Acaso apresentado #03
Parte da série Paixão ao desconhecido
NTN.contato@outlook.com
Boa leitura e obrigado pela preferencia :D (que clichê isso)
Assim que cheguei em casa e me conectei ao Wi-Fi mandei uma mensagem para Olivia no WathsApp. Mesmo depois que a vi, queria saber sua reação.
- Olha – eu comecei – espero que entenda toda situação.
Ela não respondeu. Foi 23:00, eu quase dormindo quando ela respondeu.
- Sim, eu entendo. Só fiquei... Qual seria o termo?
- “Puta que pariu, ele é gay?”
- Quase – ela respondeu – “Mulher que usa seu corpo para obter dinheiro de forma sexual e que gerou um individuo a partir de um embrião. Ele é gay”.
- E muda algo?
- O que muda é que eu vou citar vários e vários nomes até nele.
Novamente ela falava, ou melhor, escrevia. Eu não prestava atenção, algum momento ela iria parar e perguntar se reconheci.
- Eu não sei o nome dele – disse.
- Legal você Rodrigo – ela retruca – Nem ao menos sabe o nome do individuo.
- E eu deveria? Mas isso não vem ao caso. – interrompi – Como eu disse, ele senta na frente e na esquerda, perto da porta.
Ultimamente eu tinha observado muito ele, não que eu seja um psicopata ou um sociopata sem empatia pelo próximo que vai sequestrar alguém, prender em um quarto e alimentar ele a cada 12 horas. Só queria investigar.
- Ele senta na segunda fileira, o primeiro ou segundo lugar – acrescentei.
Ela não respondeu, acho que tinha pegado no sono. Alguns minutos depois ela voltou, mandou dois links para eu ver.
- Seguinte. Tem dois moleques que sentam nesses lugares: O Rodrigues e o Patrick – ela falava – Esses são os links dos perfil dos dois no Facebook, vê se reconhece ele.
Então, vou descrever mais ou menos o que aconteceu. Mas é bem provável que vocês tenham feito a relação já. Era ele, o mesmo garoto formal e serio que eu tinha me apaixonado tinha um ar rebelde e poderoso. Irônico eu gosta da pessoa que eu já tinha visto e não percebido? Sim, é irônico.
(PS: Vocês preferem que eu use mais o nome dele ou use o pronome “Ele” mesmo?)
- É ele – retornei o link dele – Isso é muito irônico.
- O que?
- Depois de amanhã eu te explico – eu já ia dormir mesmo o próximo dia sendo feriado.
Ela assentiu e dormiu logo após, me deixando sozinho com meus pensamentos.
Eu lembrava na primeira vez que eu o vi. No ônibus, aquela troca de olhares, ele descendo um ponto antes e estragando meus planos. O ponto que ele havia descido, aquele ponto em especial me lembrava duma coisa.
Antes, há muito tempo atrás, uns 5 anos. Eu tinha um amigo, tinha o mesmo nome que ele, mas eu não sabia seu sobrenome: Rodrigues. Ele era do mesmo ônibus escolar, éramos muito unidos, e ele descia naquele ponto, sempre ali. A ultima vez que vi ele foi no ultimo dia de aula quando ele ia se transferir de escola no próximo ano.
Eu sabia que as chances de ser ele eram pequenas, mas se fosse isso.
- Legal – sussurrei em meio à madrugada – Me apaixonei por um garoto que eu já conheço.
Comecei a juntar os fatos.
Suas ações, seu jeito, o ponto em que ele descia. Juntava seu rosto com as vagas lembranças que tinha do Rodrigues, observava e analisava suas fotos. Buscava algo que confirmasse minha teoria.
“É ele, tem que ser ele” eu pensava enquanto tentava dormir. Ele não saia da minha mente. Era muito irônico isso, muita sacanagem do destino eu gostar de alguém que eu já conheço eu gostar da pessoa que já foi meu melhor amigo, sacanagem eu amar ele.
- Eu conheço ele – mandei a ultima mensagem da noite para Olivia.
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Tinha passado o feriado. Era dia de aula novamente.Eu tinha pedido para Olivia chegar cedo, ia explicar toda a teoria para ela.Estava na biblioteca, esperando ela, tinha trinta minutos para explicar tudo. Ela chegou e se sentou, me cumprimentou e aguardava eu explicar a minha ideia.
O único problema é que, bom, se você é bom em uma matéria, toda a sua sala vai te pedir ajuda. E foi o que aconteceu. Minha sala se reuniu a nossa volta. Desistimos, pois não haveria condição de explicar algo com tanta gente, ela logo saiu para a aula, após alguns minutos eu saio também.
