Herói ou Vilão #09
Parte da série Paixão ao desconhecido
Amo vocês
E venho fazer uma proposta um tanto tentadora. Oficialmente, se for levar a cronologia real de tudo que aconteceu, tenho mais dois capitulo para vocês.
Então lhe ofereço: a mesma história, seguindo ainda com alguns acontecimentos verídicos só que também mais e mais fictícios e não vão só se centralizar em mim, o Rodrigo, ou se preferirem. Natan, muito prazer. Se concordarem, farei como uma segunda temporada que vai durar de 5 a 7 capítulos provavelmente.
Agora vocês escolhem. Encerro com esse e o próximo capitulo ou continuo com a mesma história com mais ficção.
Boa leitura.
///------\\\
No ônibus não encontrei ninguém que conhecia, por sorte, ou por que eu simplesmente peguei a linha mais longa até a escola. Não queria ver ninguém, minha cabeça estava doendo e eu me alimentava apenas de besteiras há dois dias, pegar o caminho mais longo era lucro.
Minha bolsa estava mais pesada que o mundo quando desci do ônibus, acho que eu havia esquecido como andar, meus pés vacilavam e minhas pernas tremiam, nem sei por que estava ali. Uma fina garoa caia e o clima nublado e frio, eu coloquei a touca azul marinho do uniforme e tentava me camuflar na multidão de alunos. Eu estava na frente do prédio da escola e discretamente entrei.
Não podia ir para a biblioteca, pois ele estaria lá e não estava a fim de ver ele nesse momento, não podia ir direto para a sala, pois Olivia estaria lá e provavelmente junto de Laura. Bom, eu não queria morrer. Não hoje.
- Minha melhor opção é ficar no pátio – sussurrei – Se alguém vir, eu posso correr.
Eu tinha pré-aula no dia, mas não tinha a mínima vontade de ir. Ah, eu não tinha a mínima vontade de estar ali. Não, não era o fim do mundo. Ou era? Sei que provavelmente não teria sua amizade mais.
- Ou você me da uma boa desculpa – ela disse – Ou você vai ficar em casa todo engessado pelos próximos 14 dias.
- Também senti sua falta Olivia. Agora fala baixo ok?
- Por que você sumiu – ela gritava – Por dois dias.
- Lembra o que eu disse sobre falar baixo? E por que você acha que eu sumi?
- Eu sei, mas dane-se ele. Você não vai ficar deprimido por isso.
O sinal tocou, que mesmo ao longe, parecia do meu lado e só inflamou mais minha dor de cabeça. A fina garoa se transformou em uma chuva densa e pesada, a agua inundava o pátio da escola e logo a energia acabaria provavelmente.
- Sabe quando você tem consciência de que algo é errado, mas ainda sim que insistir nisso.
- E o que tem isso?
- Eu já não sei mais o que eu sinto – eu disse – O que eu estou fazendo aqui. Acho que estou sendo egoísta. Só estou me importando comigo, com meus sentimentos. Não estou valorizando a amizade dele, tudo que eu estou fazendo é somente para mim.
- Que bom que você percebe isso.
- Eu vou ter que enfrentar ele hoje.
- Só se você quiser.
- Eu só quero ver a reação dele.
- Quando eu contei – ela disse – Sabe, a expressão que ele fez, a surpresa.
- Eu vi de longe.
- Eu acho que ele realmente já te via como um amigo mesmo.
- Sério?
- Na sala, ele me perguntou varias vezes se o que eu falei era brincadeira. Se eu estava falando a verdade. Que não tinha a menor graça.
Por um momento ficamos em silencio. Eu meio que estava sem palavras, não esperava isso, essa resposta, ele havia duvidado mesmo. Acho que eu não valorizei sua amizade.
-Sinceramente, a história de vocês dois é confusa e irônica – ela riu.
- É mesmo... Acho que tomei a escolha errada.
