DESPEDIDA DE SOLTEIRO – RETA FINAL - CAPÍTULO 39 – O Golpe Final

Parte 1 – A Família Toda – Narrado por Jonas

Ele me deu banho, jantamos e ficamos conversando sobre o jantar que prepararíamos na casa dele pros meus pais, afinal, ele fazia questão de me pedir em casamento. Quando estávamos divagando sobre nossas ideias a campainha toca “deve ser a sobremesa” falou o meu amor.

Ele atendeu a porta de supetão, quando nós vimos entrando três adolescentes e uma mulher bonitona, eram os filhos do Cláudio e a ex dele. Entraram nos encarando e ela se dirigiu a ele “Cláudio precisamos conversar. Vim pessoalmente e não liguei por que é importante e urgente”.

Cláudio respondeu “entra Marta. Meus filhinhos que saudades” e deu um abraço e um beijo em cada um. “Esse é o Jonas um...” eu fui rápido “amigo do delegado Mattos”. Todos me cumprimentaram com educação e eu disse “bem, eu vou deixar vocês a sós” e Cláudio me impediu, parece que ele estava decidido a abrir o jogo.

“Gente, eu não tenho segredos para o Jonas, por isso ele vai ficar. Então Marta, o que aconteceu de tão importante pra você vir em minha casa a essa hora com meus filhos?”.

Ela olhava pra mim e pro meu amor, não sei se já sacando alguma coisa ou se estranhando a situação “Bem Cláudio, eu vou ser direta. Meu marido vai ser transferido e como nossos filhos estão estudando e não quero interromper o ano letivo deles, eles precisarão morar aqui contigo”.

Caramba, aquilo foi realmente uma surpresa pra gente. Ele me olhou de maneira a perguntar: o que eu faço? Mas ele mesmo respondeu “É claro que minha casa é também a dos meus filhos, e quando isso acontecerá?”.

“Depois de amanhã. É que eu precisarei acompanhar meu marido Cláudio, não me leva a mal, mas seria uma mudança muito brusca pros meninos, quando terminar o ano letivo eu venho buscar meus filhos”.

“Marta, eu não quero ficar sem meus filhos, é claro que eu fiquei feliz por você ter tomado essa decisão. Eu prometo que nós iremos nos divertir muito viu moçada”. E eles todos correram pra abraçar o pai.

Percebi como Cláudio é querido pelos filhos e como é um ótimo pai. Gostaria de descrever toda a família.

a) Marta tinha uns 36 anos, morena clara, encorpada (sem ser gorda), cerca de 1,70, cabelos pretos e longos, era simplesmente uma mulher muito bonita ao natural.

b) Cláudio Júnior, apelidado de Diônio era o filho mais velho, até então com 17 anos e em breve completaria 18. Um jovem fortinho (quase gordinho), cerca de 1,78, era a cópia de seu pai.

c) Estela era a filha do meio, parecida com a mãe, só que bem mais magra e os cabelos um pouco mais claro, uma mocinha muito bonita e tinha acabado de completar 15 anos.

d) Maurício tinha 13 anos, era o mais bonito de todos e o mais enigmático. Ele era a junção de Cláudio e Marta e já com 13 anos era do meu tamanho e dava pra ver seu ótimo biotipo, parecia ter um carinho a mais pelo pai.

Depois do abraço Cláudio me surpreendeu dizendo “bem, já que vocês irão morar comigo, eu preciso contar uma coisa. Vocês sabem que eu passei muito tempo sozinho, mas agora eu estou namorando uma pessoa, eu estou feliz e quero tocar a minha vida”.

Marta tomou a frente e disse “Claro Cláudio, você tem todo direito de refazer sua vida e penso até que você demorou muito. Se você quiser a gente pode conhecer a moça e eu mesmo irei orientar meus filhos nesse início. Acredite, não é minha intenção causar nenhum transtorno pra você”.

“Claro Marta e você não está criando nenhum transtorno. Mas a pessoa que está comigo não é nenhuma moça, é o Jonas” falou apontando pra mim e me chamando.

Eu nunca tremi tanto em toda a minha vida. Ele segurou em minha mão e disse “essa é minha única condição. Vocês respeitarem meu relacionamento com o Jonas”.

