Drogado (01-05)
Parte da série Entre Dois Corações
ANDERSON P - Realmente, perder a mãe e depois o pai seria desesperador, principalmente para Igor que sofreu com o abandono do pai. Você vai gostar dos próximos capítulos - espero - altas emoções. Obrigado por comentar <3
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Capítulo 5- Drogado
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Sabe quando a sua vida passa diante dos seus olhos mas você não está morrendo? Eu sei que parece clichê, mas essa era a verdade, minha vida corria em relapsos diante dos meus olhos. É claro que não necessariamente a vida inteira, isso demoraria 17 anos, mas os momentos que eu poderia ter feito melhor e não o fiz corriam pela minha frente.
- Eu amo você. - Falei baixinho, mas papai não ouviu.
Usei todo o peso do meu corpo fundido à velocidade que eu estava e o lancei para o outro lado da rua. O impacto entre nossos corpos me fez cair.
(...)
Eu não lembro de muita coisa, apenas do grito de papai fundido ao som dos meus próprios ossos sendo esmagados pelas grandes rodas do Land Rover preto, e talvez de um sorriso vindo do outro lado do insulfilm. Não consegui identificar o rosto do motorista, estava ocupado de mais agonizando.
Tentei abrir os olhos mas meu cérebro parecia não dominar mais meu corpo. Tentei respirar fundo, mas a cada tentativa parecia que eu estava ingerindo veneno em gás. Desisti de fazer qualquer coisa, até mesmo de mecher os dedos, mas havia um barulho irritante vindo de algum celular que não parava de tocar.
Eu não tinha a mínima noção de tempo, então decidi contar minha própria respiração.
Cento e novena e três respirações depois ouço um ranger de portas se abrindo, e logo em seguida uma dor aguda no braço. Apesar do pequeno incômodo continuei contando.
Duzentas, duzentas e uma, Duzentas e dez... Espera, depois de duzentas e uma respirações não vem a respiração número duzentos e dois? Ou seria duzentos e quinze? Quantas vezes eu já respirei? E por que eu estou com sono? Dane-se, dois mais dois continua sendo quatro, e a ordem dos fatores não interfere no resultado.
|Gabriel's voice|
- Não acha que é muita morfina? - Perguntei para a enfermeira que já aplicava uma segunda dose de morfina no braço de Igor.
- Está afim de ver seu irmão agonizar de dor? - Perguntou a enfermeira sem me olhar. - Por que se estiver, posso reduzir as doses.
- Ele não é meu... - Falei, mas a enfermeira me olhou com um ar questionador - Deixa pra lá.
- Você deve gostar mesmo dele. Não sai daqui. - A enfermeira jogou a agulha no lixo.
- Ele vai ficar bem?
- Ele vai sobreviver. É um rapaz forte.
|Igor's voice|
Recuperei a consciência vagarosamente. Eu não sabia quantos dias haviam se passado, mas provavelmente foram mais de sete. Não tenho certeza. Cheguei a contar vinte e duas mil respirações, mas sempre acabava dormindo.
O barulho irritante do celular tocando voltou a me incomodar. Consegui fazer com que meus olhos obedecessem ao meu cérebro e os abri vagarosamente. A luz estava fraca mas meus olhos arderam. Gabriel e Ulisses estavam sentados ao pé da cama. Nenhum deles me viu abrir os olhos. Sorri ao vê-los conversando como bons amigos. Tentei chutar eles, mas minhas pernas ainda não me obedeciam. Eu devia estar sobre o efeito de algum anestésico. Consegui mover o braço e pegar o travesseiro atrás de mim. Gemi de dor atraindo a atenção deles e lancei o travesseiro. Acertei Ulisses no ombro.
- Na mosca. - Falei, sentindo um pouco de dor ao rir - Vocês parecem dois zumbis.
- Olha quem fala. - Disse Ulisses.
Gabriel e papai chegaram mais perto, um segurando uma de minhas mãos.
- Como você está? - Gabriel perguntou.
- Ainda anestesiaso eu acho. - Falei - não sinto minhas pernas.
