A Vida & Morte De Renato - Capítulo 38

Parte da série A Vida & Morte De Renato

Muitas pessoas dizem que eu tenho que me adequar aos outros, que eu tenho que mudar, já que sou minoria nesse mundo, e eu confesso que tentei e ainda tento me moldar aos gostos e características que os outros procuram em mim, mas eu não consigo.

Talvez todo mundo esteja certo. Talvez eu realmente tenha que mudar para fazer parte do mundo, para fazer parte da maioria e ser considerado “Aceitável” na sociedade, mas é difícil, e essas são palavras de quem já tentou muito e falhou diversas vezes.

Sim, eu não estou bem, e talvez seja o fato de que perdi meu emprego, de que estou cansado de mais, ou talvez o motivo seja que eu realmente não estou bem há algum tempo, e olhando para trás, eu fico com a segunda opção.

Não sou uma pessoa que compartilha sentimentos, eu nem mesmo gosto de me sentir triste, porque para mim, ser triste é sinal de fraqueza, e eu sempre precisei ser forte, sempre precisei engolir os sapos e arcar com tudo, e com isso quero dizer, eu continuo fazendo isso, me fazendo de forte, quando na verdade estou simplesmente vivendo os meus dias, como se eu tivesse perdido a vontade de tudo, como se eu tivesse medo de me aventurar, de olhar para frente, para a futuro, e eu sou um covarde por isso.

A cada dia que passa, o sentimento de que eu não pertenço cresce. As vezes eu olho para o céu a noite, ou até mesmo para a mata atrás da minha casa esperando que algo aconteça, que algo apareça, que eu descubra algo extraordinário que ninguém acreditaria se eu contasse, mas isso nunca acontece. Ainda me agarro na esperança de que algum dia alguém irá aparecer e me dizer que essa não deveria ser minha vida, que eu tenho algo reservado para mim, algo importante que eu tenho de fazer e que me forçará a abandonar tudo o que eu tenho para trás e seguir rumo ao desconhecido, mas eu sei que isso é apenas uma fantasia da minha cabeça, algo irreal.

Me foi dito há um tempo que eu não deveria descontar meus sentimentos em alguém que não tem nada a ver com o que está acontecendo comigo, e esse alguém está certo, eu realmente não posso descontar tudo o que estou sentindo nos outros, mas outra vez, eu não consigo. Eu estou tendo dias ruins, e talvez para alguns seja exagero de minha parte, mas eu não consigo separar sentimentos de pessoas a minha volta, e isso me prejudica. Eu tento conversar com os outros ignorando por completo a confusão que está na minha cabeça, e eu consigo, e isso se deve ao fato de que eu sei fingir muito bem para as pessoas a minha volta, mas eu não quero fazer isso com vocês, não quero ser falso, não quero fingir estar feliz quando na verdade não estou. Não quero conversar com vocês forçadamente quando na verdade não quero falar com ninguém, essa é a verdade.

É em meio a poucas lágrimas que eu me desculpo com vocês, por tudo. Eu realmente não estou em condições de fingir de estar bem, de conversar, porque se eu o fizesse, estaria sendo extremamente falso, e eu não quero isso, eu abominaria fazer isso com vocês, que estão aqui para me apoiar e me ver bem.

Me perdoem por isso, por esse desabafo, mas eu precisava falar, eu precisava tirar isso do meu peito e esclarecer o porque de eu não estar entrando nos grupos, o porque de eu não estar atendendo ligações. Eu gosto muito de vocês, me importo muito com vocês para ter que lhes dar o trabalho de conversar com alguém que só quer ficar sozinho com as próprias merdas, mas eu vou ficar bem, eu sempre fico, mesmo que eu tenha que simplesmente esquecer tudo isso.

Mais uma vez, eu peço desculpas a todos, eu peço perdão a todos aqueles que estão esperando por palavras minhas. Eu consigo ser falso com as pessoas a minha volta para evitar perguntas e críticas, mas eu não conseguiria ser falso com vocês, e por isso preciso de alguns dias, e eu imploro que não fiquem com raiva de mim por causa disso.

Quanto aos capítulos, eu ainda postarei como prometido, não se preocupem quanto a isso, mas não garanto que estarei 100% presente em tudo, respondendo comentários e fingindo que estou bem, que nada me abala, porque isso eu já faço na minha vida aqui, e não conseguiria fazer duas vezes, é exaustivo de mais.

