1x04 - Esperado

Conto de Cesar Neto como (Seguir)

Parte da série Lendas de Amor e Sangue

Boa noite galerinha, como vocês estão? Cá estou eu com mais um capítulo dessa série de terror\amor\sexo\tudo... já aviso que um grande capítulo vos espera, porém, lembrem-se que essa história só tem 7 capítulo (se você cansar então é só ir ligar um xvideos e depois que estiver aliviado, volta a ler hahaha).

Pros que amam "Só nós conhecemos" já deixo avisado que essa semana tem mais capítulo! (fiquem de olho meus mores.

Há e eu vou estar dando uma ralentada para postar, maaaaas isso não significa que deixarei vocês. Eu estou me dedicando um pouco também para ler as séries do pessoal aqui do site. Conheçu bem poucas no momento (antigamente eu lia mais). Então sugiram umas séries aí pra mim (pode sugerir a sua tb) que eu estarei acompanhando.

Sem mais informes vamos aos comentários da população:

"diegocampos" - lindo de morrer esse diego né não? vem me dar uns abraços e uns beijo menino.. ah e pode deixar que loucuras sempre terão nessa série hahahah um beijo e obrigado <3

"fagner" - ai, não estou para fazer sucesso ultimamente não hahahaha fico muito feliz que tenha gostado desses paranauê loco que sai da minha cabeça, anda sendo bem difícil pensar em modos de continuar com o suspense de uma forma lógica e ver que vc reconheceu isso é muito bacana (te adoro meu lindo, sério)... Você é um amor de pessoa e eu sei que se escrevesse um conto sobre a chapéuzinho vermelho gay você seria o primeiro a elogiar hahahaha muito obrigado por tudo Fagnífico e sinta-se beijado na boca <3<3

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[2005]

Era dia 8 de fevereiro na Vila Celestino.

Carnaval.

Além de comemorar a festança que é comum nessa época do ano, os moradores da vila Celestino tinham algo especial para comemorar.

O asfalto da rua principal havia sido inaugurado oficialmente naquela manhã. O chão ainda brilhava da cor do petróleo e ainda era responsável por colar algumas solas de sapatos. Mas isso era mero detalhe que não destruiria a felicidade do povo da vila.

A vila celestino começou a fazer parte do município de São Tomé na década de 80. As terras pertenciam a uma grande família chamada "Celestino" que misteriosamente desapareceu sem sobrar ninguém como herdeiro. Assim, a prefeitura fechou o lote e começou a vender os terrenos das sete ruas verticais somadas a rua principal que fechava um novo bairro.

Rubens Carquejo havia pesquisado a fundo a história do bairro antes de comprar um pedaço de terra que se localizava na rua 4. A vila não era assim tão bem vista pelo povo da cidade, mas Rubens não se importava. Ele olhou para aquele projeto de bairro e começou a plantar grandes ideias em sua cabeça.

Com 26 anos, Rubens já havia conquistado muitas coisas em sua vida. Vindo de família rica, sempre teve uma ótima educação nas melhores escolas do país, cresceu sendo um exemplo para toda a família. Formou-se em administração com apenas 22 anos de idade e desde então seguiu o mesmo caminho do pai que era um grande empresário.

Descendente de franceses, Rubens era alto, tinha um cabelo castanho escuro penteado perfeitamente para o lado. Seu rosto tinha um formato triangular que combinava com o seu porte físico médio. Seus olhos eram pequenos e profundos e somados com seu nariz empinado, formavam a expressão de um homem ganancioso.

Forçado a casar com uma garota de família rica aos auges dos 23, Rubens via em seu matrimônio apenas como uma forma de ganhar dinheiro e ostentar com uma bela mulher em seus braços para toda a sociedade de classe alta, nunca houve paixão entre os dois e a mulher não dava a miníma para ele. Rubens tão pouco se importava porque ele só tinha um amor verdadeiro em sua vida.

E ele iria aproveitar muito desse amor naquela noite de carnaval.

Rubens havia sido o responsável pelo mais novo asfalto da vila Celestino. De fato, ele chantageou o prefeito da cidade para conseguir a verba e a autorização para o seu projeto. No começo, apenas a rua principal seria asfaltada, mas bastou algumas ligações e outras ameaças e o acordo foi firmado. A rua de número 4, onde Rubens planejava construir sua bela mansão, também seria asfaltada.

A grande casa de Rubens mau havia começado a se construir, mas o povo da vila já o amava e o admirava como se fosse um Deus. Asfalto naquela época era um luxo, principalmente para um bairro tão afastado da cidade quanto a vila Celestino. Graças ao homem rico que passeava em seu carro chique todos os dias, aquilo seria possível.

A rua 4 estava interditada. Famílias montaram mesas nas calçadas e um caminhão de som parou no meio da esquina ligando a música em um volume ensurdecedor que agitava todos os moradores da vila em plena 10 horas da noite. Quase toda a vila estava presente para comemorar a grande conquista.

- Eles estão te esperando lá fora para um pronunciamento!

Olhando fixamente para as paredes levantadas, Rubens tomou um leve susto e olhou para trás. O homem que o chamava tinha um metro e noventa e cinco, cabelos loiros com uma leve calvície aparecendo, tinha a mesma idade de Rubens e vestia uma camisa social branca com os primeiros botões abertos deixando uma pelugem loira aparecendo em seu peito.

- Já estou indo André! - Rubens respondeu com um sorriso tremulante - primeiro eu queria dar uma olhada em como ficou essas paredes aqui. Vocês realmente fizeram um ótimo trabalho...

André era engenheiro. Estudou junto com Rubens a vida inteira, sempre foram grandes amigos e dividiram diversas experiências juntos, porém ambos escolheram caminhos diferentes no campo do trabalho.

- Eu ainda não entendo - André disse encostando em uma parede - de tantos lugares, tantas cidades, tantas opções... porque você escolheu esse fim de mundo para construir sua casa?

