A Vida & Morte De Renato - Capítulo 22

Parte da série A Vida & Morte De Renato

Boa Tarde... Rsrsrs.

Então, eu sei que muita gente está pedindo para que eu poste nos fins de semana também. Não, eu não estou ignorando e fingindo que não vejo os pedidos. Hahahahahaha. Mas é que geralmente eu não tenho tempo para quase nada no fim de semana. Sei que não é tão difícil apenas postar, mas tem os comentários para responder, e não vou conseguir responder todos a tempo de colocar no site, seja no sábado ou no domingo, então farei uma proposta... Querem que eu poste no sábado sem responder os comentários do capítulo postado na sexta?

No mais, espero que possam me responder. Só tem como eu postar no final de semana se eu não responder os comentários, então...

Um beijão pra vocês, e espero que possam curtir o capítulo de hoje.

― Nando martinez: Sim. Hahahahaha. As vezes me dá a louca e eu tiro, mas geralmente uso, tanto é que as pessoas se assustam quando eu apareço de cara limpa, é tipo um evento. Hahahahahahaha. Morri de rir. E você imaginou certo, adoro xadrez, e estou usando agora, por incrível que pareça. Obrigado. Rsrsrs. As vezes eu acho que exagero um pouco sabe, principalmente na descrição de certas coisas, mas eu não consigo não exagerar, é mania minha. Sobre o Yan, muita coisa ainda vai acontecer com ele, então vamos ter que esperar para ver. Hahahahahahahaha. Culto satânico foi ótimo. No mais, um beijão, e até mais.

Obs: Esse é um dos capítulos que mais gosto de toda a história.

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Já dentro do carro de Yan, rumo a igreja, Renato continuava a se sentir incomodado com a presença do jovem homem ao seu lado.

Devido aos sonhos que Renato havia tido, ele sabia que o homem ao seu lado era Yan, só que ainda não havia descoberto o por que. Chegou a pensar que poderia ser uma visão, a visão que Caled tivera sobre ele, mas julgou ser cedo de mais, então deixou o pensamento do lado.

Mas um fato a se considerar é que o Yan dos seus sonhos era diferente. Seu sorriso era diferente, assim como seu olhar e seu comportamento. No sonho, tudo era real, era natural de mais, e sabendo disso, olhando disfarçadamente para o lado, o jovem percebeu que aquele homem não passava de um pequeno robô.

― Está tudo bem? ― Yan pergunta quando um dos hinos termina de tocar.

― Sim, tudo bem. ― Renato força um sorriso.

― Você nunca foi a igreja? Tem certeza?

― Sim, eu nunca fui. ― Renato olha para a janela ao seu lado.

― Seus pais nunca te levaram? ― Renato sentiu, no fundo do seu coração, que Yan já sabia aquela resposta, e isso soou como um alerta de loucura para ele.

― Sempre foi só o Rodolfo... ― Renato realmente havia parado de o chamar de pai.

― Seu pai?

― Isso... ― Renato dá de ombros.

― E sua mãe?

― Morreu quando eu tinha três anos. ― Renato diz.

― Sinto muito... ― Yan olha para os olhos de Renato, que sente um calafrio percorrer sua espinha.

― Não foi sua culpa...

― Se for muito perguntar... Como ela morreu?

― Ela se matou. ― Renato diz, e depois percebe que não tem costume de contar isso pra ninguém.

― O que?

― Eu já não te contei isso? ― Renato estava estranhando a situação. Ele jurou que já havia contado isso a Yan, e não sabia o porquê.

― Não... ― Yan mantinha os olhos na estrada. ― Mas porque ela fez isso?

― Ela teve depressão pós-parto. ― Renato tentava calar a boca, mas não conseguia.

― E por isso ela se matou?

― Acho que sim. Eu era muito novo na época, e o Rodolfo nunca me explicou direito o que aconteceu, apenas me disse que ela se matou e que o corpo foi cremado. Só sei isso.

