T1 x E2 - "Professor Mason"
Parte da série John
– Até que horas você vai ficar aí?
Phillip olha seriamente para John, que está encostado à pia do banheiro masculino.
– O que você está fazendo aqui?
– Sou eu quem te faço essa pergunta. Você tem mais um período para ficar na minha aula. É melhor voltar logo, senão eu vou comunicar a coordenadoria.
– Você veio até aqui para me importunar, é isso? – Pergunta John, nervoso.
– John, você é meu aluno.
– Inacreditável. Você me agrediu, tentou me estuprar...
– Não seja rancoroso. – Phillip fala sorrindo.
– Você não tem vergonha na cara?
– Eu não sabia que você estudava nessa escola. Eu nem lembrava que você tinha me dito que morava aqui em Albany.
– Eu não quero ter que passar o resto do semestre olhando para a sua cara. Vá embora!
– Não é assim que a coisa funciona. – O professor sorri novamente. – Você não pode decidir o que eu faço da minha vida profissional. Eu sou o professor substituto do Sr. Dewashigton até o final do semestre. Eu vou ministrar as aulas de História para a sua turma, assim como eu vou aplicar as suas avaliações e as suas notas. É melhor você esquecer o que aconteceu. Não queira ser prejudicado.
– Isso não vai ficar assim. Eu vou te denunciar.
– Vai se expor dessa forma? Aposto que não. Não gostou nem um pouquinho do que aconteceu?
– Você realmente não vale nada. Nojento!
– Acho que isso já está se prolongando demais. Volte para a sala, garoto!
Phillip se retira. John passa as mãos pelos cabelos e balança a cabeça negativamente. Respira fundo e solta o ar com nervosismo.
Na saída do colégio, Catherine corre para alcançar John que, por sua vez, caminha rapidamente.
– John... Me espera!
– O que houve, Catherine? – Vira-se para a amiga com uma expressão séria. – Eu estou com um pouco de pressa.
– Você passou a manhã toda em silêncio.
– Eu não estou bem.
– E o que aconteceu? O que você achou do novo professor de História? Eu daria para ele.
O rapaz para de caminhar e a olha seriamente.
– Não chegue perto dele.
– Como assim? – Pergunta Catherine, estranhando. – Seu problema é com ele, não é? Você só ficou assim depois que ele entrou na sala. Vai dizer que ficou mexido?
– Não fale merda!
– Eu quero saber o que está acontecendo com você.
– Nada.
– Vai ocorrer uma festa nesse final de semana. Eu preciso que você vá comigo.
– Vá sozinha!
– Preciso de companhia. E não posso entrar sem um maior de idade. E vai ser legal. É uma festa LGBT, praticamente.
John volta a caminhar, enquanto Catherine o acompanha.
– Eu não vou a lugar nenhum com você. Eu estou proibido de sair de casa. Você também está. Não deveria desrespeitar a decisão de seus pais.
– Eu vou mentir que vou para a casa da minha prima em Portland.
– O Alex não vai cair na sua mentira.
– Você está muito chato.
– Eu só quero chegar em casa logo.
– Aquela não é a Lucy Crutcher? – Pergunta Catherine olhando para a jovem que está um pouco mais a frente.
– Sim.
– Ela está entrando no carro do Bryan. Não acredito que os dois estão se pegando.
– Quem disse que eles estão se pegando?
– Claro que estão. A Lucy só paga de santinha.
– Quem disse que ela paga de santinha?
– Você não vê o quanto ela é comportada demais?
– Vejo. Ela é minha colega nas aulas de artesanato.
– Eu não gosto dela. Ainda mais agora que ela está pegando o Bryan antes de mim.
– Que bom! Se você não conseguiu, ela conseguiu. Assim é a vida.
– Você não vai me falar mesmo o motivo de estar assim?
– Não, eu não vou.
– Tudo bem... Ela tem cara daquelas garotas frágeis que nem mesmo ficam de quatro.
– De quem você está falando?
– Da Lucy Crutcher.
– Deixe a garota em paz. Ela nem mesmo deve saber quem é você.
– Você precisa transar, John.
– E você precisa tomar o rumo de casa.
Catherine olha seriamente para o amigo e atravessa a rua. John segue seu rumo sozinho.
Na frente de sua casa, Lucy desce do carro de Bryan. O rapaz desce em seguida e coloca as mãos no bolso.
– Sã e salva! – Ele fala sorrindo.
– Obrigada, Bryan! – Ela fala sorrindo também.
– Eu que agradeço. Você é muito especial para mim.
– Preciso entrar agora. Até amanhã.
– Você já tem companhia para o baile?
– Já está pensando no baile?
– Claro. Os meses passam rápido e eu já tenho que garantir companhia.
– Eu não sei se vou. Eu não me importo muito com essas coisas. Só quero me formar logo.
