DESPEDIDA DE SOLTEIRO - CAPÍTULO 41 – O ANJO MALVADO

Parte 1 – MEU LOUCO AMOR – NARRADO POR JONAS E MATTOS

NARRAÇÃO DE JONAS

Eu estava muito concentrado em minha mesa e meu computador quando ouço uma voz conhecida “Olá Jonas. Que bom que você ainda trabalha aqui. Eu voltei e agora tudo será diferente”.

Olhei espantado pra ele. Era Brunno Benevides, olhando pra mim com um sorriso sereno e cativante. Meu corpo tremeu, não sei se de surpresa ou de desejo.

“Bruno! Você não estava nos Estados Unidos se tratando?”.

“Não tenha medo Jonas, eu mudei. Demorou, mas com esse tratamento de dois anos eu me recuperei. Eu vi que o que eu senti por você era muito mais um capricho do que amor”.

“Que bom, mas eu não tenho mais clima pra continuar trabalhando aqui”.

“Não Jonas, não precisa ter medo. Na verdade eu quero mesmo é te agradecer por você ter ajudado tanto meu avô. E pra provar que eu estou falando a verdade, quero que você conheça uma pessoa”.

Ele saiu e voltou com uma moça loira muito bonita “essa aqui Jonas é a Larissa, ela é minha noiva”.

“Oi Larissa, tudo bem?”. Pensei comigo “você não sabe onde está se metendo minha filha”.

Ela me cumprimentou toda animada e saíram os dois entre beijos e abraços. De qualquer maneira eu fiz o que deveria ter feito há muito tempo. Fui ao departamento pessoal e pedi minha demissão, mesmo por que eu já tinha grana e experiência pra abrir minha agência de publicidade e Fernando prometeu me dar uma força no início. Ele me indicaria pra uns empresários parceiros deles e eu ainda faria toda a publicidade da construtora. Eu tinha nome no mercado e de uma coisa eu tinha certeza, fome eu não passaria.

Como aconteceu da primeira vez, houve reação com meu pedido de demissão e Sr. Benevides me fez uma proposta.

“tudo bem Jonas, já que você quer abrir sua empresa, tudo bem. Eu só peço que você fique uns dias a mais comigo até eu arranjar outro profissional, em troca eu mesmo dou tua demissão e você não vai perder seus direitos trabalhistas e poderá investir tudo na tua empresa”.

Entramos em um acordo e fechamos em uma semana minha permanência ali. Foram tranquilos os primeiros dias após o retorno do Brunno. Fiquei sabendo que ele fez terapia e ficou internado numa clinica, mas que tinha sido liberado por uma junta médica e que estava completamente curado de sua bipolaridade. Confesso que não acreditava completamente, mas poderia ser um trauma de quem foi perseguido por ele. Será que bipolaridade tem cura?

Depois fui observando e todos acharam que ele realmente tinha mudado e vivia às voltas com sua noiva. Ela não saia da empresa e estavam sempre agarrados. Pode até parecer loucura, mas não é que me bateu uma pontinha de ciúmes “sai encosto, vai pra lá doideira”, pensava comigo mesmo e começava a rir sozinho. Devo admitir que ele estava mais bonito do que nunca e sim, ele nem olhava mais pra mim. Comecei a achar que ele me esquecera de vez e isso me trouxe tranquilidade.

E Mattos? Sentia tanta falta dele, da gente fazendo amor, do seu companheirismo. Na verdade não queria era dar uma de fofoqueiro. Poxa, se ele é um tremendo profissional e saca muitas coisas, como não percebe que seus filhos são uns fingidos? Mas a verdade é que eu estava louco pra voltar pro meu amorzão e faria isso em breve.

Tive uma surpresa em um dia em que eu estava malhando e eu vejo um velho conhecido, o Alex, um rapaz lindíssimo jiujiteiro também, colega de Brunno, um negão lindo e gostoso de tirar o chapéu . Ele veio falar comigo.

“Jonas que massa te ver, como você está bem cara, mais filé do que antes”.

“Oi bof... quer dizer, oi Alex. Bom te ver também, faz tempo ein?. Mas eu não sabia que você estava frequentava essa academia”.

“É que eu comecei aqui esses dias, pois fica mais próximo do trabalho”. Comecei e perceber que Alex me encarava e ficava secando meu corpo, às vezes mordia os lábios. Lembrei da conversa que ele teve com o Brunno na academia e pensei comigo “safado”.