― E você não perguntou mais nada para ele?

― Sim, mas ele não me fala, então dei o caso por encerrado e segui com minha vida.

― Espero que ela tenha encontrado o perdão pelo que fez e tenha chegado ao reino dos céus. ― Yan fala, como se nem tivesse noção do que saía de sua boca.

― Como? ― Renato se vira.

― Os suicidas não chegam ao reino dos céus... ― Ele fala, como se fosse a coisa mais comum do mundo dizer isso a uma pessoa.

― Olha Yan, vamos mudar de assunto. Não quero conversar sobre isso. ― Renato é seco.

― Tudo bem, me desculpa. ― Yan volta a prestar atenção no trajeto.

Ao estacionar o carro, Yan olha para Renato, sorrindo, como se estivesse feliz por o estar levando ali, por ter conseguido mais um fiel para a sua igreja, e essa não era a verdade, não levando em conta as intenções de Renato, que só queria não estar em casa.

― Ansioso? ― Yan pergunta, parecendo uma criança.

― Sim. ― Renato achou melhor mentir e colocar um sorriso no rosto.

Ao se deparar com a enorme entrada, Renato se assusta. A igreja era impecável do lado de fora. A frente alta toda feita em mármore branco, e o nome, nome da igreja, feito em mármore preto, por cima da cor mais clara. Toda a entrada era espetacular, e provavelmente foi gasta uma quantia absurda para deixar tudo aquilo pronto, do jeito que estava.

Quando entraram, Yan se sentia em casa. Cumprimentava todo mundo com um aperto de mão, sorrindo, e alguns ele abraçava, provavelmente os mais próximos, e faziam o mesmo com Renato, apertando sua mão direita e sorrindo para ele, o obrigando a fazer o mesmo.

― Vamos nos sentar ali... ― Diz Yan ao apontar para dois lugares vazios.

― Tudo bem.

Eles se sentam, Renato com as mãos vazias e Yan com uma Bíblia em seu colo, esperando pelo culto começar, ansioso para fazer parte de tudo aquilo.

― Boa noite irmãos. ― Diz um homem ao subir no altar vestindo um terno preto e com um microfone em mãos. ― Sejam louvados em nome do senhor Jesus! ― Ele grita.

― Amem! ― Todos se levantam, e logo após, se sentam outra vez.

― Hoje eu quero começar pedindo orações... ― Ele para de falar por um momento. ― Primeiro quero pedir para que Roberta, nossa fiel seguidora, seja recebida pelos braços de nosso Senhor. Perdemos uma irmã para um crime hediondo cometido por uma pessoa sob a posse do mal. ― Renato então se lembra do necrotério, onde havia uma mulher com o mesmo nome na mesa de metal. ― Receba Roberta Senhor. ― Ele continua a gritar. ― Perdemos também dois fieis escudeiros para o mundo do mal, para o mundo da perdição senhor! ― Ele espera que as outras pessoas da igreja o louvem, e todos o fazem, inclusive Yan. ― Quero que o senhor os ajude a encontrar o caminho de volta, que os ajude a encontrar o caminho da salvação, porque sempre há espaço na casa do Senhor!

― Amem! ― Todos gritam.

― Senhor Deus, traga de volta a Bárbara para a gente, traga! ― Ele levanta as mãos para cima. ― A tire desse do caminho das drogas Senhor Jesus, faça com que ela volte, nós iremos aceitá-la de volta a nossa casa Senhor, a nossa humilde moradia!

― Seja louvado senhor! ― Todos gritam outra vez, deixando Renato completamente perdido.

― Senhor Deus, traga de volta também o Arthur Senhor. O tire do mundo do homossexualismo e da prostituição. Traga ele de volta, vamos o banhar nos campos do senhor outra vez, o tirar do pecado e reconstruir seu caminho para o céu, assim como fizemos com outros. Seja louvado Deus! Seja louvado!