Uns instantes de silêncio se instalaram no ambiente, que mais pareceu uma eternidade. Todos os olhares se fixaram em mim e minha timidez apareceu na hora. Marta e as crianças me olhavam dos pés a cabeça e eu procurei manter a serenidade e a altivez, sem mostrar arrogância, até que Marta quebrou o silêncio.

“Eu não sabia que você gostava de homem Cláudio. Quer dizer que você me enganou por mais de treze anos? E ainda queria que eu voltasse pra você”.

“Não Marta, eu nem sei se eu gosto de homem. Eu sei que eu amo o Jonas. Se ele fosse mulher eu também iria amá-lo do mesmo jeito, mas penso que você não tem o direito de me julgar ou questionar, foi você que foi embora da minha vida e ainda levou meus filhos pra longe de mim”.

Ele falava de maneira serena e firme. Ela o fitava e por vezes fazia isso comigo também, como se estivesse analisando a situação até que falou “mas ele mora com você? Como ficarão meus filhos com a presença desse rapaz?”.

“Ele não mora comigo, mas vai morar. Quanto a presença dele com nossos filhos, será da mesma maneira de acontece com a presença deles com o seu marido. Mais alguma coisa Marta?”.

Outro silêncio se instaurou e quem quebrou dessa vez foi Estela “eu não tenho problema com isso pai. Jonas, posso te dar um abraço?”. E já foi pegando e me apertando, o que eu correspondi prontamente e fiquei feliz por pelo menos alguém nos apoiar nesse momento. Ela se virou pro Cláudio e falou “que bom que você está refazendo sua vida pai e olha, você mandou muito bem, por que o Jonas é lindo. Alguém já te falou que você parece com o Marcos Pigossi?” Eu ri e fiz que sim com a cabeça e ela continuou “adorei, pelo menos eu não vou ter uma madrasta, vou ter dois padrastos e vou continuar sendo o centro das atenções”.

Ela conseguiu quebrar o gelo e eu finalmente falei “não se preocupe Marta, eu sou uma pessoa de bem e vou saber respeitar você e seus filhos, por enquanto é só isso que eu posso falar”.

“Está bem Jonas. Foi muito bom eu saber de tudo logo. Tenho que pensar em algumas coisas, de qualquer maneira eu agradeço a sinceridade, vocês poderiam ficar mascarando uma situação e isso seria muito pior”.

“Você sabe que eu não sou homem de fazer isso Marta e eu não mudei em nada, continuo exatamente o mesmo, mas eu quero amanhã falar com você pessoalmente, só nós dois, temos que acertar detalhes da mudança e do acompanhamento a nossos filhos”.

Ela concordou e chamou os filhos pra ir embora. Diônio só me cumprimentou, já Estela me abraçou e me beijou no rosto, com muita simpatia. Abraçou e beijou muito o pai. Maurício se aproximou de mim como se tivesse me cumprimentando e disse baixinho só pra eu ouvir “não se preocupe, eu vou transformar a tua vida num inferno”. Eu fiquei impressionado com o olhar dele.

Eles foram embora. Eu estava com medo do desconhecido. Cláudio me abraçou e eu disse “nossa amor, que coragem você teve”. Ele riu e disse “Aprendi com o Fernando. Então amor, preparado pra encarar sua nova família?”....

Continua...

Parte II – O Golpe Final

Insensatez (Eliana Printes)

A insensatez que você fez

Coração mais sem cuidado

Fez chorar de dor o seu amor

Um amor tão delicado

Ah! porque você foi fraco assim

Assim tão desalmado

Ah! meu coração quem nunca amou

Não merece ser amado

Vai meu coração, ouve a razão

Usa só sinceridade

Quem semeia vento, diz a razão

Colhe sempre tempestade

Vai meu coração

Pede perdão, perdão apaixonado

Vai porque não pede perdão

Não é nunca perdoado

http://letras.mus.br/eliana-printes-musicas/164779/

Narrado por Cristiano

No outro dia eu dormi até um pouquinho mais tarde e fui arrumando tudo. Eu pensei que tivesse pouca coisa, mas quando fui arrumar, percebi que eu consegui lotar quatro caixas de trecos, rs. Lá pelo final da tarde, depois de tudo arrumado eu ouço a campainha tocar, pensava que era Luana que tinha ido, pois ela falou que se tivesse tempo iria me ajudar. Quando eu abro a porta tomo um susto era ela, Sabrina Tupinambá, me olhando de maneira séria.

