A Vida & Morte De Renato - Capítulo 39

Parte da série A Vida & Morte De Renato

Dentro do carro e com o ar condicionado ligado, Renato e Yan observavam a entrada de uma das casas em um bairro mais afastado da cidade. Eles mantinham seus olhos fixados na porta e nas janelas, observando todo o movimento que uma mulher fazia lá dentro, já que que nem todas as janelas tinham cortinas.

Eles já estavam ali há meia hora. Há trinta minutos estavam parados no mesmo local, um pouco mais afastados da casa e ainda com um bom campo de visão, mas antes mesmo de saírem de casa, tiveram que ligar para Pedro, inventando uma desculpa por eles não aparecerem no restaurante mais cedo, e depois de tudo confirmado, eles entraram no carro e foram para o bairro, levando quase uma hora de viagem.

Dez minutos depois, eles notam uma senhora se aproximar da casa e tocar a campainha da porta, e logo Renato viu que se tratava da mãe de Leandro, pois se lembrava de seus traços, já que havia a visto no cemitério uma vez.

― Merda, e agora? ― Diz Yan.

― Calma...

Cerca de vinte minutos depois que a senhora entrou, a mulher de cabelos longos sai da casa, usando uma calça apertada e uma jaqueta de couro fechada. Ela se encaminha até seu carro e logo dá a partida, indo para um destino desconhecido.

― Ela deixou o filho com a avó dele. ― Renato diz.

― Como você sabe disso?

― Porque a senhora que entrou é a mãe do Leandro, e a única coisa que ainda a liga àquela mulher é o neto.

― Você a conhece?

― Sim. Nos encontramos no cemitério uma vez... ― Renato se lembra e percebe que aquela lembrança não lhe machucava mais.

― Ela não te perguntou o porque de você estar lá?

― Ela já sabia sobre Leandro e eu, e foi um susto para mim na hora.

― Entendi...

― Eu vou entrar. ― Renato se vira para Yan.

― Com ela dentro de casa?

― Sim, dessa forma eu não preciso invadir.

― E o que vai dizer pra ela?

― Não sei, eu penso em alguma coisa. ― Renato o encara.

― Renato...

― Você confia em mim?

― Depois de tudo o que a gente viu, tem como não confiar? ― Yan sorri.

― Bobo. ― Ele sorri. ― Daqui a pouco eu volto. Torce por mim.

― Tudo bem. Te amo. ― Ele dá um selinho em Renato.

― Também te amo. ― Ele sorri.

Quando desceu do carro, Renato tomou fôlego e coragem para prosseguir com seus passos lentos, que o levaram até a porta da casa.

Após respirar pesadamente por um tempo, ele finalmente toma coragem e toca a campainha da casa, e em questão de segundos, uma senhora aparece na porta, segurando um bebê nos braços.

― Oi... ― Renato diz, na esperança de ela o reconhecer, o que ela faz.

― Meu jovem... ― Ela sorri.

― Bom dia... ― Renato sorri e olhou para o bebe, tocando as pequenas mãozinhas dele.

― O que está fazendo aqui? ― Ela pergunta, curiosa.

― Eu posso entrar pra gente conversar?

― Claro, entre. ― Ela sai da porta.

Quando Renato entra, as lembranças voltam a sua mente. Ele já esteve nessa casa algumas vezes, quando a esposa de Leandro ficava fora, e tudo permanecia da mesma forma. O sofá ainda era cinza, assim como o móvel em sua frente, que suportava a televisão de trinta e duas polegadas. O tapete ainda estava manchado de vinho, assim como a cortina da sala ainda tinha um pequeno furo de cigarro. Nada havia se alterado.

― O que você deseja? ― Pergunta ela ao se sentar no sofá.

― Olha... ― Renato se senta no sofá a frente. ― Eu vou ser completamente sincero com você, e espero que não me expulse... ― Renato toma coragem para começar. ― Eu estava esperando a ex esposa de Leandro sair para que eu pudesse pegar a chave reserva nos fundos e entrar escondido. ― Renato percebe a senhora ficar surpresa. ― Desculpa, mas eu precisava vir aqui.

― Mas por quê? ― Ela ninava o bebê.

― Eu... ― Renato ainda não sabia o que dizer. ― Eu precisava mexer nas coisas do Leandro, preciso encontrar alguns papeis, ou o que quer que seja que ele tenha encontrado...

― Eu não estou entendendo...

― O assassino... ― Renato começa e percebe os olhos da senhora brilharem. ― Eu acho melhor eu ir... ― Ele viu que a senhora ficou abalada.