A medida que aquilo continuava, Renato apenas arregalava os olhos.

A caminho dali, ele achava que a experiência não seria tão impactante e surreal como estava sendo. O jovem pensava que era coisa de sua cabeça, que estava exagerando, mas até agora, até exato momento, nada estava bem para ele, que se sentia extremamente desconfortável.

― O demônio se apossou do corpo de dois de seus filhos meu Deus, e eu sei que o Senhor vai os trazer de volta para nós, para o meio das outras ovelhas. Todos vão caminhar juntos Senhor, eu te peço! ― Ele grita.

― Amém Senhor! ― Yan era o que mais assustava Renato naquele momento, que nem sequer conseguia se levantar.

― Sejam louvados em nome do Senhor! ― Ele grita, com a Bíblia em suas mãos.

― Amém! Amém!

Depois que todos voltam a se sentar, a banda a frente começa a tocar um hino qualquer, que todos na igreja, com exceção de Renato, sabiam cantar.

Ao perceber a dificuldade do jovem, Yan deu ao Renato um pequeno livreto para que ele acompanhasse a letra, e por tentativa, Renato começou a cantar, acompanhando todos, mas ele não conseguia se identificar com nada, não conseguia se identificar com a letra que agradecia a Deus por todas as coisas boas que ele fizera na vida de seus fieis. O jovem não conseguia se identificar quando as palavras que saiam de sua boca diziam obrigado a um ser todo poderoso que cuida de seus filhos e não os deixa sofrer. Ele não conseguia acreditar nisso.

― Agora vocês podem se sentar irmãos! ― Ele fala, com a voz um pouco mais baixa. ― A banda vai tocar um hino baixinho enquanto as irmãs Dolores e Matilde passam recolhendo a oferta de vocês.

A medida que as duas mulheres iam passando, a banda começou a tocar um hino em algum tom baixo, deixando com que os fieis cantem um pouco enquanto olham para frente, com os olhos no livreto.

Renato observava tudo àquilo com atenção, observando a quantia que cada pessoa no seu campo de visão colocava na caixa preta que cada mulher segurava, e vendo as notas de valor alto, ele parou para pensar no que a igreja faria com isso, e sua dúvida acabou saindo de sua boca.

― O que a igreja faz com tanto dinheiro? ― Renato pergunta, sem nem ao menos se lembrar que Yan estava ao seu lado.

― Doa para instituições de caridade. ― Yan diz ao tirar uma nota de cem de sua carteira e entrar para a mulher, que sorrindo, coloca a nota dentro da caixa. ― É por uma boa causa.

Apesar de não gostar de julgar, a primeira coisa que se passou na cabeça de Renato era que tudo aquilo era mentira. Ele conhecia as instituições de caridade da cidade, já havia ido às duas várias vezes na época em que cursava o ensino médio para algum projeto da escola, e isso não tem dois anos ainda, então, o jovem sabia que aquilo era mentira, porque conhecia a dificuldade que os jovens órfãos passavam, assim como os idosos.

― Entendi... ― Ele diz, acompanhando aonde a caixinha ia.

Depois de alguns minutos e duas músicas depois, as tais irmãs que recolheram a oferta se sentam com as respectivas caixas perto do pastor, que agradece a todos pela ajuda, alegando que estavam fazendo o trabalho de Senhor, ajudando o próximo.

― Meus irmãos! Agora vamos reservar o momento que temos com Deus para aqueles que foram salvos por suas misericordiosas mãos! Amém!

― Amém! Que Deus seja louvado!

― Quem quer começar? ― Ele pergunta, olhando para a multidão.

― Eu começo pastor! ― Yan levanta, se pronunciando.

― Então suba irmão, compartilhe sua história conosco mais uma vez.