Rubens sorriu com o canto da boca e respondeu:

- Você sempre foi meio lerdo não é mesmo? Essa casa não é para mim - ele falou indo de encontro a André perto da parede - essa casa é para "nós"!

André entendeu o gracejo e deu um leve selinho na boca do amigo. Os dois se soltaram rapidamente ao som de risadas.

- Estou falando sério - continuou Rubens - eu desisti dessa vida. Meu pai se foi e me deixou uma puta herança de bilhões de reais. Eu não quero mais viver no meio daquela sociedade hipócrita, por isso eu escolhi esse lugar! As pessoas me amam por aqui e desde que eu continue dando alguns asfaltos ou cercas, isso não irá mudar.

- Você tem certeza que irá abandonar todo o seu luxo, até mesmo a sua esposa? - André perguntou já sabendo a resposta.

- Eu não preciso mais de nada disso - Rubens agarrou André pela cintura - desde que eu tenha você!

Os dois amigos de infância se beijaram ardentemente. O amor dois dois era também muito antigo. Aos dezesseis anos, após terem ficado de castigo por irem mal na prova de biologia, ambos foram obrigados a passarem as tardes trancados em um quarto estudando. Em um desses dias, ambos resolveram ter uma aula mais específica sobre anatomia e foi lá que ambos conheceram o prazer. Desde então, não se largaram mais, mesmo após de casados, a paixão apenas acendia como um fogo infinito.

Sons de passos entrando pela casa fizeram com que os dois se largassem. Senhor Toledo, um dos pedreiros da vila Celestino que havia sido contratado para trabalhar na casa apareceu diante dos dois vestindo uma roupa limpa e algumas latas de cerveja na mão.

- Senhor Rubens - o pedreiro chamou - o povo está te chamando lá fora, logo mais a festa irá acabar.

- Mas porque? - Rubens sorriu nervoso - eu pensei que hoje iria durar até o sol nascer, se acabar a cerveja eu mando buscar mais e...

- Não é isso senhor - Sr. Toledo o interrompeu - daqui a pouco vai chegar a quarta-feira de cinzas. A maioria do povo aqui não costuma fazer festa nessa data.

- Porque? - pergunto André por curiosidade.

- É mais uma questão religiosa - o senhor respondeu timidamente - algumas coisas estranhas acontecem e o povo daqui vive criando superstições.

O próprio senhor Toledo tentava fingir que não acreditava naquela história, mas ele mesmo se lembrava de quando era criança e sua avó insistia que não se deveria comer carne na quaresma, principalmente na quarta-feira de cinzas. Toledo se lembra do pedaço de carne que sua mãe colocará para fritar em uma frigideira e a carne se desfez em sangue bem na frente dos seus olhos. Aquela data não era normal.

- Tudo bem - disse Rubens - avise o pessoal que eu chego antes da meia-noite, ainda preciso conversar algumas coisas com André.

A "conversa" não durou mais de um minuto. Rubens e Alves voltaram a se atracar em beijos e amassos antes mesmo do pedreiro voltar a rua. Lá fora, a música "Sorte grande" da cantora Ivete Sangalo, animava os moradores e abafava o som dos gemidos dos dois homens.

André apalpava ferozmente as nádegas de Rubens por cima de sua calça social preta. Rubens tentava desabotoar a camisa branca do amigo, mas foi surpreendido quando André o ergueu no alto o encaixando por cima de sua pernas.

- Tenho uma surpresinha para você... - Rubens disse com uma voz provocante.

Seu amigo nem precisava adivinhar o que era. Suas mãos grossas atolaram por dentro da calça de Rubens e lá ele pode sentir o pequeno tecido aterrado no meio das duas nádegas lisas do companheiro.

- Assim você vai acabar me matando - André falou puxando a calcinha fio dental do amigo até rasga-la.

A dor fez Rubens gritar, mas ele não se importava. Sua vida inteira ele havia sido tratado pelos mimos do papai, pelas caricias da mamãe, pelos carinhos de todos ao seu redor. Por isso, a sensação de violência o fazia se sentir mais vivo.

André e Rubens sempre foram sigilosos em sua relação. Ninguém jamais desconfiaria dos dois e era a primeira vez que ambos arriscavam a fazer algo impulsivamente.

- Você não acha melhor a gente esperar... - André tentou alertar o amigo.

Como resposta, Rubens acertou um belo tapa na cara de André. O estralo foi forte o suficiente para deixar o rosto do engenheiro vermelho e formigante. Com a bochecha ardendo e os olhos cheios de lágrimas, André levou a mão até o rosto disfarçando a cara de dor

- Seja um pouco mais corajoso! - Rubens disse com um sorriso, antes de voltar para os braços de seu amado.

E então ambos voltaram a se beijar. A cada segundo uma peça de roupa caia no chão, logo o barulho de arranhões, mordidas e mais tapas iam se espalhando pela grande casa em construção. André jogou o seu amigo, já completamente despido, contra a parede e foi disposto a penetra-lo com o seu dote de 21 cm.

Rubens berrou para a vila inteira quando o pênis do seu amigo entrou pelo seu reto sem lubrificação alguma, seco. A dor e a ardência o fizeram gritar como ninguém. Enquanto a música bombava lá na rua, ele tinha a certeza que podia fazer o barulho que quisesse. André comeu o amigo por mais de meia hora naquela mesma posição, prensados na parede. Muitas vezes ele dava tapas na bunda e na cara de Rubens e este não perdoava contraindo seu orifício como se fosse esmagar o grande mastro do amigo.

Quando o gozo chegou, ele veio farto. Rubens gemeu e deu um último grito enquanto o amigo jorrava dentro dele. André tampou a boca do amigo enquanto ele gozava fortemente contra a parede.

A música já havia acabado fazia uns dois minutos. O relógio já marcava mais de meia noite, a quarta-feira de cinzas já havia começado.

E todos lá fora deveriam ter escutado os gritos e gemidos dos dois.

- Acho que a festa acabou - Rubens disse vestindo suas roupas - será que eles nos ouviram?

- Nada como umas ruas asfaltadas para deixa-los de bico calado! - André o tranquilizou.

