Capitulo 1

Conto de N T N como (Seguir)

Parte da série O lorde da vingança

Chame de trevas, mas aqui também há luz, chame de inferno, porem aqui também é o céus. Acho que seria mais fácil chamar de limbo infinito, um espaço vazio, apenas frio e silencioso. Onde as almas mortais aguardam seu julgamento. Não digo que estou contradizendo sua religião, não estou negando que o céu e o inferno não existem. Eles existem, são duas regiões completamente diferentes e que vivem sim em uma guerra constante, mas não são suas preocupações após a morte.

Bem vindo ao limbo. Uma zona nula onde apenas uma fina camada separa o mundo humano do espiritual. Nenhuma alma cruza essa camada, quem a cruza é condenado imediatamente à queimação eterna, somente os espíritos podem cruza-la. Não sei se posso dizer se tenho a benção ou maldição de ser um espirito.

Espíritos são aqueles que foram banidos da morte, geralmente são aqueles que foram assassinados, pessoas inocentes que perderam suas vidas de uma forma um tanto ilícita e que ainda não tem a consciência de que sofreram de que sofreram um crime e perderam a vida. Boa parte são crianças mortas de forma banal ou jovens e adultos mortos em crimes. Os espíritos podem buscar vingança, mas a maior parte se acomoda do limbo esperando o fim dos dias. Todos os espíritos são almas, mas nem todas as almas são espíritos, e antes de ser um espirito é necessário provar a sua morte a um anjo e um demônio para eles concederem a sua vingança.

Até na morte a burocracia.

O limbo não tem forma física, é um espaço vazio sem gravidade ou temperatura, onde você flutua até o seu julgamento ou sua vingança. Imagine o espaço sideral, aquela é a visão que você tem, galáxias e estrelas em suas mais diversas forma, de um certo modo você se sente livre.

Eu já tive minha vingança. Eu fui sequestrado e estuprado até a morte aos meus vinte anos, a violência que sofri não desejo para ninguém, e o motivo que os assassinos alegaram para mim era banal, somente pelo fato de eu ser gay fui abusado sexual por três homens até cair morto e meu corpo ser enterrado. Meus assassinos não sofreram a justiça humana já que não tinha provas de que eles havia cometido um crime, mas sofreram a justiça espiritual, a minha justiça, e hoje estão vagando por ai. Tenho toda a certeza que serão julgados ao inferno, são almas que fizeram um crime banal e não tem chance de defesa.

Como já tive minha vingança e tenho que esperar até o fim dos dias para viver em paz, eu realizo a vingança de almas e espíritos agora. Aqueles se acomodaram e não saem do limbo por nada. Minhas adagas perfuram o seu corpo e fazem o seu sangue jorrar por toda a terra, a dor que causou é sentida, a morte que fez é devolvida também.

Eles me chamam de Kinley.

Mas você, mero mortal, pode me chamar de lorde da vingança.

Meu passado te assusta? Não tem medo de mim? Os humanos contam essa história para assustar crianças, como uma lenda urbana. Sou mais comum nesse dia que vocês chamam de dia das bruxas. Eles dizem que sou inofensivo, que vou atrás dos cruéis, ladrões e bandidos. Sempre errados. Você pode ser um monge, mas se seu crime for inaceitável, eu vou realizar a justiça.

Então é melhor ter medo sim. Ninguém pode te salvar de mim.

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Ele corria assustado, ia tropeçando nas coisas e aos poucos ia tombando no chão. Os becos pareciam o engolir, a escuridão consumia tudo. Ele corria muito a minha frente, porem eu ia calmo em passadas lentas, onde eu pisava se forma um gelo que não podia ser derretido enquanto estivesse e a temperatura caia, ele não podia fugir de mim. O sujeito chegou ao fim dos becos, uma parede de tijolos alta o impedia de continuar, ele estava desesperado e ficou mais ainda ao ver que estava cercado.

Eu sentia o seu medo. E ele sentia a minha morte.

Rapidamente, tentando se defender, ele levantou um revolver para mim. Estava muito nervoso, sua mão tremia e a arma vacilava na sua mão, ele decidiu empunhá-la com as duas mãos para ter mais firmeza.

Ele achava mesmo que iria me parar com isso.

- Vá embora – ele gritava. – Eu não fiz nada. Por favor, eu não mereço a morte.

- Implore o quanto quiser – falei. – Eu sei dos seus crimes, sei das mortes que causou. Tem razão em não merecer a morte, merece coisa pior.

Ele fechou os olhos e disparou. Foram seis balas seguidas para mim, todas vinham rapidamente prestes a furar meu corpo, mas nada podia me parar. Estava a uns 100 metros dele e os projeteis iam se aproximando, um humano normal já estaria morto a esse ponto. O sujeito sorriu quando as balas chegaram ao meu corpo.

Uma a uma, elas atravessaram a pele e a carne até saírem do outro lado e perfurarem a parede atrás de mim. Não havia manchas de sangue ou buracos, as balas atravessaram inofensivamente meu corpo transcendental, acompanhei cada uma delas, acompanhei sua trajetória inútil. O sujeito surpreso tirou o sorriso do seu rosto e adotou uma expressão de horror, logo eu que sorri.