Yan pede licença a seus irmãos e passa entre eles, indo em direção ao pastor, que sorria, mostrando todos os seus dentes. Quando o jovem chega lá em cima, tem sua mão apertada pelo homem de terno, que o parabenizava por uma espécie de conquista.

― Pode falar irmão, todos estão te ouvindo. ― O pastor passa o microfone para Yan, que sorri.

― Boa noite irmãos. Caso não se lembrem, meu nome é Yan!

― A paz do senhor! ― Todos falam outra vez.

― Eu queria compartilhar mais uma vez a minha história com vocês. Gostaria que os novos fieis, aqueles que estão aqui pela primeira vez ― Ele olha diretamente para Renato, se se encolhe na cadeira, já que todos olham pra ele ― soubessem de tudo o que eu passei, da vida que eu tive e finalmente, da vitória que Deus colocou em minhas mãos. ― Todos gritam outra vez. ― Eu fui um adolescente impossível. Vivia fazendo coisas erradas, desrespeitando as pessoas, tratando todo mundo mal, falando pelas costas... ― Ele para, se lembrando de seu passado. ― E com um tempo eu me entreguei ao álcool, ao cigarro, ao sexo, e por fim, as drogas mais pesadas. Eu comecei a não me importar com as pessoas ao meu lado, a as tratar ainda pior. Vendi minhas coisas para pagar meus vícios, vendi as coisas da minha mãe, do meu irmão, e isso me levou ao fundo do poço, até que eu fui internado na clinica que tem parceria com essa igreja incrível. ― Ele olha para todos a sua frente. ― Passei quase um ano lá, convivendo com todo mundo, me livrando dos meus vícios e aceitando Jesus na minha vida.

― Amém irmão!

― Amém irmãos! ― Yan grita. ― Graças ao pastor, a Deus, a vocês, eu estou salvo hoje. Graças a todos que eu estou bem. Se não fosse por todos vocês, quem sabe onde eu estaria hoje. Amém senhor!

― Amém irmão!

― Nunca me canso de ouvir sua história de superação Yan! ― O pastor fala, pegando o microfone de volta. ― Eu vi que você trouxe um amigo com você hoje, um novo fiel.

― Sim... ― Yan pega o microfone. ― O nome dele é Renato. Ele trabalha comigo e com meu irmão no restaurante.

― Que belo nome para um fiel. ― Ele sorri. ― Renato, venha até aqui. ― O pastor diz e entrega o microfone para Yan.

― Renato, suba! ― Yan pede.

Tentando se esconder de tudo e todos naquele momento e sentindo extrema vergonha, Renato começa a se esconder no banco, como se quisesse desaparecer dali naquele momento, mas infelizmente ele não conseguiu. Yan acabou apontando onde ele estava e os outros fieis, por pressão, acabaram fazendo com que ele subisse.

A passos lentos, Renato caminha até o altar, suando frio, como se estivesse encarando sua sentença de morte. Seu coração acelerava, batia muito rápido, e ele conseguia o sentir com clareza no peito, assim como no pescoço. Ele estava nervoso de mais.

― Boa noite Renato. ― O pastor fala no microfone.

― Boa noite... ― A voz de Renato é trêmula.

― Nos fale um pouco sobre você Renato. ― Ele sorria.

― Bem... Meu nome é Renato, eu tenho dezoito anos e trabalho no restaurante com o Yan. ― Renato ri sem graça.

― Me conte sobre a sua vida, sobre seus estudos, seus pais...

― Eu... É, eu completei o ensino médio há quase dois anos e trabalho no restaurante desde então. Não tem muito o que contar.

― Fala pra ele sobre sua mãe Renato, ele pode pedir a Deus que a abençoe... ― Yan fala perto de Renato, deixando o pastor ouvir.

― O que há com sua mãe meu jovem? Ela está doente?

― Não... ― Renato se sentia extremamente desconfortável naquele momento.

― Ela deixou a família? ― Ele pergunta outra vez.

