Desencontros #02

Conto de N T N como (Seguir)

Parte da série Paixão ao desconhecido

Digamos que desde que vi ele saindo do laboratório a situação não mudou muito. Não sei se estava apaixonado ou não. O simples fato de eu estar perseguindo um completo desconhecido já me tornava um psicopata.

Eu não sei o que aconteceu comigo na saída, apenas me despedi rapidamente de alguns colegas. Tinha a tola esperança de chegar ao ponto e encontrar ele lá, nunca fui bom em matemática, mas sabia que a probabilidade era mínima.

Entrei no meio da multidão de alunos que esperava o ônibus, não sei por que eu estava o procurando. O que eu faria se o encontra-se? “Oi, me apaixonei por você. Vai pegar esse ônibus?”

Não, para minha decepção eu não encontrei ele.

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Dias depois e eu continuava nesse dilema. Ficava louco quando via ele, acabei que por segui-lo sempre que podia e evitando ser notado.

Eu estava sentado em um dos bancos no pátio, lia um livro, mas dele não entendia nada tendo que ler o mesmo paragrafo varias vezes. Eu acho que na verdade eu estava procurando ele.

- Por que você está tão distraído?

Olhei para trás, Olivia estava em pé esperando minha resposta.

- Eu falaria que não te interessa – suspirei – mas seria uma pergunta ilógica já que se não te interessasse, não estaria perguntando.

- Bom garoto – ela disse se sentando – agora me diga: o que te aflige?

- Não é importante – disse, ainda procurava ele.

Ficamos em silencio por alguns segundos, não prestava atenção nela. Ela ainda me observava pensativa.

- E o livro como está – ela perguntou.

- Que livro?

- O que você está na mão – ela o tirou de mim – Que merda está acontecendo?

- Nada poxa.

- Então por que você está viajando, sem prestar o mínimo de atenção em mim?

- Tem razão – disse suspirando, eu estava obsessivo.

Ficamos ali sentados por mais alguns segundo até ouvir o longe mas estridente sinal de aviso. Era o momento de voltar às aulas.

- Estou apaixonado – disse.

Na saída eu corri. Acabei que por me atrasando para pegar o ônibus. Se eu perdesse o que sempre pegava, claramente não chegaria cedo em casa. Quando cheguei no ponto que deveria está vazio, uma multidão ainda aguardava o ônibus. Perguntei a um amigo o que estava acontecendo, ele disse que:

- Simplesmente não passa busão hoje. O nosso ônibus só passou um até agora que nem se quer parou.

Suspirei e cumprimentei sua namorada perto dele, apenas nos sentamos nos bancos e esperamos, seria uma longa espera. Conversava com eles, eram amigos que eu havia conhecido esse ano, porem não vou entrar em detalhes pois não são focos principais, e assim ficamos lá. Passaram vários e vários ônibus, mas nenhum deles servia. Com o tempo o ponto foi ficando cada vez mais vazio, mais tenebrosa a avenida ficava e mais sozinhos estávamos.

Então eu vi ele. Do outro lado do ponto, ele estava em pé impaciente também, conversava com um garoto, mas parecia não prestar muita atenção. Estava do mesmo jeito de alguns dias atrás, mas ao invés de uma blusa azul por baixo da camisa, usa um moletom verde sem zíper com as mangas no cotovelo.

Me distrai com ele, o observava sem reação quando meus amigos gritavam para mim.

- Rodrigo, o ônibus tá vindo – eles levantaram e deram sinal para parada.

Assim que a porta de abriu, não conseguimos entrar, alguns outros entraram antes que nós. Eu fiquei na escada, pendurado na porta tentando entrar, quando vi a fundo outro ônibus, idêntico.

- Hey – gritei descendo para meus amigos – Tem outro atrás.

Meus amigos desceram rapidamente da escada, ele foi e olhou em minha direção esperançoso, chamou o amigo e me seguiu.

Logo atrás o outro ônibus parou, não totalmente vazio mas que permitia nossa entrada e movimentação lá dentro. Entrei com meus amigos e passei a catraca eletrônica, ele entrou logo atrás e já depois que passou a catraca, ficou cerca de 2 metros longe de mim. Ele parecia sorrir.

E seguimos viagem, algumas trocas de olhares um momento o outro até chegou o ponto dele. Não parecia me importar quando ele ficou ao lado da porta e se preparou para descer, a porta se fechou e o ônibus prosseguiu. Não fiz a mínima questão de olhar para trás.

Quando o ônibus parou novamente, peguei minha mochila e comecei a descer. Lá estava ele, já fora do ônibus, conferindo se não esqueceu nada, ainda parecia sorrindo, o encarei e me virei. Não sei se ele viu, mas eu estava sorrindo também. Um sorriso de ponta a ponta do meu rosto.

_________

Alguns dias depois, eu sai da escola lentamente. Não tinha pressa pois teria que andar até o centro da cidade para pegar um ônibus vazio, carregava um trabalho que não podia amassar então não podia pegar ônibus cheio. Pedi Olivia para me acompanhar, ela iria até o centro também, pois tinha um curso de não sei o que. E assim fomos andando, eram cerca de 3 ou 4 quilômetros.

Caminhávamos lentamente, íamos conversando, relembrando os velhos tempos. As varias situações que passamos e os vários momentos que tivemos. Até que seu curiosidade foi maior.

- Então meu caro amigo – ela parou e olhou para mim – me diga, quem roubou seu coração?

Eu não tinha a intenção de falar que era ele, muito menos falar que eu era gay. Acho que as únicas pessoas que sabiam que eu era gay eram: eu e eu mesmo. Se bem que se eu falando, ela pode me ajudar.

- Por que eu deveria contar? – decido não falar.

- Qual é? – ela retruca – É da escola pelo menos?

- Sim.

- Qual sala é ao menos?

Eu estava indeciso, não sabia se devia falar ou não. Era um quesito poderia sim destruir minha vida, eu confiava nela, mas não tinha tanta segurança pra contar.

- Da sua – finalmente disse.

E assim prosseguiu. Durante todo o caminho ela ia falando vários e vários nomes, varias garotas que eu nem ao menos sabia quem eram.

- Fala mais – ela pedia – senta na frente, fundo, na direita ou esquerda.

- Bom – pensei e falei – senta na frente, e se for em relação a mesa do professor, senta na direita.

E assim ela continuou. Mas uma enxurrada de nomes invadia minha mente. Vou explicar uma coisa para vocês entenderem: nesse momento e desde que vi ele no ônibus, não tinha relacionado ele com o perfil no Facebook, ou seja, eu praticamente não sabia seu nome.

Continuamos andando até o terminal, logo meu ônibus parou e eu entrei na fila. Ela ainda permanecia do meu lado querendo mais informações. Quando eu estava prestes a subir eu lhe disse:

- É um garoto.

Ela parecia surpresa, porem sorriu e acenou em despedida.

- Que merda eu fiz agora – suspirei.

Comentários

Há 1 comentários.

Por dfc em 2014-10-17 14:00:15
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