A HISTÓRIA DE NÓS TRÊS - 01X19 - "TIROTEIO"
Parte da série A História de Nós Três
“Meu Deus... Qual foi o resultado Larissa? Não fomos aprovados? Me diz? O juiz não quer o bebê com dois homossexuais?”
- Me fala logo Larissa... não conseguimos?! - perguntei aflito.
- Não... – ela disse seriamente.
Segurei a mão do Mauricio e o chão nos engoliu. Todos os projetos e planos caíram por terra. Aquele noticia caiu como uma bomba, já estava tudo preparado o quarto, o berço, havíamos trocado de carro. Tudo para receber um bebe que jamais teríamos.
- Mauricio... Pedro... vocês não só conseguiram a guarda da criança, como ele já está ali no carro. – disse ela apontando enquanto uma outra mulher trazia a criança.
- Não brinca comigo... – falei chorando e olhando para o Mauricio. – Nós conseguimos?!
- Sim... conseguimos. – ele disse rindo e muito emocionado.
- Podemos entrar?! – perguntou a mulher que estava com a Larissa.
- Claro... – disse enxugando as lágrimas.
- Bem... quem vai ser o primeiro a segurar o bebê? – perguntou a mulher.
- Amor... você. – eu falei passando a mão direita na costa do Mauricio.
- Opa.. isso com bastante cuidado. – ela disse passando o bebê para o meu marido.
- Olha como ele é lindo amor... parece um anjinho. – ele disse enquanto fazia carinho no bebê. – Paulo... o nosso Paulinho.
- Então Mauricio... Pedro... nessa pasta encontram-se os documentos do bebê... na verdade ele se chama Henrique, mas você podem dar entrada no cartório pedindo anulação de nome. – ela disse me dando uma pasta azul.
- Nossa Larissa... obrigado mesmo, estou muito emocionado. – falei abraçando ela.
- Não se preocupa... eu fico feliz em fazer uma família se unir... vocês ficam perfeitos juntos. Mas vocês não vão se livrar tão fácil de mim não. – ela disse rindo e visivelmente emocionada. – Vamos fazer visitas periódicas, duas vezes na semana e vamos diminuindo com o tempo.
- Claro... e eu nunca iria querer me livrar de você. Você é o meu anjo.
- Bem rapazes temos que ir...e cuidado do anjinho.
- Eu é que agradeço... – disse levando as duas para a porta. – E não esquece... terça-feira que vem esteja preparada. – falei abraçando a Larissa.
Fechei a porta e agradeci a Deus e corri para a sala. A cena que eu vi... nunca... nunca vou esquecer. O Mauricio sentado no chão brincando com o bebê. Peguei o telefone e liguei para todos da minha família. Não levou nem 15 minutos todos estavam lá para conhecer o Paulinho. Minha mãe e minha irmã choraram horrores juntamente comigo. O Mauricio estava todo orgulhoso, o papai mais lindo que eu já vi na minha vida.
- Nossa ele é a coisa mais fofa. – disse minha irmã.
- Ele é... legal. – disse o Phelip.
- Puxa maninho não fica com ciúme, eu ainda amo você. Você vai ser para sempre meu bebê.
- Para...
- Pedro... tome jeito. Agora você é pai. – disse a minha mãe.
- Obrigado mãe. – ele disse.
- Hummm... filhinho da mamãe. – falei abraçando ele.
- Temos que comemorar... meu primeiro neto. – disse meu pai.
- Vamos marcar uma viagem. Que tal irmos para a casa de praia?! – perguntou minha mãe.
Olhei para a Priscila e baixei a cabeça. Tocar no meu irmão ainda doía muito. Já tinha passado um ano, mas mesmo assim saber que eu estava feliz e ele morto me deixava com uma aflição.
- Mãe... é melhor fazer em outro lugar. – falou a Priscila.
- É a ultima vez que fomos para a casa de praia foi com o Paulo. – falei abaixando a cabeça.
- Ok. Podemos fazer uma reunião lá em casa, chamar alguns amigos e parentes. – disse meu pai.
