Surpreso (01-02)

Conto de Patch Cipriano como (Seguir)

Parte da série Entre Dois Corações

JEFFRIBEIRO - Obrigado pelo comentário, você vai se surpreender com o que vem por aí...

***

Gabriel me balançava em seu colo como se fazia para adormecer uma criança. Eu o abraçava pelo pescoço e ele me segurava pela cintura. Ele murmurava palavras de consolo em meu ouvido, mas eu ainda estava com medo.

Não cheguei a chorar, mas minha pele pálida e corpo trêmulo denunciavam meu desespero. Imaginar Gabriel morto era agonizante e me causava náuseas. Imagina-lo longe de mim era me imaginar dentro de um caixão.

Ficamos ali até o sol se por e Gabriel avisar que teria que ir para a faculdade. Assenti e falei que ele podia usar meu banheiro e algumas roupas, já que mesmo com a diferença de idade eu e Gabriel tínhamos a mesma altura.

- Bom dia. - Sussurrou e beijou minha testa.

Gabriel me deixou com cuidado na cama e se levantou. Ele não estava sem roupas, apenas permaneceu sem camiseta. O observei entrar no banheiro e sorri ao imaginar que ele deixara a porta aberta como um convite. Um convite tentador, mas que eu recusaria por que ainda sentia a famosa dor pós-transa. Me levantei e deixei algumas roupas sobre a cama para que Gabriel escolhesse a que usaria. Entrei no banheiro e me deparei com Gabriel dentro do box preto opaco. Ele não me viu, estava de costas curvado e apoiado na parede. A mão esquerda o apoiava na parede a direita praticava uma majestosa punheta. Pensei em acompanhá-lo, mas pensei que ele ficaria constrangido. Fiz minha higiene matinal em silêncio e desci para preparar o café da manhã.

Gabriel desceu enquanto eu enchia uma xícara de porcelana verde de chá. Ele fez uma careta ao ver o chá.

- A intenção é ficar acordado para a aula. - Falou rindo - Tem café?

- Não sei fazer café. - Falei com uma naturalidade neutra.

- Então não serve pra casar. - Gabriel me abraçou pela cintura e beijou meu rosto.

Dei de ombros.

- E quem disse que eu quero casar? - Perguntei sorrindo.

Gabriel apenas sorriu, deixando seu hálito quente cobrir meu rosto.

(...)

Eu estava indeciso se deveria dar meia volta e ir embora, mas algo me dizia para entrar, seguir em frente. Pensei na expressão "seguir em frente", e decidi que se eu não entrasse, eu não teria coragem de seguir em frente nunca, e eu precisava seguir.

Passei pela porta de pano e o homem sentado à minha frente sorriu. Eu confesso que esperava alguém vestido com cores extravagantes e chamativas com uma pedra verde ou azul colada na testa, mas me deparei com um homem comum, em uma tenda comum.

- Que bom que você decidiu seguir em frente Igor. - Disse o homem, me causando espanto.

Eu não o conhecia, e muito menos ele me conhecia. Como podia saber o meu nome? E como podia saber sobre minha indecisão sobre seguir em frente?

- Era preciso seguir. Ninguém sobrevive andando de costas. - Falei ainda amedrontado.

- Bonita frase. Vou adicioná-la ao meu vocabulário diário. - Disse o homem. - Sente-se.

- Como sabe o meu nome? - Perguntei e sentei na cadeira de madeira.

- Você veio aqui para que eu desse uma espiadinha no seu futuro, e quer que eu diga como sei seu nome? - Ele parecia divertir-se - Ela tinha razão. Você é surpreendente.

Fiquei com raiva. Era bem a cara da Perrie me pregar uma peça dessas. Me levantei.

- Ela quer que você fique. - Ele falou quando eu me virei.

- Ela está aqui? - Perguntei olhando ao redor para tentar encontrar Perrie.

- Sim, é uma boa mulher. Eu também sentiria falta dela.

Meu coração gelou. Senti como se uma mão de gelo segurasse meu coração e o esmagasse sem pressa

- De quem você está falando? - Pergunto e me surpreendo por não ter gaguejado.

- Jay. Isso não é tudo por causa dela?

- Minha mãe? - Foi um grito de espanto. - Você está brincando.

O homem sorriu.

