A Vida & Morte De Renato - Capítulo 18

Parte da série A Vida & Morte De Renato

Boa Noite...

Me desculpe gente, mas hoje serei breve...

Cheguei de viagem as sete da noite, depois de quase dez horas dentro do carro, e apaguei. Acordei agora para postar o capítulo para vocês, conforme prometido, mas vou voltar a dormir. Estou cansado de mais e preciso dormir um pouco. Rsrsrs. Sem contar que estou todo queimado e ardido por causa do sol... Tomar banho foi uma delícia... Hahahahahaha.

Infelizmente não vou conseguir responder os comentários hoje. Meus olhos já estão pregando...

Um beijão para todos, e obrigado.

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Depois que saiu do restaurante, Renato ainda continuava no centro da cidade. Ele ficou ali porque estava se sentindo bem, finalmente, depois de dezoito anos estava se sentindo bem consigo mesmo, e por isso, resolveu, pela primeira vez em sua vida, caminhar por entre as pessoas sem se importar com o que estão pensando ao olhar para ele.

Quando ele passou em frente a uma loja de produtos eletrônicos, Renato se lembrou que não tinha mais um celular, já que não sabia do paradeiro dele, então o jovem entrou, e não demorou cerca de dez minutos para escolher um modelo mais em conta, mas ainda sim, um bom aparelho de celular, que já veio com um chip, novo em folha, um que ninguém tinha o número.

A segunda coisa que ele comprou no mesmo lugar foi um notebook. Renato nunca havia tido um computador em casa, e o único contato que tinha com o aparelho era durante as aulas de informática na escola, lugar que ele não ia há tempos, então ele pediu ajuda ao atendente e escolheu um mais barato, já que ele não faria muito uso dele.

Depois de ter pagado pelo celular e pelo notebook, Renato sai da loja, indo até a rodoviária da cidade, que era ali perto. O rapaz ainda teria que passar outra vez na delegacia para buscar as cinzas de Caled, e ele não podia deixar isso pra depois, e por isso decidiu o fazer de uma vez.

No instante em que chega na delegacia, o jovem vai direito para a mulher responsável pela recepção, que assim como os outros, não tinha cara de bons amigos.

― Eu gostaria de falar com o responsável pelo necrotério. Me pediram para buscar as cinzas de um amigo.

― Aguarde um momento. ― Ela pega o telefone e começa a conversar com alguém do outro lado da linha. ― Qual o nome do falecido?

― Caled Erico.

― Caled Erico. ― Ela diz e a outra pessoa a responde. ― Sabe o caminho?

― Sim.

― Então vai, o responsável já está te aguardando.

Depois da intensa grosseria da mulher, Renato caminha até o necrotério, feliz por não haver quase nenhum policial em seu caminho para o incomodar.

Chegando no local, Renato espera para que o responsável apareça e o mande entrar, mas essa pessoa não apareceu, então o jovem bate na porta.

― Pode entrar. ― Diz um homem lá de dentro.

Renato então entra, passando pela porta dupla e caminhando até o local, dominado por uma sensação estranha de medo e enjoo.

― Renato? ― Diz um homem com as mãos sujas de sangue e com um avental nas mesmas condições.

― Sim... ― Renato diz ao se aproximar e se deparar com o corpo de uma mulher aberta sobre a mesa de ferro, e a visão lhe embrulha o estômago por completo.

― Essa é a Roberta, mais uma das vítimas do nosso assassino... ― Diz o homem como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo.

― Mais uma? ― Renato se assusta. ― Porque ninguém está sabendo?

― Porque os policiais estão fazendo o possível para manter em segredo. Deixaram apenas um corpo vir a tona para que soubesse que o assassino estava de volta, mas depois do primeiro, chegaram mais cinco ou seis. ― Sua voz não tininha tons de emoção.

― E agora? ― Renato faz a pergunta a si mesmo.

