Mais uma história... (2)

Parte da série Mais uma história...

“Porque te dá um medo filho da puta: ser feliz, medo de amar, medo de ser bom. Tudo que faz bem pra gente, a gente tem medo.” — Cazuza.

Então será que era isso mesmo? Eu estava gostando daquele idiota? Acho que a morte do meu avô mexeu comigo. Parei de ficar pensando e resolvi dormir.

No dia seguinte acordei disposto a não fazer nada, só jogar meu videogame. Mas por volta das 9:30h alguém chega na minha casa me chamando. E quem era? Só podia ser brincadeira do destino, o que ele estava fazendo alí? Fui até o portão ver o que ele queria.

Gustavo: E aí André, beleza?

Eu: o que você tá fazendo aqui? E como descobriu onde eu moro?

Gustavo: Relaxa velho. – disse ele rindo percebendo que eu estava surpreso por vê-lo – Eu não disse que ia te provar que mudei? Então vim te chamar pra um passeio. Topa? E não foi difícil descobrir onde você mora, essa cidade não é tão grande.

Eu: tudo bem. Mas que tipo de passeio?

Gustavo: você faz perguntas de mais. É uma surpresa. Topa ou não? Prometo que não vou fazer nada com você.

Nessa hora eu lembrei de como ele era antigamente. E se ele quisesse se vingar pelo o que eu falei ontem com ele? Isso era bobagem, e no findo eu sabia que tinha adorado a visita dele. Então claro que eu topei. Voltei rápido dentro de casa, troquei de roupa e fomos ao lugar misterioso.

Nossa o carro dele era demais. Me sentia até mal por andar com ele. Dentro do carro ele colocou uma música da minha banda preferida. Eu até estranhei, pois achava que só eu conhecia essa banda, já que nunca ouvi música deles em lugar nenhum que não fosse na minha casa, e todos com quem eu falava da banda diziam não conhecer, e ele confessou ser super fã deles também. Só isso já ganhou uns pontos comigo.

Percebi que estávamos indo para a cidade vizinha, onde fica a faculdade. Então vi que demoraria um pouco. Ele quebrou o silêncio.

Gustavo: Então... Você deve estar orgulhoso por ter conseguido a bolsa na faculdade.

Eu: Pois é, eu me dediquei muito pra isso. Mas eu vou cancelá-la assim que puder. Não é justo que eu roube a vaga de alguém, sendo que eu posso pagar.

Gustavo: Tenho certeza que sim. Mas vamos concordar, não é qualquer um que conseguiria, ainda mais nessa faculdade. Eu mesmo não teria a menor chance.

Eu: Não foi tão difícil assim. Consegui passar em outras também, mas essa era perto de casa.

Gustavo: Falou o nerd. Vem cá, você ainda é nerd que nem quando a gente estudava junto?

Eu fiquei meio sem graça. Não sabia se ele estava me insultando com uma brincadeira de mau gosto ou se era só curiosidade mesmo.

Eu: Acho que talvez até mais. Por quê? Você ainda pega no pé dos nerds?

Gustavo: Que isso, nada a ver! Eu também sou viciado em jogos de todos os tipos.

Eu: Mas isso não te faz um nerd. Eu jogo o dia inteiro, vivo na frente do PC, vejo vários animes e leio mangás, sou fissurado em estudos, só não curto muito física, e nem tenho uma vida social. Agora você? Você vive na piscina, na academia, pega várias mulheres...

Gustavo: Como você sabe disso tudo?

Eu: Ah, é só olhar pra você. Corpo bronzeado, musculoso, charmoso.

Ele deu um sorriso de canto de boca, e aí eu percebi que tinha falado besteira. De onde foi que eu tirei isso tudo? Eu estava reparando nele? Fiquei vermelho que nem um tomate. E fiquei quieto o resto do caminho. Ele também não disse mais nada, mas ficou com o sorriso no rosto e de vez em quando dava uma olhadinha pro meu lado.

Finalmente chegamos ao nosso destino. Era um prédio meio afastado, e tinha uma área enorme.

Eu: Onde estamos?

Gustavo: Na APAE. Eu sou voluntário aqui.

O que? Ele era voluntário da APAE? Não podia ser, como foi que ele mudou tanto?

Entramos no prédio e logo um monte de pessoas começou a cumprimentar a gente. Ao que eu entendi a família dele fazia doações para a instituição, e ele ia de vez em quando para brincar com as crianças. Todos o conheciam lá. E por falar nelas (as crianças) eu conheci várias, todas muito carinhosas. Não sei por que as pessoas tratam os deficientes diferente. Essas crianças eram lindas e me fizeram rir muito. Jogamos videogame com elas (ele que levou pra lá e ensinou a criançada a jogar), futebol, e muito mais.