– Posso te pedir um favor?
– Claro.
– Pense direitinho. Se decidir por sim já sabe que pode ir comigo. Eu vou adorar a sua companhia.
– Tudo bem. – Lucy beija o rosto do rapaz. – Tchau!
– Tchau!
Ela se retira em direção a porta da residência. Bryan dá um sorriso alegre.
Portland.
Thomas toma banho com a porta do banheiro aberta. Através do box transparente de vidro a sua nudez fica exposta. Phillip surge no ambiente e fica olhando o enteado, que está distraído. O rapaz tem a sensação de percepção e se vira para trás rapidamente, mas o padrasto já não mais presente.
Phillip prepara um lanche. Liga a torradeira e coloca dois pães. Thomas aparece.
– Não tem almoço?
– Não. A sua mãe não deixou nada.
– Acho que vou comer em algum lugar.
– Se tem dinheiro para comer fora, também tem para ajudar com as contas.
– A minha mãe disse que não preciso ajudar com nada nesse mês.
– A sua mãe não quer que você gaste. E até é bom. Quanto mais você juntar dinheiro, mais se torna maior a possiblidade de ir embora. E não tome mais banho com a porta do banheiro aberta, a sua irmã poderia ter chegado a qualquer momento.
– Não sei se devo ir embora agora.
– O que você está esperando?
– Essa casa também é minha, Phillip.
– Essa casa não é sua. Você tem a casa de seu pai em Houston. É lá que você deveria ter ficado.
– Pelo visto, o seu dia de trabalho não foi muito bom. Eu não vou discutir, Phillip, eu tenho mais o que fazer. E enquanto a minha mãe for casada com você, infelizmente, eu ainda ficarei aqui. Eu trabalho, estudo e não estou incomodando ninguém.
– Só está me incomodando com a sua presença.
– Aí já é um problema totalmente seu. Com licença?!
O rapaz faz menção de se retirar.
– Acha que eu não sei o que você anda fazendo?
– Como assim? – Thomas pergunta se virando para o padrasto. Acha estranho.
– Aquele servicinho que você tem naquele clube não iria pagar o suficiente para você comprar pares de tênis caríssimos e camisetas de marca. Eu já te vi na noite, moleque, e eu aposto que o que você faz não é somente sair com seus amigos.
– Você não tem nada a ver com o que faço fora dessa casa. – Fala Thomas com o dedo quase encostando na cara de Phillip, que dá um sorriso debochado.
– Abaixe esse dedo!
– Não ouse encher a cabeça da minha mãe com isso.
– Fique tranquilo. – Afasta-se, pega um copo no armário. – Não quero que a Rachel morra de desgosto.
O rapaz se retira. Phillip fica sério e pensativo, deixando os pães queimarem na torradeira. Se sente excitado, toca as partes íntimas através do calção e dá um sorriso malicioso.
Albany.
Em uma estrada, John está à espera de alguém. Ele olha o celular para verificar a hora e se sente nervoso. Um carro para no encostamento. O rapaz caminha em direção ao automóvel, que tem a janela aberta.
– John?!
– Sim. John.
Em um quarto, John e Daniel transam. Ele é um homem mais velho. Um de frente para o outro. O rapaz está com as pernas abertas de forma oposta, enquanto o homem lhe penetra de forma com certa velocidade. Ambos gemem e trocam beijos acompanhados por mordidas nos lábios, no queixo, lambidas no rosto. Daniel urra de prazer e chega ao orgasmo.
– Já? – Pergunta John, surpreso.
– Sim. – Daniel responde respirando de forma ofegante. – Isso foi gostoso demais.
Ele se levanta. Joga o preservativo no chão. Acende um cigarro.
– Você mora aqui sozinho?
– Não, eu moro com minha irmã. Inclusive, ela já vai chegar daqui a pouco. É melhor você se vestir e ir embora.
– Tudo bem.
John se sente um pouco decepcionado, porém somente se veste e mantém o olhar desviado.
– Tchau! Ah... E foi muito bom. Podemos repetir qualquer dia desses.
– Claro. – O rapaz fala dando um leve sorriso.
– Sabe a direção, não é?
– Sei, sim.
– Tem dinheiro pro uber?
– Tenho. Tchau!
– Tchau!
Passando por um parque, John vê algumas crianças jogando futebol. Ele entra em um bar.
– Uma cerveja, por favor?!
O rapaz senta-se à bancada e fica pensativo.
No dia seguinte, em mais um início de aula no colégio South Albany, Catherine atravessa o corredor movimentado. Ela para ao ver Lucy e Bryan conversando na porta da sala de História. Eles se despedem. John passa por Bryan e Lucy parece ficar um pouco encabulado. A jovem adentra a sala. Catherine dá um leve sorriso e fica pensativa.