Eu senti meu corpo tremer e ela disparou “eu vim por que eu preciso falar uma coisa muito séria Cristiano e é de grande interesse para você”. Eu revidei imediatamente “Pois eu não tenho nada pra falar com você. Se você pensa que eu ainda cairei em suas armadilhas, está enganada, por que eu estou blindado e preparado pra te enfrentar, já falamos tudo o que podíamos”.

Ela deu um sorrisinho irônico e falou “Pois você devia ouvir o que eu tenho a falar, pois é do teu interesse, aliás, é uma questão de vida ou de morte”.

“Então tá sua maldita, o que você tem pra me falar? Por que você veio me procurar na minha casa? Fala por que eu tenho muita coisa pra fazer”.

Ela disse com um jeito cruel e maldoso “Eu vim dizer que eu estou grávida. Eu estou esperando um filho do Fernando. Eu engravidei dele naquele dia que nós saímos juntos da boate”.

Minha cabeça começou a doer e eu me senti até febril “você já está inventando mentira sua vigarista. Se você pensa que vai me separar do Fernando com mentiras, tire seu cavalinho da chuva, nós agora iremos morar juntos e ninguém vai nos separar”.

“Eu não estou mentindo e pra provar isso eu vim te buscar pra você ir comigo até um médico de sua confiança, mas aqui está o exame”. Falou me mostrando os papeis.

Eu liguei imediatamente para Dr. Vicente Dutra, um médico de confiança do hotel e que era obstetra. Ele com certeza era da mais alta confiança e sua fama era de honradez e profissionalismo. Falei que havia uma amiga minha que estava grávida e queria que ele a examinasse com urgência. Na verdade queria resolver tudo antes de Fernando chegar. Fomos de táxi e assim que chegamos ela foi atendida. O médico pegou os exames e fez outros na hora, concluindo com uma ultrassonografia e exame minucioso. Ele estava enigmático e eu confesso que estava super nervoso.

“A senhora está com dois meses Dona Sabrina, vista-se, depois falaremos”.

Ele me chamou e disse “Cristiano você é parente dessa moça?”.

“Dr. Eu sou amigo do pai da criança, ele está viajando e volta hoje à noite”.

“Eu vou ser muito sincero com você. Ela não tem um útero muito forte e a criança inspira cuidados, embora ainda seja cedo pra falar foi o que eu percebi. Se ela tiver uma gravidez tranquila a criança tem muita chance de nascer bem, se for o contrário talvez tenhamos problemas. Eu não falarei muitos detalhes agora, por que eu quero falar com o pai da criança e direi isso a ela também”.

Eu concordei e foi feito o que ele falou. Meu peito estava apertado, pois por essa eu não esperava, mas claro que o Fernando saberia o que fazer, ele sempre sabe. Ela quis voltar comigo pra minha casa, pois disse que queria terminar nossa conversa.

“Então Cristiano, agora você já sabe que eu não estou mentindo, muito menos blefando, eu estou grávida de um filho do Fernando. E olha só que interessante, eu nem fiz muito esforço pra isso, foi você que fez tudo, você o jogou nos meus braços”.

“Sabrina não adianta você ficar com esse joguinho que eu não caio mais. Eu já sabia que vocês tinham transado aquela noite, inclusive o próprio Fernando me contou e disse que tinha feito tudo por estar muito bêbado e pensava que era eu, mas isso nem importa, mesmo que ele tivesse consciente isso não mudaria nada. E outra, como saberemos se esse filho é mesmo do Fernando?”.

“Você continua o mesmo ingênuo não é Cristiano? Você acha que eu estaria aqui se eu não tivesse certeza que esse filho era do Fernando? Existe uma coisa chamada exame de dna, que pode ser feito inclusive durante a gravidez, não é aconselhável, mas pode ser feito. Com certeza ele vai querer fazer depois que eu tiver a criança. Mas você acredite ou não, eu só tive o Fernando de homem durante todo esse tempo, portanto, sem chances desse filho não ser dele”.

“Tudo bem, o Fernando chega daqui a umas horas e com certeza vocês chegarão a um acordo. Ele é um homem maravilhoso e vai assumir a criança com muita dignidade. Agora se você acha que eu estou com raiva do Fernando, desista, nós estamos mais juntos do que nunca”.

