Prólogo - Caídos
Parte da série Imortais (Repostagem)
"Você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida." Willian Shakespeare
Já reparou em como as pessoas se precipitam ao utilizar o ditado "Os meios justificam os fins"? É da natureza humana confundir o início com o fim e vice-versa, por que eles não percebem que é impossível ter um começo sem um fim, e que nem sempre o fim é a sequência de algo que já começou. Afinal, só se começa um romance após o fim de outro, mas nem sempre um romance tem que começar para acabar. O que eu quero dizer é: o fim é apenas o início de um novo fato ou acontecimento, e o meu fim chegou quando eu o conheci.
Talvez você já esteja cansado dessa coisa clichê onde o mocinho se apaixona e vive grandes dificuldades para poder viver com seu grande amor. Mas uma dica: eu não sou o mocinho.
(Canadá, 1997)
Deitei no ombro de meu amado sem dizer uma sequer palavra. Estávamos felizes por termos avançado um passo na nossa relação. Passamos a noite juntos, nos amando e fazendo promessas de amor eterno um para o outro. Eu sabia sabia o quanto era perigoso estar ali, mas o meu egoísmo era maior que tudo, talvez até mesmo do meu amor por aquele homem. Eu precisava dele perto de mim, e mesmo sabendo que tê-lo ali era tão perigoso para ele quanto para mim eu arriscava a nossa existência indo até ele.
- Eu amo você. - Sussurrou meu amado, beijando minha testa.
- Eu também te amo. - Falei beijando o ombro dele - Mas amor...
Eu não sabia como dizer a verdade. Eu não sabia nem mesmo como transformar toda a verdade num grande eufemismo, só sabia que precisava dizer. Precisava alertá-lo sobre o que estava por vir. Para alguns uma notícia boa, para outros uma desgraça sem tamanho. Eu considerava uma.bênção, e ao mesmo tempo uma maldição.
Jhon apenas me ouvia, olhando atentamente a garoa lá fora transformar-se em uma camada fina de névoa. Talvez ele já soubesse da notícia, era extremamente difícil surpreendê-lo, e mais difícil ainda o deixar apreensivo ou sem reação. Ele sempre sabe a coisa certa a fazer.
- Amor... - Falei - Eu estou grávida.
Olhei para Jhon. Seus olhos azuis estavam neutros. Era impossível decifra-lo, mas a prática já me havia ensinado a ler seus pensamentos e a sua expressão.
Jhon colocou uma mão sobre a minha barriga e sorriu. Não foi um sorriso exuberante e explêndido, foi apenas um sorriso. Uma leve arqueada no canto da boca, mas cheia de sedução e sutileza.
- O que vamos fazer? - Perguntei apreensiva. Não podíamos ficar com a criança, ela seria um problema na certa - Não podemos ficar com o bebê.
- E nem vão. - Uma voz horripilante invadiu quarto como um trovão.
- Diego? - Jhon chamou o dono da voz com calma e naturalidade - Que bom que você era aqui.
- Não seja sarcástico, Jhon. - Diego e Jhon falavam com uma tranquilidade que eu não havia encontrado em mim.
Olhei quase desesperada para p Diego, mas ele transmitia uma paz divina, angelical.
- Não houve sarcasmo algum na minha frase. Preciso de um favor seu.
Diego agora olhou desconfiado.para Jhon. Eu estava em sinal de alerta, espreitando a expressão corporal e facial de Diego. Ele estava relativamente calmo, sem nenhuma atitude que indicasse uma possível investida.
Diego se sentou na cama ao meu lado e respirou fundo. Olhou nos meus olhos profundamente e depois olhou para o chão. Uma culpa avassaladora inundou meu coração, me fazendo olhar para o chão também.
- Não posso te ajudar desta vez. Você conhece a profecia. - Disse Diego - Seja racional e não escola a criança.
Jhon assentiu e segurou minha não. Isso significava alerta.
Ergui minha cabeça e endireitei o corpo. Diego não viu, ou fingiu não ver minha posição se modificar. Apertei a mão de Jhon e depois a soltei.
"Não quero que você fique." a voz de Jhon invadiu minha mente, me deixando surpresa. Era incrível que ele ainda conseguisse usar seus dons, mesmo depois de ter caído. O olhei com espanto e admiração, e só então percebi que ele precisava de uma concentração sobrenatural e um esforço inumano para conseguir usar seus dons. "Você vai ter que correr." Concluiu e apertou minha mão.
"Do que você está falando?" Gritei na mente de Jhon "Não vou te deixar aqui sozinho. Não com ele. Você pode até ser forte Jhon, mas não é mais um Arcanjo. Não pode lutar contra Diego". Meu desespero começava a transparecer pelo meu corpo. Eu teria suado se fosse possível
"Fique calma, ele não pode fazer nada contra mim, ainda estou em julgamento" Jhon me lembrou, mas isto não havia me acalmado, apenas ressuscitou medos que eu havia enterrado. E se ele fosse condenado ao inferno? Ou fosse designado a viver trancado e amarrado debaixo da terra, se alimentando de vermes do subsolo, e sem direito à luz do sol e à visitas. "Ane, por favor me ouça: Se você ficar vai estragar tudo, e então eu posso me ferir, ou você vai acabar se ferindo junto com o nosso filho".