O dia inteiro, nós não tivemos tempo para falar da teoria. No fim do dia, ela pediu um livro emprestado, era a chance que faltava. Escrevi tudo, toda a teoria em uma folha e coloquei dentro do livro...
(PS: Nesse momento vou adcionar mais uma personagem na história, pode parecer insignificante, mas é uma peça importante nesse jogo.)
...Então ela entrou na sala, pegou o livro e rapidamente disse o que tinha feito e que tudo estava escrito lá dentro. Então Laura se levantou atrás de nós, rebelde ela reclamava.
- Vocês dois tão de segredinho – resmungava – E nem querem me contar.
Laura era amiga da Olivia há muito tempo e virou minha amiga esse ano, era baixinha e um pouco acima do peso. Com um cabelo ruivo até o pescoço e com lentes de contato que ela havia colocado recentemente, ela nos olhava com raiva. Eu e Olivia sorrimos e ela foi embora, Laura sentou novamente e ficou quieta o resto da aula.
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Não esperei Olivia na saída para ver se ela tinha entendido a teoria ou esperei ele para segui-lo novamente. Eu corri pela rua até o ponto, tinha a esperança de conseguir pegar o ultimo ônibus já que tinha o boato de uma possível greve. Atravessei a avenida correndo enquanto o ônibus encostava no ponto, no ultimo momento, quando ele fechava a porta dianteira eu fiz sinal para parar e conseguir entrar. O ônibus já estava lotado, mas eu consegui passa a catraca ao menos.
Não que eu tivesse a esperança de encontra ele, pelo contrario, nem lembrava dele. Mas quando me dei por si, lá estava ele. Ele me olhava, como eu disse, ele parecia tentar me reconhecer. Se ele fosse mesmo o Rodrigues que eu conhecia, era um fato claro que ele tentava me reconhecer ou até já tinha me reconhecido.
- Quem é você – sussurrei para eu mesmo.
Eu tomei coragem, reuni forças e encarei seus doces olhos. Ele desviou o olhar rapidamente e após alguns segundo olhou novamente. Eu tentava não desviar o olhar, tentava não fugir dos seus olhos castanhos, dos seus doces lábios, da sua pele branca e limpa. Ah que vontade de atravessar aquela multidão entre mim e ele só para abraça-lo e ficar ali até dizer chega. Então outra multidão entrou no ônibus e fomos arrastados, eu perdi ele de vista.
Chegou hora de descer, eu desci e tinha a tola esperança de encontrar ele lá fora. E então ele desceu, acompanhado do mesmo amigo da ultima vez, olhei seus olhos novamente mas desviei o olhar. Era a ultima vez que eu via ele como desconhecido.
Olhei o celular quando cheguei em casa. Lá estava uma mensagem da Olivia.
- Não sabia que vocês eram tão amigos assim.
- E eu não sabia que conhecia ele – acrescentei.
- O que você vai fazer?
- Sinceramente? – respondi – Eu não sei.
Decidi tomar um banho, precisava aliviar minha mente. É ele, tinha que ser ele. Tinha que ser o Rodrigues que eu conhecia. Pela primeira vez a probabilidade estava ao meu lado.
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- Eu vou apresentar os dois – Olivia dizia no dia seguinte.
Estávamos jogando xadrez na biblioteca. Era sexta feira, estávamos aproveitando os minutos restantes antes de começar a aula.
- Como? – perguntei enquanto capturava sua rainha.
- No intervalo – ela acrescentou enquanto recuava o rei - vou te esperar na frente da sua sala com ele.
- Isso se eu não tiver ido embora ou pulado o muro até lá – respondo – Xeque-Mate com o bispo.
Ela se levantou e se despediu. Agradeceu o jogo e foi pra sala. Eu guardava as peças e levava o tabuleiro até a bancada da biblioteca quando ela voltou acompanhada dele. Ela sorria e parecia dizer “Surpresa filho da mãe” com o olhar.
- Rodrigo – ela começou quando chegou perto de mim. – esse é o Rodrigues. Rodrigues, esse é Rodrigo.
Ele estendeu a mão, sorridente e esperançoso, olhei e hesitei alguns segundos com medo. Quando vi que seu sorriso começava a se desmanchar mudei de atitude.
- Muito prazer – disse enquanto apertava e balançava sua mão em um cumprimento caloroso.
- O prazer é meu – ele respondeu.