O segundo sinal tocou. O momento que ou você estava na sala ou levava falta e uma ligação para seus pais por cabular a aula. Olivia levantou e se espreguiçou para ir para a sala.
- Bom, eu já falei com ele hoje – ela terminou – Ele mostrou um tom de preocupação com você, agora que você acerte suas coisas com ele. Mas antes, me prometa que não vai sumir sem falar de novo.
- Não posso prometer nada.
- Grande solução. E a Laura não veio hoje, sorte sua pois ela também não esta muito feliz com você.
Uma conversa que começou ameaçadora e terminou assim, nem eu sabia o que tinha acontecido. Ela me levou até minha sala e me disse que se eu saísse de lá, era bom eu não deixar ela me encontrar. Ela tinha um tom o suficiente maligno para me por medo.
Eu esboçava sorrisos forçados para meus colegas mais próximos, mas não estava muito amigável. Eu também parecia dizer: “Ei, vem cá, me encha o saco”. Ou seja, fui perturbado por umas dez pessoas até finalmente decidir sumir.
Acho que eu fiquei o dia todo na biblioteca, escrevendo esboços para os capítulos desse conto, só sai para aulas que eu gostava. Eu gostava disso, sempre fui bom em desaparecer, e ficar parado em silencio e o maior prazer que existe.
Por algumas vezes eu vi ele entrando no ambiente. Não senti mais seus olhos me observando, eu estava no ponto mais distante e escuro da sala, mas sei que ele podia me ver. E ele queria me ver?
Olivia tinha razão, dane-se ele. Vou passar direto por essa fase.
Vou seguir com ou sem ele.
------
- Tem certeza que você vai fazer isso? – Olivia me perguntou.
- Quero ver a reação eu mesmo – respondi.
Já estava escuro e a multidão saia pelos corredores para a saída da escola. Nós estávamos na frente da sala dela enquanto eu contava o que ia fazer. Ele ainda estava lá dentro, terminando de arrumar o seu material sem nenhuma pressa.
- Bom – ela suspirou – Espero que sua ideia de certo. É sua ultima chance provavelmente.
- Eu quero encerrar tudo isso com chave de ouro.
- Isso vai dar merda provavelmente – ela encerrou - Mas dessa vez, problema seu. Tchau pra você.
- Até amanhã – eu disse.
Eu acho que ele estava enrolando mesmo para sair, já estava pronto a tempos. Não, eu não sairia dali. Sei que, provavelmente pela ultima vez, vou estar assim; Tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe dele. Parte de mim queria ir embora sem olhar para trás, mas a outra queria continuar, ver o que ia acontecer.
Eu sou muito teimoso mesmo.
- Anda logo pô – gritei pra ele.
Não senti a calma e serenidade que sempre sentia quando vi seus olhos me fitarem. Estremeci e um frio percorreu meu corpo. Eu senti o medo quando olhei no fundo dos seus olhos que emanavam um misto de raiva e fúria, um medo que penetrou no fundo do meu peito e começou a me matar por dentro.
Ele saiu da sala em passos firmes. Com certeza não queria estar ali, ou mais provavelmente, não queria que eu estivesse ali.
- Vamos logo – ele disse.
Eu relutei pelo medo. Agora eu tinha visto sua reação, eu senti sua reação, agora eu sabia mesmo. Eu perdi ele.
- Você encheu tanto o saco, agora vem ou não – ele disse mais a frente.
- Vou, é só que...
- O que agora?
- Quer saber – respondi – Esquece.
Não. Eu não aceitava ser tratado assim.
Sem chave de ouro pra encerrar e nem merda nenhuma.
Agora eu estava com raiva. Raiva dele, dessa reação, cara ignorante, não esperava isso. Foda-se ele no momento. Seria fogo contra fogo então.
------
O ônibus veio rápido. Mas nesse meio tempo o silencio predominou. Ele ainda continuava com o seu jeito distante, mas dessa vez ele estava distante mesmo, como se quisesse correr de mim. Parecia se recusar a fica perto, como se eu fosse ataca-lo a qualquer momento, parecia ter medo.