― Ela morreu. ― Renato fala, não aguentando mais ficar ali em cima.

― Sinto muito em ouvir isso meu filho, mas Deus sabe o que faz. ― Ele diz e Yan resolve se intrometer no meio da conversa.

― Ela se matou pastor... ― Ele fala baixo, fazendo com que Renato o encare com raiva.

― Ela tirou a própria vida? ― Ele parecia estar chocado, assim como os outros fieis. ― Quando foi isso meu jovem?

― Eu não quero falar sobre isso. ― Renato diz, sem se alterar.

― Mas você tem que colocar pra fora, deixar sair, tem que ajudar sua mãe a chegar ao reino dos céus.

― Não quero conversar sobre minha mãe, por favor...

― Eu estou aqui para te ajudar Renato, vamos livrar você desse fardo, tirar suas amarras do passado, fazendo você se esquecer dessa tragédia e de uma mulher que não deu valor a vida que tinha. ― Renato não estava acreditando em tudo o que ouvia.

― Eu não quero esquecer minha mãe... ― Renato ainda se lembrava do pouco tempo que teve com ela.

― Você não pode se manter fixo a uma pessoa que não deu valor a vida, a própria família. Isso é errado.

― Ela teve depressão pós parto, não foi culpa dela... ― Renato tinha lágrimas nos olhos.

― Ela tirou a própria vida sabendo que tinha um filho, que tinha um dever a ser cumprido.

― Ela tirou a própria vida porque tinha um marido abusivo... ― Renato não sabia se Rodolfo batia ou não em sua mãe, mas dada a situação, supor não era errado.

― Ela tinha que procurar a igreja meu filho, só a igreja e Deus poderiam ter salvado ela. ― O pastor insistia.

― Eu não quero falar da minha mãe! ― Renato grita, mal acreditando no que havia feito.

― Vocês estão vendo irmãos? Estão vendo? É isso que acontece com quem escapa do caminho de Deus, com quem é solto no mundo, com quem corre com os Demônios! É isso que acontece com um jovem sem Deus no coração!

― Salva ele pastor! ― Todos gritam, inclusive Yan. ― Tira ele desse mundo! Tira! ― Todos estavam com as mãos para cima.

― Eu vou ajudar essa pobre alma, eu vou! ― Grita o pastor.

Sem nem saber como, Renato sente seus dois braços serem segurados por dois homens que ele não conhecia, e no momento em que o pastor chegou perto de seu corpo e colocou a mão em sua cabeça, Renato começou a se debater em desespero, sem saber o que estava acontecendo.

A força que usavam para o segurar era a mesma que seu pai usava para lhe agredir, todas as vezes, e mediante aquilo tudo, o jovem se viu apavorado, tentando se soltar, se debatendo com força, se lembrando de todas as vezes que fora agredido por seu pai, de todas as vezes que fora segurado assim para que pudesse apanhar outra vez, e isso o deixou extremamente instável.

― Me solta! ― Ele grita mais uma vez.

― Isso é o coisa ruim tentando se apossar de você! É ele! ― O pastor começa a gritar.

― Me deixa ir pra casa! ― Naquele momento, sua casa parecia ser mais segura.

― Deus todo poderoso! Que me escute nesse momento Senhor, que ajude essa pobre alma a se livrar do que consome sua alma! Ô Senhor! ― Ele aperta a cabeça de Renato, o balançando. ― Abandone esse corpo! Você não é bem vindo! ― Ele aperta ainda mais a cabeça de Renato, o deixando bambo, e com um pouco mais de força, Renato vai ao chão, caindo de joelhos. ― Sai!

Ele aperta ainda mais, machucando Renato, que em segundos, abre os olhos novamente, se balançando ainda mais, e de tanto o fazer, acaba deslocando seu ombro direito, o que o faz gritar com todo o fôlego que tinha, e o homem que segurava seu braço direito, ao ouvir o estalo e se assustar, solta o jovem, que adquire ainda mais força e se solta do outro homem, correndo para fora dali.