A família foi embora de tarde, apenas a mãe do Mauricio iria dormir conosco para que nós pudéssemos aprender como era cuidar de uma criança. O Paulinho já estava com 9 meses. Então não tínhamos com o que se preocupar. A primeira noite foi tranquila ele não estranhou e dormiu cedo. A mãe do Mauricio dormiu no quarto com ele na primeira semana, até comprarmos uma babá eletrônica.
Na sexta-feira foi a visita da Larissa. Conversamos a tarde toda. E ela comprovou que estávamos tratando o menino bem. De tarde eu e o Mauricio fomos registrar o nome dele. Na verdade deixamos o Henrique. E nos registramos como pais dele. Éramos pai do Paulo Henrique Elias Soares. E como eu e o Mauricio pegamos 4 meses de folga do trabalho, apenas curtíamos o nosso bebê.
A Luciana ficou responsável juntamente com a minha mãe de organizarem o nosso “Chá de Bebê – Com o Bebê”. Cheguei em casa e o jardim estava lindo. Todo azul e branco. Todo mundo abraçou e paparicou o nosso filhinho. Minha tia até disse que ele parecia comigo. Mas só o tempo diria como ficaria o meu filhotinho. Não desgrudamos um segundo dele. A cada dia que passava eu amava mais aquele garoto, mais do que a própria vida.
Tivemos dificuldades para voltar para casa. Nosso filho ganhou milhões de presentes. Era uma criança amada. Cativou a todos, com aquela carinha de anjo. Estamos exaustos, fui para o banheiro e dei banho no Paulinho, enquanto o Mauricio o secava, eu fui tomar banho e quando terminei foi a vez do Mauricio tomar banho. Estávamos nos acostumando a nova rotina. Meu medo foi que quando tivéssemos esse filho nossa vida sexual não seria mais a mesma, eu estava enganado.
Quando cheguei no quarto depois de fazer o bebê dormir fui praticamente atacado pelo Mauricio. Ele me beijava e me apertava com sua pegada forte. Transamos três vezes naquela noite, mas sem fazer muita zoada. Afinal tínhamos uma criança agora.
Acordei no outro dia e o Mauricio não estava na cama. Levantei e fui até o quarto do bebê e ele não estava lá também. Fui até a sala e o Mauricio estava tomando um café e o bebê estava sentando no cercadinho assistindo aos the backyardigans.
- Bom dia... meus amores. – falei.
- Bom dia papai dorminhoco. – ele disse rindo.
- Depois da noite de ontem né?! – falei rindo. – Amor... ele entende alguma coisa?!
- Amor... como eu posso explicar... humm... tá a visão dele é igual a nossa, mas ele enxerga melhor de perto. Ele consegue distinguir as coisas, objetos, as pessoas. Ele sabe que tem um pai lindo e maravilhoso, mesmo tendo acordado há pouco tempo. - Ele disse me fazendo sentar no colo dele.
- Bobo... ele é perfeito. Pensei que ia ser chorão... minha mãe disse que como bebê eu fui horrível. Chorava muito, era chato. – falei beijando o pescoço dele.
- Ainda bem que você não é mais bebê. – ele disse rindo.
- Nossa eu tenho tantas dúvidas.
- Calma amor. O importante é que ele tem saúde, já tem alguns dentes. Ou seja, a parte da choradeira não vamos enfrentar mais. Os dentes nas crianças é a pior parte por que eles tem que fazer um buraco na gengiva quando ele cresce, por isso as crianças ficam inquietas.
- Olha... Mauricio também é cultura. – falei. – Xii amor... temos que comprar um bebê conforto para colocar no nosso carro.
- Nos dois carros na verdade né?! – ele disse. – Vou tomar um banho e vou chamar o Phelip para ir levando o bebê.
- Claro. – falei me levantando e tirando o Paulinho do cercado. – Né... vamo compa a cadeilinha meu bebê?! – perguntei fazendo voz infantil, quem é pai ou mãe sabe do que eu estou falando.
