Capítulo I - Caídos
Parte da série Imortais (Repostagem)
<Anderson P> obrigado, espero surpreender muito durante esta série.
Capítulo I - CAÍDOS
"Significa que vou lutar pelas coisas que valem a pena, se fizer com que eu me sinta completo. Porque estou batendo em pedras, e levando tiros, estou preparado para perder tudo o que tenho" Show Me Love - The Wanted
(Londres, 2014)
Abri meus olhos desejando não tê-los aberto nunca, ou que pelo menos aquele dia não chegasse tão cedo.
Esfreguei os olhos e sorri para o espelho de corpo pendurado na porta do guarda-roupas. A imagem refletida era bonita, mas era superficial. Um garoto de olhos azuis me fitava de volta, me entregando o mesmo sorriso que eu lhe entregava. Cabelos negros e bagunçados entravam em contraste com a pele pálida do garoto, e ele tentava seduzir-me com seu belo corpo não-malhado porém bem definido.
Sorri para o reflexo e sentei na cama. Ele repetiu meus gestos.
- Gabriel? - Papai chamou do outro lado da porta.
- Humm? - Murmurei.
- Feliz aniversário... - Papai cantarolou.
Sorri e me sufoquei no travesseiro. Papai deu algumas batidas na porta e depois a abriu. Eu não tinha o costume de dormir com a porta fechada, mas decidi que precisava adotar essa manha.
Papai sentou-se na cama e começou a me cutucar, causando cócegas em mim. Me contorci na cama e comecei a gargalhar.
- Sai pai! - Eu gritava já ficando sem fôlego.
O empurrei com o pé e passei para o outro lado da cama. Fiquei de pé em posição de alerta, esperando que ele atacasse, e papai não me decepcionou. Ele avançou mas eu fui mais rápido no contra-ataque. Peguei o travesseiro e acertei papai no peito, que caiu na cama rindo.
- Chega. - Falei sério - Não estou fazendo 5 anos pai.
Papai fez bico e levantou da cama, concordando comigo. Ele se virou em direção à porta, e aproveitei a oportunidade para pular nas costas dele.
Ele correu pelo corredor me fazendo gargalhar, mas arrancou gritos de pavor de mim quando começou a correr pelas escadas. Paramos na cozinha e eu desci nauseado de suas costas.
- Seu idiota. - Murmurei enquanto papai ria.
Sentamos juntos à mesa. Papai com sua habitual xícara de café e eu com minha habitual xícara de chá. Peguei um pedaço do bolo de cenoura e mordi. O bolo provavelmente era em homenagem ao meu aniversário, mas papai sabia o quanto eu odiava comemorações.
Papai era uma versão adulta de mim. Tem olhos azuis, cabelo e barba preta, pele pálida e um corpo escultural. Seu cabelo era mais curto que o meu, um corte básico. Seu sorriso era branco e alinhado.
Papai estava apenas de cueca samba canção cinza, e eu usando apenas uma cueca boxer preta. Tínhamos o mesmo costume de dormir semi-nus em épocas de frio e totalmente pelados em épocas de calor.
Papai tomou um pouco de café e mordeu um pedaço do bolo.
- Podíamos ir ao shopping hoje. - Papai sugeriu.
- Quem sabe depois da aula. - Falei mesmo sem vontade alguma de sair.
- Aula? Gabriel, hoje é o seu aniversário! - Papai me lembrou, e eu fiquei com raiva dele por causa disso.
- Pois é pai, meu aniversário. Isso não significa que eu deveria fazer tudo o que me desse vontade? - Falei irritado - Só por hoje?
Papai assentiu, mordeu seu último pedaço de bolo e saiu da cozinha. O observei desaparecer calmamente enquanto subia as escadas.
De repente minha vontade de comer se esvaiu, e eu repeti o gesto de papai. Às vezes eu me surpreendia em como papai e eu éramos parecidos, tanto fisicamente quanto no jeito de ser.
Subi para o quarto, fiz minha higiene matinal enquanto me banhava e me vesti para o colégio. Eu estava usando uma camisa branca, uma jaqueta de couro aberta e um jeans azul escuro com all star branco.
Papai não estava na cozinha como de costume, então saí sem me despedir. Peguei as chaves do carro e embarquei no meu Audi Q5 preto. Girei a chave, liguei a embreagem, troquei de marcha e pisei no acelerador. Eu não tinha o costume de correr na estrada, mas meus oficiais dezessete anos precisavam de um pouco de adrenalina.
Eu estava a 130km/h, o que me fez chegar no colégio em menos de quinze minutos. Estacionei o Audi e ativei o alarme.
