Capítulo 2: Para Onde Foram Os Bons Tempos?

Conto de Misteryon McCormick como (Seguir)

Parte da série Paixão Secreta | 5ª Temporada

Era patético. Quase um ano se passou desde a morte dele e eu ainda tenho esperança de que ele entre pela porta do meu quarto e me dê um beijo e diga com sua voz rouca e autoritária: ‘foi apenas um pesadelo’. Faz seis meses que parei de ir as reuniões de ajuda e eu ainda me sinto do mesmo jeito. Não consigo deixar de pensar que a última coisa que fiz a ele foi cuspir no seu rosto e mandar ele ir embora. Não existe coisa da qual eu mais me arrependa do que isso.

Tive um pai que me mimou ao extremo e levei tempo para conseguir dependência financeira. Me casei e construí uma vida que se desmoronou devido aos meus devaneios e desejo sexual. Tive tudo uma vez e perdi porque achei que colecionar uma lista de homens era mais importante do que ter apenas o único que me amou de verdade. Aqui estou eu mais uma vez. Morando na casa do meu pai esperando que algo aconteça comigo. De repente o melhor seja a morte.

Olhei para o lado e em cima do criado mudo vi o relógio digital marcar quase cinco. Me deitava para dormir, mas só ficava acordado contando os segundos para meu despertador tocar. Quando o relógio marcou exatamente cinto da tarde ele começou a despertar e eu bati a mão rapidamente e me sentei na cama.

Não queria me atrasar para o trabalho. Ao entrar no banheiro peguei o frasco do meu antidepressivo e tomei ele com água da torneira. Entrei no box do banheiro e comecei a tomar meu banho.

A empresa funcionava novamente depois da queda quando Adam ficou no controle de tudo sozinho. São nesses momentos em que percebo que a vida é apenas um carrossel e nós somos apenas os cavalos mal pintados dando voltas e voltas sempre de volta onde tudo começou.

Xavier, Gray e Vanessa tinham retornado para empresa. Eles pensaram em começar de baixo, mas Nathan cumpriu a promessa que me fez quando Adam morreu. Ele ajudou a levantar a empresa.

A diferença de antes para agora é que a empresa não funciona mais como uma parceria onde cada um tem uma parte sobressalente e maior, agora ela tem um conselho de advogados que têm partes iguais. O conselho é formado por sete advogados sendo eles: Xavier White, Gray Collins, Vanessa e Vincent Smith, Roman Orth, Nathan Knox, Wilfred Farlow, Jhonny Ferguson, Louise Wilde e mais outros três que não sei o nome.

Antigamente o prédio de vinte andares dividia com outras empresas o alugue, como clinicas dentárias agora o prédio todo foi alugado apenas para a advocacia que cresceu muito nesse tempo e continua a crescer. É claro que com essa mudança eles também renomearam a empresa que já não se chama mais ‘Partners’ Advocacy’ e sim “Olympus Advocacy”. Uma referência aos doze deuses do olimpo. Eles são modestos, não?

Você deve estar se perguntando porque eu não sou um dos donos certo? O fato é que Adam e eu assinamos o divórcio então com sua morte não fiquei com nada. São os filhos de Adam que agora recebem uma pensão com a morte do pai.

Como tudo volta ás origens eu também voltei ás minhas, mas não na empresa. Trabalho como atendente de bar no Bar&Restaurante que fica em frente ao meu antigo trabalho na ‘Olympus’.

Desci ás escadas com a roupa do bar e restaurante que era uma camisa de botão branca e uma calça marrom com uma gravata combinando.

- bom dia – falei atravessando a sala e chegando a cozinha;

- você quer dizer boa tarde né? – falou meu pai chegando do trabalho. Ele tinha estudado jornalismo mais novo e decidiu seguir carreira agora ele tem uma nova família para sustentar.

- pelo menos pra mim é bom dia.

- conseguiu dormir? – perguntou meu pai se sentando ao meu lado na mesa.

- daquele jeito que o senhor sabe. Cochilo um pouco e acordo pelo menos dez vezes com pesadelos horríveis, mas eu consegui descansar.

- Acho esse trabalho muito pesado pra você. Você parece tão abatido.

- o que o senhor quer dizer com isso?

- não acha que já está na hora de aceitar o que aconteceu e sei lá, tirar umas férias?

- por favor pai eu já disse que não vou usar aquele dinheiro – falei irritado deixando de lado o copo de suco que bebia.

Meu pai era o único para quem tinha contado sobre o dinheiro que eu tinha no banco. Assim que nos casamos, Adam fez um seguro de vida e eu era o único beneficiário e mesmo depois de tudo o que eu fiz ele continuou pagando e agora eu tenho cinco milhões no banco aos quais nunca gastei um tostão e nem penso em gastar.

- eu Já Falei pai. Prefiro trabalhar pelo meu dinheiro e além do mais eu tenho o dinheiro que ganhei com o livro que escrevi.

