O fim - parte um.
Parte da série Paixão ao desconhecido
Oi pessoal.
Então, possivelmente esse será o ultimo capitulo que vou dividir em duas partes para ficar mais conveniente. Eu percebi que eu comecei a escrever o conto para meio que desabafar tudo que passei, mas agora esse conto é só mais um meio de eu manter o Rodrigues dá vida real vivo na minha cabeça, de fingir que nada mudou.
Tomei a decisão de acabar com tudo então, de me livrar de todas as corrente que ainda me aprisionam a lembrança dele. O que vou falar agora é tudo o que aconteceu na ultima semana agora, você vão entender.
Também pensei bastante e pelo menos vou mostrar como foi o curto e esclarecedor dialogo real do Rodrigo e Rodrigues, que simbolicamente, é o fim mesmo:
- Cara, vou te falar o que eu não falei em todo esse tempo, pois deu um misto de medo e vergonha. Então. Não sei se a Olivia te contou algo ou não ou por que cajas d'agua vc parece me evitar. Mas lembra da garota da minha sala que gosta de você, no caso seria eu. Sim, eu gosto de você, e sla isso foi antes de eu te reconhecer e etc quando eu te vi no ônibus uma vez, mas isso não vem ao caso. Sla, acho que era isso que ia falar, espero que entenda e sim, isso é muito estranho – Rodrigo.
- Cara não fique chateado mas eu não vou ficar ou namorar você, é totalmente fora dos meus princípios – Rodrigues.
- Eu sei. Entendo. Só queria saber se você tinha raiva ou algo do tipo
- Ata, então beleza. Vamos encerrar esse assunto e nunca mais vamos tocar nele, pode ser?
- Ok
Obrigado por terem me acompanhado até aqui.
------
6 meses depois...
9 de fevereiro de 2015 – 5:30
Foram 2 meses em casa, sem ver ninguém e sem lembrar nada... Acho que eu pude esquecer a maior parte do que aconteceu. Ano novo, acho que posso fazer diferente, ainda vai estar marcado, mas esqueço e tento continuar esquecendo o que aconteceu. Manter somente as lembranças felizes.
- Rodrigo, acorda – minha mãe me disse. – Não vá se atrasar.
Abri os olhos, a escuridão me evolvia, meus pensamentos sussurravam coisas e que tudo ia piorar, eles só estavam com medo. Eu estava com medo, de encontrar ele.
(Flashback)
Estava no ponto de ônibus, corri o bastante para chegar lá antes dele e tem tempo para falar o que sinto. Ele não aparecia, eu estava nervoso. O que eu iria dizer?
O vi caminhando para o ponto, distraído, acho que não havia me notado. Estava a poucos metros de mim, uns 5 metros e sabia que ele já podia me ver, mas não queria. Eu iria fazer isso mesmo? Por que não posso seguir em frente? Acabou, mas eu quero mais. Acabou, menos o meu egoísmo.
Um ônibus parou. Acho que não era nem o ônibus que pegávamos, não estava prestando atenção, meus pensamentos estavam embaralhados, confusos. Ele se aproximava mais e mais, ele já havia me visto e se recusava a me olhar.
Ele correu para o ônibus parado. Eu ia interrompe-lo, ia correr para para-lo. Forcei minhas pernas, elas não me obedeciam, meu corpo travou, meus músculos estavam pesados e meus pés presos ao chão. Meu corpo lutava contra mim, até minha carne mostrava que eu estava errado e que eu devia desistir, mas minha mente queria insistir.
Ele passou por mim, tentei levantar a mão para acenar, falar algo, lhe chamar. Minha voz não saia. Ele continuou sem me olhar, passou direto e entrou no ônibus que já fechava as portas. Aquele ônibus nem se quer passava perto de casa, tudo isso era para me evitar.
Ele se foi, senti lagrimas escorrerem pelo meu rosto.
Eu corri, para longe dali.
(Fim do Flashback)
Me sentei na cama, cocei os olhos. Devia estar ansioso para isso, não vi nenhum sinal dele durante toda as férias, achei até que ele podia ter se mudado, que não iria vê-lo mais e podia finalmente fingir que não vivi aquilo. Ser feliz de novo.
