Aproveitando a felicidade #2x06
Parte da série Paixão ao desconhecido
Na escola nos separamos, eu fui para a minha sala com um sorriso de orelha a orelha que podia ser visto de costas enquanto o Matheus ia resolver suas burocracias. Eu poderia dançar a noite toda até meus pés sangrarem ou cair no chão exausto, o que viesse por ultimo. Meus pensamentos estavam a uma velocidade insana que eu não parava pra pensar em nada, somente sorria.
No fundo eu estava mais feliz ainda pois Rodrigues estava furioso. Era prazeroso, uma sensação tão boa, mas isso também levantava mais perguntas. Ele me abandonou, me ignora, sou eu quem está sozinho e quando consigo um amigo, ele fica com raiva. Acho que também, em parte, estava fazendo isso para lhe causar ciúmes.
Sinceramente, éramos duas crianças.
Foi tudo de repente, e agora eu deixei a pessoa que já não mais o que sinto furiosa e isso me dava prazer e também estou com meu melhor amigo do meu lado. Sou um pouco sádico então, ou talvez muito.
O segundo sinal me despertou e corri para sala, acho que chegaria antes do professor. Além disso, era o meio que o primeiro dia de aula, podia ter transferidos na minha sala e eu não queria perder o meu lugar. Mas o Matheus podia ser um desses transferidos, nesse caso eu não me importava muito.
O dia estava perfeito, tudo limpo, um céu sem nuvens e um sol com raios singelos que deixavam o tempo ameno. Antes eu mal olhava meus conhecidos, colegas antigos eu passava direto e alguns mais próximos nem se quer eu olhava, hoje era um sorriso rápido e um aperto de mão, um aceno com a cabeça ou um cumprimento de amigos comum. Estava tão animado e que esquecia que na sala ao lado tinha alguém que eu ainda amava.
O Matheus seria capaz de mudar toda a minha situação assim?
Provavelmente, como sempre acontece, eu iria me decepcionar no fim. Então iria aproveitar cada momento daquele sonho.
- Saiu do isolamento? – ela disse quando me viu.
Sem pensar eu a abracei rapidamente, devia desculpas, e muitas. Necessariamente, eu havia depositado todos os meus problemas, medos, toda a culpa, eu depositei tudo nela. O que eu iria dizer então: “Me desculpa?”.
- Já está desculpado – Olivia disse.
- Está tão obvio assim? – falei.
- Você teve um mês para pensar – continuou – e com certeza nesse meio tempo achou a razão que faltava. Sabia que logo viria e meu papel como sua amiga é sempre de aceitar e apoiar.
Eu achava que ela estaria com raiva, que ela e Laura estariam em uma ceita com um boneco parecido comigo cheio de alfinetes e cercado de gasolina de tanta raiva. Exagerei um pouco.
- Agora antes que se perca em pensamentos de novo – falou – Qual é o motivo dessa felicidade toda. Me permite saber?
O ultimo sinal tocou, não havia visto meu professor passar, porem ser pego nos corredores naquele momento era uma advertência ou suspensão em caso de reincidência, eu já tinha um aviso por cabular aula e uma suspensão não ficaria bem no meu currículo escolar. Olivia também havia percebido o sinal e começava a se despedir quando ele apareceu.
- Você vem ou não Olivia? – perguntou – Temos que começar a organizar a apresentação e nós ficamos com os slides.
Ele surgiu na porta, Rodrigues estava mais calmo aparentemente. Nossos olhos logos nos encontraram, eu vi sua íris negra com nitidez, geralmente recuava submisso quando sentira seu olhar, como se tivesse vergonha de tudo eu abaixava a cabeça. Mas não fiz isso, continuei a observar seus olhos, penetrar tão fundo até ver sua alma, ele retribuía, acho que não iria ceder também, porem de fato estava surpreso por eu não ter recuado. Ele sorriu levemente que até parecia desprezo e desviou os olhos, ele buscou Olivia que havia decidido não intervir em nada.
- É uma longa história – ela disse.
- Acho que posso dizer o mesmo – falei – No intervalo eu te conto.
Fui para minha sala, mas antes de entrar olhei para trás. Ele ainda estava lá, me olhava em duvida, eu me perguntava se ele também estava em uma guerra de sentimentos. Olhei nos seus olhos mais uma vez, de novo sem recuar, ele retribuiu com um sorriso novamente e dessa vez parecia sincero, como fosse um de aprovação.
Ele estava lidando com tudo melhor do que eu esperava.
- Você quer entrar na segunda aula senhor Rodrigo?
Dentro da sala, todos me olhavam na porta e o professor estava em sua mesa, sentado enquanto me olhava seriamente. Era aula de química, sinceramente achava aquela matéria desnecessária.
- Depende – sorri – Vou perder alguma prova?
- Entre logo e sente-se em seu lugar – ele ordenou.
Eu entrei e me sentei, ouvi alguns cochichos espalhados pela sala, não sei se comentavam sobre mim, provavelmente não sou tão popular a esse ponto, de alguém comentar sobre mim. Acho que estava muito auto confiante, era até que bom.