– Por que está rindo? – Pergunta John.
– A Lucy gosta de você.
– Como assim?
– Você não percebeu o modo como ela te olhou?
– Claro que não.
– Você é muito lerdo mesmo.
– Eu não presto a atenção no modo como garotas me olham.
– Deveria. Eu já tenho um plano. – Catherine sorri maliciosamente. – E você vai me ajudar.
– Não me metendo em nenhuma das suas confusões.
– Você vai conquistar a Lucy e eu vou conquistar o Bryan.
– Você anda assistindo séries teens demais.
– Eu estou falando sério, John.
– E eu também estou falando sério. Aqui todo mundo sabe que eu não curto garotas.
– E nem todo mundo sabe que você curte garotos. Eu só quero afastá-la do Bryan. Só assim eu vou ter uma chance com ele.
– Você quer fazer isso somente para “dar” pra ele?
– Não apenas por isso. Eu gosto muito dele. Nós já somos colegas há três anos e eu nunca consegui falar isso, nunca consegui dizer o quanto eu gostaria que nossa relação não fosse apenas de coleguinhas de escola. Você precisa me ajudar.
– Não sei se devo. A Lucy deve ter me olhado como qualquer outra garota me olharia e você confundiu. Bryan não é o único rapaz com quem você pode ter uma relação.
– Ele só precisa ver que a Lucy não está realmente a fim dele. Essa garota é muito sem graça. Eu não correria atrás dela.
– O que não tem graça para você, pode ter para ele. A vida é assim, amiga.
– Você é um grande amigo mesmo, John. – Catherine revira o olhar e balança a cabeça negativamente. – Fique sabendo que não serei a sua companhia no baile de formatura.
– Eu nem sei se irei ao baile. Eu prefiro ficar em casa.
– Fique.
Catherine se retira. John dá um sorriso.
Na sala de História, Lucy senta-se à uma das classes na fileira da frente. Os outros alunos já começam a se acomodar. Phillip adentra o ambiente e a jovem parece ter percebido imediatamente o charme do professor. Ela presta a atenção em tudo que ele faz até o momento: o modo organizado como coloca os materiais de ensino sobre a mesa, o tirar do casaco, o olhar para a turma.
– Bom dia! Meu nome é Phillip Mason e sou o professor substituto...
Ao final da aula, os estudantes começam a se retirar. Lucy se levanta e pega a sua bolsa. Acaba sendo surpreendida por Phillip.
– Olá, Lucy! – Ele fala sorrindo.
– Oi. – A jovem diz sorrindo levemente, um pouco encabulada. – Já decorou o meu nome?
– Sim. E foi fácil. Lucy era o nome da minha avó.
– Sério? Que legal!
– É mesmo. Percebi que você ficou bem atenta a aula o tempo todo. Isso é bom. Eu gosto desse retorno.
– Eu gosto de História. É uma das minhas matérias favoritas. E é bom tê-lo em nosso colégio. É um ótimo professor pelo o que me pareceu até agora.
– Uma pena que eu só ficarei até o final do semestre. Eu estou gostando muito daqui.
– Uma pena mesmo. – Ela coloca a bolsa no ombro. – Preciso ir agora. Até a próxima aula, professor Mason.
– Pode me chamar só de Phillip.
Lucy dá um sorriso.
– Tudo bem... Phillip. Até mais.
– Até mais, Lucy.
A jovem se retira rapidamente. Phillip coloca a mão sobre a mesa em que Lucy estava sentada e fica pensativo.
Na hora do intervalo, a maioria dos alunos se encontram na área externa do colégio, alguns participando de atividades esportivas. Phillip toma uma xícara com café e observa os rapazes que estão jogando basquete. Seu olhar fixa em Bryan por alguns instantes. Após isso, o professor se retira e se depara com John, que o encara de forma séria. O rapaz desvia o olhar rapidamente. Phillip sorri maliciosamente e vai em direção do aluno, que agora está acompanhado pela amiga.
– Dia lindo, não é, John Gabor?
– Só para você. – John responde de forma séria.
Catherine acaba estranhando o comportamento dele.
– Esqueci o seu nome, mocinha.
– Catherine. – A jovem responde sorrindo.
– Catherine... É um nome bonito!
– Obrigada!
– Catherine do quê?
– Turner.
– Eu conheci um Turner em Portland.
– Advogado?
– Sim. Alex Turner.
– É o meu pai. Ele é dono de um escritório de advocacia em Portland.
– Que grande coincidência! – Phillip sorri. – O seu pai foi advogado da minha esposa em uma ação que ela moveu contra uma empresa.
– Ele é um ótimo advogado. A mãe do John trabalha com ele.
– Que interessante! – Phillip olha para o rapaz.
– Sim. – Catherine continua sorrindo.