O meu irmão foi conosco comprar as cadeiras de bebê para carro. Quando chegamos na loja um pouco depois da hora do almoço estava tudo silencioso. E ouvimos um estrondo forte, como se fosse um tiro. O meu único reflexo foi abaixar e proteger a cabeça do meu filho. O Mauricio e o Phelip ficaram atrás de uma prateleira de moveis.
- Amor... você está bem?! – o Mauricio gritou.
- Meu Deus... – pensava comigo mesmo. – Calma... protege o teu filho. Paulo... me ajuda. – eu rezava baixo tentando não gritar.
Abaixo fiquei avançando pela loja procurando sinal de perigo. Estava morrendo de medo, mas não deixaria nada de mal acontecesse com o Paulinho. Cheguei perto de uma mulher que estava chorando muito abaixada por trás de um balcão.
- Senhora, pelo Amor de Deus... o que está acontecendo?!! – perguntei.
- Meu Deus... uma quadrilha entrou na loja e saiu atirando em tudo e em todos. Quando estava para sair a Policia chegou pelo outro lado da loja e trocaram tiros. Estou escondida aqui há 20 minutos... eu não quero morrer. – ela disse chorando baixo.
- Calma... vai tudo ficar bem! Vamos tentar sair daqui... encontrar uma saída. Segura na minha mochila. – falei continuando pela frente.
- De longe pude avistar o meu irmão e o Mauricio que estavam rastejando pelo chão tentando chegar aonde eu estava. – fiquei mais tranquilo.
Quando eu vejo alguém se aproximar. Peço para a senhora cuidar do Paulinho e coloco eles entre umas caixas. E busco alguma coisa para me defender. Quando escuto mais disparado e um homem cai do meu lado morto. Eu faço força para não gritar, quando escuto meu bebê chorando e a voz da mulher tentando acalma-lo cantando alguma música. Sou surpreendido por um homem que pede para eu virar para a parede. A única coisa que em pensava era no meu filho. Ele escuta o choro do Paulinho e tira a mulher pelos cabelos de trás das caixas.
- Então foi você sua vadia... que chamou a policia... – gritou o bandido.
- Não me mata... eu to com o meu neto. – gritou a mulher segurando o Paulinho.
- Seu neto é... por sua culpa meu irmão morreu... sua maldita... – gritei.
- Moço pelo amor de Deus... pensa bem... você pode se entregar... pensa com cuidado. – disse levando um murro no rosto. – Por favor não faça mal a gente, deixa ela e a criança ir embora... eu fico.. eu fico... pode me usar como escudo humano, mas deixa a criança ir. – supliquei com a boca sangrando.
O homem me deu outro soco e eu cai no chão. Ele chegou em cima de mim e me deu dois chutes. Eu não me importava com a dor, e sim com a vida do meu filho. Eu me achava sortudo, nunca havia sido assaltado na vida. E a primeira vez que fui iria morrer.
- Pelo Amor de Deus não bate mais nele!! – gritou a mulher.
Olhei para o lado e vi o Mauricio e o Phelip chorando. Olhei para os olhos do Phelip e reconheci... foi como se fosse o mesmo olhar do Paulo quando demos uma surra no gordinho. O Phelip se levantou e avançou para cima do bandido que virou e disparou a arma. O Mauricio praticamente se jogou e conseguiu tirar a arma das mãos dele e os dois caíram no chão brigando. Pedi para a mulher correr e se esconder e eu corri para cima do Phelip.
- Não... denovo não... eu não posso te perder!! – gritei levantando.
Tirei o Mauricio de cima do ladrão e pedi para ele acudir o meu irmão. Não sei o que deu em mim. Vi naquele homem o Márcio. E comecei a chutar ele. E a bater nele.
- Aquela criança seu desgraçado era o meu filho... esse menino que tu acabou de dar um tiro é meu irmão caçula. Tu mexeu com a pessoa errado no dia errado. – gritava enquanto batia nele.