“E aí alex cadê tua namorada cara?”

“Ah, eu tô solteiro Jonas. Na verdade estou procurando alguém diferente”.

“Você está solteiro também né?”.

Ouvimos uma voz grossa dizer “não ele não está solteiro. Ele tem namorado e é comprometido mermão. Entendeu ou quer que eu desenhe?”.

Eu todo errado comecei a gaguejar “A... Alex esse aqui é o...”.

“Sou Mattos, delegado Mattos o namorado dele. Agora vaza que eu não gosto de nenhum gavião perto do meu namorado”. E Alex foi embora todo errado. Eu fiquei puto e revidei.

“Que foi isso Mattos? Resolveu ter crise de ciúmes é?”.

“Eu que te pergunto, que porra é essa Jonas?. Primeiro você nunca me chama de Mattos, segundo quem é esse negão aí? De onde tu o conheces?”.

“Ele era amigo do Brunno e não gostei do jeito que você falou. Não sou puta não entendeu? Não é por que eu converso com alguém que eu tô dando confiança”.

“É? Conta outra tá. Eu vi a maneira como ele te olhava, ele estava te devorando com os olhos”.

“Nossa, meu amorzinho tá com ciúmes. Adorei isso”.

“Já não basta o Brunno ter voltado, não quero você perto desses caras. Quero que você volte pra casa comigo. Vem pelo menos passar uns dias lá”.

“Amor, eu já te disse, eu não estou me entendendo bem com teus filhos, eu quero dar um tempo dessa situação”.

“Mas meus filhos são tão educados, tão gente fina com você Jonas, eu não entendo isso”.

“Sei. Então é melhor você prestar mais atenção no jeito dos teus filhos. Eu não vou falar mais nada não, chega, já cansei, agora vamos malhar, que eu quero ficar cada dia mais o corpo”.

No outro dia eu tive uma grande surpresa, Larissa me convidou pra almoçar com ela e Brunno. Eu tentei inventar mil desculpas, mas ela pareceu tão simpática e queria fazer amizade comigo, resolvi ir e observar qual era a deles. Ela mesma foi falando o porquê do convite.

“Jonas o Brunno me falou que gosta muito de você e que são amigos, por isso resolvemos fazer um convite: topa ser nosso padrinho de casamento?”. Eu não acreditei naquele convite. Brunno a abraçou e a beijou e fez que sim com a cabeça.

Eles começaram a fazer mil planos e notei que Brunno não olhava pra mim do mesmo jeito, já para Larissa ele se derretia todo e era correspondido na mesma proporção por ela. Ele realmente parecia outra pessoa, confesso que se tivesse conhecido aquele Brunno eu teria chance de ter me apaixonado por ele. Parecia tão humano, tão gente de verdade, lembrava o Fernando.

Contaram como se conheceram há 1 ano atrás e como ela tinha ajudado no tratamento dele. Nossa eles eram só carinhos um com o outro, chegando a fazer inveja pros outros casais. Ela me disse que era enfermeira e que morava nos Estados Unidos, mas como Brunno ia reassumir a Presidência do Grupo Benevides, eles iriam morar no Brasil. Era um casal lindo de viver.

“Então Jonas. Você está enrolando a gente. Aceita ou não aceita o convite pra ser nosso padrinho de casamento?”. Perguntou Larissa.

“Tá bom, eu aceito. E quando será o casamento?”.

“Daqui a um mês e quero que você me ajude a organizar tudo, pois eu sei que você tem muito bom gosto”. Ela falava toda animada.

E ficamos divagando e viajando sobre a festa, a cerimônia e tudo mais. Eu pensava comigo mesmo “será que é possível alguém realmente mudar?”. Em breve eu iria descobrir.

NARRAÇÃO DE CLÁUDIO MATTOS

Eu não estava mais aguentando ficar sem meu pequeno e um medo muito grande começou a rolar em minha mente. Não poderia negar que ele estava diferente comigo. Era como se ele quisesse liberdade, sei lá, parece que de repente eu tinha virado um estorvo pra ele. Outra coisa me deixava encafifado era a volta do maluco. Todo mundo dizia que ele agora era outra pessoa, que agora estava noivo de um garota, etc, mas eu resolvi ficar bem atento, pois não dava pra confiar num cara como aquele.