Ele se ajoelhou no chão úmido, uma fina garoa caía sobre nós. De relance eu vi seu rosto, era jovem com uns vinte e cinco anos, tinha cabelos encaracolados curtos e negros, seus olhos castanhos estavam avermelhados por lagrimas que surgiam, seus lábios eram finos porem secos e rachados, o seu nariz era torto e aparentemente já havia sido quebrado em algum momento de sua vida.

Ele era uma pessoa bonita, admito. Mas sem piedade.

- Não adianta se ajoelhar para buscar o seu perdão – falei.

- Por favor – ele implorava. – Não vou aliciar crianças novamente.

- Tarde demais.

Eu me aproximei calmamente, me alimentava do seu desespero. Rapidamente chutei seu rosto e ele caiu ao chão, não precisava ter pressa, além disso, essa era a melhor parte.

Ele caiu segurando o rosto e rolou tentando se proteger. Logo o fiz voltar girando as pernas entre ele e o prendi no chão com um pé sobre o seu peito. Me agachei sobre ele, queria que ele sentisse medo, levantei seu rosto e o obriguei a olhar nos meus olhos. Eu via cada um dos seus pensamentos, seu coração estava acelerado, a pressão do sangue em suas veias era grande, ele tremia a cada um dos meus movimentos.

Tirei a adaga longa e afiada da bainha presa as costas. Com uma mão segurava a lamina e com a outra empurrava sua cabeça e deixa seu pescoço a mostra. Eu olhei aos céus, a uma falha entre as nuvens pesadas fez a lua surgir e um feixe de cristal foi lançado sobre nós.

- Vitória – clamei – Sua vingança está feita.

A adaga desceu sobre seu pescoço, perfurando a carne e as veias vitais, um jato de sangue foi lançado para o alto e logo voltou sujando o rosto do sujeito. Ele agonizava de dor enquanto o sangue jorrava pela ferida e a adaga ia afundando mais na carne, a vida abandonava seu corpo. Logo ele se silenciava, ia perdendo os sentidos, mas seu rosto continuava com uma expressão de horror.

Retirei a lamina do corpo sem vida. Me levantei e limpei o sangue do metal e reluzia ao luar. Logo dois portais surgiam atrás do corpo, de cada um deles se levantava uma figura conhecida pelos humanos.

Um era um ser celestial, um jovem elegante, tinha asas longas e cheia de penas brancas, tinha cabelos dourados e encaracolados e usava uma calça justa junto de uma jaqueta preta, seus olhos eram azuis como o céu da manha e suas maçãs do rosto eram salientes com uma pele branca e sensível. Era um anjo, seu nome era Dominique.

O outro ser não tinha asas, mas tinha uma longa cauda farpada que arrastava no chão e se mexia constantemente, era uma donzela e tinha cabelos vermelhos como o fogo que iam até a base do pescoço, seus olhos pareciam queimar em chamas vivas, ela usava um longo vestido negro e tinha sua pele um pouco bronzeada. Era um demônio, seu nome era Ângela.

Dominique trazia uma lança longa com uma lamina azulada e que emanava um frio gentil em uma mão enquanto Ângela trazia um tridente vermelho que ardia em chamas e emanava calor raivoso. Mas ambos traziam um pergaminho velho e amarelado. Acho que os dois eram os únicos amigos que eu tinha no outro mundo.

- No dia que nós pudermos dormir sem que seja convocado para recolher uma alma... – Dominique iniciou.

- Será o dia em que o Kinley chegou ao fim dos seus dias e parou de realizar vinganças – Ângela finalizou o comentário.

Ambos sorriram sarcasticamente, logo jogaram seus pergaminhos ao chão e os abriam ao lado do corpo. Recitaram poucas palavras em uma língua espiritual, era algo como “Eu sou testemunha da morte” e fixaram a lança e o tridente nos pergaminhos contrários cruzando sobre o corpo. No corpo, a boca se abriu e uma bola luminosa surgiu e subiu aos céus, a alma foi lançada ao limbo.

- Se continuar com o mesmo método... – Ângela disse.

- Vai começar a ser tratado como um Serial Killer – Dominique falou.

Eu sorri para eles guardei a lamina que ainda segurava na mão. Esse era algo que chamam de modus operanti, os meios que assassinos sempre matam. Mas eu não era um assassino.

- Ao menos os humanos terão mais medo de mim – falei.

Os dois se entre olharam e sorriram. Não havia como discutir comigo. Eles assentiram e recolheram os pergaminhos, logo abriram seus respectivos portais.

- Bom trabalho – eles disseram antes de sumir.

O luar sumiu novamente, todos desapareceram e somente o corpo continuava lá. Estava feita a vingança, tudo realizado. Sinceramente, eu amo o meu trabalho.

Apontei para uma parede e a toquei fazendo rapidamente uma espécie de uma lamina, um portal escuro se abriu diretamente para o limbo, eu já via as estrelas e toda a imensidão do espaço.

Sou lorde da vingança.

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