2. Uma Decisão Imperial
Parte da série Uma Aflição Imperial
É isso gente, espero que estejam gostando, e me perdoem pelos erros, eu escrevo pelo celular por que o meu computador está com o cu on fire, e me perdoem também pelos capítulos curtos, espero que isso não atrapalhe muito e que vocês não percam o interesse na série.
[Edu]: estou me sentindo lisonjeado com o seu elogio sobre a minha nem tão belíssima narração e sobre a história. Espero que eu não tenha feito você esperar muito, até breve. Abraços.
[teussantos]: realmente, eu procurei uma música que aderisse bem à série, e a única que eu consegui encaixar no primeiro capítulo foi a da Maria Gadu. Espero que goste da escolha de música desse capítulo também, e obrigado, te vejo nos comentários?!
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"Só segure a minha mão um pouco e feche a porta quando sair, só me deixe aqui, por que eu cansei de tentar entender. Eu queria que suas palavras pudessem de fato mudar o que eu não consigo apagar, o que virou a minha cicatriz. Não sei, quando foi que perdemos a cor? Quando foi que acabou?"
Abri os olhos com dificuldade, sentindo a luz forte do sol arder. Minha janela estava aberta, e a porta do meu quarto também. Eu não me importei com esses detalhes que outrora seriam importantes, e nem me importei com o fato de ter dormido com roupas formais.
Esfreguei os olhos e olhei para o relógio digital no criado-mudo, indicando que já se passavam das 10 horas.
— Puta que pariu! — Exclamei pulando da cama e me jogando na frente do guarda-roupa. Tirei uma roupa qualquer de lá e corri para o banheiro.
Eu já havia perdido as duas primeiras aulas, que eram Português e Filosofia. Eu ainda podia pegar as próximas 5 aulas.
Liguei o chuveiro e tomei o banho mais rápido da história da humanidade, digna de Guinness Book, e peguei o meu material sob a cama.
Eu morava no campus da faculdade, e em momentos como este, isso era maravilhoso. O problema de morar no campus é o espaço que nós temos nos nossos apartamentos, que mal cabem o quarto e o banheiro, e ainda temos que nos virar para por uma cozinha.
Meus pais compraram um apartamento para mim na formatura do ensino médio, como presente de congratulações por ser aceito na faculdade sem nem sequer prestar o vestibular. O meu apartamento é enorme, mas fica consideravelmente longe daqui, e como eu vinha de outro estado a faculdade me ofereceu um apartamento no campus, que veio em boas horas. Eu só ia para o meu apartamento aos finais de semana e feriados, e nas férias que eu não viajava para ver os meus pais. Agora com o fim do meu namoro, eu estava considerando com frieza e ideia de ir para o meu apartamento, já que na maioria das vezes eu dormia no apartamento de Leonardo, ou ele dormia no meu.
Escovei os dentes ainda sem roupa e depois me equipei com o jeans preto que Leonardo adora e uma camiseta xadrez com um agasalho por cima que deixava o colarinho da xadrez à mostra e a barra também.
Eu ainda ouvia com clareza a voz de Leonardo me dizendo que aquela calça me deixava sexy e que amava quando eu a usava.
Mordi os lábios, parando um segundo em meio ao atraso para me lembrar das mãos grandes dele me acariciando e me prendendo ao seu corpo. O sorriso dele, os dedos cacheando o meu cabelo e o os olhos me admirando ao tirar e ao vestir a roupa.
Saí do apartamento e tranquei a porta, jogando a chave no fundo do bolso. Corri até o monumento que eles chamavam de prédio. Havia dezenas de prédios, cada um para uma área específica. Corri para o prédio de Direitos e sorri para Alice, a moça que ficava de porteira quando o nosso fixo estava doente. Isso acontecia com frequência.
Alice nem pediu a minha carteira de estudante, ela já me conhecia.
— Atrasado hein! — Alice disse e liberou a porta.
Sorri e corri para o elevador, que graças a Deus estava no térreo vazio. Apertei o botão do décimo andar e esperei impaciente até que o elevador me levasse ao meu destino.
A porta se abriu e eu corri sem olhar para frente, o que me causou uma enorme queda de bunda no chão ao tombar em um corpo alto e forte.