- Sente-se Igor. Por favor. - Ele pediu com gentileza. - Me diga, o que quer que eu veja mais precisamente.

Sentei novamente.

- Eu sonhei com o meu namorado - Corei - Ele pedia socorro. Então eu o vi e alguém o empurrou de uma pedra alta, e de uma hora para outra, estávamos caindo, e uma voz dizia que era apenas o começo. - Falei.

- E...? - Ele esperava por mais.

- E... Só, eu acordei. - Falei. - O que acha que esse sonho pode significar?

- Ele pode significar muitas coisas. Mas ele também não pode significar nada.

- Então quer dizer que você não sabe? - Pergunto já com raiva. - De que adianta me dizer algo que eu já sei? Não espera que eu pague por isso espera?

O homem riu e apoiou os braços na mesa redonda. Ele me olhava com curiosidade

- Eu não espero que você pague. - Ele falou - Cumpro com minha palavra.

- Você é maluco.

- Eu esperava mais de você. Jay disse que você é brilhante, e maluco é uma desculpa esfarrapada pra quem não entende do assunto. - Falou.

Sempre que ele falava o apelido de minha mãe, eu tinha a mesma sensação de ter meu coração roubado e lentamente esmagado por uma mão de gelo.

- Por que não quer que eu pague? - Perguntei.

- Já falei, cumpro com minha palavra. - Repetiu - Eu disse para Jay que se ela o fizesse entrar faria essa consulta grátis. Mas não se acostume.

Ele sorriu, e não pude deixar de sorrir também. Mamãe sempre adorou apostas.

- Então já que não posso acostumar, vou abusar. - Falei sorrindo.

- Gosto da sua ousadia Igor. Pergunte o que quiser.

- Quero saber de mamãe.

- Ela está relativamente bem. É claro que ela sentiria dor se tivesse um corpo físico, mas ela sente sua falta.

- Também sinto a falta dela. - Fiz uma pausa - E o sonho?

- Seu sonho tem um significado forte Igor. Jay não quer que eu o revele.

Assenti. Eu nunca fui de acreditar em espíritos, mas ele me fazia acreditar. Ele tinha um jeito simples de ser e falar.

- E qual é o seu nome? - Perguntei.

- Thiago. Pode me chamar de Thiago.

- Esse é realmente o seu nome?

- Não, mas gosto desse nome.

- O que pode dizer sobre o meu futuro Thiago?

Thiago pensou por alguns segundos.

- Nada. - Concluiu.

- Por favor. - Pedi.

- Tá Okay. - exclamou, mas o tom que ele usou sugeria que a resposta não foi para mim - Sua mãe sempre foi chata e insistente?

Ele pegou uma folha em branco, e sem olhar para ela começou a rabiscar.

- Quase sempre. - Falei sorrindo.

- Eu vejo uma paisagem. - Falou me olhando fixo -Um mar azul e agitado, um sol forte e quente, e um arco-íris sem fim e sem começo.

- O que isso quer dizer? - Perguntei.

- Quer dizer que sua vida vai passar por fases. Muitas fases. O arco-íris representa a fase do amor, mas é difícil dizer quando vai ocorrer exatamente. Arco-íris geralmente aparecem depois de chuvas, e eu prevejo uma tempestade mortal se aproximando. - Thiago em momento algum tirou os olhos dos meus - Mas o Sol... Quente e forte, acho que significa força, superação. O mar significa paz, mas quando ele se agita significa guerra. Uma guerra pacífica? Uma paz temporária? Guerra... Amor... Paz... Força... Alguém que você ama vai te fazer feliz. Mais forte. Ele será essencial na sua fase de tempestade. E... Droga. - Thiago olhou para o papel e sorriu - É isso. Toma, leva pra você.

Ele estendeu a folha. Um desenho perfeito e sem rasuras. Uma paisagem. Um mar agitado e um arco-íris o sobrepondo. O sol estava lindo, mas se não estivesse na paisagem seria mais bonito.

- Obrigado. - Falei.

- Não se esqueça das pessoas que você ama. A tempestade está chegando Igor, lembre-se disto.

[... continua ...]

Comentários

Há 1 comentários.

Por Anderson P em 2014-07-27 07:31:02
Gostei bastante, vou acompanhar.