Sem saber o que fazer, Renato apenas corre para fora da igreja, e ao perceber o jovem fugindo, Yan vai atrás dele, com toda a velocidade que tinha.

Ao passar pela porta da igreja, Renato sente os ossos de seu ombro voltarem ao lugar, e isso lhe causa ainda mais dor, o fazendo chorar ainda mais, chorar de pavor, de medo, de puro nervosismo e medo de ter que voltar ali outra vez.

Quando ele estava chegando ao estacionamento, sente alguém puxando o mesmo braço que havia sido realocado.

Era Yan.

― Você tem que voltar! Você tem que deixar o pastor terminar!

― Eu tenho que ir embora desse lugar! Tenho que ir embora e nunca mais voltar!

― Você precisa ir a igreja! Precisa aceitar Jesus! ― Yan grita.

― Enfia seu Jesus no cu! ― Renato grita outra vez. ― Não tem Deus naquele lugar! Não tem! Eu não conseguir enxergar amor, paz e salvação lá dentro! Eu só enxerguei ódio, falsidade, medo e estelionato! Só!

― Não fala isso!

― É a verdade!

― Não é! As pessoas ali dentro se amam, se respeitam! Eles são irmãos!

― O que fizeram comigo é respeito? ― Renato levantou o braço para mostrar as marcas, mas ao perceber que elas não estavam mais ali, ele os abaixou. ― Aquele homem apertou minha cabeça, me fez ir de joelhos ao chão!

― Você caiu porque o demônio estava saindo de você!

― O que? O demônio? Meu Deus... ― Renato coloca as mãos na cabeça, não acreditando que aquilo estava acontecendo. ― O que fizeram como você?

― Me salvaram! ― Yan grita, apontando o dedo para Renato. ― Eles me salvaram, Deus me salvou do vício!

― Se o Pedro prefere você drogado é porque tem alguma coisa errada! ― Renato fala.

― Ele não disse isso! ― Yan protesta.

― Disse! Ele falou na minha cara!

― Mentiroso!

― Mentiroso? Olha pra você Yan! Você se tornou patético! Eu não te conhecia antes, mas eu preferia conversar com um drogado a que conversar com alguém que sofreu lavagem cerebral!

― Você está possuído! Não quer dizer as palavras que está falando!

― Eu não estou possuído! ― Renato grita ainda mais alto. ― Se há alguém possuído é o homem que se diz meu pai! Se tem alguém possuído é ele, que me bate toda semana, que me agride, que me estuprou quando eu tinha treze anos e tentou hoje outra vez! Se tem alguém possuído é ele!

― Seu pai te ama, ele não faria isso!

― Cala a sua boca! ― Renato se aproxima, não acreditando que tudo aquilo estava saindo de sua boca. ― Cala a sua boca! Você não sabe nada da minha vida! Não sabe tudo o que eu passei!

―Nenhum pai faria isso com o próprio filho! ― Yan grita, como se não vivesse no mesmo mundo em que Renato.

― Em que mundo você vive? ― Renato coloca as mãos na cabeça outra vez. ― Porque eu vivo em um mundo onde uma mulher pari uma criança e joga ele na lama. Eu vivo em um mundo onde uma mulher que se diz mãe mata o filho e esconde o corpo no sofá! Eu vivo em um mundo onde uma filha da puta mata os próprios pais por causa de dinheiro e depois é aceita na igreja, onde todos dizem que ela foi perdoada. Eu vivo em um mundo patético, horrível, medonho e mesquinho. Tudo o que eu vejo é morte, destruição, assassinato, desastre natural e Deus, o seu Deus, não faz nada para ajudar.

― Ele faz sim! ― Yan grita, possesso.