- De toda forma, acho melhor você sair primeiro - Rubens opinou - só para não deixar tão claro assim.

Aceitando as sugestões do amigo, André saiu pelo pequeno portão da frente da casa deixando Rubens espiando pela janela com um sorriso satisfeito no rosto.

Cincos minutos haviam se passado e Rubens só pensava em como sua vida agora poderia ser feliz. Seu melhor amigo agora poderia viver ao seu lado como amante. Os dois poderiam investir naquele pequena vila, construindo mais casas e quem sabe até mesmo um condomínio fechado. A sensação do esperma do seu amigo escorrendo pela sua perna o fez lembrar de recolher a calcinha fio dental rasgada e joga-la no lixo.

E de consciência limpa, Rubens saiu pelo portão da casa.

A vila inteira o esperava na frente do portão. Uma centena de pessoas estavam paradas, como se estivessem esperando a chegada de Rubens para fazer uma surpresa de aniversário, todos eles calmos e com uma expressão neutra no rosto. A preocupação do julgamento que a vila poderia ter sobre si fez Rubens passar despercebido pelo que tinha de mais assustador naquilo tudo.

Todos os moradores, mais de cem pessoas entre jovens e adultos, homens e mulheres, crianças e idosos de todos os tipos existentes. Cada corpo vivo ali presente que residia na pequena vila Celestino, sem exceção de nenhum, estava parado observando Rubens envergonhado.

E todos emanando uma luz branca e diabólica dos olhos.

Mau teve tempo de pensar em algo. Rubens sentiu os moradores se aproximando e tentou correr pelo meio deles. Inutilmente foi agarrado e jogado no chão. O povo começou a então ataca-lo com as mãos nuas, dando socos fortes, arranhões que arrancavam a pele, mordidas que arrancavam pedaços.

Rubens sentia prazer no que estava causando sua morte e mau teve tempo de pensar em seu amor que provavelmente havia sofrido o mesmo que ele.

No final de seus suspiros, Rubens entendeu que a sua única paixão era a dor.

E ele teve o prazer de morrer com ela.

No outro dia, cada cidadão acordou de sua cama com uma energia renovada em seu corpo. Uma sensação de alegria e felicidade tomava conta de cada morador da vila Celestino. Como combinado, os moradores da rua 4 foram arrumar a sujeira feita pela festa. Varreram a rua, esguicharam a calçada e recolheram todos os lixos. Porém nenhum dos moradores havia notado as pequenas poças de sangue, pedaços de pele e ossos destroçados e pequenos órgãos espalhados pelas ruas. Começaram um período de quaresma com uma grande faxina na rua.

Jogando todos os pecados carnais de Rubens e André em uma caçamba de lixo.

...

[Joana]

Dois dias se passaram. Talvez mais, eu não me lembro. Em minha cabeça eu só conseguia reproduzir as imagens que eu vi naquela floresta. Meu pequeno irmãozinho Caio degolando meu pai, seu próprio tio de sangue. Os gritos, o sangue, os olhos esbranquiçados, tudo isso ficava aparecendo em minha mente a cada momento. Mesmo após me levarem para a emergência e curar todos meus ferimentos, mesmo após terem me sedado para dormir e mesmo agora, atrás de uma sela da delegacia deitada em uma dura cama, as imagens ainda retornam.

Ainda sinto um formigamento no meu rosto. A maior parte da dor de cabeça havia melhorado com a ajuda de alguns medicamentos. No hospital, eu ouvia algumas vozes falando que teriam que me dar alguns pontos em um corte, presumi que eu havia levado pontos no corte que eu havia na minha sobrancelha esquerda. Tento mais uma vez levantar da cama, mas minha mente se recorda daquela noite e eu volto a me deitar em posição fetal. Meu corpo treme de medo e calafrios, mas isso era tão normal que eu me acostumei com a sensação.

- Joana Silveira! - um guarda de quase dois metros de altura bate nas grades me fazendo acordar - tenho que te levar para o interrogatório.

Tento responder que não fui eu. Tento explicar que eu havia sido raptada pelo meu pai. Tento falar que foi meu pai desaparecido que assassinou o pequeno menino. Tento responder qualquer coisa, mas a minha voz fica presa na garganta.

O policial percebe que eu não estou afim de colaborar e por isso acaba entrando em minha cela e me tira de lá a força. Sinto uma mistura de medo e nojo quando ele coloca suas mãos em mim e me imobiliza em seus grandes braços. Mesmo com sua força, eu ainda tento resistir me debatendo pela sala enquanto grito por socorro. Sem sucesso, as minhas energias se acabam mais uma vez e ele acaba vencendo.

Após alguns minutos, estou sentada em uma sala pequena. Na minha frente eu consigo ver mais dois policiais. Um deles era bem magro, com os ossos aparecendo embaixo da pele, deveria ter uns 40 anos. O outro era um pouco mais novo, mas era intimidador quanto o primeiro. Ambos com cabelos grisalhos e um olhar que penetrava no fundo da minha alma.

- Você está bem? - o mais velho pergunta - parece meio... cansada.

Tento controlar minha língua, pois qualquer palavra que eu tentasse falar iria terminar com gritos de desespero.

- Ela está em estado de pânico - o mais novo diz olhando uma ficha em sua mão - não dorme bem e diz estar vendo algumas alucinações.

- Não são alucinações - falo mais para mim do que para eles - o que eu vi era real.

Os dois se olham entre eles, enquanto uma eternidade se passa antes de falarem alguma coisa.

- Nos diga Joana - o primeiro sentou-se em uma cadeira e dobrou as pernas - o que você viu?

Fiquei em silêncio. Eu precisava de alguém para me ajudar. Não iria deixar eles me tratarem como uma garotinha indefesa. O silêncio era minha maior arma.

Mas então eles usaram a minha maior fraqueza contra mim:

- Seu irmão, o garoto Caio! - o policial mais velho disse com um certo sorriso - você gostaria de encontra-lo não é mesmo?