Eu espero que todos estejam bem e que possam me desculpar por tudo, por tudo mesmo. Eu só preciso de um momento...

Que vocês tenham uma ótima semana. Obrigado por tudo o que tem feito por mim...

Um abraço...

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Quase um dia havia se passado. Foram quase vinte e quatro horas desde o ocorrido, e novamente, o barulho naquela floresta era mínimo. Se podia ouvir apenas o balançar das folhas e a fina garoa que caia sobre a terra, deixando com que o cheiro de terra molhada exalasse por todo o local, chegando até mesmo ao nariz de um ser ali sentando, extremamente apavorado e com os olhos vermelhos.

O medo em seus olhos era evidente, ele não conseguia disfarçar, e ao ver que o tempo não contribuiu, seu choro também passou a ser ouvido em meio ao vazio de barulho naquele lugar.

Quando seu relógio de pulso apitou, ele finalmente se levantou, se aproximando de um ponto especifico, ao lado de uma pedra ali, no meio da floresta, e foi só ao esperar dois minutos que o milagre começou a acontecer diante de seus olhos outra vez, pela segunda vez.

Yan conseguia ver partículas flutuando ao redor de um local a sua frente. Partículas que iam ao chão, se agrupado aos poucos, e podendo presenciar tudo aquilo, ele chora ainda mais, se ajoelhando, observando um pequeno nevoeiro escuro se formando, formando um corpo, bem ali, na sua frente, e foi bem diante de seus olhos que os primeiros dedos dos pés começaram a aparecer, como magica, e em seguida, as partículas começaram a formar pernas, indo até nádegas, parte do corpo que Yan conhecia tão bem.

Tendo a parte de baixo completamente formada, as costas de Renato finalmente começam a aparecer, se formando com a mesma velocidade e intensidade das outras vezes, e após tudo pronto, os braços aparecem com mais precisão, com mais velocidade, assim como a cabeça e os lindos cabelos do homem que agora ele sabia que amava. Do homem que depois de passar horas atrás de seu paradeiro, viu que se importava de mais a ponto de ser apenas uma paixão.

E foi ali, naquele chão molhado e sujo de terra, que o primeiro suspiro após seu renascimento apareceu, e logo depois desse suspiro, seus olhos se abriram, e deram vazão para um grito de dor e agonia, grito que aconteceu devido a todas as lembranças que vieram em sua mente, todas de uma só vez.

Quando ele se levanta, rápido de mais, não conseguia enxergar um palmo a sua frente. Suas olhos estavam cobertos por lágrimas e terra, e aquilo lhe incomodava muito a ponto de deixá-lo aflito, a ponto de fazê-lo ir de joelhos ao chão outra vez, completamente apavorado e desesperado. Ele se debatia, como se sentisse desconfortável na sua própria pele, como se não tivesse se acostumado com o próprio corpo, e aquela sensação era uma das piores do mundo.

Quando ele olha para frente e percebe um homem se aproximando, ele se levanta, não conseguindo ver quem é, e então começa a correr, em desespero, correndo por sua vida. Ele passava por entra as árvores como se tivesse fugindo de um animal selvagem, como se sua vida dependesse disso. Renato corria porque achava que o homem que havia feito barbaridades com ele havia descoberto tudo e estava apenas o esperando para começar de novo, mas não era esse homem, e sim o único homem realmente importante na sua vida naquele momento.

A passos extremamente rápidos, Yan corria atrás de Renato, que parecia conhecer a floresta com a palma de suas mãos, quando na verdade, ele apenas corria por sua vida, por achar que estava correndo perigo.

Aumentando ainda mais a velocidade de seus passos, Yan corre ainda mais rápido, até que finalmente chega até Renato, pulando em cima do corpo do jovem que vai com tudo ao chão, gritando de dor. Ele havia deslocado o braço esquerdo, mas em segundos, tudo estava completamente normal outra vez, do jeito que deveria estar.

― Renato! ― Yan grita, com lágrimas nos olhos.

― Por favor, me deixa ir, me deixa! ― Renato grita, em completa agonia.

― Renato, olha pra mim! ― Yan tentava a todo custo fazer com que Renato o percebesse.

― Me solta! Me solta! Assassino! ― Renato se debatia muito, desesperado.

― Renato! ― Yan grita, ainda mais alto, e segura o rapaz contra o chão coberto de folhas. ― Olha pra mim caralho! Olha!

