Capítulo 1: Deve Ter Sido Amor

Conto de Misteryon McCormick como (Seguir)

Parte da série Paixão Secreta | 5ª Temporada

Capítulo Um

DEVE TER SIDO AMOR

Odiava estar naquele lugar. Nem acredito que aguentei vir por seis meses, mas hoje é meu último dia. Não aguento mais nenhuma palavra sobre como você está triste por ter perdido o amor da sua vida ou o filho amado ou um amigo querido. Eu não em aguento. Se eu tiver que dizer mais uma vez que tudo o que aconteceu só me acrescentou coisas boas eu vou vomitar porque é mentira.

Não existe razão para que deus tenha levado Adam. Não há nada que ele me diga que me convença de que leva-lo foi a decisão certa porque tudo o que tenho sentido nesses últimos seis meses desde sua morte é ódio. Ódio de mim, ódio do mundo.

- vou estar te esperando aqui fora – falou Xavier.

- você não precisa me fazer companhia Xavier. Eu venho nessas reuniões a mais de seis meses e você me trás toda semana, nunca falou nenhum dia. você não me deve nada. Você é quem devia estar vindo nesses grupos de auto ajuda.

- eu não preciso. Eu amavam eu irmão, mas eu não passei pelo o que você passou. Você identificou o corpo dele e essa foi a coisa mais difícil que eu te pedi pra fazer e eu vou ser agradecido até o último dia da minha vida por você ter feito isso, mas eu preciso ter certeza de que você vai ficar bem. você deve ter péssimas lembranças daquele dia.

- você tem razão. Eu tenho péssimas lembranças daquele dia.

- vou ficar te esperando como sempre do outro lado da rua. Assim que você sair nós lanchamos, assistimos a um filme pra você dar uma relaxada e depois eu te deixo em casa.

- te vejo no fim da reunião.

- até lá – falou Xavier atravessando a rua.

Entrei no prédio e subi as escadas até o segundo andar. Havia um circulo formado por cadeiras e só havia dois lugares vazios e um deles era o meu. Me sentei e esperei por alguns segundos.

- boa tarde – falou o coordenadora do grupo entrando na sala e se sentando em sua cadeira no círculo que estava formado com as cadeiras.

- boa tarde – respondi sem ânimo nenhum juntamente com as outras pessoas.

Desse que Adam morreu eu comecei a ir nesses encontros de ajuda a pessoas que perderam alguém próximo. No meu grupo tinha mães, filhos, maridos e esposas. Todos perderam pessoas amadas algumas perderam recentemente e outras perderam a anos. Sinceramente não sei como elas conseguem vir a esse lugar toda semana.

- Mike! – falou o coordenador do grupo chamando minha atenção.

- olá – falei desanimado.

- você parece distante, no que está pensando?

- nada interessante.

- pode compartilhar. Ninguém vai te julgar.

- eu não estou confortável.

- você precisa dizer algo. Você vem a essas reuniões a seis meses e quase não ouvimos sua voz.

- OK – falei me ajeitando na cadeira – o que vocês querem que eu diga?

- eu só quero que diga o que está sentindo. Como se sente em relação ao seu marido, Adam, ter falecido?

- como você acha que me sinto?

- bem, cada um se sente de uma maneira diferente. Alguns de nós se culpa, outros se martirizam e muito outros só queriam ter a chance de dizer adeus.

- digamos que eu me culpo pelo o que aconteceu.

- você não devia se culpar. Eu me culpei no começo pela morte do meu filho. Não sei quantas vezes eu repassei a cena em minha mente tentando lembrar de algo que pudesse colocar a culpa em alguém pela morte dele. quando o encontrei dentro da piscina foi a pior lembrança de minha vida, mas te digo que se culpar não ajuda em nada. Não existe culpa, é apenas fatalidade.

- me desculpa, mas isso é uma tremenda de uma besteira sentimental.

- o que quer dizer com isso? Acha que a culpa é sua pela morte dele?

- uma vez meu psicólogo me aconselhou a se separar dele. ele disse que nossa relação era tóxica e tanto ele quanto eu só nos machucaríamos enquanto tivéssemos juntos e sabe o que eu fiz? Continuei com ele. Continuei se encontrando com ele mesmo depois de separados. Nos beijávamos sempre que nos víamos e tranzavamos sempre que ficávamos a sós. Se eu tivesse seguido o conselho dele, se eu tivesse deixado essa paixão idiota de lado, se eu tivesse sido apenas o garoto que se apaixonou pelo chefe e não teve coragem de dizer nada, talvez ele estivesse vivo.

- nós tomamos decisões em nossas vidas Mike. Decisões são tomadas e a verdade é que não importa como ele morreu e sim o tempo que vocês passaram juntos.

- o tempo que nós passamos juntos? – falei com vontade de rir – OK, você quer eu pense só no tempo que passamos juntos? Me diga, se eu não estou errado você disse que o pior momento de sua vida foi quando encontrou seu filho na piscina certo? Sem querer ser rude e desrespeitoso.

- sim. A pior lembrança que tenho.

- agora, imagine eu recebendo uma ligação me mandando ir para onde nós trabalhávamos. Quando o recebi a ligação eu pensei que tinha acontecido algo de ruim é claro, mas nunca imaginei que ele tinha morrido. Você sabe pra que eles me ligaram?

- não.