Meu corpo pareceu despertar. Desesperada eu gritei e tentei grudar na garganta daqueles policias, porém não conseguir me mexer. Reparei pela primeira vez que eu estava algemada.

- ONDE ELE ESTÁ? - gritei ameaçando os dois.

Era incrível o como eles não se abalavam com nada. Com a mesma calmaria do começo, o segundo policial se aproximou e tocou sua mão em mim. Eu estava no segundo ano da faculdade de direito, eu sabia que aquilo era de certa forma ilegal. Ver sua mão acariciando o meu rosto me fez rugir de raiva. Mas ele apenas sorriu calmamente e falou.

- Encontramos DNA dele na floresta. Eles continua desaparecido. - falou enquanto olhava dentro dos meus olhos - se você quer tê-lo de volta é melhor nos ajudar.

- MAS EU NÃO FIZ NADA! - gritei de raiva e ele afastou sua mão - EU NÃO MATEI NINGUÉM!

- Nós sabemos disso - o policial mais velho se aproximou - não temos provas nenhumas para te acusar. Na verdade você é a vítima de toda essa situação.

"Eles estão jogando comigo", pensei. Era o serviço deles, arrumar um culpado não se importando se era justiça ou não. Eu sabia que os dois policias na minha frente queriam uma confissão minha e eles estavam tentando fazer isso da forma mais gentil possível. Eu tinha pouco tempo antes de eles começaram a tirar essa gentileza toda e partir para a agressão.

- Um homem - eu disse em uma voz baixa para que eles prestassem muita atenção no que eu iria dizer - um homem me raptou na noite que o garotinho morreu. Ele o matou e me levou para a floresta. Eu acordei desesperada e consegui escapar.

Meu relato foi curto, mas bastaria. Não contei a parte que o homem era o meu pai e muito menos o fato dele ter sido assassinado pelo meu irmão. Isso só complicaria mais as coisas e nem eu entendia o que havia acontecido.

O policial mais novo sorriu novamente, dessa vez mostrando os dentes. Ele sabia que eu estava escondendo muitas coisas.

- Sabemos que você não está envolvida no assassinato, não queremos te acusar Joana - ele falou como se tivesse lido minha mente - o que queremos é acabar de vez com isso tudo. Sabemos que seu pai foi o assassino que matou o menininho Luan. Temos prova que ele matou duas garotas desaparecidas no ano de 1995 e também descobrimos que ele havia sido degolado pelo seu primo, Caio. Caio também é suspeito de ter matado o amigo e um pedreiro pai de família. Sabemos de muitas coisas Joana...

- Então o que vocês querem de mim? - perguntei chocada com todas as coisas que ele disse.

- Como eu disse, nós sabemos de todas essas coisas através de investigações e provas - o policial mais velho tomou a palavra - mas você esteve lá, você viu as coisas de perto, queremos saber o que exatamente você viu?

"Vi sangue. Olhos brancos. Morte.", pensei em responder, mas ao invés disso eu pergunteii:

- Porque vocês me prenderam então? Porque vocês estão me acusando.

- Por mais que não temos provas , você é ainda uma suspeita. Se colaborar, terminaremos com isso daqui o mais rápido possível - os dois policiais haviam se entre olhado novamente. Eles tinham percebido que haviam ganhado minha confiança.

- Meu pai me encontrou na floresta - comecei a contar - ele estava desnorteado, vivendo no passado e pensando que eu era minha falecida mãe. Ele me ajudou, me deu água e disse que me levaria para uma cabana. Só que de repente ele começou a agir de uma forma estranha. Seus olhos desapareceram, sua atitude começou a ficar agressiva e parecia que ele estava, ele estava...

- Possuído. - o policial mais novo completou minha frase.

A ideia de possessão era estúpida de mais para mim. Porém eu concordei e abaixei a cabeça. Se meu pai havia sido "possuído", a mesma coisa havia acontecido com meu irmão e só pensar nisso me fez querer encontra-lo novamente o mais rápido possível.

O policial mais novo veio por trás de mim e tirou minhas algemas. O jeito "carinhoso" como ele agia me fez temê-lo ainda mais. Enquanto isso o policial mais velho retirou uma pequena pasta de uma gaveta e jogou na mesa a minha frente.

- Em 2005 um grande milionário havia desaparecido na vila celestino. Ele e o engenheiro que projetou a sua pequena mansão na rua de número quatro sumiram e ninguém da Vila Celestino soube dizer onde se encontravam.

Olhei as fotos dos dois homens a minha frente. Na época eu tinha uns dez anos e me lembrei do homem passeando pelas ruas da vila, as vezes distribuindo doces para criançada e até mesmo participando de uma pelada no campinho com os garotos. Todos ficaram bem tristes quando ele desapareceu. Meu tio até ficou feliz quando me disse "pessoas de bom coração nunca ficam muito tempo em um mesmo lugar, elas tem que levar alegria para outras pessoas também".

Olhei para a foto do rapaz e antes mesmo de eu dizer alguma coisa, o policial virou a folha. Dessa vez a foto era mais antiga e nem um pouco bonita.

- Ontem dois garotos encontraram em um antigo poço o corpo de Rafaela e Ingrid. Desaparecidas em 1998 na vila celestino.

1998 foi o ano em que minha mãe descobriu que tinha câncer, minhas únicas lembranças dela era de ver meus pais brigando na cozinha por causa de que ele chegava tarde em casa. Em 1998 a vila ainda começava a se formar e só deveria ter umas três ruas,"meu pai não fez isso com essas garotas", tentei me convencer disso, apesar de saber que ele trabalhava como encanador e vivia resolvendo problemas envolvendo água. O policial virou a foto mais uma vez e lá estava o corpo decomposto do que seria as duas garotas.

- Seu pai fez isso! - o mais velho falou - os legistas acharam provas e por anos, vários moradores contavam histórias de ter visto seu pai nas margens de um lago próximo a floresta.

Fiquei calada. Não duvida daquilo. Eu assisti meu pai assassinando uma criança, não era tão surpreendente.

