1X03 - Enterrado

Conto de Cesar Neto como (Seguir)

Parte da série Lendas de Amor e Sangue

Olár migos e migas do meu coraçã, cês tão bem... voltei mais cedo do que o esperado, mas agora com outra série!! hahahaha Lendas de amor e sangue está de volta com novos capítulos depois de uma leve "sumida" (sorry again)... eu tive que mudar os rumos dessa série para ficar daquele jeitinho que eu gosto e isso levou um tempo (uns três meses hahah), mas agora que ela já está praticamente completa, venho dar mais detalhes disso aqui para vocês!

A série terá 7 capítulos, só. Dependendo da recepção a gente renova para uma segunda temporada hahaha

Mas sem delongas, vamos aos comentários (que eu amo de paixão!)

"diegocampos" - se sabe que cê mora aqui no meu core né <3 valeu pelo comentário di :D

"Niss" - desculpa se te assustou hahahaha não prometo que vai ficar mais leve, porém espero que tenha gostado e muito obrigado pelo comentário <3

"Ruth M." - você está completamente correta, da relação das duas vai sair uma linda relaçãozinha. Se vai dar certo eu já não posso responder (ou qual das duas vai morrer primeiro hahaha). Muito obrigado pelo comentário Ruth, e pode deixar que essa série vai explorar vários temas que ainda não apareceram no RG :D

"historiador " - hahahah saudades de você historiador, da suas histórias tb!! Fico muito feliz que tenha gostado (e espero que agora eu pare de demorar um ano) hahahah beijão lindo <3

"Klaus" - Ai klaus vc é um fofo mesmo <3<3<3 i love you lindinho, muito obrigado!

"Fagner" - Olha ai a luz que me guia voltando!! Saudades Fagnífico (justo quando vc havia voltado a comentar eu parei de postar hahahahha), mas nem tem o que dizer. Fico muito feliz que você tenha curtido essa série e pode deixar que ela ainda vai te surpreender muito! Muuuuuuito obrigado por tudo.. do seu escritor que ama escrever (a vá) Cesar hahahah <3

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[1998]

Gritos, palavras de baixo calão, ofensas. Todos os moradores da vila Celestino podiam escutar Rafaela gritando com seus pais.

A vila não era tão grande naquele tempo, as únicas ruas com casas eram a de número 1 e 2. O restante eram apenas terrenos a venda ou pequenas casas que estavam sendo levantadas. Por esse motivo, quando Rafaela gritou, a vizinhança inteira ficou em silêncio para escutar o resto da discussão.

- EU ESTOU INDO EMBORA DESSA CASA! ESTÃO ENTENDENDO?

Os pais de Rafaela não podiam fazer nada, apenas escutaram as palavras da filha e com lágrimas nos olhos, deixaram-na ir. A garota já tinha completado seus 18 anos e agora ninguém poderia impedi-la de tomar suas próprias decisões.

Com apenas uma mochila carregando uma troca de roupa, objetos de higiene pessoal e cinquenta reais em dinheiro, roubados da bolsa da mãe, Rafaela saiu de casa em direção a sua tão sonhada liberdade. Sentiu o vento frio soprando seu cabelo castanho cacheado e a sola do seu sapato mastigando a terra que ela sempre quis conhecer. Agora ela não precisava pedir permissão para sair de casa, não precisava avisar a hora que iria voltar e muito menos ter uma hora específica para voltar.

Aquele dia ficaria eternamente marcado na história de Rafaela.

Dezenove de Julho de 1995, o dia em que ela conheceu a liberdade.

Atravessou todos os quarteirões vazios até chegar num grande pasto verde. Lá era o limite da cidade, atrás havia uma floresta com árvores onde a garota nunca teve coragem de entrar. Ela olhou por um momento e viu os galhos balançando com a força do vento. Pela primeira vez no dia Rafaela sentiu frio, se arrependeu de não ter colocado um casaco na mochila e até pensou na oportunidade de voltar para casa e pegar uma blusa.

O som de uma voz conhecida a fez esquecer essa ideia.

- Ei, pensei que havia desistido.

Rafaela olhou para trás e reconheceu sua melhor amiga, Ingrid. A garota era a menina mais linda que os olhos de Rafa poderiam encontrar. Algo em sua personalidade atraia Rafa de uma maneira que ela não entendia.

