Segredos #07
Parte da série Paixão ao desconhecido
Estava impaciente em frente a sala de Olivia. Meu Deus, o que ela havia feito?
Rodrigues havia me tratado diferente, um pouco mais pensativo quando encontrei ele no ponto. Estava relutante, mais distante que o normal, mas seus olhos estavam mais vivos e brilhantes quando os encarei olhando para mim.
- O que foi? – eu perguntei a ele – O que você tem.
- Nada de mais, depois eu falo contigo.
- Depois merda nenhuma – eu o puxei pelo punho até uma parede – Fala agora.
- Vou falar com Olivia primeiro – ele suspirou – depois eu falo tudo pra você.
Ele me empurrou para longe, foi se distanciando aos poucos e me deixou sozinho.
E lá estava eu em frente a sala dela e dele, ainda não me acostumei. Ele me fitava pelo vidro e ao invés de corar como normalmente, eu mostrava meu rosto enfurecido enquanto Olivia sorria ao longe.
Vou matar ela.
Logo o sinal tocou, a multidão de alunos se exprimia por uma porta estreita para sair em uma curta liberdade. E então os dois vieram, lado a lado.
Rodrigues sem nenhuma relutância avançou sobre mim. Agora ele que parecia furioso. Ele me puxou pelo braço para longe da multidão.
- Você queria saber certo?
- Primeiro tenho que falar com Olivia – respondi.
- Vá com ele – ela disse calmamente – Depois conversamos.
- Mas...
- Xiu – ele disse – Você a ouviu, agora vem.
Continuou a me puxar sem olhar para trás, nunca havia o visto desse jeito. Olivia tinha mesmo falado para ele. Acho que nossa amizade tinha acabado por fim.
- Você queria que eu falasse tudo? – ele disse – Bom, então eu vou falar. E você vai me ouvir.
Eu estava com um pouco de medo. Tinha me apegado demais a ele para tudo acabar ali. Dane-se se ele não me amava, se não retribuía esse sentimento, só a amizade dele me bastava no momento.
- Rodrigo – ele parou e me soltou – Olivia me disse algo que me fez pensar muito e cá estamos nós.
Sua voz estava mais calma, ele estava de costas para mim meio inquieto. O silencio predominou, eu temia o que ele ia dizer.
- Antes de qualquer coisa, me deixa explicar...
- Quieto – ele me interrompeu – Deixa eu falar.
Não, não, não. Ele me odeia, eu perdi tudo. O que eu fiz?
- Ela disse que – ele se virou – disse que...
Sua fala morreu. Ele se silenciou novamente.
- Ela disse que tem uma garota da sua sala que gosta de mim. Você sabe quem é ela para me dizer?
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- Que merda de ideia foi essa? – eu estava quase gritando com Olivia.
Havia separado ela do grupo, Rodrigues estava comendo algo e Laura conversava com o resto do grupo, também um pouco irritada.
- Calma – ela ria animada.
- Que merda de calma Olivia.
- Agora me escuta – ela pediu – Qual foi a reação dele?
- Curiosa e... – relutei em dizer – Alias, por que deseja saber?
- Tolo, foi tudo planejado.
Ela se vangloriava como se tivesse tido o maior plano do mundo.
- Tudo planejado? Ele tá em busca de uma garota que não existe. Qual o planejamento disso.
- Tanto faz, qual foi a verdadeira reação dele – ela insistiu.
- Ele ficou meio irritado e muito curioso para saber quem era – decidi colaborar.
Agora ele buscava alguém que não existia. O que eu ia falar para ele? Não podia mentir, não para ele, não naquele momento.
- Interessante.
- Olivia – a interrompi – Me diz agora, qual foi a sua intenção com isso?
- Qual seria a sua reação se soubesse que tem alguém apaixonado por você?
- Bom, eu ficaria... – parei pra pensar um momento.
- Entendeu agora? Foi tudo para ver a reação dele, dependendo da reação... você sabe.
Ok ok, eu admito, Olivia tinha ótimas ideias. Tinha a coragem que eu não tinha, a força e determinação também. Devia muito a ela.
- A reação dele diz muito, mas...
- Mas o quê Rodrigo? – ela se irritou por um momento.
- Sabe que tem uma menina apaixonada por você é uma coisa, agora saber que tem um garoto que te ama, e pior, era e agora é seu melhor amigo. Admita, é outra coisa.
- Se contarmos, explicarmos tudo a ele. Quem sabe...
- Ele entenda? Nos abraçamos e saímos felizes? O mundo não é assim Olivia. Bom, mas só corrigindo você, nós não falaremos nada.
