Mais uma história... (3)

“Se você obedece todas as regras, acaba perdendo a diversão.” – Bob Marley.

“A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez.” – Friedrich Nietzsche.

Pensei, pensei... E resolvi conversar com a Andréia. Talvez ela tivesse uma boa explicação (que ideia idiota essa minha). No momento em que eu vi com o outro garoto estávamos em horário de aula. Eu apenas ia ao banheiro. Com certeza os dois estavam cabulando aula. Então esperei que terminassem a “diversão” deles para depois conversar com ela. Não demorou muito, acho até que já estavam lá um bom tempo antes de eu chegar.

Assim que ele saiu eu cheguei e puxei ela pelo braço.

Andréia: Que isso André?! Tá ficando louco?

Eu: Louca tá você. Que palhaçada é essa? O Gustavo não merece isso.

Andréia: O que? V-você viu eu e o...? Olha não conta pro Gustavo, por favor!

Eu: Eu vi sim, mas não pretendo contar nada. Agora me explica o porquê disso?!

Andréia: Veja bem... O Gustavo não é tudo o que eu achava. Eu admito que fiquei com ele mais por interesse, pra me tornar popular. Mas ele é muito chato, só fica pensando em se mostrar por aí com aqueles amigos chatos dele, em videogame, em sair pra lugares chatos, e às vezes fica muito marrento, tem que ser tudo do jeito dele. Eu não vou negar que ele é o pitboy mais lindo que eu já vi, mas não dá pra aturar ele! E agora ele também só fica com você pra lá e pra cá, pelo menos aqui na faculdade. Então ele nem vai reparar em nada.

Eu: Meu Deus! E você diz isso assim? Nessa calma toda? Com essa cara de pau?!

Andréia: começou a falar o nerd! A André, se liga! Deixa de ser tão antiquado. E já que estamos aqui... Por que não aproveitamos hein? Eu sei que você é doidinho por mim.

Eu: Que isso Andréia?! O G-Gustavo é m-m-meu amigo!

Sai de lá todo desconsertado e voltei para a sala não acreditando no que ela se tornou, enquanto ela focou lá morrendo de rir. Esperei tanto por isso uma boa parte da minha vida. E agora não fiz nada. Mas não era por essa Andréia que eu tinha uma paixonite. Ela estava muito diferente. E eu nunca faria isso com o “novo Gustavo”. Talvez nem com o antigo. Tinha que alertar ele.

Mas será que o Gustavo havia mudado tanto assim? Pela namorada dele ele era o mesmo. Mas de qualquer forma isso não vinha ao caso agora. A questão era que eu estava decidido alertá-lo sobre a namorada. Ela era minha amiga, mas agora não sabia se era a “mesma amiga” de antes.

Fiquei pensando em um jeito de desmascarar a Andréia sem magoar muito o Gustavo (se é que isso era possível), mas parecia que eu de certa forma havia gostado de saber que ele estava pagando de otário. Não tinha me convencido de que ele pudesse ser tão legal comigo, ainda mais depois da Andréia ter o descrevido daquela forma.

Nisso tudo o fim de semana chegou e eu nem percebi. Os meninos da sala haviam marcado uma partida de futebol no sábado à tarde, e as meninas iam lá pra assistir e ficar na torcida. Eu detesto futebol, desde que me entendo por gente, mas sem mim não completariam o time, e eu não queria ser responsável por acabar com a alegria do pessoal, então fui meio que obrigado (e muito pressionado) a aceitar.

Como sempre o nerd bobão que não sabe jogar fica no gol, e acabei ficando no time dos sem camisa (original não? Com camisa e sem camisa ¬¬). Aí vem um fato importante em tudo: ao ver o Gustavo sem camisa com seu peitoral definido e “aquele” tanquinho não tive dúvida nenhuma mais: eu estava apaixonado! Ele era um deus grego, e me bateu uma espécie de desespero, pois como um cara daqueles poderia querer alguma coisa com um franguinho como eu? Não tinha a menor chance de existir um NÓS algum dia. E ao mesmo tempo eu não queria isso, era errado não? Eu deveria gostar de garotas. Eu realmente não sabia mais de nada.

Mas voltando ao jogo, as coisas começaram bem. As meninas torciam mais pelo time dos sem camisa, pelo fato de estarem vendo vários gatos desfilando no campo. Eu defendi duas bolas que vieram com tudo, mas foi apenas sorte de nerd, porque a terceira foi um gol certeiro. Mas não demorou muito e nosso time fez outro e empatamos. No fim do primeiro tempo fizemos mais um gol e terminamos na frente. Houve um intervalo para descansarmos, e os garotos todos começaram a jogar água sobre seus corpos, e ver o Gustavo molhado era uma visão privilegiada.