Ingrid tinha 19 anos, alta, com os cabelos negros bem curtinhos e arrepiados. Seu rosto era redondo assim como os seus grandes olhos castanhos. Rafa admirava muito os seus lábios carnudos e até o seu piercing prateado no nariz. Os seios da menina mais velha eram grandes ao ponto de causar uma leve inveja na garota mais nova.

Rafaela sentia-se uma idiota perto de Ingrid. Ela era baixa e de uma beleza simples e modesta. Suas roupas eram todas simples e "comportadas" para uma menina cristã igual seus pais sempre exigiam. Rafa idolatrava seus próprios olhos azuis, aquelas duas bolas da cor do céu eram o que havia de mais belo em sua face, ela sabia que com eles poderia conseguir o que quisesse. E foi com eles que Rafa conseguiu conquistar o coração de Ingrid.

- Eu jamais iria desistir de você! – Rafa falou se aproximando e beijando a namorada.

As duas se abraçaram por um momento. Cansadas das famílias idiotas e julgadoras, as meninas estavam dispostas a sumir daquela cidade. Iriam pegar o primeiro ônibus e morar em Bauru, cidade onde Ingrid havia arrumado um emprego. A única coisa que sabiam é que ambas nunca iriam se separar.

- Eu te amo – Ingrid disse com um sorriso no rosto.

- Eu te amo muito mais! – Rafa respondeu.

De mãos dadas, ambas as meninas foram juntas até o final da pastagem. Lá se encontrava o primeiro lugar onde as duas se beijaram, o início de toda a história de amor.

Um profundo poço com seis metros de profundidade, construído para abastecer uma extinta fazenda dos anos 40. Foi lá que Rafa passeou por um dia e escutou um choro vindo do fundo do antigo fosso. Lá ela encontrou Ingrid chorando dentro do poço e a partir daí que começou uma nova amizade e futuramente um amor.

E nesse mesmo poço, as duas estavam dispostas a recomeçar uma nova vida.

Com força, as duas removeram a tampa de concreto do poço e começaram a descer. Entrar no poço já era relativamente fácil para elas sendo que em menos de um minuto, Ingrid e Rafa chegaram ao fundo do poço onde podiam sentir a terra fofinha massageando seus pés.

- E que uma nova vida se inicie hoje! – Ingrid tirou da sua mochila uma foto das duas garotas abraçadas e colocou no chão.

- Foi aqui que começamos – Rafa complementou – e apesar de feder um pouco, eu devo tudo a esse lugar. Vamos embora?

- Temos muito tempo ainda... – respondeu – podemos ficar mais alguns minutinhos.

Rafa conhecia o instinto sexual da sua namorada muito bem e sabia o que viria a seguir. Sem muitas delongas as duas começaram a se beijar loucamente naquele espaço apertado. A mão esquerda de Ingrid apalpava as costas de Rafa e a direita adentrava a calça jeans procurando os lábios vaginais.

As línguas das duas se entrelaçavam loucamente até que Rafa soltou um suspiro e olhou para cima. Viu a luz entrando pelo poço enquanto Ingrid introduzia o dedo indicador pela sua vagina já úmida e começou a gemer baixinho fazendo o som ecoar por toda a extensão do poço.

Ingrid não se importou em sujar a sua calça de terra quando ajoelhou no chão e abaixou a calça da amiga. Sua língua entrou direta pela buceta da amiga e sentiu um gosto delicioso que a fazia querer mais.

Rafa segurou nos cabelos curtos da amiga enquanto tremia de prazer. Fechou os olhos e sentiu o corpo se arrepiar quando a amiga sugava toda a região do seu clitóris. Gemeu o mais fundo possível e sentiu o orgasmo explodindo dentro de si.

Rafa se recompôs por alguns segundos quando escutou um barulho esquisito. A menina abriu os olhos e percebeu algo de errado. Ela não enxergava luz, não enxergava mais nada.

Alguém havia trancado o poço.

Ingrid percebeu o ocorrido e tratou de erguer as roupas da namorada. Percebeu que a Rafa estava assustada e logo tratou de acalma-la.

- Relaxa – disse calmamente – deve ser algum idiota.

Sem sucesso, Rafa permaneceu assustada. Poderia ser seus pais, ou até mesmo a polícia. Ela não deveria ter roubado cinquenta reais dos pais. Agora a polícia viria atrás dela.