- por falar no seu livro, seu empresário andou ligando.

- diga a ele que eu morri.

- o que ele quer com você?

- ele quer lançar uma segunda edição do livro e eu disse que não estou interessado.

- porque? Não gosta do que escreveu?

- tirando a parte onde excluo Adam de tudo, eu odeio esse livro porque ele me faz lembrar de tudo o que tive e perdi.

- tudo bem, se ele ligar outra vez eu vou mandar ele parar.

- eu agradeceria – falei me levantando.

- nesse fim de semana vou chamar uma babá e vou mais a Vanessa beber lá no seu trabalho, OK?

- não precisa ir – falei não dando muita atenção.

- tudo bem pai – falei passando por ele e indo até a saída da cozinha.

- não vai me dar um beijo de despedida?

- estou muito grande pra isso pai.

- é sério – falou ele se levantando.

- estou atrasado – falei não dando importância e pegando meu celular e uma mochila e indo em direção a porta de saída.

Ao chegar na rua onde ficava o bar e a ‘nova empresa’ onde eu costumava trabalhar eu vi um pequeno memorial que eles fizeram para Adam. Era algo pequeno, mas eu gostava de olhar para lá e imaginar que Adam tinha morrido de uma maneira bem menos trágica.

Parei do outro lado da rua e fiquei olhando o memorial que dizia

EM MEMORIA DE

ADAM HARPER WHITE

PAI ATENCIOSO E MARIDO AMOROSO

Fiquei distraído por um bom tempo olhando para aquele memorial e pensei nos bons tempos que nós tivemos juntos.

- eu só queria que você soubesse da bagunça que você deixou quando foi embora.

- o que você disse? – falou um homem ao meu lado me assustando.

- mas que susto – falei sentindo meu coração acelerar.

- me desculpa eu não queria te assustar – falou o homem que sempre vinha ao bar. Pelo menos três vezes na semana. Ele estava sempre tentando puxar conversa comigo.

- é você – falei entrando e ele entrou comigo.

- como assim ‘é você’? você não pode falar assim com um cliente.

- eu posso e falo. E além do mais eu ainda não bati meu ponto então você não é meu cliente. É só um cara que me chama pra sair e eu sempre digo não.

Falei isso dando a volta no balcão e depois de ir até os fundos bater o ponto eu voltei. Lá estava ele sentado do lado esquerdo do bar que era onde eu atendia.

- vai querer o que? – falei me aproximando dele.

- Red Label e seu telefone.

- Um Red Label saindo falei me virando e em seguida colocando uma dose. Em seguida ao entreguei ao homem.

- só falta o telefone.

- o telefone eu posso até te dar, mas o número não.

- engraçadinho – falou ele bebendo.

Deixei ele de lado e fui atender outros clientes que tinham chegado. A música tocava alta. Eu não sei bem porque aceitei trabalhar como atendente de bar. Talvez sejam as lembranças que tenho daquele lugar. Foi lá que dancei com Adam a primeira vez. Foi a primeira vez que eu o vi como algo mais do que meu chefe, foi lá que comecei a deseja-lo. Talvez seja essa sensação de nostalgia que conte mais do que o salário que recebo. Tinha boas lembranças nesse bar e restaurante. Lembranças melhores o que na advocacia. Foi lá que conheci Adam, mas minhas lembranças de lá consistem mais em Adam fazendo sexo com todas as mulheres que entravam naquele lugar.

Acho que Adam tinha tanta insegurança quanto a sexualidade que acho que nem ele mesmo sabe dizer em que rotulo ele se encaixa. Ele nunca disse isso, mas ele odiava ser rotulado. Conheci ele tempo suficiente para saber que ele gostava de estar com quem o fazia estar bem. Isso bastava pra ele e bastava pra mim.

Continuei meu trabalho durante várias horas. Estava distraído cuidando da minha vida quando Alguém chamou minha atenção no meio da multidão. Primeiro pensei que estivesse enganado, mas alguém acenada para mim e se aproximava do bar. Pensei que estivesse acenando para outra pessoa, mas era mesmo para mim. logo que chegou mais perto percebi que era Xavier. Ele veio até mim e deu um aperto de mão.

- boa noite – falei apertando a mão de Xavier que logo se sentou.

- boa noite – falou ele envergonhado.

- faz tempo que não te vejo.

- eu estou… eu estou bem e você?

- estou bem também.

- me dá uma cerveja por favor.

Enchi um copo e Xavier deu um gole.

- você veio de carro?

- taxi.

- ótimo – falei forçando um sorriso.

Era constrangedor ver Xavier levando em consideração o que aconteceu entre nós na última vez que nos vimos. É tudo um borrão em minha mente e tenho certeza de que na mente de Xavier também, mas esse borrão é o suficiente para nos deixar envergonhado na presença um do outro.

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