O segundo tempo começou e corria tudo bem, nenhum gol por enquanto. Mais ou menos na metade do jogo, não sei bem, aconteceu o que eu já previa, que seria uma amostra do desastre que eu era jogando. O Carlos Eduardo chutou uma bola em cheio em minha direção e eu num reflexo para defender o gol fiz uma série de movimentos atrapalhados, um dos quais resultou num chute que mandou a bola em cheio na testa dele, e isso tudo em menos de 5 segundo. Aí a confusão estava armada. Ele partiu pra cima de mim com tudo.

Carlos: Qual é a sua cara? – disse isso me empurrando no chão com muita força.

Eu: Foi mal Carlos, juro que não foi de propósito.

Nem adiantou ele partiu com tudo pra cima de mim. Me levantei o mais rápido possível para tentar me desviar da direção dele, mas bati numa parede de músculos e cai sentado novamente. Era o Gustavo que junto com o Léo entraram na minha frente para me defenderem. Eu consegui me levantar e fiquei atrás deles tentando me explicar, mas só gaguejava.

Gustavo: Carlos ele não fez de propósito. Deixa ele!

Léo: pois é cara, ele já te pediu desculpas.

As meninas desceram correndo da arquibancada para parar a confusão, mas até descerem e chegarem ao meio do campo demoraria um pouco.

Carlos: vocês dois saiam da frete, que eu vou acertar com ele.

Gustavo: pra mexer com amigo nosso tem que encarar a gente também.

Aí começou a juntar cada um de um lado e quando dei por mim estavam os dois times se encarando, esperando apenas o primeiro movimento para atacarem.

Carlos: E você chama ele de amigo? Amigo de verdade te contaria se soubesse que sua namorada tá te chifrando, seu palhaço!

Aí as meninas chagaram entraram na frente e foram afastando todo mundo. Senti um alívio, mas o Gustavo na mesma hora me puxou para um canto e olhou estranho pra mim. Agora eu me lembrava: era o Carlos lá com a Andréia quando eu flagrei ela. Na hora nem dei muita bola, mas agora eu juntava as peças. E ele chamando o Gustavo de palhaço. Palhaço era ele quase se entregando.

Gustavo: Que porra é essa André? Você tá sabendo de alguma coisa que EU deveria estar sabendo? A Andréia tá me traindo?

Eu: o q-que? Não! Quer dizer, eu na-não sei. Se ela tá te traindo eu não sei.

Ele me olhou meio que com reprovação, não entendi muito aquele olhar, mas deixou quieto. Eu na hora estava tão distraído pela confusão da bola, que nem tive coragem de contar a ele sobre tudo. Sei que é um pouco dramático esse “não tive coragem”, mas é complicado dizer a alguém que a pessoa que ele ama faz uma coisa dessas com ele.

O Léo veio até nós e nos chamou para irmos para um barzinho alí perto, beber um pouco e esfriar a cabeça, já que o jogo já tinha acabado por alí. O Gustavo foi tomar banho e ele me puxou para conversar também.

Léo: André, você tá sabendo de alguma coisa da mina do Gustavo?

Eu: ai, ai Léo...Até você? Mas tá bom! Você promete que não vai contar?

Léo: André?!

Eu: por favor, promete?

Léo: bem, você já deixou claro a resposta da minha pergunta. Mas tá bom eu prometo. Agora conta o que você tá sabendo.

Eu: Ok, outro dia eu fui ao banheiro na faculdade e vi a Andréia com o Carlos no maior amasso no corredor do prédio 3. Eu até tentei conversar com ela pra ver se ela me explicava alguma coisa, mas ela até tentou me agarrar também. Mas por favor, não conta pro Gustavo. Pelo menos não ainda. Ele vai ficar muito magoado.

Léo: tudo bem, eu prometi que não ia contar, não é mesmo?! Mas ele não pode continuar sendo enganado. Então você vai ter que contar!

Eu: Eu sei, mas tô pensando numa forma fácil, principalmente pra ele primeiro.

Léo: você é meio estranho, não existe forma fácil de contar sobre um par de chifres. Mas tá bom, você deve saber o que tá fazendo. Mas o Carlos hein? Dando uma de machão aquela hora jogando tudo pra cima de você, e é ele mesmo que tá no meio da história.

Conversamos mais um pouco e encerramos o assunto assim que vimos o Gustavo voltando. Tomamos nosso banho rápido também e fomos para o barzinho. Foi divertido estar com eles alí, principalmente ao lado do Gustavo. Até que ele fez uma proposta.

Gustavo: Olha pessoal eu andei pensando. Minha família tem um AP perto da faculdade e eu tava querendo morar sozinho um tempo, sabe? Sem pai e mãe. Mas não quero ficar totalmente sozinho. Então o que vocês acham de morarem comigo? Tem bastante espaço lá, e nós já nos damos bem mesmo. O que acham?