― Acho bom o pequeno e frágil jovem tomar cuidado ao andar a noite, pode ser a próxima vítima. ― O homem diz, sem olhar para Renato, que se assusta. ― É o que eu faria, quer dizer. ― O homem se vira, com pedaços da mulher em sua mão. ― Desculpa, força do hábito. Suas cinzas estão em cima da minha mesa, faça bom proveito delas jovem. ― Ele sorri para Renato, que se vira e vai até a mesma, pegando o recipiente de madeira com as cinzas de Caled.

― Obrigado. ― Renato agradece sem o olhar.

― As ordens meu jovem... ― O homem sorri. ― Até mais...

Sem nem pensar duas vezes ou olhar para trás, Renato sai daquele lugar. O clima criado por aquele homem fora sinistro e intenso de mais, e isso não lhe fez bem.

Na medida que saia da delegacia, o jovem Renato pensava com seus botões onde se despediria do belo homem ruivo, e contrariando os seus medos e receios, ele decidiu ir ao lugar onde se viram pela última vez, na ponte em que Renato foi empurrado pelo mesmo.

Chegando lá, naquele mesmo lugar, em meio aos entulhos, Renato se apoiou na grade de proteção e olhou para baixo, sentindo um misto de medo e alivio. Ele então sorri, ao abrir a pequena urna de madeira.

― Eu jogaria suas cinzas em sua cidade natal, ou em algum lugar importante para você, mas não sei onde nasceu ou sequer alguma coisa importante sobre sua vida, então decidi lhe deixar onde nossos destinos se cruzaram pela última vez. ― Renato olha para baixo mais uma vez. ― Olha o que você aprontou comigo Caled... ― Renato sorri. ― Se eu contar para alguém, vão pensar que eu sou louco, ou irão querer fazer testes em mim, então eu vou ficar de boca fechada, o que eu acho que você prefere. ― Renato pega um monte de cinzas em suas mãos. ― Mesmo em pouco tempo, você foi importante pra mim, realmente importante. Depois de minha mãe e de Leandro, foi o único que se importou, e eu vou ser eternamente grato por isso. ― Renato joga um pouco das cinzas e começa a rir. ― Literalmente dizendo, já que você me fez o favor de me aprontar essa. ― Seus olhos brilhavam. ― Eu estou com medo do que eu vou descobrir, do que eu vou sentir... ― Ele pega outro monte de cinzas e joga, novamente. ― Estou com medo do que vai acontecer comigo, se irá doer, como irei reagir, mas por outro lado, estou agradecido por você ter me dado essa oportunidade. ― Ele joga outro monte de cinzas. ― Eu consegui me lembrar do que você me disse antes de me empurrar. Você disse que eu serei alguém de muita importância, alguém de bom coração, e eu espero que eu possa ser o que você viu, porque eu odiaria te desapontar. ― Renato derruba uma lágrima. ― Em tão pouco tempo você foi tudo o que eu não tive em toda a minha vida, e eu lhe agradeço por isso... ― Renato para por um breve momento e seca suas lágrimas. ― Descanse em paz, Caled Iricus, que tudo fique bem.

Renato despeja toda a cinza por entre as árvores e depois joga a pequena urna, derramando mais uma lágrima para aquele que fora muito importante em sua vida.

Depois de se virar de costas para a ponte, para o pequeno precipício onde havia sido empurrado, o jovem se depara com as paredes extensas do cemitério, e no intuito, começa a caminhar até lá.

Quando chegou no portão de entrada, quinze minutos depois, o jovem entra, cauteloso, e caminha até onde o corpo de Leandro estava enterrado, e não foi difícil de achar, já que o caminho havia sido decorado pelo jovem, que se importava de mais para não saber a exata localização do amado jovem policial.

Depois de encontrar a quadra onde Leandro estava, Renato caminha pelo local, até se abaixar perto da lápide do policial.

