levar uma vida segura, todos planejam seu futuro, você acha que me impressiona assim Thiago? Vai ter que fazer melhor. - O olhei profundamente, desta vez sem me intimidar com os olhos negros e penetrantes dele - Talvez eu saiba um pouco sobre você também. Um garoto adotado que se sente excluído da família nova. O que aconteceu Thiago? Você foi abandonado? - pude notar o desconforto no rosto dele, mas não parei por aí. Puxei seu pulso, mas paralisei por um segundo. A pele dele era quente e macia - Já tentou se matar Thiago? Ou esse corte no seu pulso é apenas auto-mutilação?

Thiago puxou o pulso com força e o cobriu com a manga da blusa. Ele estava sem reação, mas não perdeu o olhar penetrante e indecifravel.

- Auto-mutilação? Você entende bem disso não é Ethan? Quanto cortes? Dez?

Nove para ser mais exato, mas haviam anos que eu parei de me cortar, e nem haviam mais marcas no meu braço. Como ele soube dos cortes?

O sinal tocou e Thiago sorriu satisfeito. Olhei para a minha folha e vi que ainda não havia escrito nada sobre ele.

- Amanhã recolho as redações. - Disse o professor - E nem pensem em inventar, vou checar a autenticidade de cada redação.

O professor saiu e voltei minha atenção para Thiago. Ele também já estava saindo.

- Espera! - Gritei passando pelos alunos entre mim e Thiago - Ainda não sei o suficiente sobre você.

Respirei fundo e um cheiro desagradável de charuto me fez tossir. Presumi que fosse de Thiago.

- Nem vai saber agora. Tenho algo importante pra fazer. Foi um prazer estudar com você Sr. Fitzgerald. E aliás, errei sobre uma coisa: você não é previsível. Você é surpreendente, intrigante e improvável.

Thiago se virou mas eu segurei seu braço. Ele me olhou e tirou uma caneta do bolso. Escreveu algo no meu braço, mas não deu tempo de impedir. O contato físico ainda me paralisava.

Thiago se virou para sair novamente. Olhei para o meu pulso e para os nove dígitos marcados de caneta vermelha.

- Eu não vou ligar. - Gritei. - Nunca.

- E aí? - Desta vez era Diana - Como é sentar-se com um cara que provavelmente te odeia.

- Excitante. Sexy. - falei rindo, tentando esconder o nervosismo.

Diana riu também e nós fomos para o estacionamento. Na porta da faculdade, Jean vendia ingressos para o baile de boas-vindas dos alunos e professores.

- Vai ser no sábado que vem. - ele falou - Vocês vão aparecer não vão?

Olhei para Diana, mas ela fez cara de desconforto.

- Vamos sim, pode me levar dois ingressos depois? Te mando o endereço pelo facebook. - falei.

- Claro, os professores disseram que vai ter uma surpresa na festa. Vai estar inédita. - Jean parecia animado.

- Espero que seja.

Sorri e levei Diana até Porsche que ela apelidara de semideus. Abri a porta para ela entrar.

- Vamos parar para comer alguma coisa? - Perguntei ligando o carro.

- Não, estou sem fome. - Diana ainda parecia desconfortável.

- Está tudo bem Diana? - A sondei, e pude ver preocupação em seus olhos com um misto de tristeza. - É por causa do baile?

- Também. Já ouviu o que estão falando sobre nós? Sobre mim? - Diana falava com voz de choro.

- O que estão falando? - Perguntei.

- Estão dizendo que estamos namorando. - Diana falou.

- E por que não? - Falei sorrindo mas num tom sugestivo.

- Por que você é gay. - Sussurrou Diana, mas voltou ao tom triste novamente: - e eu não sou uma interesseira.

Minha expressão tornou-se séria. A olhei nos olhos e entendi que ela não achava que eu pensava isso. Eram os outros quem pensavam e espalhavam por toda a faculdade.

- Quem? - Perguntei com raiva.

- Deixa pra lá. - Diana se endireitou e colocou o cinto de segurança.

- Diana, quem? - perguntei novamente.

- Larissa. Mas deixa quieto. Eu não ligo. - Diana começou a gaguejar. - Por... Por favor, não piora tudo.

- Calma. Não vou piorar. Vou resolver. - Falei num tom enigmático, já pensando em como calar a boca dela. - Vamos embora? Tenho que inventar uma redação autêntica.

Voltei ao tom brincalhão de sempre. Às vezes eu era inacreditável, conseguia fingir tranquilidade nas horas mais improváveis. Em outras palavras, nas palavras de Thiago, eu era surpreendente, intrigante e improvável.

Comentários

Há 1 comentários.

Por Ryan Benson em 2014-11-01 21:38:41
Vc disse que pretende ir até o fim dessa serie. Então... cadê vc cara??? Cara, ninguem gosta disso, quando os escritores largam as series aqui, ficam uma eternidade sem postar novos capitulos. Fala serio mermãooo ò.ó Continua logo essa serie... mesmo que tenha poucos comentarios, saiba que tem muitas pessoas acompanhando.