Outro agravante era que eu estava começando a sentir ciúmes de Jonas e sabia que ele era assediado e o ciúme nunca era um bom conselheiro. Quando eu vi aquele tal de Alex dando em cima dele eu tive vontade de amolentar o cara na porrada e só não o fiz por que eu não vi nada de mais acontecer.

Em minha casa eu procurava tratar meus filhos com amor e dedicação e era difícil aceitar como pai que eles eram fingidos, pois eu sempre percebi bastante respeito deles para com o Jonas. Essa situação me fez ficar deprimido. Eu tentava ser natural com eles, mas não conseguia e acabei me isolando.

Eles acabaram percebendo tudo e vieram falar comigo.

“Pai o Jonas é legal, mas ele não te merece, ele não merece todo esse sofrimento” falava Estela.

Diônio completou “Pai a gente sempre tratou o Jonas bem, mas ele implicava tanto com a gente. Nós nunca falamos nada pra não te aborrecer”.

“É Pai, ele parece que não gosta muito da gente e nos abandonou como a nossa mãe fez”. Choramingou Maurício.

Eu gritei com eles “Parem de falar mal do Jonas, ele não está aqui pra se defender, que inferno. Ele nunca falou mal de vocês. Se eu descobrir que vocês têm alguma coisa que ver com esse situação eu jogo todo mundo no Rio Negro e amarrados”.

Eles se olharam e eu saí em disparada pro meu quarto. Fiquei cheirando uma roupa do Jonas que eu adorava quando ele usava. Fiquei pensando como minha vida tinha ganhado um outro sabor desde que o conheci e chorei pensando nele.

Dormi pensando “Meu amor não me deixa, eu não quero passar por isso de novo. Principalmente por que te amo mais do que nunca Jonas. Eu te quero meu pequeno, volta pra mim”.

Continua...

Parte II – UM ANJO MALVADO – NARRADO POR SABRINA TUPINAMBÁ

Tigresa (Caetano Veloso)

Uma tigresa de unhas

Negras e íris cor de mel.

Uma mulher, uma beleza

Que me aconteceu.

Esfregando a pele de ouro marrom

Do seu corpo contra o meu

Me falou que o mal é bom e o bem cruel.

Enquanto os pelos dessa

Deusa tremem ao vento ateu,

Ela me conta, sem certeza,

Tudo o que viveu:

Que gostava de política em mil

Novecentos e sessenta e seis

E hoje dança no Frenetic Dancin? Days.

Ela me conta que era atriz

E trabalhou no Hair.

Com alguns homens foi feliz,

Com outros foi mulher.

Que tem muito ódio no coração,

Que tem dado muito amor,

Espalhado muito prazer e muita dor.

Mas ela ao mesmo tempo diz

Que tudo vai mudar,

Porque ela vai ser o que quis

Inventando um lugar

Onde a gente e a natureza feliz,

Vivam sempre em comunhão

E a tigresa possa mais do que o leão

http://letras.mus.br/caetano-veloso/44781/

Sou Sabrina Helena Tupinambá, atualmente tenho 27 anos. Agora estou grávida do meu segundo filho, mas quando não estou sou uma mulher esguia, porém encorpada, todos me acham bonita, sou morena e tenho cabelos pretos longos e lisos. Sou capaz de enfeitiçar qualquer homem. Porém meu homem foi enfeitiçado por um garoto mais jovem que eu e extremamente bonito.

Sou filha de ex seringalistas da Amazônia e minha família tem nome, fama, tradição e nenhum dinheiro. Já tivemos no passado e eu até a minha adolescência fui uma menina rica e extremamente mimada. Quando completei 18 anos fui morar nos Estados Unidos com minha tia por parte de pai, iniciei antes de ir a faculdade de direito, que eu deixei trancada. Meu sonho era morar fora, por isso fui, mas meus pais estavam completamente falidos por causa de dívidas de jogo de meu pai e eu tive que retornar a Manaus.

Devo dizer que eu fui criada pra ser má. Todas as minhas vontades eram satisfeitas e meu pai sempre me ensinou que quando a gente não tem o que deseja a gente faz de tudo pra conseguir. Eu e meu irmão Marcos não fomos criados com padrões de ética e de moralidade, fomos criados para sermos vencedores, mesmo que pra isso precisássemos passar por cima das pessoas, quaisquer pessoas. Meu irmão conseguiu se desvencilhar das amarras dos meus pais, mas eu tinha a mesma índole deles. A maldade naturalmente habitava meu ser. Eu sempre via as outras pessoas como objetos, tinha um desprezo exacerbado pelo ser humano.