― Me solta! ― Renato não tinha tanta força.

― Sou eu! Yan! Olha pra mim! ― Ele grita, fazendo com que Renato finalmente o encare.

― Não! ― Ele grita, mas Yan o pressiona outra vez no chão.

― Renato! ― Ele grita, e sua voz ecoou por toda a floresta, ocasionando o tormento de todas as corujas que ali descansavam. ― Renato, sou eu meu bem, olha pra mim! ― Ele grita mais uma vez, fazendo Renato acordar.

― Yan... ― Ele diz ao parar de se debater.

― Sim, sou eu... ― Ele coloca suas mãos no rosto de Renato, que chora ainda mais.

― Não deixa ele me pegar de novo, não deixa... ― Ele estava desesperado.

― Eu não vou deixar, eu não vou meu amor... ― Ele se levanta e coloca Renato de pé, frente a ele, olhando em seus olhos. ― Se acalma, sou eu... ― Ele abraça Renato com toda a sua força.

― Por favor, me leva pra sua casa, eu quero ficar lá com você... ― Sua voz era embargada.

― Eu faço o que você quiser meu bem, eu sempre farei... Sempre farei tudo por você porque eu te amo. ― Ele pega o rosto de Renato e força o contato visual.

― Eu também te amo... ― Os olhos de Renato brilham e seu coração se aquece, assim como o de Yan ao ouvir tais palavras.

― Vem, vamos descansar...

O homem mais velho de olhos verdes ignorou tudo o que se passava na sua cabeça naquele momento, todas as dúvidas sobre o paradeiro de Renato e simplesmente o pegou no colo e caminhou com ele pela floresta sem nem ao menos sentir cansaço. Ele havia ficado tão perdido com o sumiço repentino de Renato que deixou todas as suas dúvidas de lado e apenas cuidou do amado, carregando seu corpo nu em seus braços, em direção a seu carro.

Depois de estacionar seu carro frente a casa de Renato para pegar algumas roupas, deixando o jovem sujo de sangue dentro do próprio carro, Yan volta até o veículo, cobrindo o rapaz com um roupão que encontrara no guarda roupa do rapaz.

Assim que deram partida no veículo outra vez, Renato abraçou o roupão e se encolheu de medo, porque mesmo sentindo a presença de Yan ao seu lado, as imagens do que aconteceu ainda rondavam sua mente.

Quando Yan estacionou seu carro em uma parte mais escura do estacionamento de seu prédio, ele desceu e foi até o lado do carona, onde tirou Renato, ainda nu, e o vestiu com um short e uma camisa qualquer, e em seguida, usou o roupão para limpar as áreas sujas e descobertas pelas roupas.

Passar pelo elevador não foi problema, até porque, a essa hora todos estavam dormindo, então Yan teve apenas que despistar o porteiro, o que não foi difícil.

Assim que eles entraram e Yan fechou a porta do apartamento a chaves, Renato se sentiu momentaneamente aliviado, como se estivesse protegido, e ele sempre estaria.

― Você precisa tomar um banho... ― Yan diz.

― Eu não quero... ― Renato se encolhe, observando todo o seu corpo a procura de marcas.

― Você precisa... ― Yan se aproxima. ― Eu vou com você, posso tomar banho com você.

― Tudo bem...

Lentamente eles caminham até o banheiro branco de Yan, que estava impecável como sempre.

Sem pressa, o homem de olhos verdes tira toda a roupa que havia colocado em Renato, olhando para seu corpo. Após isso, ele tira a própria roupa que usava, a jogando no chão, ficando nu, assim como Renato, e juntos, eles entram no box, se colocando debaixo do chuveiro.

Yan passou a maior parte do seu tempo ali, lavando o corpo de Renato, assim como ele fizera uma vez com o seu, como ele se lembra bem. Ele ensaboava cada parte do jovem como se ele fosse quebrar, como se estivesse cuidado de um pequeno filhote de cachorro, um filhote completamente frágil e vulnerável.

Depois de meia hora debaixo do chuveiro, eles saem, molhados, e se secam fora do box, depois de pegar a toalha no armário do banheiro, debaixo da pia branca.

Quando se deitam na cama de Yan, ambos ainda sem roupa, eles se encaram, e o homem de olhos verdes conseguia ver a tristeza nos olhos de Renato, e mesmo querendo que o jovem se acalme, ele resolve iniciar a conversa de uma vez.