- E por último - o mesmo policial me mostrou a última foto - eis as novas vítimas.

O garoto Jorge, o marido da Dona Denise, o menino Luan, meu pai e por último com um ponto de interrogação no nome estava meu irmão Caio.

- E aqui está! Todos esses desaparecimentos e assassinatos devem estar ligados entre si, concorda?

- Concordo. E o que vocês pretendem fazer agora?

O policial mais velho me olhou tentando desvendar minha alma. O mais novo permanecia com um brilho no olhar como se me desejasse. Decidi naquele instante que não confiaria mais naqueles dois.

- Não temos muitas provas - o mais velho disse - uma equipe investigou a floresta e não achou mais nada, interrogamos cada morador e não encontramos respostas. Extraímos todas as informações que conseguimos da Vila Celestino e elas estão aí na sua frente.

- Vocês não tem um plano? - perguntei desesperada - pensei que vocês iriam fazer alguma coisa.

- Uma hora esses assassinatos vão retornar - o policial mais novo disse - e tudo que temos que fazer é esperar.

E eles não precisaram esperar por muito tempo.

- Detetive Siqueira, Detetive Rodrigues?

Carla entrou pela sala um tanto desesperada. Ao me ver seu rosto corou. Lembrei-me da noite em que ela pediu para me prenderem e o calafrio de medo retornou.

- Pode falar, acabamos aqui! - O detetive mais velho, que eu deduzi que era o Siqueira, deu um sinal para ela entrar - A senhorita Joana é inocente.

- Eu sei - Carla falou assustada - houve mais um assassinato na Vila Celestino.

Os dois detetives se preparam para ir embora e me abandonaram na pequena salinha de interrogatório. Percebi que aquilo significava que eu estava livre e me levantei para ir embora quando eu vi Carla me esperando no corredor. Queria abraça-la, estrangula-la, puxar aqueles lindos cabelos loiros e arrancar na unha, um misto de raiva e alívio tomou conta de mim. Mas no momento eu tinha coisas mais importantes a fazer.

- Sua família está te esperando lá fora... - ela disse.

- Você vai me dar uma carona, é o mínimo que você pode fazer - falei mal olhando ela nos olhos - você sabe quem foi assassinado dessa vez?

Ela me olhou com um sorriso desanimado. Parecíamos duas adolescentes que haviam brigado no colégio e queriam voltar a se falar. Carla pensou um pouco e então respondeu:

- Mais um garoto da rua 4. Um tal de Leandro.

...

[Murilo]

Leandro já não estava bem. Depois de ver os restos mortais daquelas meninas, as coisas só pioraram.

Pela primeira vez estávamos felizes. A polícia falou que haviam encontrado os assassinos e um deles já estava até morto. Os boatos corriam por todas as ruas da Vila Celestino. A polícia não revelava a identidade dos envolvidos, só alertou a comunidade inteira que a investigação estava no processo final. Até pequenos jornalistas vieram cobrir o caso, porém sem muita visibilidade. Quem iria querer saber o que estava acontecendo nesse fim de mundo?

Um dia depois de encontrarem os assassinos, eu e Leandro fomos até o "tesouro" que seu pequenino irmão Luan queria tanto desenterrar. Passamos a manhã inteira cavando e retirando a grande placa de concreto e quando finalmente conseguimos abrir, um cheiro horrível invadiu nossas narinas. Eu reconhecia esse cheiro.

Era cheiro de morte.

Chamamos alguns moradores e logo a polícia apareceu interditando o local. Minha mãe que já estava preocupada, não me deixou sair de casa pelo resto do dia. Tentei trocar mensagens com Leandro, mas ele não respondia. Aquilo deveria ter mexido com ele mesmo.

- ACORDA SEU PORCARIA!

Meu irmão me acordou logo de manhã com seu senso de humor ridículo. Diferente de mim, ele permanecia o dia todo trancado em nosso quarto mexendo em seu computador para falar com seus amiguinhos virtuais.

- Porcaria é sua vida - resmunguei baixinho para ele não ouvir. Não queria começar o dia com brigas.

Esse era o nosso quarto dia vivendo na Vila Celestino. No primeiro eu havia encontrado um garoto morto. No segundo eu beijei o irmão do garoto morto. No terceiro eu encontrei mais dois cadáveres soterrados no chão. Não tem como o quarto dia ser pior , com esse pensamento eu fui tomar o meu café da manhã.

Minha mãe me esperava na mesa do café da manhã conversando com uma senhora de uns quarenta anos. Seus cabelos negros estavam soltos na suas costas com alguns fios emaranhados junto com alguns fios brancos perto da raiz. Apesar de ter olhos muito bonitos e expressivos, a beleza da senhora acaba aí. Rugas, olhos inchados, feridas na boca e uma magreza esquisita me chamaram a atenção. Ela parecia doente.

- Esse é o meu filho Murilo! - minha mãe disse com um sorriso - Venha conhecer a senhora Denise, ela mora na rua 3, atrás de nossa casa.

Minha mãe tinha os mesmo cabelos loiros que o meu, mas a semelhança acabava aí. Ela não aparentava ter 39 anos e nem a grande tragédia que nos ocorreu foram capaz de abalar a vida dela. Dona Léia era um exemplo que eu adorava seguir, bem diferente do meu pai que não passou de um covarde.

- Prazer - disse sentando na cadeira. Senhora Denise me encarava com seus grandes olhos e aquilo me deixou constrangido por um momento.

- Ele parece com o pai - Denise falou enquanto tomava uma xícara de chá.

Como ela conhecia meu pai? Pensei em perguntar diretamente, mas antes eu avistei o álbum de casamento da minha mãe em cima da mesa. Elas já deveriam estar conversando fazia um bom tempo.

- Sim, Murilo é a versão loira do Walter - minha mãe disse com um sorriso.

Ser comparado com meu pai e lembrar que eu tenho muitas das características dele me fez fazer uma careta horrível.