Minha vida começou a se transformar quando eu retornei a minha cidade e conheci um rapaz que era amigo do meu irmão, seu nome era Fernando Alberto Villaverde. Ele era simplesmente o homem mais inteligente, mais forte e mais bonito que eu conheci, com um outro agravante, ele era e é indomável. Ele se sentiu muito atraído por mim e eu por ele. Embora eu soubesse da paixão secreta que meu irmão nutria por ele, não fiz caso disso, meu irmão era carta fora do baralho.

Esqueci de dizer, Fernando apesar de muito jovem, era um homem endinheirado e de muito futuro, o que acendeu em mim e em meus pais a sensação de que ele seria a salvação da ruína em que se encontrava nossa família. Depois de um namoro de dois anos veio o casamento. Meus planos eram simples. Eu casaria com Fernando, o enrolaria por algum tempo e depois teria filhos com ele. Ele seria depenado por mim e por meu pai e por fim ele seria submisso a mim e seria só meu.

Meus planos começaram a falhar um dia antes do meu casamento. Fernando resolveu fazer uma Despedida de Solteiro “diferente” e se apaixonou por um garoto lindíssimo, chamado Cristiano Buzaglo. Em meu casamento ele teve a ousadia de aparecer e foi ali que eu comecei a perceber que meus planos não seriam concretizados com facilidade, pois ele era tão forte quanto eu e meu marido estava completamente apaixonado por ele.

Foi inevitável eles ficarem juntos e devo ressaltar que nunca me conformaria com aquela situação. Bolei vários planos para separá-los, o que não foi nada fácil, pois eles não conseguiam viver um sem o outro. Eu tinha duas vantagens sobre Cristiano, a primeira era seu ciúme e sensação de não merecer Fernando por ter sido garoto de programa e a segunda é que ele não jogava sujo. Ele tinha a vantagem de ser forte e ter o amor de Fernando. Outra vantagem minha era ser fria e calculista.

Depois de muito custo eu consegui engravidar de um filho de Fernando e fiz a única coisa que uma mulher jamais poderia fazer em sua vida, eu ameacei a vida de meu próprio filho. Sim eu estava desesperada e joguei com a vida do meu filho. Se eu teria coragem de abortá-lo pra me vingar de Fernando e Cristiano? Sim eu teria e já estava prestes a fazer isso. Se Fernando soubesse de alguma forma dos meus planos eu saberia, pois uma coisa que ele não sabe é disfarçar seus sentimentos. Se Cristiano resolvesse contar para Fernando e ficar com ele eu cumpriria minha ameaça e meu filho não nasceria.

Eu consegui o que tanto queria, graças a bondade de Cristiano, que pensou muito mais na vida de meu filho do que na sua e de Fernando. Eles se separaram de maneira imensamente conflituosa e eu fui morar com Fernando, não como sua esposa, mas por ter uma gravidez de risco. Fomos morar na antiga casa que era dos meus pais e ele comprou. Meu filho nasceu com uma arritmia cardíaca e depois de um longo tratamento ele ficou bem, por isso eu continuei morando com eles. Meu ex marido era o pai mais amoroso que eu já vi em minha vida e com seu carinho e dedicação, meu filho Olívio ficou bem.

É importante eu dizer que a sensação de culpa por ter colocado a vida do meu filho em risco me acompanhou durante a gravidez e se intensificou depois que Olívio nasceu. O remorso me corroía todos os dias, pois eu passei a amar tanto meu filho, que não conseguia me perdoar por tê-lo ameaçado de morte. Se não fosse por Cristiano, meu filho não teria nascido e eu tinha que amargar dentro do meu peito uma gratidão que eu não podia expressar. Ele pensou muito mais na vida do meu filho do que eu mesma. Só quando eu me tornei mãe de verdade é que eu pude perceber o sintoma da minha maldade, eu era um anjo mal.

Eu consegui engravidar pela segunda vez. Da mesma maneira que da primeira. Eu me entreguei a Fernando, que estava muito carente por sentir falta e saudade de Cristiano. Desta segunda vez geramos uma menina, que se chamaria Fernanda, em homenagem ao pai. Eu queria dar esse presente a Fernando.