― Você consegue me contar o que aconteceu agora? ― Yan se aproxima ainda mais de Renato, fazendo com que os pelos de seu peito se encostem ao peito do jovem a sua frente, lhe transmitindo segurança e conforto, porque Yan sabia que Renato gostava disso

― Acho que sim... ― Renato se aninha nos braços dele, com lágrimas nos olhos, e então começa.

Seus olhos se enchiam de lágrimas a medida que ele começava a contar para Yan , desde o começo, quando foi pego perto do shopping, até o final de tudo, onde sentiu seu último suspiro.

Ouvindo tudo aquilo, Yan segurava para não chorar. Ele queria se manter forte, queria manter a aparência de protetor para não deixar Renato instável, o que era a última coisa que o jovem precisava.

Yan se mantinha firme, ouvindo tudo aquilo, desejando que nada tivesse acontecido a Renato, e pedindo a constelações para que seu amor se cure rápido, porque o que ele havia passado era horrível, ele sentia que Renato estava parcialmente destruído depois de tudo.

― Renato... ― Tudo o que Yan fez foi o abraçar.

― Eu não sei o que aconteceu comigo na hora... ― Renato termina de contar. ― Eu fiquei com medo de ele descobrir do que meu corpo é capaz de fazer, e por causa desse medo eu comecei a ficar apavorado, a me concentrar dentro de mim mesmo, e quando ele começou tudo, os cortes não cicatrizaram... ― Renato olha para ele. ― Acho que tem alguma coisa haver com o a sensação quente que eu estava sentindo, como se o interior do meu corpo estivesse queimando. Foi estranho.

― Mas você não descobriu o que aconteceu? ― Yan resolve ir no novo assunto, afastando Renato do medo.

― Não... Era como se meu corpo estivesse trabalhando para tirar minha vida rapidamente. Meu sangue saia muito rápido, como se meu corpo o expulsasse, e o homem falou isso pra mim, disse que meu corpo estava rejeitando o sangue. Eu acho que é um mecanismo de defesa. Meu corpo percebeu que eu estava sofrendo muito e quis acabar com toda a dor. Foi estranho... ― Renato se lembrava de tudo.

― Nossa meu bem... ― Yan se senta, o encarando.

― Ele me cortou em pedaços, eu sei, ele faz isso com todas as vítimas... ― Renato olha para seus braços e suas pernas. ― E eu estou inteiro agora. Isso é estranho... É estranho saber disso.

― Se é estranho para você, imagina para mim, que vi você se reintegrar bem na minha frente, duas vezes.

― Eu sei. ― Renato olha para ele. ― Sabe, eu estou com medo, estou receoso de sair de casa, mas eu não posso me dar ao luxo de ficar preso. Eu tenho que arrumar um jeito de expor aquele homem e descobrir quem matou o Leandro. ― Renato estava abalado de mais, mas sua preocupação para com os outros além dele era ainda maior.

― Você tem certeza que não foi o assassino?

― Ele pareceu muito sincero quando disse que não foi ele, além do mais, para ele, eu iria morrer, então não tinha o porque de ele não me contar.

― Faz sentindo...

― Eu preciso descobrir quem tirou a vida de Leandro, e eu não faço ideia do como... ― Renato abaixa a cabeça.

― Você o amava muito... ― Yan diz.

― Sim, eu o amava. ― Renato o encara. ― Ele foi muito importante para mim. Foi ele quem me deu forças para continuar quando eu não queria mais viver, e por ele eu continuei aqui, então me sinto na obrigação de fazer alguma coisa.

― Você pensou em alguma coisa?

― Não, mas tipo, eu sei que ele fazia suas próprias investigações as vezes, por conta própria, sem envolver a delegacia. Uma vez, quando estávamos juntos na casa dele, eu o vi escrevendo algumas coisas em um quadro branco, algumas observações sobre um traficante da região.

― Então ele deve ter algumas informações sobre o que descobriu.

― Sim, provavelmente. Agora eu não sei se ele descobriu que o assassino perambulava ao seu lado todos os dias ou se ele descobriu que realmente o homem errado fora preso e morto na cadeia.

― Se isso realmente for verdade, se ele realmente descobriu tudo isso, os colegas de serviço dele devem o ter apagado para que ele não revelasse nada.