― Não, por favor, continue, eu quero ouvir... ― Ela seca suas lágrimas.

― É sobre o assassino...

― O que matou meu filho... ― Ela diz, de cabeça baixa.

― Sim. ― Renato resolve não revelar o que sabia para ela. ― Em uma ligação há um tempo, Leandro me disse que estava investigando algo por conta própria, já que seus parceiros na delegacia não estavam dispostos a procurar por pistas do assassino, e pelo seu tom de voz, deu pra perceber que ele estava chegando a alguma conclusão.

― Entendi... ― Ela encara Renato.

― Mas ele se foi antes... ― Renato diz, e assim como os da senhora, seus olhos brilham. ― Eu preciso terminar isso pra ele, eu preciso... ― Renato seca suas lágrimas. ― Foi seu último trabalho, e depois disso, ninguém falou mais nada.

― Os policiais não estão investigando?

― Não...

― Mas eles me disseram que estavam investigando o paradeiro do assassino...

― Eles mentiram para você. ― Ele a encara. ― Até mesmo os investigadores estão nessa. ― Ele se lembra de quando a investigadora pediu para que ele não abrisse a boca, mas agora não tinha jeito. ― Quando eles me levaram para depor e viram que eu não estava envolvido, resolveram ver o caso por outro ângulo, e então constataram que poderia ser alguém copiando os crimes que assombraram há cidade há uns anos.

― Eu me lembro desses crimes, foi horrível...

― Sim, foi horrível, e pior ainda foi o erro que os policiais cometeram ao prender o homem errado.

― O homem errado? ― Ela se assusta.

― Sim. ― Renato resolve contar pra ela. ― Eles prenderam e mataram um homem inocente que não tinha nada a ver com isso, e o Leandro me disse, ele falou que o corpo que encontraram na floresta estava semelhante aos outros casos do assassino que ele havia estudado, e por isso, ficou na dúvida, e eu acho que isso o prejudicou.

― Meu Deus... ― Ela coloca a mão na boca. ― No que meu filho foi se meter...

― Eu não ia comentar com a senhora o que eu acho, mas como eu já disse tudo, acho melhor lhe esclarecer as coisas de uma vez. ― Renato para por um momento. ― Há uma pequena chance de Leandro não ter sido pego pelo assassino, e sim pelos policiais.

― Como? ― Ela parecia chocada.

― Sim... Pensa, se o Leandro descobriu que realmente prenderam um homem inocente e que o assassino estava a solta, seria motivo para que os outros o tentasse calar, já que isso prejudicaria suas carreiras caso chegasse ao ouvido do povo ou dos jornais.

― Meu Deus... ― Ela chorava.

― Fica calma, por favor... ― Renato diz ao se sentar do lado dela.

― O que fizeram com ele...

― É isso que eu quero descobrir, por isso vim.

― Meu filho... ― Ela chorava.

― Eu prometo que vou fazer justiça por ele, eu o amava...

― Obrigado meu anjo, obrigado por amar meu filho e por terminar o que ele começou...

― Só me agradeça depois que eu descobrir tudo.

― Eu não sei onde ele guarda nada nessa casa...

― Não se preocupe, eu procuro.

Renato, sem esperar outro momento, se levanta do sofá e sobe as escadas de madeira da casa, indo até o segundo andar, e quando encontra a primeira porta, a abre, e sem demorar começa a procurar pelo quarto de hospedes alguma coisa que lhe servia. Olhou debaixo da cama, debaixo do colchão, sobre o guarda roupa e dentro do mesmo, e não encontrou nada.

A segunda porta pela qual ele entrou foi a do quarto do bebê, onde ele começou a procurar por pistas, olhando debaixo do colchão do berço, dentro do guarda roupa, debaixo dele, já que esse tinha pés e olhou também dentro das cômodas cheias de coisas para nenês. Quando viu que não encontrara nada, Renato saiu do quarto e fechou a porta.

No momento em que ele entrar no quarto que Leandro usava para os estudos e para investigações, mais lembranças vieram a mente de Renato. Foi naquele lugar que eles trocaram promessas de um futuro melhor tantas vezes. Foi naquele pequeno cômodo que eles colocavam um colchão e faziam amor até estarem exaustos. Foi naquele lugar que prometeram ficar juntos para sempre pela primeira vez, e infelizmente isso não pode acontecer, e ao derramar uma pequena lágrima, causando um pequeno sorriso em seu rosto devido as belas lembranças, Renato começa a fuçar o lugar.

