Capitulo 4
Parte da série O lorde da vingança
Corri pela rua interditada, era a rua em que morava. A área estava isolada em um perímetro policial, dois agentes tentaram me barrar, mas ao verem meu distintivo me deixaram passar. Quando cheguei em frente de casa eu a vi.
Não acreditava. Seu corpo era minúsculo, parecia tão frágil como se um toque fosse quebra-lo. Ela estava linda, não podia ser real. Estava com seu uniforme da escola e a mochila cheia de livros, tinha cabelos curtos e loiros, seus olhos eram azuis e sua pele clara, característica da nossa descendência alemã. Logo eu vi o longo corte em seu pescoço.
Minha filha estava ali morta. O ferimento parecia possuir o mesmo estilo do assassino que procurava, ele havia matado Jessica. Aquilo deixou de ser um caso qualquer, agora havia ficado pessoal. Precisava me controlar, também tinha um trabalho a cumprir. Mesmo sendo minha filha, era mais uma vitima entre varias, seja que fosse eu precisava deter. Mas se era mesmo uma seita assassina, deveria haver mais membros. Não importa, ao menos um eu levaria preso.
Me agachei ao lado dela. Não podia aceitar isso, que ela estava morta. Minha filha só tinha 11 anos, não era uma criminosa e não havia motivo para ser atacada. Talvez o alvo pudesse ser eu, quiseram me atingir, querem me fazer desistir do caso.
Só pioraram mais ainda as coisas.
Coloquei as luvas, iria recolher minhas próprias provas naquele momento. O corte no pescoço dela não era tão fundo, o assassino poderia ter mudado seu método então. Tinha de lembrar também que podia estar lidando com uma seita, talvez fosse um assassino diferente que a matou, se bem que em todo mundo os casos tinham a mesma característica mostrando que a seita mantinha o mesmo método sempre. Poderia ser um rebelde então, mas que ainda tinha ligações com a seita? Ela não tinha uma expressão de horror no rosto, estava serena e calma com o inicio de um sorriso. Será que Jessica conhecia o assassino? Acho que ela não tinha contato com pessoas de outras cidades, poderia ser alguém daqui mesmo e um conhecido então. Mas isso ainda não me dava suspeitos.
- Investigador? – ouvi me chamarem.
Levantei o rosto para procurar a fonte da voz. Era um policial comum, ele havia retirado o quepe e o segurava nas mãos. Acho que compadecia da minha dor.
- Eu sinto muito pela sua perda – ele disse – A imprensa já chegou, mas a impedimos de entrar no perímetro. E também prendemos um suspeito, ele estava com duas facas inclusive com uma penetrada no abdômen, cambaleava e parecia estar drogado. Estava do outro lado da rua olhando fixamente para o corpo da garota.
Um suspeito? Pelo os casos que vi o assassino fugia sempre, se ele fosse mesmo quem a matou, por que havia ficado? Precisava interroga-lo.
- Onde ele está? – perguntei.
- Foi levado para o hospital geral no centro. Infelizmente, receio que ele não viverá muito.
Agradeci e sai do perímetro policial, tinha de deixar o corpo lá até o IML chegar para recolhe-lo. Driblei a imprensa e fui até o carro, precisava chegar logo ao hospital. Nunca cheguei a acreditar em Deus ou outras divindades, mas nesse momento rezava que eu conseguisse achar o assassino da Jessica e que ela estivesse em um lugar melhor.
Adeus minha filha.
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Aquele hospital estava lotado. Os corredores estavam cheio de gente em macas e até jogadas no chão, eu sentia o medo que ela tinham da morte. Sabia que iria encontra-la logo. O corredor estava cheio de almas vagantes, esferas de luz translucidas que ficavam sem rumo, acho que ai surge os fantasmas, almas que ficam presas ao mundo humano. Boa parte delas se reuniu a minha volta, sentia seus clamores, como se eu fosse capaz de lhes dar paz. Infelizmente não podia e não sabia quem poderia.
- Senhor, por favor. Essa área é restrita apenas para paciente.
Olhei para a mulher que me chamava, na minha frente barrando a minha passagem e com uma prancheta, tinha um jaleco já manchado de sangue e suas luvas estavam penduradas no bolso. Devia ser uma médica, me surpreendia que ela tivesse parado já geralmente médicos ou são muito ocupados com pacientes ou fogem deles. Eu me lembro de um médico que matei, ele havia renegado a própria profissão e matou uma idosa vitima de um terremoto com uma pedra para roubar suas joias. Desde aquele dia eu não confiava em médicos, mesmo sabendo que nunca precisaria de um.
- Não – relutei – Eu procuro uma garota, Jéssica é o seu nome, deve ter uns 11 anos e eu acho que ela estava na ambulância que acabou de chegar.
- O senhor já olhou o plantão na tv – ela apontou para o aparelho que estava pendurado ao teto e caminhou para longe de mim.
Olhei o televisor. Uma repórter falava em frente a uma fita de isolamento da policia, na legenda a frase de destacava: “Assassino das adagas mata garota”. Eu havia gostado desse nome, mas não era um assassino, mesmo assim esse nome servia para colocar mais medo nos humanos. No entanto, eu não havia matado nenhuma garota.
