<Respostas à comentários>
«Victor *)» Obrigado pelo comentário, espero não te despontar com esse capítulo.
«Mic» Awwn cara, sério, tu gosta de Hush Hush, já merece mil aplausos (sou fã da série). Vlw pelo comentário.
«Rafinha Sexy» Não morra, a continuação está aqui, e não morra até chegar o próximo capítulo também. Obrigado por comentar.
«Tomy84» Brigado, brigado, brigado! Não gostei do amigo entre aspas, hahah.
Não se esqueçam da música tema (Demons - Imagine Dragons)
Aí está, demorei mas postei (avisei que seria apenas uma vez por semana). Espero que gostem, beijos no cotovelo.
[...]
(Cap II - Caídos)
"Descobre que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destrui-la, e que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida" (Shakespeare)
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São paulo - Dias atuais
A luz fraca do sol fez meus olhos arderem. Os fechei novamente e esperei que eles se acostumassem com a claridade da manhã de agosto.
Ainda deitado pude ver pelo espelho do guarda-roupa meu reflexo totalmente desarrumado. Sorri com a imagem feia à minha frente e arrrumei meu cabelo com os dedos. Sentei na cama e o ar frio do ventilador cobriu meu corpo semi-nu.
Meus pelos se eriçaram. Engatinhei pela cama até chegar ao ventilador e o desliguei. Voltei a me olhar no espelho, ainda em silêncio. Eu estava gostando da imagem refletida, não lembro de ter me desenvolvido tão rápido.
Meu nome é Gabriel Fitzgerald. Posso até estar enganado, mas o espelho à minha frente me dizia que eu tinha cabelos negros até o pescoço e com franja, olhos de cor azul claro, pele pálida e um corpo definido. Sem músculos, mas com um peitoral e uma barriga lisa. Tenho 16 anos, 1,68 de altura e moro no litoral de São Paulo - por enquanto.
A verdade é que de seis anos pra cá, eu já mudei de casa pelo menos dez vezes. Morava em Nova York, depois desci para o Portland, Toronto, Texas, Novo México, Goiânia, Belo Horizonte, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Campinas, e o atual São Paulo.
Olhei para o relógio digital no criado-mudo, marcava 6:00 em ponto.
Decidi sair da cama, afinal, de qualquer forma eu teria que ir para o colégio novo. O ano letivo estava acabando, e apesar de ter boas notas no colégio antigo eu precisava me acostumar com a rotina e acompanhar a matéria. Só neste ano, já aprendi matriz umas cinco vezes.
Entrei na suíte e fiz minha higiene matinal. Desci para a cozinha.
Eu moro numa casa de praia junto com meu pai. Minha mãe morreu durante o parto, e papai acabou deixando de trabalhar por minha causa, mas ele tinha algumas economias no banco, e segundo ele dava pra levar a vida.
- Bom dia campeão. - Disse papai sem me olhar, mas esboçou um sorriso - Tudo bem?
- Bom dia. - Respondi o observando colocar café numa xícara com leite - Estou bem e você?
- Bem também. O que está achando da casa nova?
Papai me entregou a xícara e encheu outra com café para ele.
- Hummhum - Tentei falar, mas minha boca estava com leite.
- Quer que eu te leve para o colégio? - Perguntou.
- A casa é bem maior que as outras, e no litoral não tem tantos raios. - Respondi à primeira pergunta.
Papai riu. Eu tinha um certo medo - pavor - de raios e trovoadas. Nada de mais, apenas medo.
Papai era uma versão adulta de mim. Olhos azuis e cabelos negros cortados, seu corpo era muito mais forte que o meu, e muito mais alto também. O sorriso de papai me transmitia uma alegria infinita. Era satisfatório vê-lo sorrir.
- Quer que eu leve você para o colégio? - Papai repetiu a pergunta.
- Não pai, o colégio fica aqui perto. Mas se quiser emprestar o seu carro... - tentei.
- Há há - Papai sorriu irônico - Sabe que no Brasil a idade mínima não é 16.
- Não custava tentar. - dei de ombros.
Papai sorriu e tomou um gole do café. O acompanhei com a minha xícara e me levantei, deixando a xícara no balcão de mármore.
- Vai se trocar, por que você está a pura sedução nessa cuequinha. - Papai zombou.
- Engraçado.
Subi para o quarto e coloquei o uniforme feio do colégio, que consistia numa camiseta branca com o logo da escola em dourado, uma calça moletom preta e um agasalho vermelho, com um par de asas no peito esquerdo. Que deprimente.
Coloquei um tênis qualquer e peguei a mochila atrás da porta. Borrifei meu frasco de CK One no pescoço e desci.
- Tá lindo. - Papai falou sorrindo.
- Pra um velório. - Completei.
Peguei uma maçã na fruteira e me despedi de papai.
O colégio não era longe, ficava a uns dez minutos de casa, mas com a alegria e ânimo em que eu me encontrava, provavelmente levariam vinte minutos.
Cheguei na escola e os alunos ainda estavam do lado de fora. Havia um grande portão dourado e os muros da escola eram brancos, sem nenhuma pintura ou grafite. Definitivamente, o que os poetas chamariam de Entrada Para o Paraíso, e a definição batia com o nome do colégio: Colégio Particular O Archanjo.
Apesar do tudo, eu não queria entrar no colégio, não queria conhecer pessoas novas, não queria fazer novos amigos, por que eu sabia que quando as coisas começassem a piorar - e piorariam, sempre pioram - eu teria que ir embora, teria que sair do estado, ou do país sem sequer uma explicação coerente.