O dia transcorreu normalmente, em diversos momentos eu recebia perguntas do por que da minha felicidade e minha resposta era sempre um sorriso. Mas em momento algum encontrei Laura para expressar as desculpas, ela com certeza iria me xingar por alguns minutos até assentir com as desculpas. As aulas passavam rapidamente, somente meu corpo estava na sala, minha mente e sentidos estavam a milhares de quilômetros de distancia, estava dividido em prestar atenção na matéria e sonhar acordado.
A essa hora o Matheus já devia estar em alguma sala, com toda certeza era depois da minha já que a minha era a primeira do corredor e ele não havia passado por ela, mas isso não me importava muito, só o fato de saber que ele estaria por perto já me satisfazia. Logo o sinal tocou, o intervalo tinha chegado até que rápido.
Sem pressa sai da sala, aproveitei para conversar um pouco alguns colegas, não gostava muito da minha turma em geral já que a maior parte eram arrogantes e riquinhos que saíram de escola particular e se exibiam com seus Iphones brancos e roupas de marca. Confesso que eu os julgava mal já que com o tempo percebi que não eram somente isso. E além disso, precisava falar com ele por que também eram meu grupo de trabalhos.
- Rodrigo é o seu nome certo? – uma voz doce dizia atrás de mim.
Me virei e encontrei uma garota da minha altura mais ou menos, tinha a pele morena e bronzeada e sua voz mostrava um sotaque carioca, seus olhos eram um azul claro e suas maçãs do rosto eram saliente, seu cabelo liso eram longos o suficiente para alcançarem o meio de suas costas. Alem disso ela tinha um corpo, digamos que aceito pelos padrões de beleza da sociedade. Admito ela era muito bonita, particularmente na minha opinião.
- Meu nome é Rachel – ela disse.
- Um nome com um tom estrangeiro – falei – para alguém que veio do Rio pelo jeito.
- É que no dia em que eu nasci já havia muitas Marias para serem registradas no cartório – continuou. – E acho que meus pais não queriam esperar.
- Sinceramente eu nunca havia te visto na sala – falei.
- Sou transferida. Mas você deve conhecer minha prima ao menos.
Ela chamou outra garota que se aproximou, era um pouco mais baixinha que ela e tinha a pele mais clara, com toda certeza não era carioca, seus cabelos eram negros como carvão e junto de seus olhos criavam um rosto singelo, ela estava sorridente como se compartilhasse da minha felicidade. Admito que eu já havia a notado, mas nunca havia me dado o luxo de conversar com ela. Thainá, esse era seu nome.
Ela se aproximou alegre e me beijou na bochecha, não que eu achasse que fosse um atrevimento já que é um ato comum hoje em dia, só me surpreendi disso, pois afinal, mal nos conhecíamos.
As duas não pareciam primas, mas já que afirmavam eu achei melhor não discordar.
- Quanta sorte em ficar junto da prima na mesma sala – falei.
- Não estava nos meus planos – Rachel disse. – Achei que estaria perdida aqui, foi tudo ela que fez – disse apontando para a prima.
- Me agradeça depois – Thainá assentiu – Além disso, meu pai é o prefeito. Acho que eu devia abusar mais da posição dele.
Isso era novidade, não sabia disso. Nunca me aproximei muito da Thainá e mesmo assim nunca deu a entender que ela era filha do prefeito, sempre foi singela e não tumultuava com sua posição. De inicio eu temi que isso pudesse me causar problemas, fazer amizade com a filha do cara que manda em tudo não me parecia muito seguro.
- Já sei, já sei – interrompeu meus pensamentos – Você não sabia de nada. Mas isso não interessa muito, vai vir comer com a gente?
Ela estava me convidando? Não sou muito acostumado com interações sociais, tanto que dificilmente vou a festas, devia aceitar? Rachel me olhava e parecia me pedir: “Vem junto, não me deixe sozinha com ela”. Eu ainda tinha que encontrar o Matheus e a Olivia, porem acho que não iria demorar muito com elas.
Concordei em ir com elas, Rachel pareceu se aliviar um pouco e Thainá apenas assentiu levemente. Logo caminhávamos em direção ao pátio, eu não era muito bom em lidar com pessoas e estava ao menos tentando não fazer merda... de novo... pela terceira vez...
- Com que frequência você fica viajando – Rachel me perguntou interrompendo meu pensamento.
- Eu também iria perguntar isso – Thainá concordou.
Apenas sorri em resposta e continuei a caminhar, queria fazer isso rapidamente e mesmo assim aproveitar o momento com elas. Elas conversavam animadas e eu apenas assentia em alguns momentos, concordava apenas torcendo para elas não tivessem feito perguntas já que estava mergulhado em pensamentos.
Logo passei em frente a sala da Olivia, não sabia se ela ainda estava lá, procuraria ela depois. Olhei melhor lá dentro e logo duas pessoas saíram de dentro.
Mas que merda era aquela?
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olivera: Por que não gostou do Matheus cara? Ele é tão fofo e lindo! É, mas acho que também não vai gostar depois. Obrigado por comentar.
Ryan: Imagine agora a abertura da sessão da tarde “Essa turminha da pesada vai causa muita confusão quando um garoto novo chega nessa escola que tem um romance do balacobaco, em Paixão ao desconhecido, inédito em tudo”. E cara, ninguém é tão louco a ponto de não achar outro louco que entenda a loucura que é. (não lembro onde vi essa frase) E que loucura, masoquista cara? Desculpa, mas eu ri aqui. Obrigado por comentar.