Leonardo me olhou com a sobrancelha erguida e estendeu a mão para me ajudar a levantar. Havia um sorriso escondido por trás dos seus olhos que me observavam divertido. Que bela situação.
Aceitei a mão de Leonardo e ele me puxou com força, me colocando contra o seu corpo. As mãos de Leonardo desceram até a barra da camisa xadrez e a puxaram para baixo, depois arrumou a gola. Ele penteou o meu cabelo com os dedos e sorriu ao terminar, me olhando analiticamente.
— Essa calça. — Ele concluiu sorrindo, e andou até o elevador, deixando que a porta se fechasse ao entrar.
Só depois que a porta fechou e o painel indicava que o elevador já estava no quinto andar foi que eu percebi que estava prendendo a respiração. O meu coração batia desacelerado, minhas pernas mal aguentavam o meu corpo.
Abri a bolsa e tirei um frasco de complemento de ferro e cálcio, engolindo dois comprimidos sem a ajuda da água. Minha garganta estava seca, e isso tornou o processo de digerir em algo muito doloroso.
Entrei na sala de aula antes do professor de Leis Tributárias.
Andei até a minha carteira habitual e me afoguei ali. Heloise, minha melhor amiga, sentou-se sobre a minha mesa e me olhou com uma expressão autoritária, me pedindo uma explicação.
— Desculpa. — Sussurrei baixinho, ainda sentindo os efeitos de ter ficado tão próximo do professor de filosofia.
— É isso que você tem a dizer? — Ela disse com a voz já alterada — Em plena semana de provas o idiota decide faltar em duas aulas.
Heloise tem olhos castanhos e cabelo da mesma cor. Sua pele era marrom-claro e macia como a de um bebê. O corpo era de dar inveja em metade da classe, e deixar a outra metade imaginando cenas eróticas com ele. Ela era maravilhosa, e eu tinha a plena certeza de que se fosse hetero, ela seria a minha namorada.
— Pensei que não vinha hoje lindo. — O novato se colocou ao lado de Heloise — Porque faltou essas duas aulas?
Revirei os olhos e olhei para Heloise, ignorando o novato. Um silêncio se instalou entre nós, e eu tive uma certeza irritante de que só acabaria se eu os dissesse o porque da falta.
— Eu dormi demais! — Falei — Até parece que foi um crime, eu hein.
— Silêncio turma! — O professor Antônio chamou a atenção da classe — Hoje vamos falar um pouco sobre o Código de Defesa do Consumidor.
Heloise e Rafael, o novato, sentaram-se em seus lugares, e eu olhei atentamente para o professor, que dizia que a coisa mais importante é saber o tempo de garantia de um produto.
O terno dele me lembrava os olhos de Leonardo, o cabelo bem arrumado do professor me fazia ver o quão jovem o meu ex namorado parecia com o cabelo negro bagunçado e usando um jeans com uma camisa social e um sapatenis. Só não fora demitido por que os alunos o amavam, e em uma das tentativas os alunos pararam as aulas para exigir que ele voltasse.
Leonardo amava dar aula, em especial na minha faculdade. Não por ser a melhor, mas por ter mais recursos do que as outras, e por ser a que ele se formou, ele tem uma amizade bem estável com os funcionários também.
— Não é mesmo Eduardo? — O professor chamou o meu nome, me fazendo fugir um pouco do meu ex namorado— O que você diria a respeito disso?
Olhei para o professor e depois para o quadro, me obrigando a usar o que estava escrito para poder falar algo a respeito. Várias leis e códigos penais preenchiam o quadro.
— Eu... Hm... — Falei tentando raciocinar, mas meu cérebro se recusava a funcionar. O professor me olhava com expectativa, um sorriso ansioso que esperava uma frase coerente e inteligente de mim, e eu o decepcionaria — Não faço a menor ideia.
O professor me olhou decepcionado. Ele esperava mais de mim, porque eu sempre dei o máximo de mim em todas as aulas, sempre me destaquei em meio aos outros alunos.
— Mais alguém? — O professor disse andando em círculos na frente da classe.