Acompanhei de longe um grupo de alunos entrar na escola. Meninos e meninas da minha idade conversavam sobre alguma coisa provavelmente idiota, mas tive vontade de participar da conversa.
Fui à secretaria e peguei minha grade de horários. A primeira aula era biologia.
Segui para o fim do corredor, onde segundo o faxineiro idoso da escola, ficava o laboratório de química e biologia. A porta estava aberta, então entrei sem declarar nada. Apenas segui para um balcão de experimentos no fundo do laboratório. O único balcão que estava vazio.
O professor chegou e nem se dirigiu à mim. Provavelmente minha ilustre presença não se fazia necessária. Ótimo, porque eu também não queria estar ali.
O professor começou a falar algo sobre reprodução, mas tinha uma verruga enorme no seu nariz que prendeu minha atenção quase a aula toda. Eu já sabia o suficiente sobre biologia, e mesmo que não soubesse estaria pouco me importando.
- Gabriel e Ethan. - Disse o professor, me puxando para a realidade.
- Hã? - Perguntei.
- Hã? - O professor me imitou com um tom fino que eu tinha certeza que não era o meu. - Quero que você se sente ao lado de Ethan.
O olhei confuso.
- Você ouviu algo do que eu falei? - O professor pareceu irritado.
- Sim. - Na verdade só o meu nome.
- Então por favor, dirija-se ao balcão onde o senhor West se encontra.
Olhei para a classe, procurando algum garoto com cara de West. Haviam garotos com cara de Daniel, Danilo, Felipe, Iury, Igor, José... Mas nenhum com cara de Ethan West.
O professor ofegou impaciente e apontou para um garoto atrás de mim. Esse é o que tinha cara de Felipe.
Ethan era alto, mais ou menos 1,75 de altura, cabelos negros desarrumados, olhos negros e corpo definido. Seus músculos se destacavam por baixo da camiseta preta. Ele usava um jeans básico azul escuro e tinha um sorriso avassalador, sombrio.
Assenti e peguei minha mochila que estava jogada no chão.
Andei vagarosamente até Ethan enquanto o professor denominava as outras duplas.
Ethan abriu um sorriso disfarçado quando cheguei ao seu lado. Se ele estava tentando ser simpático, não estava funcionando.
- Oi. - Ele falou.
Sua voz era rouca e suave, e om negro de seus olhos me chamavam para vasculhar aquele abismo.
Repreendi esses pensamentos e peguei meu caderno junto com o lápis. Eu não era incerto sobre minha opção sexual, eu sabia muito bem o que era, mas me envolver com Ethan era magoá-lo e me magoar, mesmo que desenvolvessemos apenas uma amizade inocente, eu me sentiria mal por deixa-lo, por que eu sei que mais cedo ou mais tarde alguns problemas surgiriam, e papai me levaria para longe.
Olhei para o caderno sem saber o que fazer. Uma redação? Uma fórmula? Olhei para o quadro procurando alguma anotação sobre oque era para ser feito.
Olhei para as mãos de Ethan, deslocando-se suavemente sobre a folha de papel.
- É para anotar as características mais fortes e marcantes do seu parceiro. - Ethan explicou - No caso eu.
Assenti e o olhei fixamente. Queria preencher a folha apenas com a palavra Lindo, mas eu tinha mais criatividade.
"Estereótipo de acordo com os padrões da sociedade" escrevi o que poderia ser resumido apenas pela palavra Lindo.
Respirei fundo tentando absorver seu cheiro, mas não consegui identificar se era cigarro ou algum perfume com o odor do cigarro. Tem louco para tudo.
"Fuma" Escrevi decepcionado. Ele parecia ser perfeito, mas aparentemente, só parecia.
O sinal tocou e eu ainda não tinha terminado o texto. Aquilo não podia ser considerado nem sequer um início.
- Okay, amanhã eu recolho as redações. - Disse o professor - Só para constar, a autenticidade da redação será analisada, e ela vale dois pontos na média final.
Guardei o lápis e fechei o caderno. Ethan ficou quieto. Provavelmente já havia desistido de uma aproximação.
O dia não demorou para passar, e até que não foi tão deprimente. As aulas eram interativas e interessantes. Logo o sinal que anunciava o final do período escolar tocou.
Guardei o material na mochila e saí assim que a professora de matemática nos liberou. Ao sair, acabei esbarrando em outro aluno que também havia sido dispensado.
Me descupei e ajeitei a mochila no ombro. Estava para sair, mas o aluno me segurou pelo braço.
- Está fugindo de alguém? - Perguntou a voz rouca que eu recentemente conheci.
- Preciso? - Perguntei num tom divertido.
Ethan sorriu e eu me virei para olha-lo. Ele era lindo.
- Eu tenho que ir. Meu pai está no estacionamento. - Menti.
Ia me virar, mas Ethan me puxou levemente. Ai Deus.
- Você não terminou a redação da aula de biologia. - Ele falou.
Ethan tirou uma caneta do bolso e riscou meu braço. Não tive reação, o toque de Ethan era excitante e quente.
Olhei para o meu braço e tentei decifrar o que significava aqueles números todos. Só então me dei conta de que os números de telefone do Brasil têm mais dígitos.
- Eu não vou te ligar. - Falei como se isso fosse óbvio.
Me virei e não dei chance para que Ethan me puxasse outra vez, apenas saí.