- EI SEU BABACA! – Ingrid gritou furiosa – QUANDO EU SAIR DAQUI VOCÊ ESTÁ FODIDO NA MINHA MÃO, ESTÁ OUVINDO?

Com as mãos se enroscando pelas pedras, Ingrid começou a escalar o poço. Não era tão difícil e em menos de um minuto ela já estava no topo, onde com a força de uma mão, ela retirou o peso de concreto que as prendiam no poço.

Aliviada, Rafa viu a luz entrando pelo poço novamente e viu o medo indo embora aos poucos. Começou a fazer o mesmo procedimento que a namorada e assim foi escalando para fora do poço.

A menina mais velha saiu do poço primeiro e sem ao menos ter tempo de observar a vista lá fora, foi surpreendida por um golpe de marreta que a atingiu no meio da testa.

O golpe fez Ingrid cambalear para trás e cair de costas no poço. Rafaela, assim como sua namorada, não teve tempo de gritar. O estralo dos ossos se chocando com o chão fez a menina mais nova recuar para baixo preocupada com sua namorada.

A visão dos olhos azuis de Rafa fez Ingrid morrer tranquilamente até que o sangue de sua testa escorreu pelos seus olhos, obrigando a menina a fecha-los e dar seus últimos suspiros.

O choro e o grito de Rafaela ecoaram pelas paredes do poço. Desesperada a menina não sabia o que fazer, tentou sair do buraco e chamar por socorro, mas lembrou-se de que alguém estava lá fora e havia matado sua namorada.

E esse mesmo alguém apareceu com a cara no topo do poço.

Olhando para cima Rafaela teve a visão do agressor. Era um homem, afrodescendente e com uma cicatriz que marcava metade do seu rosto. A luz do dia brilhava pela única saída do poço, mas algo ainda era mais brilhante do que aquilo.

Os olhos do homem brilhavam, brilhavam em uma luz branca mais forte que o sol.

O grande homem ergueu sua marreta e começou a destruir a estrutura do lado de fora do poço. As batidas da marreta faziam o coração de Rafaela acelerar. Sentiu as pedras caírem em cima de sua cabeça causando uma dor irreconhecível. Terra, areia, pedra. Uma chuva atingia a sua cabeça fazendo-a gritar até sua voz desaparecer.

Do lado de fora, o homem havia terminado seu trabalho. Não era possível mais ver nenhuma estrutura do antigo poço. Por último, colocou a tampa de concreto em cima do buraco e certificou-se de que seria impossível remove-la de lá martelando até que a tampa estivesse bem enterrada na terra. Cobriu a estrutura com um punhado de terra ao lado e voltou a caminhar normalmente até a Vila Celestino.

Mais tarde, ele foi encontrado nas margens de um rio. E lá ele não se lembrava de mais nada.

Rafaela estava ferida com grande parte dos destroços do poço sobre ela, mas mesmo assim a menina não desistiu. Estava disposta a sair de lá e se vingar do maldito que havia feito isso a ela. Subiu até o topo do poço escuro e tentou remover a tampa do poço. Usou todo sua força, porém não havia conseguido. Sem energias para continuar, a garota caiu de volta para o fundo.

Suas lágrimas poderiam encher o poço de água. Sem esperanças, a menina deu as mãos para a sua falecida namorada e tentou pensar no melhor.

Três dias se passaram e Rafaela sentiu sede, depois fome, depois tontura, depois não sentiu mais nada. No terceiro dia, a garota acordou disposta a sobreviver, a achar uma maneira de sair de lá.

Aquele dia ficaria eternamente marcado na história de Rafaela.

Vinte e um de Julho de 1995, o dia em que ela perdeu a tão sonhada liberdade.

O dia em que ela morreu.

...

[Murilo]

- Onde você pensa que vai mocinho? - minha mãe perguntou com um tom de repreensão.

Eu já estava saindo pela porta da sala. Já eram cinco e meia da tarde e logo iria escurecer. Esse deveria ser o motivo de minha mãe não querer que eu saísse de casa, mas eu precisa desesperadamente sair do meu quarto e respirar um ar fresco.

- Vou ver como está o Leandro! - respondi esperando a permissão.

- Daqui a pouco vai anoitecer meu filho! - minha mãe alertou - não tem como deixar para ir vê-lo amanhã?