- paras reconhecer o corpo. O acidente foi tão feio que eu tive que reconhecer o corpo e sabe porque eu reconheci? Eu só o reconheci pelo livro. Ele tinha uma cópia autografado do meu livro. O livro e a carteira dele onde tinha uma foto nossa de quando nos casamos. Eu sei que o livro era o dele porque eu fiz uma dedicatória personalizada pra ele. Eu estava brigado com ele na época, mas ele foi a um dos eventos em uma livraria. Um ônibus a mais de cem quilômetros por hora, deu um defeito no freio bateu nele e o arrastou por vinte metros até que bateu em um muro. Houve dezenove feridos dentro do ônibus, cinco feridos do lado de fora e três pessoas mortas. Toda vez que eu fecho os olhos eu o vejo despedaçado no chão como se fosse lixo.

- sinto muito mesmo. Deve ter sio uma coisa muito… Deve ter sido triste.

- triste? Imagine olhar para os pedaços de três corpos espalhados no chão e você ter que ajudar a policia a identificar qual perna é a do seu marido e qual perna é a de outra vitima. Fui eu. Eu tive que identificá-lo porque os filhos são pequenos e a ex-esposa estava em viagem. Os irmãos me pediram para identificar porque eles não aguentavam nem imaginar. Eles me disseram que não queriam ver Adam do jeito que eu vi. Eu disse sim sem pensar duas vezes. Meu pai não queria, mas eu tive que fazê-lo. Fiz porque eu ainda o amava. Eu nem era mais casado com ele, mas fui eu quem passou pelos estágios do luto enquanto os irmãos estavam consolando a mãe que tem problemas de saúde.

- tenho certeza de quer todos aqui compartilham sua dor e todos estão felizes que você esteja finalmente falando e desabafando.

- eu gostaria de dizer também que essa a última vez que venho a essa reunião.

- Mike, você sabe que a cura é um processo demorado.

- sim e eu me conheço. Eu sei que ficar vindo aqui não me ajuda em nada eu apenas fico sentado aqui remoendo sentimentos que me consomem durante a noite. Tenho terrores noturnos e pesadelos toda noite porque não me conformo que ele tenha ido e eu tenha ficado. Puxa vida nós éramos a porra de uma história de amor, um não devia ir deixando o outro pra trás. Quando ele morreu ele levou metade de mim com ele. Ele era a droga da minha alma gêmea e tudo o que vou fazer em meus últimos dias na terra é perambular esperando a morte covarde me levar.

- cuidado com esses pensamentos Mike. Você não pode se deixar vencer por esses pensamentos ou você vai acabar se machucando.

- não se preocupe com isso, eu já passei essa fase – falei me lembrando de cinco meses atrás quando fui passar um tempo na casa do Ray, meu pai biológico.

Ele me encontrou no chão do quarto de olhos fechados. Eu havia tomado todos os remédios que encontrei em um frasco no banheiro. Tudo o que queria era ver Adam mais uma vez, mas eu sou a porra de um azarado.

Meu pai me fez vomitar todos os remédios e chamou a emergência. Para minha sorte, ou meu azar, os remédios eram fracos e eram praticamente placebos. Eu só tive quase vinte horas de sono profundo e acordei para um novo dia.

- como eu ia dizendo – falei me arrumando na cadeira – eu já passei dessa fase á alguns meses. Eu tentei me matar, mas não deu certo. Eu imaginei que não era minha hora então decidi não tentar novamente.

- você tem certeza de que não quer mais vir as reuniões?

- sim.

- lembra-se sempre de conversar com alguém. Um amigo ou alguém de sua família.

- engraçado. Eu provavelmente conversaria com Adam – falei rindo e em seguida colocando a mão nos olhos. Comecei a chorar em silêncio e todos me deram esse tempo sem dizer uma palavra. As lágrimas correram.

- você está bem? – perguntou o líder da reunião se levantando e entregando lenços para mim.

- estou, obrigado – falei limpando os olhos.

- tenho certeza de que você vai melhorar. Nunca vi uma pessoa tão jovem quanto você em nessas reuniões sabia? Você parece tão novo e parece sofrer tanto por ele.

- é como eu disse falei limpando as lágrimas – nós éramos a porra de uma história de amor.

- deve ter sido p mais puro e verdadeiro amor.

- foi amor – falei embolando o lenço de papel – Desde o momento que nos tocamos até o momento que nos separarmos.

Essa era minha última vez nesse grupo de ajuda. Eu já sofria o bastante todos os dias, eu não precisava sofrer e ficar sentado durante duas horas com dor nas costas. Talvez esses grupos ajudem outras pessoas. Tenho certeza de que ajudam várias pessoas, mas eu não sou uma delas. Mais uma vez eu sou a porra da exceção.

Depois de ter passado as duas horas decidi comer o lanche que eles sempre faziam, para os fins da reunião. Eu nunca tinha comido ou confraternizado, mas já que era minha última vez eu decidi abrir uma exceção.

Trinta minutos depois eu desci as escadas e Xavier estava do lado de fora do prédio.

- a reunião demorou mais do que o habitual?

- pois é… - falei sem dar muita importância. Eu não queria que ele percebesse que eu tinha chorado.

- vamos lanchar e depois ir para o cinema.

- será que eu posso ir pra casa? Não estou me sentindo bem.

- tudo bem eu te levo.

Nos fomos em direção ao carro de Xavier. Era a última vez que saia com ele para ir a essas reuniões. Essa era uma fase encerrada da minha vida. Se em seis meses nada mudou talvez eu esteva fazendo a coisa errada. Era hora de mudar minha rotina. Era hora de arrumar um emprego e sair de casa e não ficar só trancado no quarto.

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Estou feliz por estarde volta. Se você não releu a versão reescrita de Paixão Secreta, leia as 4 temporada reescritas no meu blog: http://casadoscontoseroticosgay.blogspot.com/

Comentários

Há 1 comentários.

Por ThiagoAraújo em 2015-02-07 07:05:12
Nossa eu estava morrendo de saudades, amei que você voltou a escrever.