A primeira coisa que seus olhos viram foi o quadro branco, que estava completamente apagado. O jovem então começou a pegar todos os livros que Leandro tinha, todos os livros sobre leis e os livros sobre o curso de advocacia que ele estava prestes a começar, e depois de folhear todos, viu que não encontrou nada.

Após colocar os livros no lugar, ele abre as gavetas da escrivaninha, encontrando vários papeis, e depois de fuçar ali por mais de dez minutos, analisando todos os papeis, viu que não tinha nada, e então as fechou, saindo do quarto.

O último cômodo a ser olhado no andar de cima foi o quarto em que ele dormia com sua esposa, e mesmo não querendo entrar ali, Renato sabia que tinha, e assim o fez.

A primeira vista, tudo estava organizado, e suando devido a aflição que sentia por estar tendo que fazer tudo isso, ele começa todo o processo outra vez, iniciando pelo guarda roupa, olhando por cima e dentro do mesmo, e nada. Renato então olhou dentro de um baú que ficava de frente para cama, e tudo o que havia ali eram sapatos femininos e masculinos, e nada de provas. A estante que suportava a televisão foi onde ele começou a procurar logo em seguida, e não achou nada, e por último, ele olhou debaixo do colchão e debaixo da cama, e quando estava se preparando para olhar todo o andar de baixo, ele percebeu algo que não era comum.

Ao lado da cama havia um tapete, um daqueles finos usados apenas para deixar chinelos e evitar que as pessoas pisem no chão frio a noite, e ao contrário do comum, esse tapete era maior que o normal, indo até para debaixo da cama, e suspeitando disso, Renato se abaixa e tira o tapete dali, olhando debaixo da cama, e se deparando com um dos tacos do piso um pouco elevado, em um nível diferente dos outros.

Quando ele se coloca de pé, a primeira coisa que ele faz é arrastar a cama, mesmo sabendo que estava fazendo muito barulho, e provavelmente arranhando o piso de madeira, mas ele fez o máximo para arredar pouco, e então se abaixou outra vez, se colocando deitado sobre o tapete, que estava embolado debaixo do seu peito.

Após tirar o taco elevado, com um pouco de dificuldade, ele se enfia ainda mais para debaixo da cama e aponto de ver o pequeno buraco onde o taco estava. Quando ele enfiou a mão ali e tentou puxar, viu que uma parte mexeu em seu peito, e então percebeu que se tratava de uma espécie de encaixe. Assim que se arrastou mais um pouco, já para fora dali, ele se inclina e puxa a superfície de tacos, a fazendo sair, sem danificar o piso, e então, ao colocar aquilo de lado, ele volta a se enfiar debaixo da cama.

Quando ele vê uma caixa no fundo, coberta por um pano, seu coração se acelera, e em segundos, ele a tira de lá, deixando o pano para trás.

A caixa preta em suas mãos era grande, por volta de sessenta centímetros quadrados, e ao tirar a sua tampa, ele começa a fuçar os papeis, e no momento que ele vê uma das fotos em anexo ali, ele tem certeza que se tratava do caso que Leandro investigava, e então, rapidamente, ele tampa a caixa e encaixa a parte do piso que havia retirado, assim como o taco que ele removeu, e então arrasta a cama para o mesmo lugar, limpando os pequenos riscos que havia feito com as mãos e colocando o tapete no mesmo lugar.

Quando ele estava na metade da escada, Renato escuta um carro chegando, e quando ele olha para a senhora, que nota que ele havia achado o que procurava, ela corre até ele.

― Vá pela porta dos fundos, ela está aberta. Espero que consiga. ― Ela dá um beijo no rosto de Renato. ― Faça justiça por ele.

― Obrigado.

Correndo, Renato vai até a cozinha e abre a porta no mesmo instante em que a porta da sala se abre, recebendo outra vez a sua moradora, que havia voltado porque tinha esquecido sua carteira.

Correndo como havia feito na floresta, Renato vai até o carro de Yan, quase derrubando a caixa, e assim que a coloca no banco de trás, ele abre a porta da frente e entra, se sentando, respirando fundo, como se tivesse corrido uma enorme e cansativa maratona. Ele então olha para Yan, que se indaga com o olhar.

― Consegui. ― Renato diz, respirando fundo. ― Vamos.

E então Yan dá a partida no carro, voltando para o seu apartamento, onde teria um longo dia procurando por provas existências que comprovem todas as suas suspeitas, e mesmo não sabendo se iriam encontrar ou não as respostas que procuravam, ambos estavam dispostos a perder todo o seu tempo atrás delas.

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