Fazia muito sentido a sua preocupação. Na noite anterior Luan havia sido assassinado, a polícia ainda estava a procura dos suspeitos, mas ninguém tinha certeza de nada. Estavam interrogando todos da rua, alertaram para não deixar nenhuma criança ou jovem sair da rua depois do anoitecer até acharem o culpado.

Leandro estava arrasado. O corpo do seu irmão havia sido levado pelos legistas para a investigação e só liberariam para o enterro pela manhã. Minha família, assim como o bairro inteiro, tinha aparecido para o velório. Leandro tentava parecer forte, mas de cinco a cinco minutos ele desabafa a chorar em um canto da parede afastado de todos.

Tentei conversar com ele, porém a única coisa que ele me disse foi: "me encontre em frente de casa, umas cinco e meia da tarde, tudo bem?". Afirmei com a cabeça e voltei para casa junto com minha família. Passei o resto do dia deitado na minha cama com os pensamentos a mil. "Poderia ter sido eu. Eu estava presente na rua. Eu senti que algo iria dar errado". Tirei essas ideias idiotas da cabeça e tentei dormir. Havia passado a noite em claro com a confusão e com os policias me enchendo de perguntas que não faziam sentido. Eles não eram treinados para esse tipo de coisa, o máximo que tinham que lidar era alguns traficantes da cidade. Por esse motivo, a cidade estava completamente em choque.

- Está tudo bem! - fiz um carinho nos braços de minha mãe - volto em meia hora.

Ele acenou com a cabeça concordando. A confiança que minha mãe tem em mim a torna a melhor mãe da face da terra. Dona Léia sempre foi uma mulher que confiava muito nas pessoas. Ela confiou em meu pai quando ele disse que estava bem e que poderia ficar em casa enquanto ela nos levava no zoológico. Ele não estava nem um pouco bem, porém minha mãe acabou acreditando nele.

- O seu bosta! - escutei a voz vindo das escadas - você está pedindo para morrer palhaço?

- Muito obrigado pela preocupação Danilo - joguei toda a ironia em minha voz para responder meu irmão.

- Vai ver seu namorado é? - Danilo desceu as escadas e recebeu um olhar de repressão de minha mãe.

- Vou sim! - respondi - melhor do que ficar batendo punheta o dia inteiro!

- OS DOIS! PAREM - minha mãe se impôs - Murilo, é melhor você ir indo, antes que fique tarde.

Virei as costas e sai. Meu corpo tremeu de raiva quando escutei meu irmão dizendo:

- Se cuida em maninho... você pode ser o próximo!

Ignorei o babaca e sai pelo portãozinho direto na calçada. A rua estava deserta, mas mesmo assim dava para escutar algumas conversas vindo das casas vizinhas. Atravessei a rua indo em direção a casa de Leandro e o encontrei sentado na sarjeta da calçada. Com a cabeça encostada no poste de luz, o menino parecia que estava muito mal. Sua pele estava com aspecto meio amarelado, seus cabelos estavam bagunçados e sem vida, e em baixo de seus olhos negros, uma grande olheira denunciava a falta de sono.

Senti-me culpado por ter colocado a minha melhor bermuda e uma camisa com estampa do universo. Havia até mesmo passado gel no cabelo e passado um pó para tampar as olheiras que eu acumulei naquela noite. Enquanto isso ele estava lá, com bermuda de jogar bola, uma camisa branca desbotada e um chinelo azul bem gasto. Era incrível como ele ainda permanecia bonito daquela forma.

- E ai! - falei baixinho e me sentei ao seu lado - tudo tranquilo?

Sem responder nada, ele apenas balançou a cabeça negativamente.

- Se você precisa de qualquer coisa, qualquer coisa mesmo! É só pedir que eu te ajudo!

- Eu queria meu irmão de volta... - Leandro falou abaixando a cabeça - acho que não tem nada que você possa fazer para trazer ele de volta.

Fui idiota e me arrependi de ter falado aquilo. Igualei a sua atitude e também abaixei a cabeça em silêncio.

- Me desculpa - ele falou segurando a minha mão - eu só estou um pouco... pouco confuso.

- Vai ficar tudo bem... - disse, mesmo sabendo que minhas palavras não iriam ajudar em nada.

As palavras não haviam funcionado, então o abracei oferecendo um pouco de carinho e segurança. Ele pareceu gostar daquilo e afundou sua cabeça em meu peito chorando baixinho. Minha outra mão se repousou sobre seus cabelos, alisando cada fio de sua cabeça.

