A ideia #06
Parte da série Paixão ao desconhecido
Eu não tinha a mínima ideia do que estava fazendo.
Eu estava mesmo sofrendo por esse amor? Minha situação era complicada, se eu tivesse me apaixonado por um desconhecido qualquer seria mais fácil, mas não, tinha de ser pelo meu melhor amigo. Alguém que eu não via há anos.
Eu odeio isso. Eu acho que é um sentimento até que fútil. Paixão...
O que era paixão?
Acho que esse é o momento que vocês, oh caros leitores, começam a ter raiva de mim.
------------------------------------------------------------------
Lá estávamos nós, ele e eu. Era por volta de meio dia, um sol sereno em um sol sem nuvens o que deixava até o tempo frio, estávamos nós no ponto de ônibus. Pro horário, nosso ônibus estava uns 10 minutos atrasado.
Enquanto eu estava com uma jaqueta de moletom surrada que eu gosto, não sei por que amava aquela blusa, acho que não devo focar em mim, pois vocês devem lembrar-se do meu estilo meio desleixado. Mas dessa vez eu admito, sou um pouco bonito. Agora ele não, ele com aquele olhar vago e distante me conquistava, seu rosto inocente que agora eu receio que não seja tanto. Ele estava com aquele seu estilo único para mim, uma calça jeans com um suéter verde claro bem justo ao seu peito e braços e uma camisa branca por cima deixando às mangas do suéter a mostra.
Eu sou louco para ficar olhando para meu melhor amigo mesmo.
- Você está me escutando?
E os seus belos olhos me observavam e me chamavam.
- Sim – eu respondi – Só me desliguei um pouco.
- Você vai pra Santos?
Santos era um trabalho de campo da escola, uma excursão para os primeiros anos que cobria algumas matérias e resultava em um longo e chato trabalho com um seminário para praticamente toda a escola. Era uma espécie de TCC para o lado cientifico e não técnico.
- Vou, acho que vou antes que você.
- Vai na quinta né?
- Acho que sim.
Ia ser um dia inteiro longe dele, eu sairia da cidade 4 da manhã e voltaria 8 da noite. Eu iria sobreviver.
Logo nosso ônibus veio, ele deu sinal e entramos. Nosso ônibus estava mesmo atrasado por que aquele era um motorista diferente, do ônibus que vinha 20 minutos depois. Passamos a catraca eletrônica e começamos a seguir pelo corredor, digo, eu segui pelo corredor, ele não. Não sei qual é o costume de algumas pessoas, eu acho que elas passam a catraca e criam raízes no meio do ônibus em frente à porta, não saem mais dali.
Odeio pessoas que ficam na porta do ônibus.
- Vem cá – puxei ele comigo.
Arrastei ele até um banco duplo no fundo do ônibus, em frente a porta mas que não atrapalhava a passagem.
- Você é chato demais – resmungou – Sabe disso?
- Sim, eu sei – respondi – E por isso que você ainda está aqui.
Nós nos sentamos no banco e relaxamos um pouco, não faltava muito tempo para descermos. Eu juro que vi um sorriso no rosto dele quando disse ele ainda continuava ali. Não entendia mais nada, se ele tinha alguma opção sexual, disfarçava muito bem.
Quem era ele?
- Vem. – agora ele havia me puxado – Nosso ponto é o próximo.
Eu não resisto a suas mãos e a sua suava pele, quando ele me toca, me segura. Eu me sinto desmanchando em partes. Acho que estou virando um maníaco.
- Você vem ou não? – ele já estava na calçada gritando.
E então percebi que ainda estava dentro do ônibus, no topo das escadas, me lamente de forma relativamente alta e rezei até pra Gandalf. Num salto desesperado eu pulei pela porta que já se fechava.
Eu queria morrer mesmo fazendo isso.
- Menos viagens mentais e mais ação – ele disse.
Ele dava tapas em minha cabeça enquanto eu respirava ofegante. Eu poderia simplesmente ter decido no próximo ponto, não era tão longe.
- Como se você não viajasse às vezes – falei.
- Mas eu sei o que estou fazendo. Agora anda, logo o portão vai fechar.
- Eu te odeio.
- Mas você ainda está aqui. Se me odiasse nem falaria comigo.
- Argumento valido.
Ele tinha razão. E eu acho meio improvável, que naquela situação toda, eu o odiasse. Nunca achei alguém que amasse tanto.
Caminhamos até a escola. Eu havia perdido a raiva que tinha dele do dia anterior na lanchonete, já conversávamos de tudo, menos de ontem. Acho que seria a mesma coisa dos nossos “encontros” nos ônibus antes de nos reencontramos, não tocaríamos no assunto.
Quando entramos na escola, Olivia nos recebeu meio impaciente, mas com seus olhos brilhantes. Isso era um péssimo sinal, péssimo mesmo.
- Vai com ela – ele disse – Depois encontro vocês.
