Capítulo 33: Trabalho

Conto de Misteryon McCormick como (Seguir)

Parte da série Paixão Secreta | 5ª Temporada

Estava deitado na minha cama no escuro. Sabe aquele momento onde você se sente sozinho e que tira um tempo para pensar na vida, no passado no presente e no futuro? E de repente você sente uma dor e uma sensação estranha no peito que te faz querer estar morto? Era isso o que eu sentia naquele momento deitado no escuro. A vida mudou tanto todo esse tempo. Pessoas vieram e pessoas se foram, mas essa é a vida. A maioria das pessoa não aguentariam tudo que sofri e por tudo o que passei nessa vida. A maioria delas teria se matado, surtado e algumas até teriam congelado seus corações e se tornado pessoas frias. Não eu. Não sou assim tão fraco.

O que entendo agora é que não tem como manter todos os que amamos por perto para sempre. Daria tudo para voltar para aquele dia comum em que eu corria na chuva para não chegar atrasado no trabalho. Steve jogava lama em mim e Adam me chamava em sua sala para me dar ordens. Eu era feliz aquele tempo e não sabia.

Estava no clima de comer um pote de sorvete e me afogar na bebida. Estava em uma situação de merda. Acabei de terminar. Meu tio tentou abusar de mim. Estava no clima por isso me levantei no escuro mesmo e desci as escadas para ir a cozinha. Para minha sorte meu tio não tinha chegado ainda e o relógio marcava quase meia noite.

Abri o congelador e não havia sorvete e olha que é uma enorme geladeira. Olhei em todos os cantos, mas realmente não tinha.

Fechei o congelador e abri a geladeira. Foi lá que encontrei minha tentação. Várias latas de cerveja. Peguei uma delas e abri. Dei um gole e engoli mesmo com frio eu decidi beber toda. Bebi toda de uma vez e peguei outra lata na geladeira. Decidi beber até que me sentisse melhor ou não sentisse nada.

Bebia segunda lata como se fosse água e deixei ela em cima do balcão com a outra. Abri a geladeira, peguei a terceira e novamente bebi de uma vez. Parei, respirei fundo e peguei a quarta latinha e fiz a mesma coisa. Bebi de uma vez e em seguida arrotei, meus olhos lacrimejaram porque estava muito gelado e eu comecei a suar.

Joguei a latinha em cima do balcão junto com as outras e fui para a geladeira novamente. Peguei mais três latinhas dessa vez e me virei fechando a porta da geladeira com a perna. Fui em direção ao balcão e coloquei as latas de cerveja em cima. Abri a quinta latinha e bebi ela de uma vez, quando abri a sexta eu olhei para a porta e levei um susto. Meu tio estava parado me observando. Ele tinha acabado de chegar, mas as latinhas vazias contavam tudo o que ele precisava saber.

- o que diabos está fazendo? – perguntou meu tio se aproximando do balcão lentamente e jogando a chave em cima da mesa.

- nada – falei olhando para ele – só estou me divertindo agora que estou solteiro. Estou triste pelas merdas que aconteceram em minha vida e não e por isso que as pessoas bebem? Para esquecer as merdas e fazer mais merdas quando estão bêbadas?

- porque? O que aconteceu?

- Jerry terminou comigo e foi embora e… me lembrei. O senhor tentou abusar de mim igual ao meu pai.

- você me respeita – falou meu tio pegando uma jarra de vidro com flores em cima da mesa e jogando na parede. Ele estava irado e suado. Ele parou e olhou pra mim – eu nunca, NUNCA abusaria de você. Não me compare a Larry. Você não pode me acusar de abusar de você.

- você me apertou forte e me segurou. Você não queria me soltar.

- eu te beijei. Eu te beijei com vontade e com paixão. Por isso eu apertei seu braço. Porque eu pensei que você corresponderia. Eu te beijei, mas não abusei de você. O que fiz foi errado, mas não te dá o direito de fazer essa suposição. Eu nunca abusaria de você.

- não quero falar sobre isso, não quero falar sobres seus sentimentos, eu só quero beber

- coitadinho de você. Pobre o garotinho que quer beber pra esquecer os problemas da vida.

- me deixa – falei pegando as duas latinhas.

- boa sorte – falou meu tio pegando uma das latinhas brancas com detalhes dourados e me mostrando – essas cervejas são sem álcool. As cinco que você bebeu não tem nem 10% do álcool de uma latinha das que ficam aqui em baixo – falou ele abrindo a geladeira e pegando latinhas pretas com detalhes brancos e dourados. Ele foi pegando e colocando em cima do balcão. Ele pegou dez latinhas e deixou lá em cima.

- o que está fazendo?

- Você não tem problemas? você não quer beber? Beba. Eu não vou te impedir – falou ele fechando a geladeira – não faz meu estilo proibir. Beba até cair, tenha uma noite de ressaca amanhã e volte a se sentir um merda depois disso. Amanhã se você quiser eu compro mais vinte e você pode beber de novo, vomitar, ter ressaca e voltar a se sentir um bosta. Você pode fazer isso quantas vezes quiser, mas eu te garanto que não vai deixar de sentir o que está sentindo agora bebendo feito um otário. Eu sei que não porque não funcionou pra mim. Eu não consegue parar de sentir só porque bebi. Você tem problemas? Coitado de você. Todos temos problemas – falou meu tio saindo da cozinha e subindo as escadas.