Bom. Eu quem estava com medo.
- Por que faltou tanto? – ele perguntou.
- Nada de mais, só meio...
Com raiva, depressivo, furioso? Isso era o que vinha na mente. Não, eu precisava pensar em uma desculpa. Não queria lhe dar o gostinho que era por ele. Se bem que ele não sabia que eu sabia que ele sabia sobre mim. Sim, isso foi estranho.
- Meio o que? – insistiu.
- Meio cansado, só isso – esbocei um sorriso forçado.
- Não parece tanto. Mas cansado de que?
- Isso não interessa.
- Calma senhor rebelde – ele ironizou.
Não estava a fim de ouvi-lo. Apenas peguei meus fones somente para me distrair esquecendo de tudo e os coloquei na musica aleatória do dia – Demons / Imagine Dragons (http://goo.gl/Hvdftj). Eu não pensava em mais nada, em mais ninguém.
Ele arrancou rudemente os fones de meu ouvido após a alguns minutos.
- O que você pensa que está fazendo? – perguntei.
- Eu que te pergunto isso.
- Bom, eu estou ouvido musica. Hurr Durr – ironizei – E você.
- Não – ele respondeu terminando de arrancar meu fone e o tirando pela camisa – Para mim, você está me ignorando.
Ele enrolou meu fone no pulso e o colocou no bolso. Quem era ele para me tirar meus fones.
- Quando chegarmos em casa eu te devolvo – disse após dar sinal para um ônibus qualquer – Agora entra nesse ônibus.
Dessa vez não relutei, vi a raiva em sua voz e achei melhor acatar seu “pedido”.
Havia praticamente nós dois no ônibus. E acho que, independente de como estávamos, sim, corremos para o banco alto. Em silencio nos sentamos e ficamos por um bom caminho.
- Posso falar a verdade – ele disse.
- Que fale.
- Eu não sei para onde esse ônibus vai.
Logo em seguida ele riu, soltou um riso gostoso, como aqueles sem compromissos que um bebê faz. Uma risada tão simples. Eu não resisti, o acompanhei no riso tanto pela situação quanto pelo prazer.
- Pra nossa sorte – respondi – Eu sei pra onde vamos, não estamos perdidos ainda.
- Obrigado – suspirou – E aqui está, antes que eu me esqueça.
Ele tirou do bolso e me devolveu meu fone. Por incrível que pareça, ele com raiva enrolou o fone melhor do que eu. O fone se soltou sem nenhum nó.
- E desculpa? Acho que estava meio irritado.
- Serio? Eu não percebi – ironizei.
- Haha, muito engraçado de sua parte.
- Ok, mas relaxa pelo fone. Agora me diz, por que tava meio irritado.
Algo me dizia para parar por ali, não continuar. Mas não, eu tinha que continuar insistir, como sempre.
- Nada demais.
- Fala logo. Eu fiz algo de errado.
Cala a boca idiota, já chega.
- Na verdade... – ele relutou um pouco.
É, eu acho que fiz merda. Fiz muita merda.
- Não – ele respondeu hesitante – Não é você. Tá tudo bem.
Apenas assenti. Era melhor parar mesmo.
O resto da viagem saiu tranquilo. Sem nenhuma desavença aparente.
- O que você vai fazer da vida quando terminar o *Sigla da escola* - ele perguntou.
- Sabe, eu queria varias coisas – respondi – Mas primeiro, com toda a certeza, eu vou ser escritor.
- Escritor?
- Sim, escritor.
- Escrever livros e etc?
- Aparentemente sim. Por que a surpresa?
- Não sei. É que, você, Rodrigo, você escritor. Sabe, você vai fazer oque? Reescrever “A culpa é das estrelas”.
- Eu disse que vou ser escritor, e não retardado.
- Touché.
Perai, cadê a raiva? Ué? Desapareceu? Agora parecíamos amigos de novo.