Não é tão fácil ser feliz.
Rapidamente tomei um banho, a agua fria escorrendo pelo meu corpo que me despertava e me limpava, me sentia puro... Lavei o rosto, acho que evolui um pouco, meu peito e abdômen estava mais desenvolvido pois fiz uma academia para me ocupar, meus rosto estava limpo e sem espinhas, tinha começado a cuidar mais da minha aparências, cabelos alinhados e limpos. Acho que estava até com uma autoconfiança, algo raro de ter. Algo que eu não tenho.
Cansei de ser otimista, de que tudo vai dar certo, cansei de ser confiante, de dizer que posso e que vou fazer. Eu não posso, sou fraco.
- Você é um babaca – disse ao meu reflexo no espelho.
Vesti o uniforme da escola, estava bem justo, meus movimentos estavam limitados, era como se estivesse preso a correntes. Mas afinal eu estava mesmo.
Tomei um copo de café, precisava ficar acordado um pouco, mas sinceramente eu queria sumir, desaparecer, ver se algo ou alguém notaria minha falta. Queria dormir eternamente sem sofrer de novo.
Peguei a mochila e olhei no relógio: 6:30 am. Estava no horário como sempre.
- Tchau mãe.
- Cuidado filho – ela disse. – Olha em volta antes de abrir o portão.
- Ok.
Ignorei suas recomendações. Um ladrão viria em mim por que? Roubar o resto de felicidade que tinha? Era mais fácil ele me dar felicidade ao ver o quão pobre dela eu estava.
Coloquei o fone, precisava me distrair. Precisava fugir da realidade.
Happy Little Pill – Troye Sivan
In the crowd alone
And every second passing
Reminds me I'm not home
Bright lights and city sounds
Are ringing like a drum
Unknown
Unknown
All the blazed eyes, empty hearts
Buying happy from shopping carts
Nothing but time to kill
Sipping life from bottles
Tight skin bodyguards
Gucci down the boulevard
Cocaine, dollar bills and...
My happy little pill
Take me away
Dry my eyes
Bring colour to my skies
My sweet little pill
Tame my hunger
Lie within
Numb my skin
Like a rock, I float
Sweating conversations seeping to my bones
Fours walls are not enough
I'll take a dip into the unknown
Unknown
All the blazed eyes, empty hearts
Buying happy from shopping carts
Nothing but time to kill
Sipping life from bottles
Tight skin bodyguards
Gucci down the boulevard
Cocaine, dollar bills and...
My happy little pill
Take me away
Dry my eyes
Bring colour to my skies
My sweet little pill
Tame my hunger
Lie within
Numb my skin
Blazed eyes, empty hearts
Buying happy from shopping carts
Nothing but time to kill
Sipping life from bottles
Tight skin bodyguards
Gucci down the boulevard
Cocaine, dollar bills and...
My happy little pill
Take me away
Dry my eyes
Bring colour to my skies
My sweet little pill
Tame my hunger
Lie within
Numb my skin
Cheguei no ponto, vazio aparentemente, somente eu e meus pensamentos. Ninguém mais aparecia, olhei em volta, nenhum individuo suspeito, infelizmente. Continuaria sozinho.
Olhei para o outro lado da avenida, ele geralmente vinha dali. Tinha mesmo a tola esperança de ele aparecer ali? De atravessar a rua e vim até mim? De vir sorrindo e dizer:
- Oi, eai como foram suas férias?
Eu devia ter ficado na cama, lembrar os bons momentos que tive.
(Flashback)
Olivia esboçou um sorriso grande e se alegrou. Acho que era uma boa ideia ficar com ela ali, seria bom que ela também poderia ficar de olho em mim para eu não fazer merda.
Ah. Mas eu vou fazer, sempre faço...
- Ok ok – ela disse – Quem quer comer algo?
- Deveria dizer quem tem dinheiro pra comer algo? – acrescentei.
- Exato. Você tem?
- Nope, tenho livros pra comprar – respondi.