Olhei para Diego, que nem suspeitava que Jhon e eu estávamos planejando uma fulga, ou algo parecido com suicídio, se Jhon insistisse que eu o deixasse sozinho.
- Então. - Jhon disse em voz alta - Qual foi o trabalho imposto a você, Diego?
- Impedir a profecia. - Respondeu calmo - Custe o que custar, doa a quem doer.
A frase simplesmente causou um efeito de nitrogênio em mim. Um frio percorreu todo o meu corpo e me fez gelar o coração, um sentimento ruim me fez ter maus pensamentos, mas logo os repreendi. Eu não deixaria Diego encostar um dedo sequer no meu amado, e muito menos no meu filho.
- Você sabe que não vou deixar mão é mesmo? - Jhon perguntou sem alterar seu tom de voz. Aquela tranquilidade toda às vezes me irritava.
- Custe o que custar, doa a quem doer. - Repetiu com convicção.
- Vai ter que me destruir primeiro. - Jhon o desafiou.
- Não ache que eu não tenho permissão para isso. - Diego o alertou - Na verdade Jhon, eu tenho permissão para explodir esse apartamento inteiro se for preciso.
Os olhos verdes de Diego brilharam intensamente, dando a ele uma aparência mais jovial do que ele geralmente tinha. Diego poderia ser considerado bonito à visão carnal e humana. Tem cabelo loiro e liso, olhos verde água, corpo bem definido e rosto de 19 anos (humanos).
- Diego... - Finalmente falei, mas não tinha a mínima ideia do que falar.
- Diga Ane. - Falou ele, com um tom adocicado. Sempre fomos grandes amigos, mas Diego era devoto às Regras Santas, e eu não o culpava.
Diego era o mais novo de nós - foi o último a se tornar um Arcanjo -, mas já teve que suportar grandes perdas. Assim que tornou-se Arcanjo, Diego foi instruído a acorrentar seu melhor amigo no inferno, teve que provocar um acidente humano, e agora estava designado a lutar e ganhar de seu próprio "mestre", aquele que o ensinou tudo o que era preciso.
- Tire minhas asas. - Sugeri - Leve algumas penas e mostre aos Archanjos. Diga que me acorrentou no inferno e me deixe partir. Eu prometo que vocês nunca mais terão notícias minha, nem mesmo da criança.
Diego negou com a cabeça. O clima estava cada vez mais tenso naquele quarto, e eu podia sentir que alguma coisa ruim aconteceria. Um cheiro forte fazia minhas narinas arderem, e eu demorei para conseguir identificar o cheiro. Gás.
Olhei para Jhon, que aparentemente também havia sentido o cheiro forte. Olhamos ambos para Diego. Ele não mostrou nenhuma alteração em seu comportamento.
Meu coração acelerou. Me levantei da cama para ir até a cozinha verificar, mas a porta se fechou automaticamente, sem ninguém a empurra-la. Olhei com desespero para as janelas de vidro, que também se fecharam sozinhas.
"Pronta para colocar nosso plano em ação?" Perguntou Jhon em minha mente.
"Plano? Mas que..."
Jhon segurou Diego pela gola da camiseta branca e o lançou na parede.
- Corre. - Gritou Jhon.
Olhei para todos os lados, sem saber o que fazer ou pra onde correr.
Fui para o único lugar onde eu poderia ir, mas a frase de Diego me fez parar:
- Eu disse que tinha autorização. - Gritou Diego.
Jhon estava sobre Diego no chão, o imobilizando. Jhon o soltou e me olhou com desespero. O corpo de Diego inflamou. Chamas azuis e laranjas dançavam pelo seu corpo. Jhon correu em minha direção e pulou em cima de mim. O impacto me fez ir para trás, e ambos caímos pela janela, décimo segundo andra abaixo.
O gás entrou em combustão, e enquanto caía junto com Jhon pude ver a explosão destruir o apartamento com Diego ainda lá. Algumas lágrimas caíram pelo meu rosto. Jhon me abraçou no ar e pediu para que eu abrisse minhas asas. Obedeci. Minhas asas brancas não podiam ser vistas por humanos. Levei Jhon para longe dali, para longe de tudo, mas eu sabia que os Arcanjos não nos deixariam em paz. Eles viriam atrás de nós e nos perseguiriam.
Percebi então que uma guerra estava formada, e minha última opção era torcer para que o tempo se tornasse meu amigo.
... Aguardem ...
Espero que tenham gostado, obrigado.