Capitulo 3
Parte da série O lorde da vingança
Estava vagando no vazio quando uma bola luminosa surgia em meio aos espectros, ela ia tomando forma e se alongando, ganhava feições de uma criança, uns 11 anos talvez. Tinha cabelos curtos e loiros, seus olhos eram azuis e sua pele clara, parecia uma descendente alemã. Parei e me aproximei dela e de seus olhos vazios, ia empurrando os espectros que estavam entre nós até chegar nela, queria saber se podia ajuda-la.
- Você é aquele que chamam de lorde da vingança – ela disse sem me olhar.
- Posso te ajudar?
Ela se virou, então vi o longo corte que havia em seu pescoço.
- Ele me matou por puro prazer – falou.
- Quem?
- Faça a justiça ela disse e diga ao meu pai que estou bem.
Ela se desfez em migalhas azuis, o julgamento e uns é mais rápido que o de outros, ela havia tido essa sorte. Provavelmente agora usufruía dos prazeres celestes. Mexi os dedos e abri um portal para o mundo humano, eu tinha um trabalho, descobriria alguns dias para saber seu assassino, mas eu descobriria. Iria realizar seu pedido.
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Todas aquelas câmeras estavam apontadas para mim, ao meu lado estava o comandante e um representante da Interpol, estava discursando para todos e provavelmente meu discurso se traduziria em varias línguas.
Eu me meti em uma enrascada mesmo.
- Investigador Duncan – uma mulher ruiva se levantou com um bloco de notas. – O senhor tem alguma pista do assassino?
Os flashes das câmeras me incomodavam, fechei um pouco os olhos para observa-la melhor e responder.
- Requisitei a Interpol a ficha das vitimas para comparar seu modus operanti, os últimos casos foram na cidade e é de supor que ele ainda esteja aqui, além disso, parece que ele não foge de um conflito.
- O senhor sabe que esta com um grande caso e uma grande responsabilidade agora, investigador?
Era um jovem que perguntava, tinha seus cabelos encaracolados e dourados. Ele levava um gravador a fitas para ter meu discurso quando quisesse.
- Sim eu sei – respondi. – Mas não irei abandona-lo e seguirei até o fim. Zelo para que esse assassino chegue a justiça por minhas mãos. Além disso, necessito da ajuda de todos os países já que podemos estar lidando com uma seita assassina.
- Investigador!
Varias vozes me chamavam e mais fotos eram tiradas, os refletores me cegavam aos poucos e eu ia ficando nervoso, logo o comandante interveio junto do representante da Interpol.
- Mais informações serão divulgadas em breve.
- Reforçamos que todos na região evitem sair de casa durante a noite até os assassinatos cessarem – o representante disse.
- Sem mais – o comandante finalizou.
As vozes continuavam, desci do palco por uma escada lateral em direção a minha sala, evitei conversas, já era um caso difícil e agora eu estava sob pressão do mundo todo.
Bruno estava na frente da porta, pedi para não deixar ninguém entrar lá. Bruno tinha uns 19 ou 20 anos, havia se formado em administração eu acho, nem ao menos sei por que ele havia decidido ser meu assistente. Ele era alto e magro, mas bem forte e desenvolvido, sempre estava bem social com calça preta e uma camisa branca, e sempre com aqueles óculos quadrados que lhe davam um ar intelectual, tinha seus cabelos castanhos e curtos junto de olhos azuis, sua pele era morena e ele tinha uma tatuagem de um dragão que percorria todo o seu braço direito.
- O senhor está bem? – ele falou.
- Sim, eu só preciso descansar um pouco.
- Deixei as fichas em sua mesa e já comecei um relatório sobre algumas – ele disse – Até agora no mundo foram 50 vitimas que eu relacionei.
Ele me estendeu uma folha com alguns nomes distintos e com as datas dos assassinatos junto do local. Agradeci e entrei na sala com ele atrás de mim, segui para o meu escritório e o deixei ali, as vezes eu sentia que Bruno estava interessado em mim, mas nunca me importei muito. Não tinha tempo para paixões.
Sentei na cadeira e liguei o computador, faria um café rápido e forte para sobreviver a noite toda e então iria rever todos os fatos. Peguei a lista que Bruno havia me dado e comecei a digita-la nos sites de buscas. A maior parte dos nomes era de traficantes pelo mundo e outros sequestradores, parecia que essa seita só agia contra criminosos mesmo, mas alguns nomes fugiam desse paradigma. Dois nomes eram poucos conhecidos, um deles era de um padre e outro de um médico, ambos foram mortos no mesmo, mas não havia nenhuma características em sua fichas para serem criminosos.