– Mande um abraço ao seu pai, Catherine, e diga que seria um grande prazer reencontrá-lo.
– Eu digo, sim.
Phillip sorri novamente e se retira.
– Ele é muito legal. – Fala Catherine.
– Por quê?
– Porque sim, ora!
– Eu não gosto dele.
– Nós só tivemos uma aula com ele até agora e você já não gosta dele?
– Não, eu não gosto.
– Você ficou mexido com o professor Mason e não quer admitir. O seu humor mudou completamente quando ele chegou perto. – Ela começa a rir. – Você quer pegar o professor de História, é isso mesmo, John?
– Cala a boca, Catherine!
– Ele é um homem atraente mesmo. Admita. Eu notei que algumas meninas da nossa turma ficaram “molhadas”.
– Você vê coisas que não existem.
– Você gosta de homens mais velhos que eu sei, John.
– Por favor, Catherine?!
A jovem ri novamente e balança a cabeça negativamente.
À noite, na casa da família Turner, Daphne coloca os pratos na casa para o jantar. Alex senta-se à mesa acompanhado pela filha.
– Conheci o marido de uma de suas clientes, papai. – Fala Catherine.
– Marido de uma das minhas clientes? – Pergunta Alex, desentendido.
– O meu novo professor de História. O nome dele é Phillip Mason e disse que o senhor foi advogado da esposa dele em uma ação contra uma empresa. Pelo modo como ele falou, vocês se deram muito bem. Ele mandou um abraço também.
– Eu não lembro de nenhum de Phillip Mason.
– Isso já deve fazer muito tempo também, não é?
– Não lembro mesmo. Eu não costumo criar laços de amizade com meus clientes, muitos menos com maridos ou esposas destes.
– Que estranho! – Comenta Daphne sentando-se à mesa.
– Estranho mesmo. – Concorda Alex.
– Enfim... Ele é um cara muito legal. Até melhor que o Dewashigton, que já era um velho e falava devagar demais em alguns momentos.
– Que bom que você gostou do novo professor. – Fala Alex.
Ele termina o jantar rapidamente.
– Mas já? – Pergunta Daphne.
– Sim. Já estou satisfeito. – Ele fala, logo em seguida, se levantando e retirando-se. Pega o celular do bolso.
Christie está sentada no sofá. Mexe no celular e, ao receber uma mensagem de Alex, dá um sorriso ao ver que é uma foto onde o pênis dele aparece ereto através da cueca. Ela balança a cabeça negativamente e dá uma risadinha. Acaba sendo surpreendida por John.
– O que é isso, John? – Fala Christie, assustada. Levanta-se.
– De quem esse nude? – Ele pergunta sorrindo.
– Não há ninguém nu.
– Christie, eu realmente estou surpreso com você.
– Nunca mais faça isso, John. Nunca mais. – Christie fala em um tom sério.
– Não precisa ficar irritada, mãe. Foi apenas uma brincadeira. É normal receber fotos assim. Você é uma mulher solteira.
– É a minha privacidade.
– Tudo bem. Mas quem é ele?
– Isso não interessa a você. Vá fazer algo de útil ou vá dormir. Amanhã você tem outro dia de aula.
– Nem me fale. – John diz já se retirando. – Boa noite!
– Boa noite! – Ela fala estando séria ainda. Senta-se no sofá novamente.
Já no quarto, John mexe no abajur. Ele olha para a janela e vê um carro parado em frente a residência. Acabando estranhando a presença daquele automóvel. O rapaz se afasta e caminha em direção ao roupeiro. Ele pega uma lâmpada e ao voltar a mexer no abajur vê um homem saindo de dentro do carro. Parece reconhecer quem é. Cobre a janela com a cortina de PVC e espia por uma das frestas.
– Não é possível.
Ele se retira rapidamente do quarto.
Do lado de fora, John fecha a porta e caminha em direção ao automóvel, que logo dá partida.
– Volta aqui! – O rapaz grita, revoltado. – Desgraçado!
Christie abre a porta e se retira.
– O que está acontecendo, John?
– Nada. – Ele fala respirando ofegante e nervoso.
– Como nada?
– Nada, mãe. Não está acontecendo nada.
O rapaz se retira. Christie olha para os lados.
No dia seguinte, no estacionamento do colégio South Albany, Phillip fecha a porta de seu carro com o controle. É surpreendido por John.
– O que você quer indo até a minha casa? – O jovem pergunta nervoso.
– Oi?! – Pergunta Phillip, sorrindo.
O rapaz pega o professor pelo colarinho da camisa e o empurra com força contra o carro.
– Você está louco, moleque?!
– Não se aproxime nunca mais da minha casa, você está entendendo? Eu quero que você fique longe de mim.
– O que está acontecendo aqui? – Pergunta Lucy ao aparecer.
John solta Phillip e olha seriamente para a jovem.