Ficamos assim por uns dez minutos. O sol já estava se pondo e daqui a pouco eu precisaria voltar para casa. Leandro levantou a cabeça e olhando nos meus olhos ele falou:

- Preciso que você venha comigo em um lugar! Prometo que é bem rápido.

Sem pensar duas vezes, concordei em segui-lo. Leandro se levantou e me deu a mão para me ajudar a ficar de pé. Começamos andar até a rua principal e fomos seguindo pelas ruas da Vila Celestino. Alguns policiais ainda estavam interrogando os moradores da rua 6. A rua 7 estava um silêncio mortal, era a rua mais silenciosa do bairro inteiro. Depois dela, continuamos andando pelo campinho de futebol até chegarmos na grande pastagem. Lá eu tive que quebrar o silêncio e perguntar:

- Onde estamos indo?

- É ali na frente, já estamos chegando! - ele respondeu segurando a minha mão e me ajudando a atravessar a grama que começava a ficar um pouco mais alta naquela região.

Andamos por mais dois minutos até chegarmos em local esquisito. Uma tampa de concreto estava afundada na terra e em volta a grama não existia. Marcas de buracos em volta do concreto mostravam que alguém havia tentado retirar a tampa de lá. Sem entender muito eu acabei perguntando novamente:

- O que é isso? - falei pisando em cima da estrutura de concreto.

Leandro respirou fundo e me contou:

- No começo da semana, Luan me disse que havia encontrado um tesouro.Ele veio todo animado até mim e disse que finalmente seríamos ricos e poderíamos comprar o videogame que ele tanto queria. Então ele me trouxe até aqui. Disse que ele havia visto em histórias que as pessoas enterravam seus tesouros embaixo da terra. Meu irmão implorou para que eu o ajudasse a destampar esse buraco, porém eu desmenti toda a história para ele. Falei que ali não tinha tesouro nenhum. Nunca na minha vida eu decepcionei meu irmão dessa forma.

- Seu irmão era um sonhador! - falei com um pequeno sorriso.

- Sim! E agora eu sinto que devo desenterrar o tesouro dele - Leandro sorriu de volta - acho que é o que ele mais queria.

- E é o que você quer? - perguntei olhando diretamente em seus olhos.

- É claro! - ele respondeu se aproximando de mim - só que eu preciso de sua ajuda.

- Para desenterrar? - perguntei meio perdido - porque eu posso pegar uma pá, ou uma enxada e seria melhor se agente voltasse amanhã e...

Leandro me fez ficar quieto com um beijo. Seus lábios se encostaram no meu fazendo um calor atravessar todo o meu corpo. Por um momento eu senti uma energia diferente dentro de mim que eu jamais havia sentido. Sem parar de beija-lo, abracei-o o mais forte possível. Leandro mostrou um lado tão vulnerável para mim e talvez eu tenha me identificado com aquilo. Pela primeira vez depois que meu pai havia se matado, eu me senti confiante em abraçar alguém na minha vida. Somado ao beijo lento entre nossos lábios, aquela havia sido a melhor sensação da minha vida.

De repente um grito distante cortou o ar. Nos desgrudamos um do outro rapidamente e olhamos na direção de onde o som estava vindo. Era uma voz rouca de homem e parecia gritar para mim, parecia tentar me atingir. Um medo invadiu meu peito quando eu lembrei da noite anterior. Eu havia visto uma luz estranha vindo da floresta e agora as coisas pareciam mais reais.

O grito também havia vindo da floresta.

- Vem! - Leandro segurou minha mão - precisamos ir embora daqui antes que alguém chegue.

Ouvimos as sirenes da polícia e as luzes vermelhas e azuis piscando distante lá na rua 7. Atravessamos correndo pelo campinho o mais rápido possível e saímos na rua principal onde de lá voltamos normalmente observando o tumulto que a vila inteira estava fazendo.

Minha mãe me esperava em frente do portão de casa e me recebeu com um grande abraço. Disse que todos da vila escutaram o grito e que eu estava de castigo por uma, duas, ou três semanas por ter deixado-a preocupada.

Mas no fundo eu não me importava com isso. Eu só tinha na minha cabeça aquele grito. A voz ecoava na minha mente e eu fui percebendo que ela gritava diretamente para mim. Ela não gritava por socorro, ela não gritava de raiva, ela não gritava de dor.

Ela gritava de desespero.

Ela gritava implorando para que eu parasse.

