Parte da série Entre Dois Corações
ANDERSON P - Hahahah vou deixar você mais curioso a cada capítulo, e não, o pai do Igor não vai ser o chato da história. Durante o decorrer você entende que ele só quer reconquistar a confiança do filho. /será que ele consegue?
***
Capítulo 4- Abandonado
***
Papai sorria de forma juvenil mas seus olhos brilhavam querendo demonstrar algum sentimento. Talvez culpa, remorso, mas era algo parecido com amor: tristeza e dor. Papai sorria tentando disfarçar um grande pesar no seu coração, e esse sorriso me causou relapsos instantâneos. Memórias que eu havia enterrado e trancado, e que agora voltavam mais forte para me atormentar.
<FLASHBACK ON>
- Papai te ama filho. - Dizia Ulisses com lágrimas nos olhos.
- Também te amo pai. - Falei. Minhas lágrimas percorriam minha face em busca de um lugar para repousar. Eu achei que se ele soubesse que eu o amava ele ficaria. Ficaria pelo meu amor. Ficaria por mim.
Papai me abraçou, mas o abraço de despedida só fez a noite de inverno parecer tão fria quanto estava. Eu envolvi seu pescoço com meus braços pequenos. Estava disposto a segurá-lo ali para sempre. Eu não o deixaria partir.
Ulisses se apegou ao meu abraço e ficamos abraçados até uma voz masculina anunciar que o vôo sairia em cinco minutos. Papai se afastou, e eu não pude segurá-lo. Mais lágrimas caíram. Eu tinha apenas cinco anos de idade, mas algo em mim dizia que aquele seria o último abraço que eu daria em papai.
Ulisses se aproximou de mamãe e segurou suas mãos.
- Me perdoa. - Ulisses falou e a abraçou. - Cuida dele?
- Eu vou cuidar. - Mamãe prometeu e o beijou na boca. - Eu te amo.
- Também te amo.
Papai voltou até mim e se ajoelhou para ficar na minha altura. Ele colocou suas mãos em meus ombros e suspirou.
- Estou orgulhoso de você Igor. Em cinco minutos eu vi um menino se tornar um homem. - Papai me olhava profundamente - Eu não vou mentir para você. Talvez isso seja um adeus, talvez eu nunca mais faça chocolate quente pra você antes dormir, e provavelmente eu não vou terminar de ler Cinderela para você, mas se você me ama como eu te amo, você sabe que isso não é o fim. Estamos muito longe dele.
Assenti ainda chorando. O único problema era que eu não queria crescer. Só queria ser o garoto de cinco anos que só conseguia dormir de uma xícara de chocolate quente e que ainda ouvia contos de fadas.
A voz masculina anunciou que o vôo sairia em um minuto. Papai me abraçou, pegou suas malas e partiu. O observei desaparecer na multidão que embarcava para Nova Iorque.
<FLASHBACK OFF>
Papai tinha razão em duas coisas: ele não terminaria de ler Cinderela para mim e ainda estávamos muito longe do fim.
Senti os braços fortes de Gabriel me envolverem em um abraço e então percebi que estava imóvel. Ulisses nos analisava cuidadosamente. Mamãe provavelmente já havia dito antes que eu era gay e que eu namorava.
Papai se aproximou de nós, mas deu dois passos para trás.
- Filho... - Ulisses disse, mas não terminou a frase.
Gabriel se afastou me deixando face a face com meu pai. Ele não olhava nos meus olhos, mas eu o encarava friamente.
- Você perdeu o direito de me chamar de filho Ulisses. - Falei com raiva. Não dele, mas da minha fraqueza.
- Eu seu Igor, sei que foi difícil para você. - Ulisses falava como um verdadeiro psicólogo, achando que as palavras dele me mudariam - Não foi fácil para nenhum dos dois, mas...
- Qual parte foi a mais difícil Ulisses? - Gritei - Embarcar na primeira classe daquele maldito vôo? Construir uma família nova? Ou uma empresa que é atualmente a maior fornecedora de equipamentos eletrônicos de Nova Iorque?
- Tudo foi difícil. Beijar outra mulher que não fosse sua mãe, abraçar outra criança que não fosse você... - Ulisses me sondava com o olhar - Você não é assim Igor. Você é acima frio tudo compreensível. Onde foi parar essa sua qualidade?
- Que tal procurar naquele maldito aeroporto onde você abandonou seu filho de cinco anos de idade? - Gritei mais alto - Eu mudei Ulisses, e se não estiver satisfeito, compre sua passagem de volta para Nova Iorque.
- Eu fui embora uma vez achando que seria o melhor a fazer, e vi que fugir não era suficiente. - Falou papai - Eu não pretendo ir embora Igor. Nunca mais.
Dei de ombros.
- Não quero saber para onde você vai Ulisses. Só quero que você me esqueça.
Falei e dei as costas. Fui com Gabriel até a cozinha e preparei chocolate quente para nós dois, mas depois do primeiro gole percebi que não era tão bom quanto o que papai fazia.
Subi para o quarto com Gabriel e deitamos de conchinha, Gabriel me abraçando por trás.
- Eu te amo. Nunca vou te deixar, nunca. - Falei.
- Promete? - Pergunta sussurando em meu ouvido. - Por que eu não quero que você me deixe.
Assenti e fechei os olhos. Os lábios de Gabriel tocaram meu pescoço e minha mão acariciou o rosto dele. Com certeza estávamos sem clima para ter qualquer relação sexual naquele momento, então apenas ficamos trocando carícias.
Gabriel adormeceu primeiro que eu. Desci logo em seguida para beber algo. Ulisses estava sentado no balcão com uma xícara na mão, e outra no balcão.
- Eu fiz chocolate quente. - Falou.
Não tive reação nenhuma, apenas abri a geladeira e peguei o leite. Esquentei mo microondas e tomei o leite em silêncio. Eu me sentia infantil tratando meu pai assim, mas eu não sabia o que dizer ou fazer, e não iria perdoar.
Funguei sentindo o atraente cheiro do chocolate feito por papai. Dei de ombros resistindo à tentação de pegar uma xícara.
Um estrondo ensurdecedor preencheu o silêncio entre papai e eu, mas só reagimos quando um clarão iluminou o cômodo. Corremos para o lado de fora. Havia um carro completamente destruído na frente da minha casa.
- Ah merda! - Papai gritou - Meu Cabriolet novinho em folha.
Ele se aproximou do carro para ver a situação. Estava completamente destruído e irreconhecível.
Meu iPhone vibrou no bolso da minha blusa moleton e eu abri a mensagem.
#NúmeroDesconhecido» Olhe sempre para os dois lados da rua antes de atravessar.
Estranhei a mensagem, mas voltei minha atenção para papai, que atravessava a rua desesperadamente. Meu coração parou.
Olhei para o lado direito: nada. Para o esquerdo: uma luz forte iluninava a rua, e um barulho de motor de carro parecia estar cada vez mais próximo.
- PAI! - Gritei e corri até ele, que estava parado com as mãos na cabeça olhando para o resto do carro.
Tarde de mais... A luz do farol estava muito próxima.
[... continua ...]