- Seu pai era fraco menino - Denise disse, fazendo eu e minha mãe olhar para ela - arrancar a própria vida não é um gesto de virtude. Ele deve estar queimando no inferno para se arrepender dos pecados cometidos.

Eu e minha mãe nos olhamos confusos e a dona Denise continuou a falar:

- Mas pelo menos, se sua mãe não estiver mentindo, ele deve ter morrido tranquilo. As vezes um belo tiro na cabeça resolve todos os nossos problemas. Meu marido pelo contrário era um idiota. Eu era apaixonada por um idiota... vocês acreditam nisso? - Denise sorria enquanto mastigava umas bolachas - ele e seu pai eram fracos e não existe lugar no mundo para pessoas fracas.

Ficamos em silêncio por um tempo até que minha mãe levantou-se e disse que iria acordar a minha irmãzinha Sofia. Eu fiquei sentado na mesa junto daquela senhora estranha.

- Você não quer ser fraco não é mesmo Murilo? - Denise me perguntou.

- Eu não sou igual meu pai - respondi sem emoção nenhuma.

Senhora Denise achou aquilo engraçado:

- Eu sei que você não é fraco. Você é um garoto forte - ela disse ironicamente - hoje essa sua força será colocada a prova.

- Por que? - eu perguntei assustado, segurando a faca do pão disfarçadamente.

- Porque hoje é o aniversário da morte dele. Hoje a sua raiva estará ainda maior. Hoje ele fará de tudo para se vingar.

Levantei da mesa um tanto transtornado enquanto Senhora Denise ria de um jeito meio nervoso. Minha mãe apareceu na cozinha junto da minha irmã e perguntou aonde eu estava indo.

- Vou até a casa do Leandro. A gente combinou de se encontrar. Um beijão para vocês.

Minha mãe gritou algumas coisas enquanto eu subia as escadas até o meu quarto. Meu irmão também encheu o saco quando eu abri a porta e vi ele conversando com uns amigos pelo skype. Corri até a varanda do meu quarto e de lá olhei para a casa do Leandro. Da vista da varanda eu conseguia enxergar boa parte da rua 4 e ver algumas casas da vizinhança. Procurei Leandro para ver se ele estaria sentado na sarjeta, mas não o encontrei. Ao contrário, meus olhos foram parar até o grande muro da mini-mansão em construção. Mesmo com o tamanho gigantesco dos muros, era possível ver o segundo andar daquela casa e de lá eu vi algo que me chamou atenção.

Alguém estava lá dentro da casa.

"Pode ser policiais, moradores, qualquer um". Pensei."Não preciso me preocupar"

Mesmo assim eu sai de casa para ir lá dar uma olhada. A rua estava vazia, alguns meninos estavam no campinho empinando pipa o que tornaria as coisas mais fáceis para mim. O portão de metal estava completamente trancado. Olhei para as partes do muro enquanto pensava alguma forma para entrar na casa.

- Engomadinho! Você não sabe que aí já morreram mais de duas pessoas?

Sílvio apareceu atrás de mim com um boné tosco de aba reta que cobria seus cabelos encaracolados e uma camisa regata. A última coisa que eu precisava era a presença dele ali.

- Você viu se alguém entrou lá naquela casa? - perguntei ignorando sua babaquice.

- Meu amigo Leandro entrou aí faz algumas horas. Por que?

- Como ele entrou? - eu perguntei novamente o ignorando.

- É só invadir o quintal da casa da Dona Ivone. Depois que o filho morreu ela foi embora, lá tem umas escadas no fundo. É só escalar e pular.

Confiei nas palavras do Sílvio por um momento, até que quando eu estava indo em direção a casa vizinha e ele gritar de lá de trás.

- Meu amigo Jorge morreu dentro daquela casa - ele disse como se fosse algo engraçado - vê se não mate meu amigo Leandro também, ok engomadinho?

Ignorei e empurrei o pequeno portãozinho da casa abandonada. Pular o muro era relativamente fácil e dentre poucos minutos eu já estava na propriedade daquela casa em construção.

As paredes estavam bem acabadas. Abri a porta e encontrei uma mancha vermelha antiga no chão. Ali que as pessoas deveriam ter sido assassinadas. Andei até as escadas em silêncio quando eu tive coragem de chamar o nome de Leandro.

Ele apareceu rapidamente pela porta do banheiro, parecia feliz por ter me visto.

- O que você está fazendo aqui? - ele me perguntou.

- Vi algo pela varanda e resolvi vir até aqui.

Leandro me encarou com seus olhos negros, seus cabelos negros acinzentados estavam penteados hoje e ele usava uma calça jeans e uma camisa polo vermelha.

- Preciso falar com você - eu disse - sobre ontem...

- Eu estou bem - Leandro se adiantou - se é isso que você for perguntar.

- Você tem certeza? - insisti - Se precisar de qualquer coisa é só pedir.

Leandro abriu um sorriso pela primeira vez:

- Eu precisava da sua companhia e nem precisei pedir.

Meu coração bateu mais forte nesse momento. Leandro continuava me olhando enquanto eu fingia que achava a casa interessante. Nem mesmo notei ele se aproximando. Quando vi, ele já estava com a mão em meu queixo, puxando meu rosto para um beijo.

Perdi o fôlego enquanto nós nos beijávamos. O mundo parecia transformar-se enquanto eu estava lá de olhos fechados aproveitando todo aquele momento junto a ele. Leandro me apertava com tanta força que por um momento eu temi que ele jamais fosse me soltar. Lembrei do nosso beijo no dia do poço e em como um grito nos fez parar de se beijar. Senti a mesma sensação novamente e fiquei esperando alguém gritar para que nós dois parássemos, mas o grito não chegou.

Soltei-me dos braços de Leandro com medo. Algo estava errado, eu podia sentir.

- Você achou algo estranho no segundo andar? - perguntei tentando controlar meu desespero.

- Não - ele respondeu tentando me entender - nem é possível subir lá. A escada foi desmontada.

Meu sangue gelou. Eu poderia jurar que tinha visto alguém lá em cima. Respirei fundo e pensei rapidamente no que fazer.