[Joana]

- Jô! - escuto a voz do meu irmão - posso te fazer uma pergunta?

Meu pequeno irmãozinho Caio estava com oito anos. Meio tímido ele me perguntava constantemente coisas que jamais teria coragem de perguntar a seus pais. Estávamos no campinho de futebol da Vila Celestino, por conta disso, Caio estava vermelho feito um pimentão devido a exposição ao sol.

- Pode sim - respondi tranquila - mas primeiro vamos sair desse sol.

Caminhamos de mãos dadas até chegarmos embaixo de uma árvore. Caio não descolava os olhos de mim, sabia que além de irmã, eu era a sua melhor amiga e muitas vezes ele confiava mais em mim do que em seus próprios pais. Minha tia até sentia um certo ciúmes de mim quando o seu filho preferia a companhia da "irmã" de treze anos do que da própria mãe.

- Vai me perguntar, ou sua curiosidade já passou? - falei meio brincalhona apertando sua bochecha.

Caio não falou nada, apenas ficou observando o gramado de uma forma esquisita.

- Caio? - chamei sua atenção - estou falando com você!

E mais uma vez ele permaneceu em silêncio. Aproximei meu rosto ao dele e finalmente ele me encarou. Meu corpo tremeu em espasmos de medo. Seus olhos haviam desaparecidos. Com a maior calma do mundo ele se aproximou de mim e disse com sua voz infantil.

- Eu só quero que você não cometa o mesmo erro que o meu...

Suas mãos chegaram ao meus pescoço rápido demais. Tentar controla-lo, mas ele foi mais rápido que eu. Gritei, me debati, implorei... No final eu estava caída no chão com a cabeça repousada em uma pequena poça de sangue. Meu sangue.

A dor de cabeça me fez acordar do sonho. Porém meus problemas na vida real não eram menores.

Senti o gosto de sangue escorrendo pela minha boca. Levo minha mão até o rosto e tento tocar na fonte de onde o sangue está saindo. No meio da minha sobrancelha esquerda eu sinto um pequeno corte, quando eu o aperto sinto uma dor percorrendo pela minha espinha. "Devo ter caído de cara no chão", pensei enquanto recobrava a consciência.

Meu instinto de sobrevivência foi acionado em um passe de mágica. Vi em minha volta uma mata cheia de árvores dos mais diferentes tipos e tamanhos Eu estava ferida e precisaria de cuidado o mais rápido possível. Minhas pernas estavam dormentes, mas não pareciam estar com problemas . O sol estava se pondo, eu teria pouco tempo de luz do sol para arranjar um jeito de sair de lá. Fui levantado aos poucos até conseguir ficar em pé. Percebi que eu estava fraca, com fome, sede e com uma perca significativa se sangue.

A vontade de permanecer viva me deu forças para continuar. Comecei a andar devagar me apoiando nos troncos de algumas árvores. A fraqueza foi se revelando cada vez maior, voltei a sentir o gosto de sangue em minha boca e nessa hora eu não resisti. Cai novamente no chão sem forças.

Abri os olhos e avistei o pôr-do-sol, estava tão lindo. Gostei da ideia de morrer ali daquela maneira. Aos poucos meus olhos foram se fechando e se entregando a escuridão. Porém, a vida nunca me da aquilo que eu quero.

Uma voz me fez abrir os olhos e voltar para o estado de sobrevivência:

- Maria? - a voz chamava com medo - Maria?

O restante de sangue que meu corpo possuía gelou. Virei a cabeça e avistei o homem com uns trapos rasgados e sujos de sangue. O seu suor escorria por toda a sua cara e lá estava o que me fez ter mais medo: a cicatriz no olho. Meu pai, meu verdadeiro pai, aproximou-se de mim e ajoelhou-se ao meu lado dizendo:

- Eu vou te levar para a cabana Maria! Porque você não trouxe a pequena Joana?

Tentei responder, mas no meu estado era impossível. Pela primeira vez percebi que meu pai estava preso ao passado e pensando que eu era minha falecida mãe.

Senti ele derramando água na minha boca e aquela foi a melhor sensação da minha vida.

- Vamos! - ele me ajudou a levantar - antes que aconteça de novo!

- Aconteça o que? - minha voz falhou, mas eu consegui perguntar.