O padre era italiano, responsável por uma grande igreja, era reconhecido até pelo papa atual, não havia incidente algum e foi morto em sua própria sala com as mesmas características dos outros. Enquanto pesquisava surgiu outra noticia, quando os investigadores locais procuravam evidencias de sua morte, encontraram no porão da igreja, varias crianças amarradas e sedadas que com o exame de corpo de delito foi comprovada que sofriam abusos sexuais constantes, e entres as crianças havia o corpo de um garoto morto que aparentemente também sofria abusos.
O médico era chinês, trabalhava voluntariamente para o governo em desastres naturais locais e no atendimento de pessoas pobres. Não havia nada de estranho, seu corpo foi encontrado em uma barraca de primeiros socorros em uma área que havia sofrido um terremoto. Esse médico tinha itens em sua ficha criminal local, no mesmo dia de sua morte, ele tinha sido indiciado por roubo a uma casa destruída seguido da morte cruel de uma idosa que era a residente, ele roubou joias da casa e a idosa estava entre os escombros, ele a matou para que não houvesse testemunhas. Logo após ser indiciado foi encontrado morto.
Agora a situação se complicava. Agora qualquer um que praticasse um crime hediondo era morto, mas se isso realmente acontecesse, milhares de pessoas já teriam sido mortas. E no caso padre, ninguém sabia das crianças e do corpo do garoto, não havia informação do crime, e ele foi morto mesmo assim, como se alguém já soubesse. E o médico foi morto poucas horas depois de ser indiciado, seria impossível alguém planejar um assassinato e pouco tempo após a noticia, matar e sair sem ser visto principalmente em uma área que sofreu um terremoto recente onde teria varias pessoas por perto que teriam notado algo.
Tinha de ter alguma relação entre os casos.
Ouvi as batidas na porta. Pedi para Bruno não deixar ninguém entrar, então ou era ele batendo ou um espirito sobrenatural. Logo ele abriu a porta com uma expressão de tristeza. Me levantei e corri até ele.
- O que houve?
- Sinto muito senhor – ele lamentou – Soltaram a informação no radio, a sua filha...
Mas o que havia acontecido, temi pelo pior, meu coração estava acelerado. O que havia acontecido com Jéssica? Seria algo tão sério a ponto de soltarem a informação no radio da policia?
- Diga logo homem – gritei – O que aconteceu?
Vi seus olhos vermelhos e com o inicio de lagrimas, ele não se atrevia a falar. Bruno me entregou um papel com um endereço e me deixou sair pela porta, disparei para fora sala e corri pela delegacia até o estacionamento. Eu temia pelo pior.
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Dominique disse que o nome da garota que falou comigo era Jessica, mas nem ele ou Ângela tinham informação sobre o que havia acontecido.
- Tome cuidado – Ângela advertiu – Mesmo que ninguém possa te prender ou te matar, você já esta sendo investigado por um policial. E ele parece bem competente.
- Tente evitar mortes desnecessárias – Dominique disse – Isso vai chamar a atenção, e além do investigador a imprensa também está atrás de você.
Assenti com os dois e eles desapareceram. Eu estava no centro da cidade, precisava achar mais informações para o assassino, era uma cidade grande e com muitos habitantes. Seria complicado achar o assassino, mas eu sempre acho.
Eu sou um espirito, mesmo assim prefiro agir como os humanos. Do outro lado da rua havia um hospital que parecia ser o principal da cidade, se Jessica havia sido morta recentemente o seu corpo podia estar ali para as varias tentativas de reviver pelos médicos, acho que poderia conseguir alguma informação. Eu me materializei em uma forma física, preferia não assustar as pessoas sendo um ser translucido andando pela cidade, só faria isso na frente do assassino.
Quando eu atravessava a rua, uma viatura da policia passou na minha frente quase que me atropelando, não tinha o que temer, mas ser atropelado por uma viatura em alta velocidade e levantar sem nenhum ferimento levantaria suspeitas. Ao mesmo dentro passava uma ambulância do outro lado da rua que entrava apressada na emergência do hospital.
Poderia ser a Jéssica?