A policia chegou e juntos vinheram os paramédicos. Que levaram meu irmão para o hospital. Desesperado corri atrás da mulher e ela estava dentro da dispensa com o meu filho. Agradeci muito a ela. Eu estava todo quebrado, mas não me importava queria saber como estava meu irmão. Segui na ambulância para o hospital e sentei na cadeira da sala de espera. E comecei a orar baixo. Aquilo não podia estar acontecendo. Minha família chegou no hospital depois de alguns minutos e eu pedi para a mãe do Mauricio levar o Paulinho para casa. Depois de algum tempo o Mauricio aparece coberto de sangue. Eu o abracei chorando. E ele me levou para o Carlos me examinar. Depois de uma bateria de exames e alguns pontos no rosto eu estava novo em folha.
Estava tremendo no consultório. Não conseguia esquecer a cena do olhar do Philip.
- Calma... vai dar tudo certo. – disse o Mauricio chorando. – Eu fiquei com tanto medo de te perder... quando eu vi aquele filho da puta te agredindo quis levantar e o teu irmão não deixou. E eu deixei ele levar o tiro por mim.
- Acho que Deus me odeia?! - falei sem olhar nos olhos dele.
- Não amor... não te odeia. Ele te ama. Para de falar besteira.
- Toda vez que algo de bom acontece na nossa vida, algo de ruim acontece.
- Temos que ser fortes, temos um filho agora.
- Aí... meu Deus... o Paulinho... - disse chorando igual a uma criança. - O que a Larissa vai dizer... na segunda semana e já acontece isso. Vão tomar ele da gente.
- Não me faz sentir mais culpado. Ok... Temos que ser fortes agora um para o outro. Eu não vou deixar você cair. - ele disse me abraçando forte.
- Tudo bem... eu sei... eu sei... e você não teve culpa de nada... ok. Meu irmão sabia o que estava fazendo. E eu não conseguiria sem você... vamos orar... ora comigo por favor.
Começamos a orar no consultório. A sala de espera estava cheia de amigos e familiares. Todos formaram uma corrente de oração. Eu fiquei de joelhos no chão e olhei para cima.
- Paulo... eu falhei. Não consegui proteger o nosso irmãozinho. Eu preciso muito de você aqui. Me ajuda... salva o nosso irmão... eu não consigo mais sem você. – cai no chão e fui amparado por uma pessoa.
- Calma filho... – disse a mulher.
Eu olhei e tomei um susto. Era a mãe do Márcio. Eu estava tão fraco e tão abatido que não me importei. Naquele momento eu não ligava mais para nada. Chorei junto a ela. Ficamos uns minutos abraçados e eu perguntei o motivo dela estar no hospital.
- Meu filho... descobriu pelo facebook uma corrente de oração pelo seu irmão. E ele resolveu vir até aqui. Pedro, eu sei que aconteceram coisas nas nossas vidas. E sei que eu não deveria estar aqui, mas nesse momento todos precisam de ajuda e suporte. Sei que errei na criação do Márcio, mas ele e o Júnior são diferentes um do outro. O Márcio está pagando pelo erro dele.
- Obrigado. Muito obrigado. Eu queria poder falar que eu perdoo o Márcio, mas o que aconteceu hoje... só me fez odiar ainda mais ele. – falei chorando e abraçando ela.
- Eu sei querido, mas você é pai. Você vai entender o que eu sinto... aos nossos olhos eles são perfeitos, não importa o que fazem ou o que se tornaram. – ela disse chorando. – Está a turma toda do colégio do Phelip aqui no hospital, teu irmão é muito querido. Vamos nos juntar a eles Pedro.
A sala de espera estava completamente lotada. Alguns enfermeiros pediram para as pessoas saírem porque estava ficando realmente apertado. Estávamos todos aflitos, o Mauricio e a minha irmã que trabalhavam no hospital ficavam nos atualizando, mas o Phelip já estava há 5 horas em cirurgia. A Priscila estava amanhecida havia feito um plantão e não arredou o pé do hospital. Meus pais estavam um caco, com medo de perder mais um filho. O médico responsável pela cirurgia do meu irmão chegou na sala de espera e todos ficaram parados esperando uma resposta.
“E então Doutor?!! Como está o meu irmão?”