- Fica tranquilo - Leandro voltou a me abraçar - tudo isso aqui será destruído.

Em seus braços eu senti um conforto inimaginável. Ali estava tudo o que eu precisava, mas para o nosso próprio bem eu resolvi me afastar. Prevendo isso, Leandro me puxou para mais um beijo e lá ficamos perdidos um na boca do outro. Eu tinha certeza que escutaria um grito a qualquer momento. Eu podia sentir que estava chegando, que estava perto de mim, que a qualquer momento ele iria estourar.

Ao invés disso, eu só ouvi o silêncio.

- Precisamos sair daqui! - disse pegando a mão do Leandro e o levando para a saída.

Sem discutir, Leandro me seguiu pelo que seria a porta da sala e corremos até o muro para escala-lo. Senti o cutucão no braço e virei para ver Leandro me olhando.

- Murilo... - ele disse baixinho - o portão está aberto.

Entendi o recado e resolvemos correr até o portão. Antes mesmo de pisar o pé para fora eu me arrependi daquela decisão.

Meu coração parou quando eu vi o que estava do lado de fora.Uma multidão de pessoas paradas nos observando com os olhos brancos e iguais. Pareciam mortos-vivos olhando diretamente para mim. Meu olhar foi parar na minha casa, pensando na minha família.

Perdi toda a preocupação com eles quando vi minha mãe lá no meio também. Ela carregava uma faca de cozinha e pelo sabão em sua mão deduzi que ela estava lavando louça. Tentei entender o que estava acontecendo e o porque mais de cem pessoas estavam amontoadas como se fossem zumbis em minha frente.

- CUIDADO! - o grito de Leandro me tirou do transe.

Um homem de uns 30 anos me atacou com uma pá de metal. Desviei do seu golpe por reflexo e ele acertou o instrumento na parede arrancando várias lascas do tijolo. Leandro segurou minha mão e me arrastou de volta para dentro da casa.

De repente o silêncio assustador foi quebrado pelo barulho de pessoas macetando o portão de metal. Eu e Leandro tentávamos segurar com todas as nossas forças para que ninguém entrasse. Logo percebemos que seria impossível e corremos para o interior da casa.

Uma por uma, cada pessoa ia entrando pela casa. Algumas com facas, outras com ferramentas, avistei pela janela até mesmo uma mulher segurando um cabo de vassoura. Todos entrando pela casa com um único intuito.

Nos matar.

- VAMOS POR AQUI! - Leandro mais uma vez me fez acordar e prosseguir.

Corremos que nem loucos pelo interior da casa. Passamos pelas cozinhas, quartos, sala, mas nada parecia nos ajudar. Escutei o som das primeiras pessoas entrando na casa e pensei seriamente em desistir e me entregar. "Eu sou fraco igual ao meu pai", pensei. Leandro enquanto isso tinha ido até um quarto com suíte. Por um breve momento eu pensei que ele já havia desistido de mim, mas para nossa esperança ele voltou carregando uma escada de uns três metros.

- O segundo andar! Vamos! - ele falou baixinho como se as pessoas não fossem nos ouvir.

A escada não era alta o suficiente para chegar ao segundo andar, mas era possível se agarrar ao piso e subir. Leandro foi na frente e subiu com tranquilidade. Avistei o primeiro morador entrando no cômodo e subi a escada de dois em dois degraus. Lá embaixo, um grande amontoado de pessoas chegavam aos pés da escada dispostos a derruba-la. Dezenas deles largaram suas armas e trataram de por a escada a baixo.

Dei um último impulso com o pé e pulei na esperança de me agarrar ao piso. Falhei em me segurar, mas a mão de Leandro segurou o meu braço e me impediu de cair junto com a escada.

- SE SEGURA! - ele disse me puxando com toda a força do mundo - NÃO SOLTA!

Em um segundo Leandro me segurava com toda a força

Em um segundo eu percebi que aquela era uma péssima ideia.

Em um segundo eu me lembrei da pessoa que eu tinha visto no segundo andar.

Em um segundo ela apareceu com uma faca na mão e os olhos brancos.

Em um segundo ela enterrou a faca nas costas de Leandro.

Em um segundo Leandro perdeu as forças para me segurar.

Em um segundo eu cai no meio da multidão lá embaixo.

Meus gritos de desesperos e os gritos de dor de Leandro. Isso era as únicas coisas possíveis de escutar. Meu corpo caiu em cima de algumas pessoas que desabaram no chão e amorteceram minha queda. Levantei-me meio tonto e corri desesperadamente empurrando todos e todas. Minha sorte é que todas as pessoas olhavam para cima. "Devem estar admirando o assassinato de Leandro", pensei enquanto eu corria desesperadamente. Abri a primeira porta que encontrei e a tranquei o mais rápido que pude. Ninguém tentou abri-la e ao saber disso, me joguei sentado no chão percebendo que eu estava dentro do banheiro.

Senti uma dor horrível em minha mão. Deveria ter quebrado algum osso e o latejar dos dedos me faziam tremer de dor. Não escutei mais nenhum grito de Leandro e novamente o silêncio sinistro havia voltado.

Chorei de medo, chorei de tristeza, chorei por vários motivos dentro daquele banheiro. Eu tinha sido um covarde mais uma vez e iria morrer por conta disso. Minha cabeça tentava entender o que havia acontecido, mas eu não conseguia me concentrar para pensar em nada.

De repente meu celular tocou. Sabia que estaria morto por causa daquilo, mas escutar meu celular me fez lembrar de ligar para polícia e tentar algum tipo de ajuda. Quando eu peguei meu celular na mão a primeira coisa que eu vi foi uma luz branca intensa quase me cegando. Parecia a mesma luz dos olhos das pessoas lá fora. A tela estava completamente desfocada e a única coisa que eu consegui ver foi a data do dia.

Era 8 de fevereiro na vila Celestino.

Lembrei da senhora Denise falando que hoje era o aniversário da morte de alguém e esse alguém estaria com mais raiva ainda. Meu corpo começou a tremer de medo ao pensar que eu teria que ficar o restante do dia preso ali dentro.