Por volta das 14:00h fomos embora. O pessoal tinha se simpatizado comigo. Essa é uma das minha qualidades, as pessoas geralmente gostam de mim, dizem que sou muito simpático, mas só os mais velho. Acho que sempre fui muito maduro para minha idade.

Gustavo: então o que achou?

Eu: Tá legal, quanto você pagou pra eles fingirem tudo?

Gustavo: não foi fingimento. Eu adoro essas crianças. Eles merecem que alguém faça isso por eles.

Eu: Ok. Você me convenceu. Gustavo Borges realmente mudou. E respondendo sua pergunta, eu adorei isso tudo. Por mim ficaria o resto do dia com eles.

Gustavo: você pode vir comigo sempre que quiser. Mas agora o que acha de irmos almoçar? Eu tô morrendo de fome!

Realmente eu também estava com muita fome. Então fomos num restaurante no centro da cidade. Conversamos mais um pouco sobre nossas vidas. Ele me contou como ele e a Andréia ficaram juntos, e mais um monte de coisas. Na hora de pagar a conta eu insisti para dividirmos pelo menos, mas ele não deixou que eu pagasse nada. Ainda fomos numa sorveteria.

Depois, no fim do dia ele me deixou em casa. Foi só a conta de eu tomar um banho e me preparar para a faculdade. Dentro da van percebi que ele e a Andréia estava em bancos separados. Com certeza tinham brigado, mas eu nem toquei no assunto, pelo menos não alí.

Dessa vez sim tivemos aula. Conhecemos alguns professores, peguei matéria do primeiro dia com alguns colegas novos. No intervalo ficamos conversando eu, Gustavo, Vanessa e Léo. Eles eram mesmo divertidos pra caramba. Eu não tinha muitos amigos, na verdade só um, de infância, o Leandro. Eu me dedicava muito aos estudos, e vivia no computador ou jogando no meu tempo livre, e o Leandro era meio que o oposto. Ele não gostava de estudar, também era viciado em games, nós arrasávamos em vário jogos online, mas ele gostava mesmo era de “pegar” a mulherada. Eu não sou feio, modéstia parte, e de vez em quando ficava com algumas garotas, mas nada sério, mas eu quase não saia em festas ou baladas. O pessoal da escola nem me convidavam muito para festas, geralmente recebia convites por causa do Leandro que era mais descolado e sempre andava comigo, não que as pessoas não gostassem de mim, mas eu sempre arrumava uma desculpa e não aparecia nas festas.

Bem, mas voltando para a faculdade, até que a Vanessa saiu e ficamos nós, três homens, e o assunto não podia ser outro: mulheres e sexo. Nunca me senti muito a vontade falando disso. Os jovens de hoje só pensam em sexo, que coisa! Mas percebi que o Gustavo estava mais sem graça do que eu. Aposto que era por causa da Andréia.

A próxima aula seria livre, e o Léo saiu para conversar com uns colegas dele. Aproveitei para saber o que estava acontecendo com o Gustavo.

Eu: tá tudo bem? E notei você meio estranho quando o Léo falo sobre as namoradas dele.

Gustavo: Que isso, é grilo seu. Tá tudo bem, só estava pensando em outra coisa.

Eu: essa coisa se chama Andréia né mesmo? Vocês brigaram né, eu percebi quando entrei na van hoje.

Gustavo: poxa, tá tão na cara assim? Pois é, foi isso mesmo. – ele disse meio estranho, como que com alivio por eu ter tocado nisso.

Eu: você quer conversar sobre isso?

Gustavo: ela tá estranha ultimamente. Ontem nós brigamos porque eu fui conversando com você dentro da van na hora de ir embora, e deixei ela sozinha coberta com aquelas coisas que usaram no trote. E hoje não liguei pra ela e fui com você na APAE.

Eu: e de certa forma ela não tá certa?

Gustavo: poxa, tá, mas brigar por causa disso? Podia só ter me dado uma chamada, mas não, ela armou um escândalo.

Eu: bom, quem tá perdendo é ela. Aposto que você consegue a garota que quiser só estalando os dedos.