― Eu vim te visitar mais uma vez. ― Renato se senta ao lado. ― Queria começar pedindo desculpas pelo que meu pai fez aqui da última vez. Nunca vou o perdoar por isso. ― Renato encosta sua cabeça no granito. ― Você não faz ideia de como está a minha vida Leandro, e eu gostaria muito que você tivesse aqui para me ajudar, para me acalmar, porque tudo o que estou sentindo nesse momento é estresse. Não estou sabendo como agir. ― Renato abaixa a cabeça. ― Talvez se você estivesse aqui nada disso teria acontecido, ou teria e seria mais um problema. Não tem com saber com certeza. ― O jovem sorri. ― Eu estou enfrentando meu pai, não estou o deixando passar mais por cima de mim. Eu sei que você queria que eu fizesse isso, que me colocasse de pé diante dele, e eu estou fazendo. Espero que esteja orgulhoso de mim. ― Renato se levanta, se colocando de frente. ― Eu consegui uma promoção. Vou ser Maitre no novo restaurante do Pedro, e vou receber mais, assim vou poder me mudar e finalmente ter um cachorro, e um gato. ― Renato começa a chorar um pouco. ― Estou com saudades de você, do seu sorriso, do seu toque, dos seus beijos, da sua presença... Mas aos poucos essa saudade e essa dor estão ficando suportáveis, e eu sinto com se eu estivesse me esquecendo de você rápido de mais, e eu não quero que isso aconteça meu bem...

― O que você está fazendo aqui? ― Uma mulher grita ao se aproximar de Renato. Era a esposa de Leandro.

― Eu, eu... ― Leandro se vira para ela, completamente constrangido.

― Você acabou com minha vida seu viado de merda! ― Ela grita, e outras pessoas que estavam no cemitério olham pra ela, que não sentia vergonha pelo escândalo.

― Eu já vou sair, desculpa... ― Renato estava prestes a sair, mas a mulher o impede, pegando seu braço e o jogando com tudo sobre o túmulo, e ao sentir o impacto, Renato teve a certeza de que um corte havia se formado em sua cabeça, e sabendo disso, esperou por cerca de cinco segundos até se virar outra vez.

― Você destruiu meu casamento! Me fez passar vergonha! Me humilhou na frente da cidade toda!

― Eu não queria isso...

― Não queria? Não deveria ter saído com homem casado então! Sua vagabunda!

― Olha, eu... ― Renato sente um tapa no rosto e nada faz.

― Você não tem o direito de falar nada! Você não tem o direito de se defender, não tem!

― Eu o amava... ― Renato diz, baixo.

― Você o que? Repete se for homem! Repete e vai levar um tapa no meio dessa sua cara! ― Ela estava furiosa, mas em momento algum ela aparentou estar triste.

― Eu o amava. ― Renato fala, levando dois tapas no rosto.

― Você me fez ficar mal falada na cidade! Todo mundo olha para mim e se lembra da pobre coitada que foi trocada por um homem, por um adolescente que acabou de entrar na puberdade! Além do desgraçado ter me traído com um macho, me trocou por um menor de idade. É um pedófilo!

― Ele não é um pedófilo! ― Renato grita. ― Ele não é! Eu já tenho dezoito anos, tinha dezoito anos desde quando nos conhecemos! Você não pode falar isso dele!

― Eu posso falar o que eu quiser daquele imprestável porque eu sou a esposa dele, eu tenho um filho dele, e você não tem nada!

― Eu tenho o amor dele por mim, e isso é melhor do que tudo! ― Renato grita, com lágrimas nos olhos.

― Você não passa de uma putinha, uma vagabunda que ele comeu pra satisfazer as necessidades dele. Você é apenas isso! ― Ela grita, transtornada.

― Que baixaria é essa no túmulo do meu filho? ― Grita uma senhora de idade ao se aproximar.

― Dona Leonora? ― Diz a mulher ao se virar e dar de cara com a ex sogra. ― Eu estava expulsando esse insolente daqui. Ele não merece estar perto do nosso amado Leandro.

― Nosso amado Leandro? ― A senhora chorava. ― Eu sei que você não o amava, que estava com ele apenas pelo status que ele lhe dava, e pelo salario gordo de quase nove mil.

― Você está errada, eu amava o seu filho... ― Se podia ver em seus olhos que ela mentia.

― Você não ama nem o seu próprio filho sua infeliz! ― Ela levanta a voz. ― Você não tem o direito de expulsar ninguém daqui, não tem! A única que vai sair é você!