- Mas e você? O que vai fazer – perguntei.
- Sabe que eu não sei. Primeiro vou viajar, Japão eu acho.
- Japão? Que graça tem ir onde todo mundo parece que está dormindo.
- Japão é Japão cara, sabe. Terra dos animes, mangás. Naruto cara.
- E? É sempre a mesma merda, e Naruto... Poxa cara, esperava mais.
- Nem sempre é igual – ele tentava justificar – Mangás sempre variam os seus temas. E Naruto, tem coisa melhor?
- Sim, até “A culpa é das estrelas” é melhor.
- Bom, eu prefiro mangás do que livros.
- Não cara – retruquei – Não fala merda. Hoje não.
- E o que tem de mais?
- Bom, você entende de mangás e eu de livro, deixa por ai antes que dê merda isso. – eu disse levantando – Agora chegou nosso ponto, vamos logo.
- Você vai me explicar seu ponto de vista e eu decido se concordo com você – ele insistiu – Nós descemos no próximo.
- Eu não vou discutir com você e acho que não tem próximo ponto.
- Tá tá.
O ônibus parou sem nenhuma surpresa. A noite já tomava tudo e a lua brilhava. Mesmo nesse horário que provavelmente já era 20:00, ainda havia um transito local.
- Agora vem e me explica seu ponto de vista – ele me chamou para um banco no ponto.
- Eu não, vou embora mesmo. Fica ai.
Estávamos na rodovia que citei há alguns contos atrás eu acho. Tinha que atravessa-la para ir pra casa e o transito já era um trafego intenso. Eu comecei a correr quando vi uma pausa entre os carros enquanto ele continuava lá na calçada.
- Você vem ou não – gritei.
Ao longe eu ouvi uma buzina forte e longa me alertando. Preferi nem olhar de onde vinha. Sabe quando dizem que você ve a vida em um segundo antes de morrer. Lá estava eu.
Apenas fechei o olho e senti o impacto no meu corpo. Estava sendo arremessado, o corpo leve no ar, sem peso, sem massa. Logo senti a grama macia ao cair.
Eu não estava morto.
Abri os olhos. Rodrigues estava em cima de mim ofegante, estávamos deitados na grama do canteiro central, vivos ainda. Eu estava paralisado, sentia sua respiração em mim, com medo eu fitei seu olhos que agora pareciam assustados também, mas dessa vez eu encontrei calma e paz. Ele saiu de cima de mim e rolou para o lado.
- Mas o que... – gaguejei – O que aconteceu aqui.
- Eu te salvei – ele continuava ofegando e já meio irritado – De nada por acaso.
- Eu estaria morto.
- Graças a mim não está – ele quase que gritava – Agora levanta, o que você tem na cabeça?
- Obrigado – eu agradeci em duvida, sentia vontade de abraça-lo ali, mas temia ainda. – Obrigado mesmo.
- Eu vou embora – ele já estava enfurecido – Cansei dessa merda toda. Foda-se você, que morra da próxima.
E saiu em seus passos firmes. Eu não sabia o que tinha acontecido, o que eu estava sentindo, o que eu estava fazendo. Vi sua silhueta ir embora ao longe e eu ali ainda em silencio.
Me levantei, não havia me machucado, conseguia andar. Eu apenas segui em silencio para casa. Ele me salvou.
Em casa eu me joguei na cama. Me enrolei em meio as cobertas e soltei a primeira de muitas. Lagrimas escorriam pelo meu rosto e se depositavam no lençol que aos poucos ia se encharcando.
- Droga, droga, droga – eu levantei agitado.
- Eu te odeio, te odeio com todas as minhas forças – arremessei o travesseiro ao longe – Eu te odeio Rodrigues.
O que eu estava fazendo. Lembro de cair no chão sem forças junto das cobertas. Me enrolei nelas e me encolhi em um canto do quarto como uma criança com medos dos raios e trovões.
- E te amo – sussurrei chorando – Nunca te amei tanto.