O desespero de meu pai em me tirar dali me preocupava bastante. Eu não confiava muito nele e na verdade eu pensava que ele havia morrido a anos. Apesar de ele estar louco, eu me senti feliz por encontra-lo novamente.

- Antes que ele volte! - meu pai respondeu olhando por todas as direções procurando algo - ele pode voltar a qualquer momento.

- Ele quem? - a curiosidade e a preocupação falavam mais alto do que eu.

E antes de responder. Meu pai cambaleou e caiu no chão junto a mim. A pancada na queda me fez sentir a pior dor de todas. Apaguei por alguns segundos e quando eu acordei meu pai estava ajoelhados com a mão em cima do rosto resmungando algo como "De novo não, por favor, de novo não".

- Pai! - chamei-o - Pai! O que está acontecendo?

- Eles precisam parar! - meu pai dizia rapidamente - ele não gosta disso! Eles precisam parar! Ele não gosta disso.

- Eles quem pai? - meu pai não respondeu - eles quem?

O silêncio e a tensão preencheram toda aquela mata. Meu pai tirou a mão do rosto, sua postura estava em outro estado, sua respiração desacelerou, sua calmaria me deixou perplexa.

E seus olhos se tornaram brancos como leite.

Sua primeira atitude foi partir para cima de mim e me empurrar. Cai mais uma vez no chão com ele em cima de mim me sufocando com as duas mãos em meu pescoço. Ele iria me matar em questões de segundo. Faço o meu último apelo juntando os meus últimos suspiros para dizer:

- Eu... eu sou a sua Maria - falei com dificuldades - eu... te... amo.

As mão do meu pai imediatamente saíram do meu pescoço e foram para sua cabeça. Ele tentava tirar algo que estava lá dentro, tentava expulsar tudo. Ele lutava pela mulher que amava com todas as forças.

E então ele gritou.

Sua voz quase estouraram meus tímpanos. Eu tinha certeza que num raio de quatro quilômetros todos deveriam ter escutado o grito grave de meu pai. Ele abriu os olhos e suas pupilas haviam voltado ao normal. O grito continuou por mais um tempo.

E então uma faca surgiu por de trás dele e rasgou a sua garganta, silenciando-o de vez.

O sangue de meu pai jorrou por todo meu corpo. A mão que o havia degolado puxou sua cabeça, fazendo meu pai cair de lado com as mão na garganta, procurando inutilmente a chance de viver.

O sol já havia desaparecido. Porém eu conseguia reconhecer a pessoa que estava na minha frente com as duas esferas oculares completamente brancas, com a pele queimada pelo sol e com uma pequena faca na mão.

Finalmente eu havia encontrado o meu irmão Caio.

Caio tinha mudado tanto, ele agora era um adolescente de 15 anos com marcas de acne na cara. Meu querido irmão estava sem camisa mostrando que havia engordado um pouquinho no tempo em que não nos víamos. Diferente do meu pai, ele não estava com um aspecto tão sujo, apenas tinha umas manchas de sangue seco espalhadas pelo seu corpo.

Ele provavelmente iria me matar. Eu já esperava por isso. Porém, para minha surpresa, ele apenas virou as costas e disse com uma voz calma de um adolescente:

- Seus pecados devem ser enterrados desse mundo.

Caio sumiu por entre as árvores. Depois de alguns segundos lutando comigo mesma, me levantei, dei uma última olhada para o corpo do meu pai e exitei. Eu deveria tentar ajuda-lo, porém não havia nada a se fazer. Prometi que voltaria para pegar o corpo, mas no momento eu deveria correr atrás do meu irmão.

Corri o o mais rápido que meu corpo aguentava. Escutava seus passos quebrando os galhos no chão e segui o barulho. A mata acabou e na minha frente a Vila Celestino se revelou. A pastagem, o campo de futebol, a rua sete. Eu havia me encontrado, porém não tive mais nenhum sinal do meu irmão Caio.

A felicidade tomou meu corpo quando eu avistei cinco viaturas de polícia atravessando a estrada e parando na frente do campo de futebol. Os policias vinham em mina direção, corri até eles com o restante das minhas energias.

Seis deles estavam chegando perto de mim. Reconheci o cabelo castanho preso em um rabo de cavalo a distância. Carla estava vindo, ela iria me ajudar a encontrar Caio. Tudo terminaria bem e aquele pesadelo acabaria de vez.

- Parada aí! - Carla gritou em minha direção - erga as mãos aonde a gente possa ver e ajoelhe no chão.