Desta vez o risco de minha gravides era maior que a da primeira. Eu corria risco de vida junto com a criança e os médicos recomendaram o aborto. Eu teria uma pequena chance se tivesse descanso absoluto e nenhum tipo de aborrecimento. Fernando foi maravilhoso, embora eu escondi dele a minha real condição. Dessa vez eu estava disposta a sacrificar minha vida, pela vida da minha filha. O monstro se transformou em mulher, graças à magia da maternidade.

Já próximo do dia do parto Fernando teve que viajar para ir fiscalizar a construção do hotel de selva. Lá não tinha sinal de celular e ele me deixou sob os cuidados do meu irmão Marcos.

“Sabrina por favor não faça nenhuma extravagância. Marcão vai ficar cuidando de você aqui em casa, e por favor, ligue pra ele se precisar. E outra coisa, Tio Olavo vai ficar atento 24 horas por dia. Eu retornarei uma semana antes de você fazer a cirurgia”.

“Não se preocupe Fernando eu estou bem. Pode viajar tranquilo e mesmo Antônia e marcos estarão comigo e meu principezinho também, não é filhote?”.

Meu filho só fazia que sim com a cabeça, mesmo não entendendo do que se tratava. Marcos tomou a palavra “Fernando vai em paz, não se preocupa, eu estarei atento”. E assim ele foi e sua viagem duraria uma semana.

Uns dias se passaram e eu não via a hora dele chegar. Me sentia realmente segura com a presença de Fernando, mesmo que não tivéssemos uma vida matrimonial. Marcos saiu pra o trabalho e eu pedi para Antônia levar Olívio pra passear no parque do condomínio, pois aos poucos ele teria que começar a ter uma vida normal e isso incluía brincar e conhecer outras crianças.

“Mas dona Sabrina, seu Fernando pediu pra eu não sair de perto da senhora. Eu não sei se eu devo ir”.

“Pode ir Antônia, eu estou bem, fique tranquila e se precisar eu ligo pra você ou pro meu irmão”.

Eles foram e eu fiquei assistindo um programa matinal, quando ele entra de supetão e enfurecido em minha casa “então você acha que vai ficar aqui no bem bom e eu ferrado ein Sabrina?”.

“Pai, o que o senhor está fazendo aqui? O Fernando não proibiu sua entrada?”.

“Aquele viado bastardo não pode me impedir de entrar no que é meu. Eu esperei você ficar sozinha. Eu vim te cobrar sua parte no acordo. Quero o que você me prometeu agora”.

“Pai, por favor eu não posso me aborrecer, eu já lhe dei muito dinheiro. Tudo o que o Fernando me dá eu dou em suas mãos, mas o senhor vive perdendo no jogo. Eu não tenho mais nada pra lhe dar”.

Ele desferiu um tapa forte em meu rosto e eu caí no sofá “sua desgraçada, você prometeu depenar o Fernando e me dar todo o dinheiro dele, mas o que você fez? Naaaada!”.

Eu comecei a chorar e sentir meu corpo mole “Pai por favor, deixa eu dar a luz primeiro. O Fernando não vai cair assim facilmente, ele é muito esperto”.

Ele puxou meu cabelo, me levantou e deu outro tapa “sua mentirosa, cretina. Você está me enrolando. Você acha que eu vou ficar comendo arroz com ovo enquanto você fica aqui no bem bom. Eu quero meu dinheiro, senão eu conto tudo pro Fernando e acabo com tua vida”.

Eu caí no chão e ele me bateu de novo “isso é só um aviso Sabrina. Se você não me der dinheiro, muito dinheiro, eu acabo com tua vida e dessa criança que você está carregando aí, ainda de quebra eu acabo com aquele garotinho insuportável do teu filho”.

Eu consegui me levantar com muito custo e falei “Pai, o senhor é meu pai. Eu te imploro, não faz nada contra a gente. Se o Fernando descobrir a gente está perdido”.

“Cala esse sua maldita boca. Eu te avisei que eu viria e você achou que eu estava blefando. Da próxima vez eu pego o garotinho e fujo com ele e você vai ser minha cúmplice, sua maldita”. Ele me jogou no chão de novo e eu comecei a sangrar.