Entrei no colégio com a mesma monotonia de sempre. Ajeitei a mochila nas costas e coloquei as mãos no bolso da calça. Segui para a sala de aula sem pressa, rezando para que ninguém soubesse do meu aniversário.
Entrei na sala, e me arrependi de ter ido ao colégio. Mariana - minha melhor amiga - segurava uma caixa com embrulho dourado nas mãos e sorria perversamente. Sorri nervoso para ela.
- Feliz aniversário! - Gritou e pulou para me abraçar.
Aceitei seu abraço, mas senti meu pescoço arder de vergonha. Mariana estendeu o presente quando finalizou o abraço.
- Obrigado. - Falei baixinho.
- Disponha. - Disse tão baixo quanto eu.
Eu não era o garoto popular do colégio, e nem queria ser. Eu odiava ser o centro das atenções, e pior ainda, odiava ter que dar atenção a alguém.
Levei a caixa até a carteira dupla, onde eu e Mariana sentavamos lado a lado e coloquei a caixa na bolsa. Mariana sentou-se na minha mesa e pegou um cupcake que estava escondido embaixo da sua mesa. Ela começou a cantarolar Parabéns Pra Você bem baixinho, só para que nós ouvissemos.
Mariana deu uma mordida no cupcake e depois me entregou. Também mordi o doce, e assim revezamos até que acabasse. Mariana deu a última mordida.
O professor de Matemática entrou na sala e começou a lecionar sua matéria, surpreendentemente chata. Mariana e eu passamos a aula inteira cochichando coisas ora sem nexo, ora com nexo.
Passamos quase o dia inteiro da mesma forma, mas como de costume, Mariana foi embora antes da última aula, pois tinha treino de piano.
O professor de Teatro entrou na classe com sua costumeira cara de quem havia acabado de transar e deu um bom dia alto. Poucos da classe responderam, e professor não ligou para isso.
- Sabe por que eu estou feliz? - Perguntou professor - Por que hoje eu vou apresentar um amigo meu.
O professor abriu a porta da sala e chamou um outro rapaz. Olhos castanhos, cabelos negros, barba mal feita e um sorriso suspeito. Tinha uma aparência de 25 anos, ou menos.
- Este aqui é o novo professor de Biologia de vocês, sr. Willian. - Disse nosso antigo professor de Biologia - Isso mesmo, eu estou me demitindo.
A classe toda estava em silêncio, mas eu tinha certeza que todos glorificavam por aquilo.
O antigo professor nem se despediu, apenas saiu da sala, feliz da vida.
O professor novo sorria e olhava para a porta, tentando entender o que havia acontecido.
- Muito bem classe - Disse Willian sorrindo - O que vocês já aprenderam em Biologia?
- Reprodução. - A sala falou em uníssono, e eu achei aquilo engraçado.
- Acho que o sr. Tyler - antigo professor - tinha um vício doentio por reprodução. Vamos organizar isso então, por que vocês estão mega atrasados.
A classe parecia estar animada com o novo professor, em especial as garotas. Hora ou outra se fazia ouvir alguns comentários como "Com ele eu reproduziria a vida inteira" e "Ô lá em casa".
O professor também deve ter ouvido os comentários, por que sempre corava. Ouve um momento em que ele me olhou e sorriu para mim - talvez por que eu fosse o único aluno que estava sozinho numa carteira dupla. Devolvi o sorriso e peguei o livro de Biologia.
- Antes de tudo queria conhecer um pouco melhor meus alunos. - Willian disse varrendo a sala com o olhar - Que tal me dizer o nome de vocês? Você primeiro.
Willian apontou para o primeiro aluno da primeira carteira.
Ele se apresentou, depois outro e outro... Quando a sala toda já havia se apresentado, foi a vez do professor.
- Meu nome é Willian, tenho 23 anos e vim de Las Vegas. Morava sozinho lá, mas agora estou temporariamente morando com a minha avó. - Ele pensou um pouco - É isso.
Depois de todas as apresentações Willian pegou o giz e o lançou no lixo. Disse que odiava passar lição, e que trabalhava com aulas práticas, não com teóricas.
- Muito bem, vou fazer uma pequena sondagem primeiro. O que vocês sabem de reprodução afinal? - Willian andava pela sala animado.
A sala ficou em silêncio. Sorri com o silêncio. Aprendemos reprodução desde o começo ano, e eles não sabiam nada? Willian ainda pecorria a sala, procurando alguém que soubesse de uma vírgula sequer.