― Eu também acho... ― Renato fecha os olhos, pensando. ― Eu estou torcendo para que o Rodolfo não esteja envolvido nisso, porque se ele estiver... ― A fúria cresce nos olhos de Renato.

― Não faça nada de que você possa se arrepender depois.

― Eu sei. Não é como se eu fosse matar ele, até porque, não quero correr o risco de criar um imortal. Ainda não entendi como funciona tudo, então é melhor não fazer nada grave, mas se for ele, ele vai pagar de qualquer forma.

― Você está bem mesmo? ― Yan pergunta, preocupado.

― Não... ― Renato o encara, com tristeza no olhar. ― Sabe, eu tenho toda a eternidade pela frente, e ainda tenho coisas para resolver, então não posso ficar assim. Não posso ser fraco e covarde e deixar aquele homem impune. Eu preciso de ajuda, e não vai ser da policia. ― Ele encara Yan.

― Do que você precisa? ― Yan entendeu a indireta.

― Eu preciso ir na casa do Leandro, na casa da mulher que fora esposa dele.

― E como vai entrar lá?

― Eu sei onde ele guardava a chave reserva, mas pode ter alguém lá dentro... Eu sei que ela trabalha na parte da manhã, o Leandro já me falou, então tenho que encontrar um jeito de entrar na casa e procurar por pistas que ele possa ter deixado.

― Entendi. ― Yan fala. ― E quando quer fazer isso?

― Hoje... ― Renato fala, cheio de dúvidas.

― Hoje?

― Sim... ― Renato estava disposto a resolver isso o mais rápido possível. Ele não podia deixar o medo dominar sua mente, porque nesse meio tempo, outra vítima poderia ser feita.

― Você tem certeza que ela sai pra trabalhar?

― Não... ― Renato não sabia o que havia acontecido depois da morte de Leandro. ― Mas a gente pode vigiar a casa e ver se ela vai sair.

― É perigoso Renato.

― Eu sei, mas não tenho outra opção... Eu preciso acabar com isso e virar essa página. Preciso descobrir se o Rodolfo tem alguma coisa haver com tudo, eu preciso tirar ele de uma vez por todas da minha vida.

― Eu sei meu amor... ― Yan se aproxima e dá um selinho em Renato.

― Eu só estou com medo...

― Eu sei amor, mas você consegue superar...

― Não é isso... ― Renato encara Yan, o olhando no fundo de seus olhos. ― Para aquele homem, eu estou morto, e ele já não vai receber meu corpo no necrotério, então eu temo de cruzar o caminho dele e ele me reconhecer.

― Só se ele chegar bem perto, e ele não vai fazer isso porque não espera que você esteja vivo.

― Eu sei, mas mesmo assim. E se ele me ver de longe por um acaso? Ele vai me reconhecer...

― Renato... ― Ele via o pavor nos olhos do jovem a sua frente. ― Acho melhor você deixar isso pra depois...

― Eu não posso. ― Renato o encara, com lágrimas nos olhos. ― Você não faz ideia do que eu senti, de toda a dor que fui obrigado a sentir. Eu finalmente estive na pele das vítimas dele, e é horrível. É horrível Yan. Eu não posso deixar que ele faça mais isso, não posso... E se ele pegar uma criança? E se ele fizer isso com uma criança? Eu não vou conseguir conviver comigo mesmo, não vou... ― Renato estava deixando seu coração falar.

― Tudo bem, esquece o que falei, eu vou te ajudar... ― Ele encara Renato por um momento. ― Você pode cortar seu cabelo, sei lá. Vai ser mais difícil de ele se lembrar, mesmo que não ajude muito.

― É verdade... ― Renato coloca a mão em seus cabelos negros e ondulados.

― A gente pode ir num salão quando amanhecer.

― Não... ― Renato encara Yan. ― Você tem algum aparador de pelos aqui?

― Eu tenho o que eu uso para tirar os pelos do peito... Porque?

― Ele tem pente?

― Sim... Renato, eu não vou cortar seu cabelo.

― Por favor Yan, é só passar a máquina, não vai deixar falhas. É só cortar curtinho.

― Renato...

― Vai crescer de novo Yan, por favor... ― Renato implora. ― Eu preciso disso pra me sentir pelo menos um pouco seguro.

― Seu cabelo é tão bonito desse jeito... ― Yan acaricia os leves cachos de Renato.

― Ele vai crescer...

― Mas ele é tão gostoso de puxar... ― Yan puxa o cabelo de Renato, que sorri.