Esse foi o estopim para Olivia que começou a falar sem cessar até chegarmos na biblioteca e nos sentarmos. Olivia era o tipo de pessoa objetiva e rápida, suas ideias eram boas e fáceis de ser planejadas.
- Eu tenho uma ideia. Só preciso da sua aprovação.
- Qual é a ideia primeiramente? – perguntei.
- Só preciso da sua aprovação. – ela insistiu - Sim ou não.
Não estava muito confiante. Nem sempre as ideias dela davam certo, eu admito. Bom, melhor do que nada, que sabe essa ideia avance as coisas um pouco. Vou acatar sua ideia.
- Sim – disse – Agora qual é sua ideia oh conselheira.
- Amanhã te conto.
- Amanhã vou pra Santos.
- Sexta eu te conto.
Sabia que havia algo por trás.
- E quando vocês vão me contar algo? – sua voz ressoou entre a gente.
- Agora não Laura – Olivia pediu.
- Eu tenho o direito de saber.
- O quê? – perguntei.
- Por que vocês dois vivem juntos agora.
Não sabia se deveria explicar para ela. A reação de Olivia foi relativamente boa, agora eu saberia a reação de Laura. Ela tinha um temperamento forte e explosivo.
- É uma longa historia – disse.
- Eu só estou ajudando o Rodrigo em um pequeno problema – Olivia acrescentou.
- Eu não diria pequeno.
- Não importa. Quando isso tudo passar, nós te contamos Laura.
- Eu vou acabar descobrindo por bem – ela se levantou. – Ou por mal.
Como eu disse, ela tinha um temperamento forte. Laura não aceitava perder.
Ela saiu em passos pesados bufando raiva. Ela nem percebeu o segredo na sua frente. Quando passou pela porta da biblioteca, Rodrigues entrava sorridente e buscava com os olhos alguém – era eu claro. Ela apenas bateu de frente com ele que vacilou em pé, ela seguiu em frente sem olhar pra trás ou pedir desculpas enquanto ele parecia perdido tentando lembrar o que estava fazendo antes.
- Você sabe que vou ter que contar – Olivia disse rapidamente.
- Eu sei, só me deixa pensar em um jeito fácil.
E então ele se aproximou.
Seus olhos me acalmaram, sua voz me trouxe serenidade, me envolvi de calma e felicidade perto dele. Eu amava ele mesmo.
Odeio minha vida.
Se alguém já foi para Santos – SP vai saber do que eu falo. Laura e eu éramos do mesmo grupo de trabalho, então por um momento esquecemos tudo e nos sentamos lado a lado.
Eram 4 da manhã quando o ônibus saiu aqui da cidade em direção a Santos e o frio permanecia.
O ônibus seguiu pela rodovia até a capital para então seguir pelo sistema Anchieta Imigrantes. Era cerca de 3 horas de viagem, chegaríamos em Santos por volta de 7 da manhã. Seguimos pela Serra do mar e logo encaramos uma fina garoa e uma neblina. Estávamos saindo de 1000m de altura para 0, indo ao nível do mar.
- Quem era aquele garoto com quem você vive agora – ela soltou em um momento meu de distração.
- Ele? – falei – Só um velho amigo.
Ah como eu queria que fosse só um velho amigo. Também queria que fosse mais que um amigo. Acho que estou na FriendZone...
- Qual o nome dele?
- Seu nome – eu estava viajando ali.
Nome, era tudo que eu tinha poucos dias atrás. Agora eu tinha seu nome, seus olhos, seus lábios, sua pele, eu tinha ele. Não, eu não o tinha. Não ainda. Eu tinha tudo, e ao mesmo tempo nada.
- Seu nome é Rodrigues – falei.
- De onde você conhece ele.
- Você é muito persistente e é uma longa historia.
Ela queria saber a fundo e a qualquer custo qual era o segredo, mas acho que perguntar por ele era só curiosidade mesmo. Ela não tinha a mínima ideia.
- Só aproveita a viagem – disse a ela.
Quando chegamos a Santos, todos tinham sua prancheta e uma caneta em mãos. Agora sim a excursão iria começar.
Vimos o Monte Serrat, Casa Azulejada, o Bonde Turístico, Museu do Café. Vários e vários pontos turísticos até chegarmos finalmente a Ponta da Praia.
Uma brisa do mar batia e nossos rostos que levantou um suspiro de todos. Acho que eu não era o único que sofria por um amor, seja um amor hétero ou gay, todos sofrem. Todos sem exceção.
E então meu celular tocou ao fundo interrompendo meus pensamentos.
Peguei e olhei o numero na tela. Parece que era a terceira ligação de Olivia.
- Rodrigo – ela pedia – Se ele ligar não atenda.
- O que você fez.
- Não fale nada com ele. Amanhã eu te explico.
Eu tentei argumentar com ela que me pedia pra ficar quieto.
- Droga Olivia. O que você fez?