Não demorou para que ouvisse a porta se batendo no quarto dele. Meu tio parecia um homem diferente. Talvez tivesse vergonha do que fez, mas ele parecia um homem tentando lutar contra algo dentro de si.

Eu peguei uma das latinhas e olhei pra ela e pensei no meu tio. Ele era tão bom comigo todo o tempo. Ele me beijou e eu o acusei de querer abusar e me estuprar como Larry. O que fiz foi errado.

- que droga – falei me sentindo mal – eu bebi cinco latinhas de uma vez e agora minha bexiga está estourando. Eu não quero beber.

Subi as escadas e fui até o quarto do meu tio. Tentei abrir, mas estava trancada. Bati algumas vezes, mas ele não respondeu.

- sinto muito. Não devia ter dito aquilo. É que eu ainda me lembro daquela noite em que Larry… enfim. Eu só queria pedir desculpas porque me sinto profundamente arrependido.

Esperei e ele não respondeu.

- vamos esquecer o que aconteceu. Você nunca me beijou e eu nunca disse aquilo para você.

Mais uma vez esperei e ele não respondeu.

- eu decidi não ir embora essa semana. Pensei em ficar um mês. Não sei se vou ficar porque não sei o que posso fazer aqui todo esse tempo e além do mais não parece que o senhor vai me perdoar então…

- você pode trabalhar pra mim como da outra vez – falou meu tio do outro lado da porta – posso até te pagar um salário.

- não. Eu trabalho, mas sem salário – falei esperando a resposta, mas ele não falou mais nada – eu não vou atrapalhar se ficar hospedado aqui todo esse tempo?

- não.

- tudo bem – falei saindo de perto da porta e descendo as escadas – quer saber? – falei para mim mesmo chegando na cozinha, abrindo a geladeira e tirando uma latinha de lá de dentro – Uma latinha não vai fazer mal.

Assim que eu a abri eu tomei um gole e fui até o quarto do meu tio e bati na porta. Ele não precisava dizer nada, só eu queria dizer.

- eu não sei se está me ouvindo, mas vou falar do mesmo jeito – falei tomando outro gole da cerveja – amanhã e sexta e eu não queria ficar em casa. Tem algum lugar por aqui onde eu possa arranjar algum tipo de diversão?

- você pode ir no bar que foi da outra vez, com dança e tudo o mais.

- droga, eu tenho péssimas lembranças desse lugar.

- amanhã você pode perguntar para a Gwen.

- tudo bem. me perdoa e boa noite.

Fui para meu quarto e bebi toda a cerveja. Antes de dormir tomei um banho e fui para a cama. Fechei os olhos e fiquei pensando nos dias que se seguissem. Admito que estar no campo era bom. Ser amado e estar perto da família era sempre bom.

Sabe quando você dorme e parece que apenas piscou o olho? Foi o que aconteceu comigo. Abri os olhos e era como se todo o cansaço tivesse desaparecido do meu corpo. Olhei pela janela e o sol começava a nascer. Fechei os olhos para voltar a dormir e pensei: que diabos. Eu durmo todos os dias até tarde.

Pulei da cama e olhei no celular que marcava minutos antes das cinco da manhã. Esfreguei os olhos e fui ao banheiro, escovei os dentes, vesti minha roupa e ao sair do quarto percebi que pela segunda vez na vida eu tinha acordado primeiro que meu tio, mas dessa vez valia mais porque estávamos no território dele e não no meu.

Desci e olhei pela janela da cozinha a mais bela visão que já tinha visto no mundo. O sol nascendo sob a visão mais linda da floresta. Os animais faziam seus sons costumeiros e eu respirei fundo sentindo o ar mais limpo que já tinha respirado na vida.

Olhando pela janela eu pensei ter visto alguém do lado de fora. Meio sem jeito abri a porta da cozinha e logo a minha frente estava meu tio de costas.

- eu pensei que tinha acordado primeiro que o senhor – falei saindo e chegando perto dele.

Antes que chegasse ao lado dele meu tio se virou e eu vi que não era meu tio. Era outro homem.

- falou comigo?

- me desculpa. Pensei que fosse meu tio.

- Roger é seu tio?

- é sim. Você é o que?

- Trabalho para o seu tio. Tirei uns dias de folga, mas estou de volta.

- tudo bem. Quer entrar?

- claro.

- meu tio ainda não acordou.

- você está errado – falou meu tio chegando a cozinha – você acordou primeiro do que eu? – falou meu tio – que vergonha pra mim.

- viu só? Não sou só um rato da cidade grande – falei tentando ser amigável. Queria que tudo o que aconteceu na noite passada fosse esquecido.

- Vejo que já conheceu você já conheceu meu peão preferido – falou meu tio apertando a mão dele.

- pois é.

- já conheceu meu sobrinho?

- mais ou menos ainda não sei o nome desse “rato da cidade grande”.

- viu só o que faz tio? Agora o apelido vai pegar.

- deixa de bobeira – falou meu tio – Arthur, esse aqui é Mike.

- Mickey – falei apertando a mão dele – É daí que vem a piadinha “rato”.

- eu sou Arthur.

- muito prazer.

- eu vou conversar com o Arthur e você coma algo porque você vai ajuda-lo hoje – falou meu tio – não precisa pegar leve só porque ele é meu sobrinho, pode colocar ele pra trabalhar.

- combinado – falou Arthur.

Os dois saíram pela porta e eu abri a geladeira para comer algo. Como meu tio disse eu teria um longo dia de trabalho braçal.

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