Nossa! Eu estava mesmo impossível. Então era assim que eu ficava quando estava apaixonado? Falando tudo sem pensar?! Ai meu deus, eu disse apaixonado? Ele ficou feliz com o comentário e abriu aquele sorriso lindo e encantador que ele tem. Mas quer saber?! É isso mesmo. Eu estava apaixonado, e por um homem. Parei de negar quando vi o sorriso dele, o sorriso que eu provoquei e que brilhava de uma forma que me encantava, junto com os olhos verdes como o verde de um lago. Ele era perfeito, então era melhor parar de negar tudo o que eu sentia. Mas por dentro eu me sentia estranho. Isso era novo para mim. Mesmo aceitando que eu gostava dele, não podia me conformar com isso, afinal era errado, não? Será que ser feliz é errado? Mas de qualquer forma o que me fazia pensar que ele queria algo comigo? De qualquer forma era melhor eu ficar calado sobre isso e pensar melhor.

Passou uma semana normalmente. Voltamos mais duas vezes na APAE e eu ficava cada vez mais encantado com aquelas crianças. O Gustavo não só se mostrava cada vez mais mudado, mas também um grande amigo. Ele me contava tudo que acontecia com ele, e era tudo mesmo: o que rolava entre ele e a Andréia, as brigas dos pais dele, os gostos dele, como ele foi mudando em apenas 3 anos, e várias outras coisas. Eu me sentia amigo dele desses amigos de infância, sabe? Ele era incrível, só não era muito inteligente, pelo menos não na sala de aula.

O problema é que ele e a Andréia iam cada vez mais mal, parece que ela também tinha mudado, mas para pior. Eu escutei uns boatos dela com uns carinhas da faculdade, mas não contei nada pro Gustavo não ficar chateado ou até fazer uma besteira, até por que eram só boatos, e coitado do cara que encarasse o Gustavo. Ele era enorme, mais ou menos uns 1,90, 85 Kg de puro musculo. Eu detesto academias, até porque não tenho um corpo malhado nem nada, mas é quando olho para ele que dou graças a deus por elas existirem.

Chegou uma aula de contabilidade na qual o professor passou um trabalho quase impossível, e de tanta insistência da turma ele deixou que fosse em grupo. Nosso grupo nem tinha discussão, seria eu, o Gustavo, o Léo e a Vanessa. Eu, mesmo sendo nerd, não estava muito por dentro do assunto, mas era o que mais sabia alguma coisa. Marcamos uma reunião então para terminarmos isso rápido, e seria na minha casa. Infelizmente no dia minha mãe, que era enfermeira teria plantão, então ficou tudo por minha conta.

O pessoal passou o dia inteiro na minha casa, só indo embora à noite, ou seja, sobrou até para eu preparar o almoço, lanche e até o jantar. Por sorte eu sei cozinhar muito bem, pois como disse até pretendia fazer gastronomia. Lutei para dar conta de ajuda-los no trabalho e ficar na cozinha ao mesmo tempo, mas conseguimos terminar o trabalho (fomos o único grupo que conseguiu realiza-lo). Eles elogiaram muito minha culinária, e como dizem “o elogio é o Viagra do orgulho”.

Isso tudo foi numa sexta-feira, e logo que o pessoal foi embora eu me senti estranho, sei lá, não queria ficar o fim de semana sem vê-los, ou melhor, sem ver o Gustavo. Percebi isso quando ele me chamou para conversar na internet e me senti melhor. E logo que ele disse tchau eu me senti mal de novo.

Na segunda quando chegou a hora de ir para a faculdade eu me senti como uma criança que vai ganhar um brinquedo que tanto pediu. Mas na faculdade eu vi uma cena que me deixou no mínimo triste: a Andréia estava aos beijos com um cara no corredor, e pior, o Gustavo detestava o cara, justamente por ciúmes, e ele estava certo. Eu não podia entrega-la, pois também era minha amiga e o Gustavo iria arrebentar o cara sem piedade. Mas e o Gustavo? Como ele ficava nessa história? Ai, ai, que confusão!

CONTINUA...

Comentários

Há 4 comentários.

Por em 2013-05-26 09:16:54
Hey%2c+you+used+to+write+wonderful%2c+but+the+last+few+posts+have+been+kinda+boring%85+I+miss+your+super+writings.+Past+few+posts+are+just+a+bit+out+of+track!+come+on!
Por em 2013-01-06 07:04:30
adorei
Por em 2013-01-02 22:05:39
AMEEEEI! Mas agora quero a opinião de quem entende. Dar uma olhada no meu lá e comenta :P bllz? - VALEU! http://www.casadoscontos.com.br/texto/20130129
Por em 2013-01-02 17:14:46
Estou divulgando meu recém cirado blog. A quem interessar é sobre romance gay: http://romantismogay.blogspot.com.br/ Agradeço se os moderadores divulgarem também.