“E onde eu entro nessa história? Você acha que as coisas irão ficar assim? É claro que não meu caro. Eu quero o que é meu de direito”.

“É claro que o Fernando vai te deixar muito bem. Ele vai te dar todas as condições e tudo o que o filho dele precisa, você vai ficar muito bem na foto e se você não quiser a criança a gente cria juntos, você pode refazer sua vida, agora por favor vai embora”.

Ela começou a dar um risada diabólica “Hahahahhaha” e ficou séria olhando pra mim friamente.

“Você ainda não entendeu não é Cristiano? Eu não vou ser uma chocadeira do Fernando. Eu quero que ele volte pra mim e sabe como eu vou conseguir isso? Por que você vai terminar com ele. Não precisava ser assim, mas vocês insistem em ficar juntos”.

“Sabrina eu não irei terminar com o Fernando por causa da tua gravidez, vocês dois são os pais dessa criança e eu não tenho nada que ver com isso”.

“Ah, você tem sim. Você tem muito que ver com isso. E se você não terminar com o Fernando eu vou abortar essa criança. Aí, adeus papaizinho Nando, quando nem ele souber ele não vai mais ser pai”.

Eu procurei manter a calma, mas foi impossível, eu falei indignado “como é que é? Repete o que você está dizendo sua louca”.

“É isso mesmo que você ouviu Cristiano. Essa criança depende de você pra nascer. Você é que vai dizer se essa criança vai nascer ou não. Se você continuar casado com o Fernando eu mato o filho dele num piscar de olhos e você sabe que eu tenho coragem pra isso. O Vitão e o Jonhy não conseguiram acabar com o relacionamento de vocês, mas eu vou conseguir”.

“Você é louca. Você é doente, é má. Você é um monstro. Ameaçando seu próprio filho. Nem uma cobra faria isso”.

“Você pode falar o que você quiser Cristiano. Mas a verdade é que a vida dessa criança está nas tuas mãos e te digo mais, se você falar alguma coisa pro Fernando, eu aí é que eu faço mesmo, nem que ele me prenda ou me mate, mas aí seria tarde de mais, o filho dele já teria morrido”.

“Se você não estivesse grávida de um filho do Fernando eu ia bater tanto na tua cara, eu ia te deixar deformada, eu ia te matar. Você é um monstro, a pior pessoa que eu já vi na minha vida”.

“Você pode falar o que quiser de mim. Eu só estou lutando com as armas que eu tenho. Eu te dou o prazo de um dia pra você terminar tudo. Amanhã à tarde eu vou contar pro Fernando sobre a gravidez e se ele souber de alguma coisa, e se eu suspeitar que você está querendo me enganar, essa criança já era”.

“Eu vou contar tudo pra ele sua maldita”.

“Eu digo que eu perdi. Afinal eu tenho o útero fraco, esqueceu?”.

Eu comecei a chorar e ela continuou “você achava que tinha ganhado a guerra não é? Você não me conhece. Você me humilhou, mas a palavra final é minha. E trata de ficar com a boca fechada. Agora tchau, seu putinho”.

Quando ela ia saindo eu puxei a porta e fiquei de frente pra ela. As lágrimas teimavam em sair e eu falei “Sabrina, pelo amor Deus, pensa bem, essa criança é tua também, é teu filho. Por favor não faz nada contra a criança, eu te imploro”.

“Só depende de você Cristiano, só depende de você. Já pensou se você continuar com esse romance e a criança morrer? Como ficará o coração do pobre Fernando sem o filhinho dele? Poderia ter realizado o sonho da vida dele, mas pelo seu egoísmo ele não será pai. E tua consciência? Com certeza você vai conviver com essa culpa o resto da sua vida”.

“E você não tem remorso? É seu filho sua desgraçada!”.

“Eu sou louca. Você esqueceu? E não, eu não tenho remorso. A vida dessa criança está nas tuas mãos e não nas minhas. Agora adeus, CRISTIANO”.

Ela partiu e eu comecei a chorar abundantemente e um medo avassalador entrou no meu peito. Dessa vez eu não temia por mim ou por Fernando, mas pela criança, um ser indefeso que estava no ventre daquele monstro e qualquer reação poderia dar fim a sua vida. Dessa vez a dor era maior do que da última, pois eu entendia que meu amado não tinha feito nada errado e seu filho corria perigo e o pior, estava em minhas mãos.