― Faz o que? Me fala o que ele faz! Me fala! Porque enquanto ele está lá em cima, comendo pipoca e assistindo essa merda toda, o mundo só está piorando, a fome só está aumentando e as pessoas doentes só estão ficando mais doentes. Deus não está nem ai para ninguém, muito menos para as pessoas da sua igreja, muito para menos você! ― Ele aponta o dedo no rosto de Yan, que permanecia firme.

― Retire o que você disse!

― Nunca! Essa é a verdade! Não vou me desculpar com você por eu ter conseguido abrir meus olhos e olhar todo esse mundo como ele realmente é, um lixão fedendo a chorume! Eu sou um lixo, você é um lixo, seu pastor é pior ainda, ninguém presta nesse mundo, então cala a porra da sua boca e vê se acorda pra vida! Você está indo para um caminho sem volta, um caminho de falsa felicidade!

― Não fale que a minha felicidade é falsa só porque seu pai abusa de você! ― Foi nesse momento que Yan levou o primeiro tapa no rosto, e ao colocar a mão sobre a face, se lembra que nunca ninguém havia o batido daquela forma, nem mesmo sua mãe.

― Nunca mais fale isso! ― Renato chega perto do jovem, quase a ponto de selar seus lábios aos dele. ― Você foi procurar felicidade na igreja não foi? Pois é... ― Renato tentava com tudo para não se desesperar e chorar. ― Seus pais cuidaram de você? Seus pais te amaram, te trataram bem, te deram carinho... Seus pais e seus irmãos fizeram isso?

― Não é da sua conta! ― Yan grita outra vez.

― Eles fizeram! ― Renato grita. ― Olha o Pedro, olha para ele! Ele veio de uma família carinhosa, que fez de tudo para o bem estar dos filhos! Eu sei! E sabe por que eu sei que o Pedro vem de boa família? Porque eu venho da merda! Porque eu venho de uma família agressiva, uma família composta por duas pessoas, sendo que uma sempre humilhou a outra, sempre o tratou como esposinha, sempre agrediu e maltratou! Eu venho de uma família onde o filho fora abusado pelo pai e fingiu que foi apenas um sonho, porque a dor era de mais para suportar! Eu venho dessa família! E você me vê por ai usando drogas e caindo pela rua a fora? Não! Você é fraco, você é um covarde que precisou de alguém para te ajudar, uma pessoa que nem se importa com você.

― Cala a boca!

― A porra do seu pastor só quer a nota de cem que você dá pra ele toda vez que entra na porra daquela igreja! Ele só que sua nota de cem pra pagar uma prostituta, para trair a esposa dele com outra mulher e comprar um presentinho pra mesma! Melhor! Ele quer seu dinheiro para pagar um homem para comer o rabo dele! É isso!

― Ele não é viado! Ele vai pro céu!

― Alguma coisa contra os viados? ― Renato pergunta, já chorando.

― Que todos eles morram!

― Então eu vou morrer! ― Renato diz, se lembrando novamente da ironia do destino. ― Porque eu sou viado, sou uma bichinha, um pederasta, um sodomita!

― Cala a boca! ― Yan estava possesso.

― Eu gosto de homem Yan, eu amo homens e vou morrer sendo assim! Não é demônio que eu tenho! Não é o demônio o culpado por meu pai ser um monstro! Não é o demônio o culpado pela minha sexualidade!

― Cala a boca! ― Yan já estava alterado.

― Não! Não vou calar enquanto você não perceber a merda que está fazendo com sua própria vida! Isso não é viver! Não é! Você acha que está bem na igreja, que se sente bem lá, mas isso é tudo o que você tem! Se tirarem a igreja de você não sobra nada, nada! Se tirarem ela de você, vai acabar voltando a se drogar de novo, a cair no mundo, vai voltar a ser pisado por todos em um beco escuro, onde vão te estuprar porque você vai estar dopado de mais para fazer alguma coisa! A igreja não te ajudou porra nenhuma!