― Eu sei que está tentando me fazer sorri, e eu agradeço por isso. ― Renato sorri.

― Não precisa... ― Yan se levanta. ― Eu vou pegar a máquina, mas não me culpe caso dê merda.

― Pode deixar. ― Renato sorri.

Depois de pegar sua máquina, ambos seguem para o banheiro.

Quando Yan coloca Renato sentado sobre a tampa do vaso, ele conecta o aparador na tomada e se prepara para o que iria fazer.

― Não vou raspar tudo. ― Yan diz.

― Pode ser no pente três, ou no quatro. Meu cabelo estava grande mesmo...

― Tudo bem...

Quando Yan coloca a máquina na cabeça de Renato, o jovem fecha os olhos para que não pudesse ver, e se Yan conseguisse, também fecharia os dele, mas ele não podia.

Aquela seção de corte de cabelo durou quase dez minutos, dez longos minutos, e Renato já estava curioso para ver o resultado, mas foi só quando Yan acabou e desligou a máquina que ele abriu os olhos, olhando para o rosto do amado.

― Como ficou? ― Renato pergunta.

― Você ficou uma delícia... ― Yan sorri, lambendo os lábios. ― Ainda mais do que era.

― Sério? ― Renato se levanta e olha no espelho, quase não o reconhecendo. ― Meus olhos ficaram mais claros.

― É porque você tinha muito cabelo, então eles aparentavam ser mais escuros. ― Ele se coloca atrás de Renato. ― Quando eu tinha o cabelo maior meus olhos também pareciam mais escuros.

― Então você gostou? ― Renato pergunta.

― Olha o tanto que eu gostei... ― Yan pressiona sua ereção nas costas de Renato.

― Yan! ― Renato se vira para ele, e assim que o faz, o homem de olhos verdes o pega pela cintura e o coloca sentando sobre a enorme pia de mármore. ― Yan... ― Renato o encara.

― Eu sei que não é momento para isso, não se preocupe. Eu só queria te mostrar minha força. ― Ele ri, fazendo Renato sorrir.

― Bobo. ― Yan coloca Renato no chão.

― Tome um banho agora para tirar todo o cabelo do corpo...

― Tá bom.

― Eu vou deixar você sozinho porque não estou em condições de te ver pelado no momento. ― Yan começa a rir.

― Tudo bem. ― Renato sorri.

Após passar cinco minutos no banheiro, se limpando e se livrando de todo o cabelo em seu corpo, Renato sai, indo em direção ao quarto, já vestido com a roupa que havia entrado lá, já que ele tomara um banho há menos de uma hora.

Depois de conversarem por mais um tempo, eles decidiram que seria realmente hoje que iriam a procurar de evidências, e mesmo Renato sentindo medo e receio, ele iria fazer, não por ele, mas por todas as vítimas que aquele homem fez, e todas as futuras pessoas que ele ainda sequestraria e torturaria caso não for capturado.

A policia estava escondendo, fingindo que nada acontecia, mas Renato não iria fazer isso. O jovem havia colocado na sua cabeça que iria o impedir de cometer mais atrocidades, e naquele momento, ele estava disposto a invadir uma casa apenas para conseguir provas, mas na cabeça dele, ele estava disposto a muito mais e até mesmo a correr riscos para colocar aquele homem atrás das grades.

Comentários

Há 2 comentários.

Por Nando martinez em 2016-05-04 13:15:12
Ahm ,olha ,eu te entendo perfeitamente o que vc esta passando ,e claro que eu não vou ficar bravo por vc estar se afastando ,alias acho melhor isso para vc descansar e esfriar a cabeça ,entendo perfeitamente o que sente querendo se manter forte ,mas saiba que eu estou aqui se vc precisar de um ombro amigo ,eu sei que apenas nos conhecemos daqui mas me sinto na obrigação de te ajudar ,por que me sinto no seu lugar ,eu já passei por isso ou talvez ainda passe! Meu email (Fernando.amor90@gmail.com) ou meu whats (4598388513) qualquer coisa pode chamar que eu estou aqui para tentar te ajudar ,ser um ombro amigo ,bom então é isso ,não sei o que se passa por vc então... Forças caro amigo ,te desejo muita sorte e <3
Por joseph em 2016-05-03 22:57:02
Gostaria de conversar com você, me add no whats 88 999303816. Sério preciso falar