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Peguei-me lembrando de vários fatos de nossa história, principalmente do seu sonho de ter um filho biológico.

Na despedida de solteiro ele falou que seu sonho era ser pai e poder dar ao filho toda a atenção que ele não teve e que por isso, logo depois do casamento iria encomendar seu filho, que não queria esperar para realizar o sonho de sua vida, naquele dia eu percebi que ele tinha nascido pra ser pai.

Em Parintins Eu e Fernando estávamos passeando num final de tarde, na praça central e eu fui comprar sorvetes pra gente, na volta o peguei concentrado, vendo um pai que brincava com seu filho. O homem corria, colocava o menino em seu ombro, rodopiava a criança e os dois riam na maior cumplicidade.

Fernando olhava encantado pros dois e vi que seus olhos estavam marejados. Imediatamente me lembrei de nosso primeiro encontro e de seu sonho de ser pai. Sim, ele estava encantado com a cena e percebi que esse sonho ainda estava em seu coração.

Aproximei-me dele e falei “é seu sonho não é amor? É seu sonho ser pai”.

“Ah, você taí amor. Só acho bonito amor de pai e filho, só isso, é que eu nunca tive uma cena dessa, você já teve não é?”.

Comecei a lagrimar também e só fiz que sim com a cabeça “desculpa, eu estou afastando você do teu sonho”.

“Amor, que é isso? Não diz isso. Nós iremos ser pais, é só uma questão de tempo”.

“Mas você gostaria de ter um filho biológico, sempre foi teu sonho”.

“Não. Você está enganado. Mesmo que eu tivesse um filho biológico eu gostaria de ter filhos do coração também e isso nós teremos”.

“De qualquer maneira, me desculpe amor, de afastar você do teu sonho”.

“Deixa de bobagens, vamos pra casa, vamos. E me dar aqui esse sorvete que já está derretendo”. Fomos embora, mas esse episódio ficou guardado em meu coração.

A lembrança mais recente foi no hotel de selva: ele estava encantado com umas crianças que estavam brincando com um homem na piscina. O homem era quarentão e as crianças deveriam ter entre 7 a 10 anos. O homem brincava com os filhos na água, pulava, corria, nadava e Fernando só observava com um discreto sorriso nos lábios. Lembrei-me de Parintins e pude perceber que o sonho de ser pai e de ter uma família era muito presente em Fernando, mas sempre tinha a sensação que ele queria sim um filho biológico, muito embora ele não expressasse isso. Dessa vez eu só o observei, não puxei assunto. Ele saiu de onde estava e se ofereceu pra brincar com as crianças e o pai delas. Ele estava super feliz e parecia um garoto. Ali eu tive certeza que sim, Fernando ainda tinha o sonho de ser pai.

Agora a vida daquele criança estava em minhas mãos. Claro que era a chantagem mais baixa e mais cruel que alguém poderia fazer, mas no fundo eu sabia que Sabrina tinha sim coragem de fazer o aborto. Eu percebi muita crueldade e frieza em seu olhar e em seus gestos. Minha cabeça rodava, o tremor no meu corpo se instalou. Eu não estava no meu normal. Eu tomei um comprimido pra dormir, mas de tanta ansiedade eu apenas cochilei. Não terminei de arrumar minhas coisas.

Eu me ajoelhei e rezei “Meu Deus, me ilumine, eu não sei o que fazer. Eu estou desesperado Meu Pai. Eu preciso de sua ajuda. Me ajuda a decidir. Salva a vida dessa criança”. Eu prometi a Deus que ficaria sozinho e viveria pra Ele se Ele salvasse a vida do filho do Fernando.

Eu estava na cozinha, de frente pra janela, eu olhava ao longe e pensava. Eu estava tomando um suco. Não percebi quando Fernando chegou. Ele veio de mansinho pra me fazer uma surpresa. Eu estava concentrado quando eu o sinto me agarrando por trás e me abraçando e beijando meu pescoço.

Ele me disse “e então meu amor, pronto pra acompanhar teu marido e a gente passar a nossa primeira noite juntos oficialmente como marido e marido?”.

Eu com os olhos cheios de lágrimas, virei-me e disse olhando fundo em seus olhos “eu não irei mais com você Fernando, nem hoje e nem nunca, quero você definitivamente fora da minha vida”...

Continua...