Parei por um momento, era isso mesmo que eu ia fazer? Ia colocar nossa amizade em risco por um amor besta? Dane-se, que isso acabe de uma vez.
- Você vai falar.
- Rodrigo – ela relutou – Você tem certeza disso?
- Olha, faz o que você achar melhor – encerrei – Depois eu falo com você.
E a deixei ali. Logo ela iria falar com ele e eu acho que nunca mais ouviria sua voz, não sentiria mais o seu calor perto de mim, não seria tão feliz. Eu o amava mesmo. Lá estava eu, pronto para estragar tudo.
Não que eu dependesse dele, mas a sensação de tê-lo ali, ao meu lado, tão perto, tão caloroso, tão forte, era um prazer tão intenso. Como podia ama-lo assim? Eu estava apaixonado pelo meu melhor amigo, não que seja a única, mas uma das únicas pessoas que podia confia. Bom, agora eu lhe confiava meu amor e meu segredo.
Coloquei os fones para me distrair, dane-se a musica, só queria esquecer aquele momento, acreditar que nada era verdade, que era um sonho, que tudo ia ficar bem. Nem sempre nada fica. Ao longe vi Olivia junto dele conversando, lentamente a via falar com calma e firmeza, queria imaginar um tom de resposta dele que não seria de raiva, que não estivesse irritado. Seu rosto sereno se manteve enquanto ela falava, ele somente assentiu cada palavra.
Eu não sabia se ele aceitara bem. Não sabia o que ele faria agora. O que eu faria agora?
Olivia vinha caminhando até mim. Não demonstrava emoção, acho que nem ela sabia o que havia acontecido direito. Ela vinha em uma compaixão e formou um sorriso caloroso. Acho que eu precisaria dela mais do que nunca agora.
- Eu falei já – ela disse se sentando ao meu lado.
Eram por volta de quatro da tarde. Estávamos sentados sob um abrigo ao sol. Era ali, era o fim? O que aconteceria agora?
- Acabou certo? – perguntei.
- Eu acho que está só começando.
- Motivador de sua parte.
- Agora vamos resolver com ela?
Raivosa em passos fortes e densos, Laura vinha bufando e esmurrando o ar, o estereotipo de garota delicada não se encaixava nela.
- Eu não saio daqui até vocês falarem.
- Falar o que Laura? – eu elevei o tom.
- O que você estão fazendo?
- Eu só ajudando o Rodrigo em um problema – Olivia tentou apaziguar a situação. – Só isso.
- E que problema é esse, posso saber?
- Eu não tô com paciência pra você hoje – eu me levantei.
- Não – ela me segurou pela gola da camisa e me virou nos colocando frente a frente.
- Você vai falar - ela disse – Agora.
Dane-se, já havia perdido tudo que eu tinha no dia. Não faria ponto a mais ou a menos ela.
- Eu sou gay, estou apaixonado pelo meu melhor amigo e acabei de fuder com minha vida inteira – disse para ela. – Feliz agora?
Me soltei dela e entrei na sala sem a mínima reverencia. Eu não aguentaria ficar ali o resto do dia, mas como nada fica bem, eu teria uma prova maldita que o governo aplica para testar a nossa inteligência matemática, vulgo OBMEP (que já fez sabe meu sofrimento).
Foi uma prova longa e chata, nunca acertava nada mesmo, então dane-se. Fui um dos primeiros a sair da sala, mas antes, um pouco arrependida eu acho, Laura segurou minha mão.
- Se você precisar – ela disse – Eu estou aqui com você.
- Obrigado, eu acho.
Lá fora eu vi Olivia retornando a sua sala com uma garrafa d’agua. Ela sentia empatia comigo eu acho, eu estava péssimo, meus olhos cansados e vermelhos de segurar o choro. Eu não estava bem.
- Eu vou embora – disse – Não vou esperar ele. Inventa uma desculpa, mas duvido muito que ele vá se importar.
- Rodrigo, você tá bem?
- Eu pareço bem?
- To preocupada com você. Qual quer coisa, nem mande mensagem, me liga direto.
- Não se preocupe, cansei de deixar meus problemas só com você e não assumir eles.
Acho que ela queria argumentar, mas eu segui em frente para sair da escola. Seria só eu e somente eu. E na frente da sala de Olivia eu parei e me virei para vê-lo uma ultima vez.
Ele já me fitava, para minha sorte ou azar.
Seus olhos me aqueciam, me seguiam com fervor e duvida, seus olhos me alegravam, me transmitiam calma e paz. Ele me fazia tão bem.
E ele desviou o olhar.
E eu perdi tudo.