Eu comecei a ter aquela sensação de morte e não tinha medo por mim. Tinha medo por minha filha, ela precisava sobreviver, nem que isso fosse a única coisa que eu fizesse em minha maldita vida. Eu fui me arrastando até o telefone e liguei pro meu irmão “Marcos, socorro, eu tô morrendo mano”. E larguei o telefone. Felizmente ele ouviu e respondeu, mas eu não ouvi “Sabrina, calma estou indo praí com a ambulância agora”.

Eu desmaiei e já acordei sendo levada na maca. Antônia estava chorando e Olívio estava em seu colo de costas e eu falei “cuida do meu filho pra mim Antônia”. Ela o trouxe e ainda deu tempo de eu beijá-lo “desculpa meu amor, perdão por tudo o que eu fiz com você. Mamãe te ama, Adeus”. E com muita rapidez me colocaram na ambulância e Marcos foi me acompanhando.

Eu fui atendida prontamente. Todos chegaram ao hospital, minha mãe, os parentes de Fernando. Meu pai havia sumido. Eu fui pra sala de cirurgia e apaguei, não vi mais nada. Quando acordei eu estava na UTI e já havia dado à luz. Com muito esforço eu pedi pra enfermeira chamar meu irmão, só ele que eu queria ver.

“Marcos como está minha filha? Ela morreu?” eu falava com muita dificuldade.

“Sabrina a Fernandinha está ainda na CTI, mas os médicos estão com muita esperança. Ela corre risco sim, mas se Deus nos ajudar ela ficará bem. Agora descanse minha irmã”.

“Não, Marcos. Eu preciso de sua ajuda, na verdade é uma missão e só você pode me ajudar”.

“Você não pode fazer nenhum esforço. Você está debilitada e tá todo mundo aí fora torcendo por você”.

“Marcos, eu não quero ver ninguém. A única pessoa que eu quero ver você vai buscá-la pra mim agora. Por favor meu irmão”.

“E quem é essa pessoa?”.

“É o Cristiano. Eu preciso falar com o Cristiano com urgência, e por favor se apresse, eu não tenho muito tempo”.

“Isso é loucura Sabrina eu não vou fazer isso e o Cristiano não vai querer vir”.

“Por favor, ele precisa vir, diga que é urgente e que eu estou morrendo, por favor, essa é minha vontade”.

Marcos com os olhos cheios de lágrimas concordou com tudo e antes de sair eu pedi mais um favor e ele me fez, esse último seria decisivo pra minha missão”.

Parte III – O DESAFIO DA MORTE

Narrado por Cristiano

“Pai eu ainda não aceitei. Só foi uma proposta que me fizeram, relaxa, ainda estou pensando”.

“Não meu filho, agora que nós estamos todos juntos você quer ir morar no Rio de Janeiro? Assim você quer matar seu pai do coração Tiano”.

Meu pai sempre foi um pouco dramático, mas a verdade é que eu estava balançado com o convite que seu Augusto me ofereceu. Ele me chamou pra ser o gerente geral de um hotel importante no Rio de Janeiro. Como eu já havia me formado, não teria nenhum empecilho pra ir, exceto minha família e o maior de todos, ficar longe de Fernando, mas ele não me queria mais. Quando estávamos na maior discussão a campainha toca e eu fui atender.

“Marcos. Aconteceu alguma coisa com o Fernando ou o filho dele?”. Meu coração disparou.

“Aconteceu, mas foi com a Sabrina. Minha irmã está morrendo Cristiano e ela quer falar com você”.

“Era só o que me faltava Marcos. Eu sair da minha casa pra visitar tua irmã. Já não basta tudo o que ela fez comigo. Sinto muito, mas pode dar meia volta”.

“Cristiano a minha irmã está morrendo e seu último pedido é ver você. Vem comigo por favor”.

“Não Marcos. Eu não quero nada de mal pra tua irmã e nem pra criança. Pelo contrário, quero que dê tudo certo, mas eu não irei”.

Meu pai tomou a palavra e disse “você vai sim meu filho. Na hora da morte todas as desavenças devem desaparecer. Mas você não vai sozinho, eu irei com contigo”. Falou isso olhando pro Marcos que aceitou e pediu pressa pra irmos, e saímos em disparada.