E foi então que umas crianças começaram a gritar lá na rua. Gritavam coisas do tipo "cadê a minha pipa?", "vamos jogar futebol!". Por um momento eu temi pela vida delas e pensei em fazer algo para ajuda-las, mas já não era mais preciso. O som de famílias conversando, carros sendo ligados e passando pelas ruas e até mesmo meu celular que havia voltado ao normal recebia uma ligação da minha mãe. Com medo, resolvi não esperar mais e abrir a porta. Para minha certeza não tinha mais ninguém ali dentro.

A vida na Vila Celestino havia voltado ao normal.

Menos a vida de Leandro.

Ele havia perdido a sua.

...

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É isso meus amores, falem o que curtiram e o que não curtiram, semana que vem vem mais!

Agradeço a todos e me despeço pq eu tô cansadinho (algúem me bota pra dormir porfavor)

Beijos <3 amo vocês <3

1x05 - "Enganado" - A vila Celestino se apavora diante de um mais novo ataque. Murilo tenta ajudar o seu amor, porém a sua família é terrivelmente contra a ideia. Joana tenta enganar sua velha amiga porém isso não trará um bom resultado.

1x06 - "Esquecido" - Um passado esquecido da Vila Celestino é descoberto. Joana está fora de si enquanto Murilo tenta juntar um pouco de esperança para continuar sobrevivendo.

1x07 - "Extinto" - Murilo e Joana finalmente se encontram. Os segredos são revelados, porém nem todos poderão escapar da extinção.

Comentários

Há 4 comentários.

Por LuhXli em 2016-02-08 19:34:44
Olá! Minha primeira vez comentando, mas tentarei fazer isso sempre! Parabéns pela evolução do episódio, você conseguiu escrevê-lo, principalmente a parte final, de um modo que a tensão vai crescendo, crescendo até atingir um clímax! Ótimo conto!
Por Dougglas em 2016-01-16 01:54:46
Eawe, chatonildo. Acabei de ler. E como eu disse, não vou comentar nos outros capítulos porque eu não sou obrigada a nada. A nada. Então vamos às considerações sobre a história. Eu amei muito kkkk. Já tinha comentado contigo sobre como a estrutura de Só nós conhecemos. Ela eh mais descontraída, sem muita formatação. E isso combina muito com a proposta do conto. E eu achava que era seu estilo de escrita. Querer contar a história sem se preocupar muito com técnica. Até ler Lendas de Amor e Sangue. Eu pude comprovar o talento que você possui pra escrita. Você tem um domínio ótimo das palavras, mesmo com um vocabulário mais trabalhado não fica aquela norma culta cansativa. E outra, você está desenvolvendo, com mestria, uma história de estilo totalmente diferente da outra série. Eu adorei o clima da história. Quando vi que ela tinha a pegada do suspense e terror eu adorei. São poucas pessoas que conseguem trabalhar esse estilo e eu fiquei apreensivo diversas vezes nesses 4 capítulos. E fã de Sherlock Holmes que sou, estou adorando esse mistério. Já deu pra perceber que é um caso de possessão, e que está relacionado à homossexualidade como um pecado. Percebi isso quando houve o flashback sobre a Denise e o marido dela e liguei com a história do Caio e do Jorge. Com todo esse lance da casa, eu achava que tivesse início com o Rubens, mas como a morte dele foi em 2005 e a Rafa e Ingrid foram mortas em 1998, então é algo que aconteceu antes disso, e tudo me leva a crer que está relacionado com a família Celestino. Algo como um fato original que desencadeou essas ações sobrenaturais. O que me leva a ter dúvidas referente a qual a diferença quando apenas uma pessoa é possuída. Porque Caio era homossexual e foi possuído. O pai da Joana foi possuído. Sr Toledo foi possuído e o Jair Tbm, embora não tenha feito nada. O que me faz lembrar da Denise, que promoveu todo o pecado no casamento dela, e agora se mostra uma mulher que entende todo esse mistério. E tem a morte do Luan, que mesmo que o aviso da Denise fosse referente à morte de um inocente, me fez perguntar porque um inocente seria morto por essa possessão. Enfim, são vários enigmas que eu ainda não consegui decifrar e se minha suspeita sobre a família Celestino tiver certa, só vou poder confirmar quando o mistério for desvendado. Sobre os protagonistas, Joana e Murilo, eu gostei bastante. São carismáticos em suas dores, oq um protagonista precisa ser, pra passar empatia prós leitores. Joana eh bem mais forte nesse aspecto. Ela tá ali decidida a encontrar a resposta, a lutar, a desvendar tudo isso, e faz com que a gente torça por ela, pq Tbm queremos descobrir tudo. E o Murilo eh uma contraparte que está perdido assim como a gente, o que faz com que tenhamos uma figura pra nos identificar. A narração a partir do pontos de vistas deles foi uma jogada muito boa, e junto com os flashbacks, formaram uma estrutura incrível pra ambientar a história. Talvez eu esqueci de comentar sobre alguma coisa, mas eu tô aguardando o próximo capítulo ah haha. Um abraço, chatonildo...
Por edward em 2016-01-11 18:57:45
To passado 😲 César vc deveria publicar um livro,acredite faria o maior sucesso. Vamos a série: Ela ta perfeita ,confesso que estou um pouco apavorado,fiquei perplexo com a morte de Leandro,gostava muito dele,pena que teve um fim tão horrível.creio que a algum tipo de maldição na cidade.Tinha cogitado um mandante,mas depois de tantos assassinatos e o temíveis olhos brancos,descartei essa hipótese. Não vejo a hora de tudo ser esclarecido. Ah eu te boto pra dormir seu gostoso.bju na boca😘
Por diegocampos em 2016-01-10 21:47:38
Nossa que triste eu tava gostando do Leandro e o murilo, bem triste também o fim da história do Rubens e André. essas prévias só me deixam mas ansioso espero pelo proximo Beijão cesar.