Léo: Seria uma boa Gustavo, mas pra mim não dá mesmo. Eu tenho emprego onde eu moro e ficar todo dia indo pro trabalho em outra cidade e depois voltar pra encarar facul não dá, pra mim puxa muito.

Eu: eu também gostei da ideia. Adoraria morar fora de casa um tempo. Mas o meu problema é justamente o contrário do Léo. Eu não tenho emprego ainda. E meus pais nunca me deixariam morar sozinho enquanto não for independente, pelo menos financeiramente.

Gustavo: qual é pessoal? Vocês vão embaçar? Poxa, pelo menos um de vocês. Olha Léo eu te levo todo dia no seu trabalho se você quiser.

Léo: e você vai ficar acordando cedo todo dia só pra ir até lá e depois voltar? Nem rola né, ia me cansar do mesmo jeito e você também, só ia ser pior.

Gustavo: então você André. Eu converso com seus pais. Não tem nem aluguel, eles não vão ter que gastar com quase nada. Eu cubro as despesas com água, luz, essas coisas todas. E você faz o que quiser, sei lá... Pode cozinhar, você gosta né? Então! Você cozinha, faz almoço, janta, e eu converso com seus pais sobre isso. Por favor?!

Eu (rindo um pouco): já não sei mais se você quer um companheiro ou uma empregada. Mas eu realmente cozinharia com prazer, até por que eu gosto muito disso. Mas duvido você convencer meus pais. Nem pela questão financeira, é por me mimarem mesmo. Se você conseguir eu topo.

Não posso negar que fiquei mais que feliz com a proposta dele. Ficar perto dele 24 horas? É logico que eu queria, mas duvido meus pais deixarem. Ele ficou que é pura alegria. Me abraçava, me beijava, eu até brinquei pra ele parar com a viadagem. Ele ficava batendo nas minhas costas e falando pro Léo: “esse sim é um amigo, tá vendo Léo?!”. Ele já estava meio alto pela bebida.

Continuamos conversando, mas paramos com a bebida, tínhamos que esperar ele melhorar um pouco, afinal ele estava dirigindo, e nem dava pra chamar um táxi, porque onde ele deixaria o carro? Ele melhorou, nos despedimos do Léo, e eu como um louco fui de carona com ele. Torci para que não tivesse nenhuma blitz no caminho.

Dentro do carro eu até estranhei, pois fomos quase que em silêncio. Silêncio que ele mesmo quebrou, mas só quando paramos em frente a minha casa.

Gustavo: cara, você é um amigão mesmo. Eu prometo que vou fazer de tudo pros seus pais deixarem.

Eu: e eu prometo que vou ser uma boa empregada.

Caímos na gargalhada. Mas ele ficou sério de novo.

Gustavo: sabe, eu não desconfio de você nem nada, mas aquele lance da Andréia, você sabe de alguma coisa André?

Eu (respirei fundo): ok, eu tava pensando numa forma melhor de contar isso...

Gustavo: eu sabia! – e socou o volante do carro. – fala, o que você sabe?

Eu: outro dia eu vi ela e o Carlos no corredor da faculdade se beijando. Eu tentei conversar com ela, mas não adiantou muito não.

Gustavo: conversar com ela? Conversar pra que? Aquela cachorra! Eu sabia! Mas tudo bem, vai ter troco! – ele falava com os olhos cheios de fúria, esse foi um dos momentos que tive medo dele.

Eu: olha Gustavo, não pense que eu queria acobertar ela. Eu só tava pensando em como te contar. Mas o Carlos soltou antes e jogou pra cima de mim. E eu tava nervoso na hora. – eu falava rápido.

Gustavo: tudo bem cara. Eu confio em você. Valeu por ter me contado a verdade.

Eu me despedi dele e entrei em casa. Tomei um banho para relaxar depois de todo esse dia confuso. Fui para cama, estava morto de cansaço, mas eu nunca durmo assim que eu deito. Sempre fico pensando em um monte de coisa, e só me vinha ele na cabeça. Eu fiquei um pouco feliz, pois agora quem sabe eu tinha alguma chance, afinal ele estaria solteiro. Mas esse pensamento era ridículo. Nunca iria rolar nada!

No outro dia eu acordei mais cedo e escuto umas conversas na cozinha. Vou ao banheiro e faço minha higiene. E quando vou para a cozinha me surpreendo com nada mais nada menos do que Gustavo Borges tomando café com meus pais.

Eu: Gustavo???

CONTINUA...

Comentários

Há 1 comentários.

Por em 2013-01-03 23:37:55
mulohjrjhst