Quando chegamos todos ficaram curiosos com minha presença. Marcos conseguiu a autorização para eu entrar e quando cheguei perto ela estava dormindo. A imagem da Sabrina fragilizada fez meu coração ficar apertado. Ela perecia uma vela que estava se apagando. Ela abriu os olhos e sorriu.

“Obrigado por ter vindo Cristiano. Cada dia eu fico mais admirada com sua generosidade”. Ela falava com uma voz muito cansada.

“Pode falar Sabrina. O que você quer? Por que você me chamou aqui?”.

“Eu chamei pra te pedir perdão. Eu preciso do seu perdão pra morrer em paz”.

“Sabrina na boa, você não vai morrer, você está sendo medicada”.

“Não Cristiano. Minha breve vida chegou ao fim. Mas eu quero morrer em paz e por isso eu preciso do teu perdão e quero que você me prometa uma coisa”.

Droga, naquela hora meus olhos começaram a encher de lágrimas. Eu nunca pensei que fosse um dia sentir piedade de Sabrina e ter qualquer tipo de carinho por ela “Sabrina descansa, quando você tiver bem a gente se fala”.

“Não, eu preciso falar contigo agora. Por favor, eu te imploro, eu preciso falar. Eu estou morrendo, não me negue isso. Não que eu mereça qualquer consideração de sua parte, mas eu sei que você é generoso”.

“Tudo bem Sabrina. Então pode falar”.

“Eu quero três coisas de você. Eu preciso que você faça isso pra eu morrer em paz”.

“Sabrina se você vai me pedir pra ficar longe do Fernando, nem precisa continuar, a gente está separado faz tempo, não temos mais nada um com outro”.

“Não é isso. É o contrário. Eu quero que você volte pro Fernando. Eu não tenho muito tempo, deixa eu falar tudo. Ele vai saber da verdade pela minha boca”. Eu fiz que sim com a cabeça e meus olhos teimavam em chorar.

“A primeira coisa que eu quero é teu perdão. Por tudo que eu fiz você passar nesses três anos”.

“Eu também não foi nenhum santo Sabrina. Eu e o Fernando também erramos”.

“Mas vocês nunca me fizeram mal. Vocês só se amaram e isso ninguém pode evitar. A segunda coisa que eu quero te dizer é

“obrigado por salvar a vida do meu filho”. Se não fosse por sua generosidade o Olívio não teria nascido, pois eu ia realmente praticar o aborto e você pensou muito mais nele do que eu. Isso eu não tenho como pagar, só me resta agradecer”.

E ela continuou “a terceira coisa é que eu quero que você crie meus filhos, junto com o Fernando, como se fossem seus. A minha filha ainda está doente, mas eu tenho certeza que ela vai sobreviver. Eu não quero que ela seja criada por outra pessoa”.

“Eu não quero arriscar que eles sejam criados como eu fui criada. Eles precisam de seu amor e sua generosidade e eu só confio em você pra ajudar o Fernando nisso, você é a melhor pessoa que eu conheço Cristiano”.

“Sabrina eu entendo que você está fragilizada, mas você vai sair dessa. Você ainda vai poder criar seus filhos e você vai poder ser uma pessoa diferente. Meu pai sempre diz que a gente pode mudar pra melhor, que a gente nunca está pronto e acabado e eu prometo sair da tua vida”.

“Não Cristiano, eu não tenho mais tempo. Eu preciso que você me prometa que você vai cuidar dos meus filhos junto com o Fernando. Só assim eu vou poder morrer em paz. Por favor, me responde”.

Eu comecei a chorar muito e disse “Sabrina eu prometo cuidar dos teus filhos como se fossem meus, eles serão meus filhos também e eu perdoo você e me perdoe também”.

Ela deu um sorriso e falou “ah! Obrigado Cristiano, obrigado, eu sabia que você iria ser generoso comigo”. Virou o rosto de lado e morreu sorrindo. Eu chorei muito. A máquina começou a apitar e entraram muitos médicos e enfermeiros.

Os médicos tentaram reanimá-la, mas não conseguiram. Ela morreu praticamente nos meus braços e eu vi realmente que a vida e a morte podem transformar as pessoas.

Continua...

Comentários

Há 2 comentários.

Por Bi em 2016-07-10 00:19:21
Que triste...coitada da Sabrina...😥😭😭
Por Aldo Andrade em 2013-05-23 21:15:21
:'( Caraca chorando pacas... muito bom mesmo, amei de verdade.