— Imagino eu que todos os consumidores estão plenamente satisfeitos com os direitos que as leis os dão— O novato disse com a mão erguida — E que um pouco mais de interesse seria o fim dos casos de processo por produtos corrompidos.
O professor parecia satisfeito, mas sua satisfação tornou-se indignação ao me ouvir bufar.
— Tem algo a dizer, Eduardo? — O professor disse sério e andou até a minha mesa.
— Como é possível que os consumidores estejam satisfeitos se eles nem conhecem os direitos que tem? — Perguntei olhando para o novato, que me olhava de volta com um sorriso orgulhoso, como o do professor — E não me diga que é isso é falta de interesse, pois todo estabelecimento comercial deve ter por ordem legislativa uma cópia do código de defesa do consumidor, mas nem 30% delas tem. Talvez isso seja falta de entregar a informação, não falta de buscá-la.
O alarme tocou antes que alguém pudesse contra-argumentar. O professor arrumou seus livros e disse que continuaríamos discutindo na próxima aula. Ele saiu sorrindo.
— O que foi isso? — Heloise pulou da sua carteira atrás de mim para a minha — Soltou todo o seu veneno hein naja.
Abri um sorriso e a empurrei.
— De nada. — O novato disse — Fica me devendo essa.
— Do que você está falando? — Perguntei sorrindo e o encarando confuso ao mesmo tempo — Não mandei você falar merda.
— Para uma pessoa tão inteligente, eu pensei que você tivesse um raciocínio mais rápido. — Ele deu de ombros — Você deve ter visto a decepção na cara do professor quando você não soube o que dizer. Eu só quis te ajudar.
— Quer dizer que você sabia que eu ia responder a sua frase? — Ironizei — Por favor, com 20 alunos dentro de uma sala, você sabia que justamente EU iria te responder.
— Não acredite se não quiser.
— Eu realmente não acredito.
— Você tem respostas rápidas. Gosto disso.
Ignorei o novato e olhei para Heloise. Ela olhava para nós com um sorriso malicioso, e eu já sabia o que se passava em sua cabeça. Eu queria dizer a ela que não aconteceria. Nunca. Não que ele não fosse bonito, ele era muito. O novato tem olhos castanho-mel, cabelos claros e pele clara, corpo forte e aparentava ser mais novo do que eu. Até que formariamos um belo casal. Eu sou um pouco mais alto que ele, olhos azuis, cabelo negro e uma pele extremamente pálida.
O único porém é que eu não pretendia ficar com outra pessoa que não fosse o Leonardo, e mesmo que eu pretendesse, como poderia com o cara me dando aula todo dia? Seria impossível.
As aulas passaram lentamente, e eu contava os minutos para que elas acabassem logo. Eu passei as duas aulas anteriores decidindo se deixava o campus, e finalmente decidi que não valia a pena "fugir" do Leonardo, já que nos veríamos todos os dias da semana.
Meu coração se apertava toda vez que seu nome preenchia a minha mente, me trazendo doces e alegres lembranças dos meus poucos meses de namoro, e dos olhos intensos e negros. Eu sabia que tinha que superar, sabia que logo ele faria apenas parte do meu passado. Um passado que eu amaria para sempre.
— Eduardo.
Heloise e o novato ficaram comigo no intervalo do almoço. Eu ainda não tive a oportunidade de falar para a minha melhor amiga sobre o fim do meu namoro. Ela era a única que sabia sobre mim e o Leonardo.
— Eduardo?
Respirei fundo e me recostei na cadeira, tomando um susto com a silhueta da professora à minha frente. Me endireitei e tentei decifrar a expressão em seu rosto, que era mais preocupação do que raiva.
— Eduardo, tudo bem com você? — A professora perguntou com a sobrancelha erguida — Eu vou ter que pedir que você se dirija até a sala dos professores.
Droga.
— Desculpa professora. — Falei ignorando todos os olhares curiosos dos alunos — Eu estava um pouco pensativo...
— E passou quase todas as aulas assim. — Ela disse em tom de acusação — Por favor, vá até a sala dos professores.
Assenti e peguei a minha mochila, jogando todos os livros nela. Saí da sala e chamei o elevador.