Dei um sorriso fraco e bocejei. Ulisses se sentou mais perto e apoiou minha cabeça em seu ombro. Ele trocou um olhar preocupado com Gabriel.
- O que foi? - Perguntei.
Gabriel passou a mão na minha perna, mas não pude sentir o seu toque. Maldito anestésico. Pedi para Gabriel se aproximar e toquei seu rosto. Agora eu podia sentí-lo. Sorri quando ele tocou meu braço.
- Ully? - Chamou Gabriel - Não se importa de eu beijar seu filho não é?
Ully? Dei uma gargalhada dolorosa, seguida de um gemido de dor. Papai e Gabriel se assustaram, mas logo gesticulei que estava tudo bem.
- Não Gabriel - Disse papai - Quer dizer, o Igor ficou um mês em coma, ele deve estar com um hálito de leão... Vá em frente.
Gabriel sorriu e puxou minha mão para beijá-la. Raciocinei por um milésimo de segundo e me assustei. Puxei minha mão por instinto, mas eles pareciam ter me dado um "sossega leão" ou um "boa noite Cinderela", por que minhas pernas ainda não me obedeciam. Usei as mãos para me endireitar.
- Um mês? - Falei com um semi-grito. - Coma? Quem fica em coma por causa de um atropelamento?
Gabriel sorriu do meu exagero controlado, mas eu falava sério.
- Você foi atropelado por um Land Rover. - Gabriel explicou - As rodas dele passaram todas por cima de suas pernas, mas a traseira direita acabou atingindo sua costela. Por pouco você não sobrevive meu amor.
Pensei em vários motivos para ter sobrevivido, e novamente relapsos passaram voando diante dos meus olhos. Foi para isso que eu sobrevivi, para fazer tudo melhor, tudo outra vez.
Duas batidas na porta dão sucessão a um ranger e Perrie aparece no quarto com um buquê de tulipas brancas.
Ela correu e me abraçou com força, pouco se importando com os gemidos que eu soltava. Ela não era igual aos outros, era insensível e fria, não sentia dó nem piedade das coisas, e percebi que era disso que eu precisava, de alguém que me tratasse como o saudável Igor. Afinal, eu só estava numa cama de hospital, e poderia ser muito pior.
- Pare de fingir que está dando sua bixa. - Disse Perrie se afastando e sorrindo.
Ela olhou para papai e corou.
- Olá senhor Ulisses. - Falou tímida
- Agora a vadia banca a envergonhada. Mereço. - Falei sorrindo.
Perrie me olhou venenosamente sorriu.
- Vou adorar fazer piadas sobre seu novo conversível, último modelo, dois ponto zero. Perrie falou perversamente, mas recebeu dois olhares de reprovação. - Sério que vocês não contaram ainda?
Papai ficou meio sem jeito, mas Gabriel permaneceu neutro.
- Contaram o que? - Perguntei curioso, sorrindo levemente.
- Não é a hora. - Papai falou seco e rápido.
- Quando vai ser a hora? - Perrie questionou - Quando não tiver mais opções? Quando a única opção restante for contar?
- Do que estão falando? - Perguntei desfazendo o sorriso.
- Não cabe a você decidir a hora certa Perrie. - Gabriel falou bravo.
- Cabe a mim! - Interferi - Afinal, é sobre mim que vocês estão falando não é? Perrie, você não esconderia nada de mim não é?
- Perrie... - Papai alertou, me deixando com raiva.
- Se você não quer contar não conte Ulisses. - Falei bravo - Mas Perrie VAI me contar, e você não vai impedir.
- Igor, você não... - Gabriel começou.
- Se for dizer algo contra não diga Gabriel. - Falei. - Perrie?
- Você vai... - Perrie começou, mas papai a interrompeu:
- Fazer fisioterapia. - Disse Ulisses.
- Porque? - Perguntei.
- Pra que você recupere os movimentos das pernas. - Perrie falou calma - Até lá, vai usar cadeiras de roda.
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P.S.: Talvez eu fique uns dois dias sem postar o próximo capítulo, mas não vou abandonar #prometo