― Eu não vou sair! ― Ela grita.

― Vai sim! Você acha que eu não sei que você vem aqui para pagar de esposa triste e infeliz sendo que já está saindo com outro?

― Isso não é verdade.

― Eu tenho olhos e ouvidos nessa cidade, eu sei das coisas. Não é porque sou velha que sou cega, surda e muda. Agora saia daqui e não volte mais. Você já está recebendo a pensão do meu filho por estar casada com ele, então se dê por satisfeita e desapareça da minha frente.

Contrariada, a mulher saiu do cemitério, deixando apenas Renato e a senhora de idade, que se aproxima da lápide do filho, com os olhos brilhando e lágrimas rolando por seu rosto.

― Eu já vou. Me desculpa por tudo isso, eu prometo que não apareço mais. ― Renato fala, com dor no coração e lágrimas nos olhos

― Não precisa ir. ― Ela olha para o jovem. ― Você não precisa sair.

― Por quê?

― Porque eu sabia do seu relacionamento com meu filho, eu sempre soube. ― Ela olha para o túmulo uma última vez e então encara Renato, que estava em choque.

― Como? ― Renato pergunta.

― Eu conheço muito bem o meu filho, desde que ele era muito novo. Eu sempre soube que ele era diferente, mas ele não se aceitava, e eu não poderia dizer tais coisas a ele, então o deixei traçar o próprio rumo, e deu no que deu. Uma mulher grávida, um casamento infeliz e uma tragédia... ― Ela volta a chorar.

― Mas... Mas como você descobriu?

― Meu filho se casou com aquela mulher com um peso no coração. Ele não queria, eu sabia disso, mas ele é cabeça dura, e então o fez. Ele se casou infeliz e permaneceu infeliz, até um certo tempo, quando ele veio para essa cidade, e depois que ele veio para cá que comecei a notar a mudança de comportamento. Os sorrisos, os abraços calorosos que ele me dava, e eu soube que ele tinha encontrado alguém, e na hora eu soube que esse alguém era um rapaz, porque eu conheço meu filho, e ele sempre foi gay, sempre foi para mim, então o único motivo da felicidade dele só poderia ser um rapaz, e eu estava certa... ― Ela faz uma pausa. ― Eu fui a uma das confraternizações da delegacia, em uma onde você estava, e de longe, mesmo não enxergando bem, eu conseguia perceber a cumplicidade que ele trocava com você, os olhares que vocês se davam, os sorrisos, e naquele dia eu soube que era você.

― Me perdoa, por favor... ― Renato começa a chorar. ― Eu não queria que nada disso tivesse acontecido...

― Eu sei que não, eu sei...

― Eu amava o seu filho, eu o amava com todas as forças que eu tinha.

― Eu sei que amava meu jovem, assim como eu sei que ele também te amava, muito, pois eu conseguia ver nos olhos dele o quanto.

― Eu sinto falta dele... ― Renato não conseguia suportar.

― Eu também. ― Ela sorri em meio as lágrimas. ― Mas com o tempo a saudade diminui. Com o tempo ele se torna apenas uma boa lembrança.

― Aquele homem vai pagar pelo que fez ao Leandro... ― Renato se refere ao assassino.

― Vai sim querido, mas deixe esse trabalho para a polícia, não se envolva. Não quero que se prejudique bancando o justiceiro.

― Tudo bem...

― Agora eu tenho que ir meu filho. Espero que tudo corra bem em sua vida, e que se torne um homem incrível. ― Ela sorri.

― Obrigado... Desejo tudo de bom para você.

― Obrigado.

Depois que Renato permanece sozinho com Leandro por mais alguns minutos, ele finalmente se despede, deixando um singelo beijo na lápide do amado, onde se encontrava o seu nome, e com esse gesto, o jovem se despede do amante perdido, se despede do melhor homem que conheceu em toda a sua vida, do homem que amou com todas as forças que tinham, e do homem que provavelmente guardaria para sempre no peito, em um lugar especial dedicado apenas a pessoas que fazem parte do seu coração, onde ele ocuparia todo o espaço.

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