― Ajudou! ― Yan se via abalado com todas aquelas palavras.

― Você mesmo disse que foi internado a força! Isso mostra que você é um fraco, que não teve força de vontade para parar! A sua igreja só te colocou medo! Ela só criou uma situação ilusória onde você iria para o pior dos lugares caso usasse droga! Só! Ela te deixou com medo! Você não se livrou do vicio, ele apenas ficou adormecido dentro de você, correndo o risco de voltar a qualquer momento! Você continua um drogado, um merda! Você continua o mesmo Yan de sempre! Sai da porra desse lugar que está consumindo sua alma, te impedindo de ser quem você realmente é e procure ajuda de verdade, em uma clinica de verdade ou a ajuda de alguém que se importe, porque nesse momento, você continua o mesmo, mas fica se escondendo atrás de um livro grosso que custa quase meio salario! ― Renato se referia a bíblia.

― Isso é a palavra de Deus! ― Yan aponta para a Bíblia.

― Essa é a palavra do homem! Não foi Deus quem escreveu a Bíblia!

― Ele falou com os profetas... ― Yan é interrompido.

― Profeta meu cu! ― Renato estava se soltando ainda mais. ― Profetas são os pastores? Profetas são aqueles que levam um “tetraplégico” para o palco e ele sai de lá andando como se nada tivesse acontecido? Profetas são aqueles que “emagrecem” uma mulher ao vivo? Me faça um favor Yan, acorde!

― Se você tivesse procurado a igreja, sua mãe não tinha morrido e seu pai não tinha te estuprado! ― Yan leva outro tapa na cara, ainda mais forte que o primeiro, e então se vê abalado com o que aconteceu.

― A culpa não é minha... ― Renato já havia diminuído o tom, e naquele momento, passou a realmente chorar na frente de Yan. ― A culpa de tudo isso não é minha, não é por eu não ter procurado a igreja. A culpa disso é deles, dos meus pais. Eu não pedi para sofrer tudo o que eu sofri, tudo o que eu estou sofrendo, apenas tive o azar de nascer deles... ― Renato tentava parar suas lágrimas, mas não conseguia. ― Você devia dar graças ao seu Deus por ter nascido em uma família amorosa que se importar com os próprios filhos, porque eu não tive essa sorte, mas saiba, que se eu tivesse, eu não teria um passado com drogas e um futuro com a cabeça enfiada em uma mentira contada para deixar as pessoas amedrontadas. Você teve sorte, ao contrário de mim, que tive que suportar tudo sozinho sem a ajuda de ninguém, e quando, dezoito anos depois, aparece alguém para me ajudar, seu Deus o tira de mim da pior maneira possível, me deixando sem o homem que eu amo, então agradeça a seu Deus por seu único problema ser as drogas e não agressões físicas, emocionais e estupro. Agradeça a ele por isso.

Sem dizer mais uma palavra sequer, Renato dá as costas para Yan e começa a caminhar sem rumo, sem saber o que fazer. Toda aquela conversa havia o destruído outra vez, o deixando mal. Toda aquela conversa novamente abriu suas feridas, e essas, ao contrario das exteriores, não iriam cicatrizar em três segundos. Essas, as cicatrizes da alma, poderiam demorar toda uma eternidade para finalmente desaparecerem.

Comentários

Há 1 comentários.

Por Nando martinez em 2016-04-04 18:16:08
Etah porra ! Concordo com vc ,do o melhor capitulo até hoje que eu quase fiquei como o Renato como se fosse eu ali gritando e ficando emputecido com tudo isso! Mas ta meu deus ! Os demônios do Renato eram tantos que quando saiu deslocou o ombro inteiro? Ahahahaha ou era so mais um dos ajudantes de papai noel que quebraram para falar que foi o que aconteceu? Me deu uma raiva esse Yan ,aposto que é a Universal né? Kkklkkkkk