- E antes que você pergunte – Rodrigues interrompeu – Eu tenho mangás para comprar. Tô zerado.
- Ninguém tem nada aqui? – ela disse.
- Eu acho que não – eu respondi por ambos.
Isso seria engraçado se não fosse trágico. Então ficamos nós ali em silencio, sem emitir som algum, uma sensação calma e aterradora também. Acho que não duraria muito tempo, logo ele iria querer ir embora e eu queria ficar o máximo com ele.
- Eu acho que tenho sim – acabei que por soltar.
- O que? – ele disse surpreso.
- Dinheiro pô. Espera ai.
Tirei a mochila das costa e joguei no chão, ia vasculhando bolso a bolso, encontrei canetas, rascunhos de outros contos em folhas amassadas, lixo, provas de nota baixa... achei de tudo até finalmente ver o que queria.
Uma nota de 50. Eu havia achado no ônibus no dia anterior atrás de um dos bancos.
- Você 50 conto ai e ainda diz que tá sem dinheiro – Rodrigues exclamou. – Ah vai pro inferno.
- Eu esqueci que tinha, desculpa pô.
- Tá tá.
Ele me puxou pela mão e me levantou. Começou a correr me arrastando e atravessamos a avenida correndo em meio os carros furiosos.
- Você quer me matar – gritei.
- Não hoje.
- Onde vocês vão? – Olivia gritou do outro lado da rua – E vão me deixar aqui?
- Vamos comer – ele parou pra responder – A donzela precisa de ajuda pra atravessar a rua?
Ela respondeu com um gesto relativamente ofensivo, acho que insultava sua “masculinidade”, digo isso por que não tenho certeza de quem ele é. Acho que o gaydar não ativou. Ele riu e continuou me puxando com Olivia no nosso encalço até paramos em frente uma lanchonete.
- Acho que você vai ficar sem seus livros dessa vez – ele disse.
Eu lamentei isso profundamente.
Por fim lá estávamos nós. Comendo e conversando, havíamos pedido cachorros-quentes, coxinhas, uma porção de batata frita e refrigerantes. As bebidas não duraram muito tempo, também por que éramos adolescentes que comiam uma mordida e cinco goles de refrigerante.
- Vou pegar mais – disse me levantando.
- Eu vou com você – ele disse – Na ultima vez você esqueceu os canudos.
E lá fomos nós, ele sorria animado. Eu me perguntava se ele sentia algo, praticamente foi ele que me procurou e que me reconheceu, ele que viu quem eu era. Eu queria saber quem era ele agora.
Ele era o mesmo de antes?
- Hey, olha aqui – ele me chamou.
Ele segurava um canudo embalado no plástico na altura da virilha relativamente, esboçou um rosto de prazer e começou, como em um transe discreto, um ato um tanto estranho para o momento.
Ele fingia se masturbar. Ele me olhava nos olhos rindo e continuava fazendo, eu corei e não resisti, ele gesticulou como se perguntasse se eu queria. Ele estava brincando com minha cara.
- Vai pro inferno – eu disse.
Ele riu animado. Parecia um idiota, um adolescente retardado que só pensava em sexo. Não, ele não poderia ser assim.
Tomei o canudo da sua mão e o joguei em meio os outros que peguei, nem pensei no que tinha feito quando o coloquei lá. Peguei as bebidas e fui pra mesa.
- Eu vou no banheiro. - ele disse – Mas viu, você gostou, até pegou o canudo.
(Fim do Flashback)
Como eu podia ter me apaixonado por ele, pelo meu melhor amigo. Como pude ser tão idiota assim. Tive bons momentos, mas a maior parte foram momentos que quero esquecer. Não posso.
Ele surge do outro lado da rua. Distante como sempre. Seus olhos me fascinavam, estava um êxtase intenso novamente. Mas ele vinha caminhando, e eu via o que mais ninguém podia, atrás dele eu via uma nuvem negra. Ele trazia tudo, trazia todos os sentimentos, tudo o que aconteceu, ele conduzia aquela nuvem para mim.
Estaria envolto novamente, uma nuvem negra de lembranças, que trazia uma chuva de sentimentos.