Fui levado até o térreo e sorri ao passar por Alice na portaria. Andei ansioso até o prédio central, onde ficava a sala dos professores, coordenação e etc. Eu nunca havia sido chamado para a sala dos professores antes, se não para receber alguns elogios e ser convidado para palestras. Eu tinha a plena certeza de que não seria elogiado, e ainda mais certeza que não seria chamado para uma palestra.
Entrei no prédio central e passei a minha carteira de estudante no grande painel prateado, liberando a porta giratória.
Eu já sabia o caminho até a sala dos professores, mas eu sempre admirava a beleza daquele lugar e a arquitetura. Haviam esculturas de cerâmica e de gesso, o chão e as paredes eram frios, feitos de mármore preto e as portas eram de madeira com uma placa de metal dourada especificando cada sala. Diretoria, Coordenação, Registros, Depósito, Sala dos Professores. Algumas salas não tinham descrição, e eu achava melhor não saber o que eram, talvez fossem arquivos confidenciais.
Cheguei a sala dos professores com o cu na mão e as pernas tremendo. Peguei o frasco de remédio na minha mochila e tomei dois comprimidos de uma única vez antes de entrar.
Eu sei que deveria bater na porta, mas como ainda estava em horário de aula, presumi que não teria ninguém que a abrisse para mim. Fui otario.
Leonado estava de costas, inclinado sobre uma mesa e lendo algum artigo ou planilha referente à preparação e aos projetos do ano letivo.
— Eu realmente esperava que você não precisasse vir até aqui. — Leonardo disse sem se virar — Por favor, sente-se. Vamos conversar.
(...)
— Precisamos conversar. — Leonardo disse com a expressão séria, como se acabasse de ver alguém importante — Quer sentar?
— O que houve? — Perguntei recompondo-me do beijo que Leonardo havia me dado a menos de um minuto — Aconteceu algo?
— Eu acho... — Ele fez uma pausa — Por favor, eu acho melhor você sentar.
Sentei no sofá sem tirar os olhos de Leonardo, um pouco nervoso com o que ele me contaria. Ele foi demitido? Descobriram sobre o nosso namoro? A expressão de dor mal disfarçada no rosto dele só me fazia ficar mais ansioso.
— Eu acho que não gosto mais de você. — A frase soou naturalmente, como se ele tivesse dito que estava com fome ou que estava cansado do dia que havia passado.
Apesar da naturalidade da frase, ela veio repleta de agulhas e espinhos. Aquilo me atingiu como um tsunami, devastando todas as minhas estruturas sentimentais e físicas.
— Não me leve a mal, eu sinto muito! — Leonardo se desculpou — Não dá mais entre nós, estamos alimentando esse relacionamento à base de sexo, e admito, fazer sexo com você é maravilhoso, mas não é isso o que eu tô procurando. Eu estou atrás de uma pessoa interessante, legal e que possa me fazer feliz. Você é legal, mas deixou de ser tão interessante quanto antes e não pode me fazer feliz.
— Vamos tentar mudar isso... — Falei com a voz trêmula e com os olhos cheios de lágrima — Você se interessou por mim uma vez, eu posso te fazer feliz, você só precisa me dar uma chance.
— Eu não vou ficar com alguém que não me faz feliz, não rola. — Leonardo disse alto, mas não foi um grito — Desculpa... É que... Olha, é melhor você ir embora. Eu sinto muito.
Me levantei e passei por Leonardo, fechando a porta entre nós.
(...)
“Pedi ao tempo pra te ter pra mim, mas não sei se vai adiantar, há tanta coisa por falar. Parei o tempo só pra esquecer o vazio que eu sei que está por vir, como eu posso sentir saudade com você aqui?"
Coloquei todo o meu corpo dentro da sala e fechei a porta atrás de mim e Leonardo. Eu queria fazer como na noite anterior, queria deslizar na porta e chorar, depois ir para o meu quarto e chorar ainda mais. Onde eu havia errado? Porque eu não era mais interessante?
Olhei para trás. A porta não estava mais entre nós, estava nos mantendo no mesmo lugar.
— Sente-se, Eduardo. — Leonardo falava como o mesmo de sempre, autoritário, superior — Por favor.
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Espero que tenham gostado. Deixe seu registro aqui nos comentários que eu irei responder com alegria e orgulho.
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