Ergui minha mão, chamando.a atenção de todos. Willian assentiu, me dando a oportunidade de falar.
- Existem dois tipos de reprodução, assexuada e sexuada. Uma delas, a assexuada, é a reprodução das plantas e de alguns poucos animais, que não dependem de um "macho" da sua espécie para se proliferar. E a sexuada é a reprodução em que ocorre a liberação de... Ahn - Pensei em como utilizar a próxima palavra - sêmen. É o tão famoso sexo, entre humanos, e acasalamento, entre animais.
Respirei fundo quando concluí. Dei um pequeno resumo de tudo o que aprendemos.
Willian analisou a minha frase com cautela e sorriu para mim. Um sorriso que podia ser interpretado como" Obrigado por não me decepcionar". Sorri também.
- Tenho uma má notícia para vocês. Vocês não aprenderam tudo sobre a reprodução. - Anunciou Willian, e isso foi a deixa para que as meninas se assanhassem.
- Essa parte eu vou adorar fazer na prática contigo. - Gritou Susana Dell' Torres, a capitã das líderes de torcida.
Típica garota programa. Cabelos louros lisos, olhos mel e corpo siliconado. Geralmente usa uma mini saia rosa e uma calcinha - qualquer um quisesse ver conseguia - branca. A camisa era sempre regata, mas variava entre branca e preta.
Willian sorriu tímido com o comentário da garota, enquanto as outras garotas também se assanhavam. Revirei os olhos, e professor percebeu o gesto. Ele sorriu divertido.
- Muito bem. Para essa atividade quero que sentem-se em duplas. - Disse Willian - Para que haja qualquer tipo de reprodução sexuada o macho deve sondar a fêmea antes de escolhe-la, e é isso que eu quero que vocês façam. Sondem seu parceiro. Descubra segredos. Quero tudo escrito numa folha de papel, pois na próxima aula vamos por em prática todo o processo. Mas é claro que eu não sou idiota. Vou eu mesmo escolher as duplas.
Minutos depois, quase todos os pares já estavam formados.
Willian apontou para mim e me pediu para sentar ao lado de Ethan Philips, o capitão do time de futebol da escola. Assenti e fui até o garoto de olhos negros. Ele era bonito, mas nada que me fizesse gostar dele, considerando o fato de que ele fazia parte do grupinho ridículo de homofóbicos da escola, que já fizeram mais de 20 vítimas. Idiota.
Ethan sorria para mim como se dissesse: "Você é o próximo, viadinho ", mas concluí que era apenas paranóia minha, já que ninguém além de Mariana sabia que eu gay. Mesmo assim, ficar ao lado dele me causava medo r repulsa ao mesmo tempo.
- Feliz aniversário. - Disse Ethan no meu ouvido, atraindo a atenção de alguns.
Corei com a proximidade dos lábios dele no meu ouvido, e da forma sexy que ele disse a frase. Ele sabia que eu era gay.
Não respondi, apenas sorri tímido para ele. Fizemos nossa redação em silêncio, mas foi extremamente desconfortável para mim, já que Ethan me provocava, esbarrando sua mão na minha e me tocando desnecessariamente quando falava algo. Mas seu sorriso reprimia toda a idéia de que ele pudesse me fazer mal. Ethan tem olhos e cabelos negros. Seu corpo é definido em bíceps, triceps e uma barriga lisa. Usava uma regata azul e um jeans branco. Seu braço esbarrava no meu constantemente enquanto escreviamos.
Uma chuva forte caiu lá fora, chamando minha atenção. Por um segundo pelo menos, pude esquecer da presença desconfortável de Ethan.
A aula acabou e eu entreguei a redação às pressas para o professor, que se despediu de mim com um sorriso satisfeito. Sorri como resposta e fui para o estacionamento. Cheguei lá um pouco molhado, mas nada muito grave.
Desativei os alarmes e entrei no carro. Fiz todo o ritual necessário para ligar o carro, mas antes que eu acelerasse uma batida fraca no vidro do meu carro me assustou, me fazendo ficar em sinal de alerta. Olhei bem para o rapaz do outro lado do vidro e suspirei aliviado ao reconhecer Ethan.
Abri o vidro da janela e o olhei com indiferença. Ethan estava enxarcado, e em seu rosto havia uma preocupação eminente.
- Pode me levar para casa? - Ele falou alto para que a voz se sobressaisse na tempestade lá fora - Roubaram o meu carro. Por favor.
... Aguardem ...
Espero que o capítulo não tenha ficado muito curto.
Comentem por favor.
Obrigado.