- Aumente a televisão, por favor – pedi a uma enfermeira.
- Senhor, estamos em um hospital – ela disse – Precisamos do silencio.
- Aumente a droga da televisão – gritei. – Agora!
Eu posso transmitir medo as pessoas também. Não sei como, apenas posso. A enfermeira olhou em meus olhos por um momento e já senti ela se encolher assim como seus olhos que me permitiram ver seu pensamento. Ela estava apavorada, mas ao menos aumentou a tv.
A repórter era ruiva e rapidamente a reconheci. E até acho que vi um cauda atrás dela balançando involuntariamente. Era Ângela que estava ali. O mundo espiritual se mistura ao dos humanos, poucos são capazes de ver espíritos e almas ou demônios e anjos, acho que fantasmas se encaixam nessa regra.
- Uma garota acaba de ser assassina em frente a sua casa – ela disse. – Seu nome era Jessica, e por incrível que pareça era filha do Investigador Duncan que acaba de assumir o caso do Assassino das Adagas. Poderia ser uma represália a ele?
Uma foto de Jessica surgiu na tela, era ela mesmo. Uma garota inocente, morta por alguém que agora sofrerá a minha Justiça. E o pior, seja quem a matou, ainda sujava meu nome, é um imitador meu e não posso admitir que mate inocentes.
- A policia diz que prendeu um suspeito – Ângela disse - ele está ferido e foi para o hospital com escolta militar até se recuperar para ser interrogado e julgado.
Ele estava aqui então. Aquela ambulância que passou seria do suspeito? Devia estar na ala de emergência, podia mata-lo ali mesmo e colocar a culpa em uma superbactéria. Matar primeiro por assassinar a Jessica e em segundo por ser meu imitador. Odeio imitadores.
Fui pelo corredor cheio de pacientes jogados no chão, as luzes falhavam e não havia ventiladores, nem ao menos de teto. Acho que não precisaria de um assassino ali, um vírus mataria todos rapidamente.
- Mamãe – ouvi uma voz.
Era um garoto de uma aparência frágil, não tinha cabelos e estava todo incubado com um avental azul enquanto um dosador de soro pingava ao pouco em direção a sua veia. Estava bem fraco, mas tinha força o suficiente para ver e levantar o dedo para mim.
- Por que esse homem tem essas bolas azuis em volta dele.
- Tudo bem meu filho – uma mulher ao lado dele disse, acho que era sua mãe – Está tudo bem.
O garoto não parecia satisfeito com resposta, mas já não conseguia falar. A morte logo chegaria para ele. Mas ele era especial, ele podia ver o mundo espiritual. Se não morresse, seria um garoto forte o suficiente para purificar o mundo de fantasmas por exemplo.
Ordenei que as almas vagantes se reunissem ao redor dele, de inicio ele se assustou com a situação e apertava o braço da mãe com força, mas logo ele se acalmou e sorria. Levantava devagar o braço e tocava uma das almas que se dissolvia em estilhaços espirituais em direção ao limbo. Um garoto podia dar paz as almas, eu torcia para que ele não morresse então.
Segui pelo corredor procurando a sala que o suspeito estava, tinha que acha-la.
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Parei o carro na emergência e entrei no hospital correndo, ninguém ousava me parar aquela hora. Entrei em um corredor lateral e cheguei até a sala onde devia estar o suspeito. Ele estava com escolta então ninguém teria acesso a ele sem um distintivo e contava com dois agentes de segurança na porta. Iria dispensar os agentes para interroga-lo a vontade, e se precisar, usar métodos de tortura.
A surpresa começava ali. Os dois agentes de segurança estavam caídos no chão, rapidamente verifiquei o pulso deles, ainda estavam vivos e somente desmaiados. Empunhei a arma rapidamente, em um momento as luzes falharam e as de emergência acenderam. A porta estava fechada eu sentia um vento passando pela fresta dela. Me afastei e corri até a porta, no primeiro impacto ela não se abriu, tentei mais uma vez e a fechadura quebrou com o impacto, arrombei a porta e entrei na sala.
O suspeito estava na cama deitado, tinha uma expressão de horror no rosto. As luzes dentro da sala piscavam constantemente e os aparelhos que pareciam deixar os suspeito vivo estavam desligados. Ele morreria logo. O que mais me assustava era a figura que estava em cima dele, era um ser translucido, emanava um azul claro do seu corpo, ele estava sentado sobre o suspeito e olhava em seus olhos fixamente. O ser também parecia segurar uma faca nas mãos que estava apontada diretamente para o pescoço do suspeito.
Logo o ser olhou para mim furioso. Seus olhos estavam vermelhos, ele parecia um demônio, senti o medo tomar conta do meu corpo e o frio aos poucos ia me congelando. Não hesitei e atirei duas vezes em direção a ele.
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BielRock: Não sou bom em planejar surpresas, então não prometo nada de impressionante no conto. Mas se você gosta mesmo, vou tentar fazer o melhor. Obrigado por acompanhar.
Ryan: Seu lindo, desculpa, eu esqueci de responder seu comentário no ultimo capitulo. Ah, e vai ter uma trama gigantesca em volta desse assassino, acho que nada surpreendente talvez. Obrigado por comentar cara.