- Carla... eu - tentei entender o que estava acontecendo e esqueci de seguir as ordens.

- Algemem ela! - Carla deu o comando para mais dois guardas que vieram até mim e me imobilizaram.

Mais uma vez senti aquela sensação da vida escorrendo para fora do meu corpo. Olhei para Carla e mal tive forças para perguntar o que estava acontecendo. Meus olhos foram se fechando, meu corpo foi se contraindo e por último eu senti o olhar de desprezo que minha melhor amiga lançava para mim. Desmaiei com a voz dela ecoando na minha cabeça.

- Joana Silveira, você está presa por homicídio.

...

E aí o que vocês acharam? To ansioso pela resposta hahahaha

Gente esse foi mais um capítulo e agora só restam 4 (aqueles bem pessimistas hahaha)

Vou deixar as sinopses de todos os capítulos para vocês... e já está aberto as apostas "quem vive?", "quem não vai durar mais um episódio", "que merda tá acontecendo nessa vila?", "quantos anos o Cesar vai levar para postar o próximo"? hahahaha

Beijos e muito obrigado por lerem até aqui. Deixo a vocês as sinopses de TODOS os próximos capítulos!

1x04 - "Esperado" - Joana tentará provar sua inocência, porém ninguém está afim de acreditar nas histórias que ela viveu. Enquanto isso Murilo e Leandro acham coisas sinistras vindo da casa da Dona Denise. Quanto tempo os moradores da Vila Celestino vão ter que esperar para perceber que algo errado está acontecendo na vila?

1x05 - "Enganado" - A vila Celestino se apavora diante de um mais novo ataque. Murilo tenta ajudar o seu amor, porém a sua família é terrivelmente contra a ideia. Joana tenta enganar sua velha amiga porém isso não trará um bom resultado.

1x06 - "Esquecido" - Um passado esquecido da Vila Celestino é descoberto. Joana está fora de si enquanto Murilo tenta juntar um pouco de esperança para continuar sobrevivendo.

1x07 - "Extinto" - Murilo e Joana finalmente se encontram. Os segredos são revelados, porém nem todos poderão escapar da extinção.

Comentários

Há 2 comentários.

Por Fagner em 2015-12-30 21:43:11
Puta Merda Cesar.. Case comigo.... Meu Deus. Perdoe o palavrão... 😁 Cesar, eu estou boquiaberto com essa sua série. Gente, estou sem palavras. Mentira, eu tenho palavras até demais. Garoto, o que está fazendo que ainda não mandou suas criações para algum lugar que possa fazer das mesmas um sucesso? Meus Parabéns Cesar. Agora falando da série e dos personagens ao mesmo tempo, tenho que elaborar uma maneira de desvendar tudo. Me vejo numa série de TV lendo tudo isso. A Parte do beijo entre os garotos foi algo tão lindo e fofo que me deu até medo de ler a cena em que eles retirariam a tampa do poço. Mas como você sabe deixar um suspense perfeito na serie, não deixou que eles vissem nada no mesmo. Sabe o que eu acho incrível? Acho incrível a maneira que você deixa o suspense, mas logo numa outra cena, dá uma explicação lógica para tudo que aconteceu antes. A Cena da família de Joana, em que seu pai a confunde com a mulher e tenta fugir com a garota no meio da floresta para salva-la, me lembrou um filme que vi e achei incrível , só não me lembro o nome. Hehe A agonia da garota ao ver o irmão bem mais velho degolar o pai e logo após desaparecer, me fez ter a certeza de que ela seria morta, porém me equivoquei e mais uma vez você me surpreendeu, fazendo-a ser a "culpada" por matar quem ela não matou Gente, o desespero dela ao ver a amiga acusando-a, foi de doer meu coração. Mas não uma dor de tristeza, uma dor de decepção, pois, quem não se decepcionaria? Enfim Cesar, realmente você está de parabéns e me deixou de queixo caído. Melhores séries do site são as suas, e pode ter certeza que eu generalizei minha opinião. Hehe Um abraço e mantenha contato com seus leitores, pois os mesmos sempre estarão te acompanhando. Mais uma vez, generalizei. Até a próxima. 💕
Por diegocampos em 2015-12-30 21:25:05
Estou amando a história muito boa nunca tinha lido uma história assim e tô amando e muito louca kkkkk ansioso para o próximo você também mora no meu core cesar Beijão.