DESPEDIDA DE SOLTEIRO – CAPÍTULO 34 – Minha Metade

Parte 1 – Jonas na Cova do Leão II

Eu consegui sair de cima dele e ele levantou-se “Jonas, tira a minha roupa, eu não vou conseguir dormir assim”. Ele se jogou em cima de mim. Eu tirei sua camisa, sua calça e sapatos. Ele ficou só de cueca box e meias. Eu realmente tinha me esquecido como aquele homem era lindo, era impossível não olhar.

Ele veio de novo até mim e disse “Jonas, obrigado por cuidar de mim. Eu te amo amigo, na verdade eu sempre te amei e vou te amar pra sempre”.

Me puxou pra perto dele, colou seu corpo ao meu e me deu um beijo de tirar o fôlego. Tenho que confessar que ele beijava bem e o bofe era uma delícia, nossa! “que é isso? O que eu estou dizendo? E meu grandão?”.

Eu empurrei Brunno e disse “eu sabia que você ia tentar alguma coisa! Você pensa que eu sou idiota Brunno? Eu já saquei teu jogo”. Quando eu estava de saída ele me segurou pelos braços e continuando com a voz embolada me dizendo “desculpe, por favor me desculpe Jonas. Eu não fiz por mal, eu não quero de você fique pensando mal de mim”.

“Então para de fazer isso Brunno. Se você não quer que eu fique com raiva de você e nem que eu pense mal de ti, para de fazer esse joguinho”.

“Sem querer ofender Jonas, eu sei que você sente desejo por mim. Sempre sentiu, mas você não quer dar o braço a torcer. Quando eu te toco eu sinto teu desejo encontrando com o meu. Só que diferente de você eu admito meu desejo. Você é a pessoa que eu mais amo nesse mundo, é a única pessoa que eu desejo de verdade. Boa noite e me desculpe mais uma vez”.

Eu fui embora, envergonhado, me sentindo um traidor, pois por mais que eu não quisesse admitir, sim, eu me sentia atraído por ele. Mas isso não significava que eu trairia meus sentimentos e meu amor por Cláudio, ele sim, era meu homem.

No outro dia o evento começou cedo. Sentei-me e comecei a anotar tudo, fiquei bastante entretido, quando percebo a presença dele. Ele meu deu um bom dia e esboçou um sorriso maravilhoso, com seus lábios carnudos e dentes perfeitos. Seu perfume inebriava o ambiente. Ele me tratou como se nada tivesse acontecido e disse que tinha ficado feliz pela noite de ontem, principalmente por que eu estava usando seus presentes.

No início da tarde eu e Brunno fizemos parte de uma mesa redonda e apresentamos os desafios da comunicação em uma região peculiar como a Amazônia. Ele esteve maravilhoso e esbanjou simpatia. Eu apresentei nossos projetos comunitários e como era o desenvolvimento da TV e rádio da nossa empresa, intensifiquei a produção local e realmente todos ficaram impressionados com nosso desempenho, principalmente por termos a mesma idade, 26 anos.

Ele parecia uma criança de tão contente e eu confesso que estava nas nuvens com o nosso sucesso. Fui aplaudido e reverenciado pela turma do “bate cabelo”, virei uma espécie de celebridade das bichas, pois de todas presente no evento eu era o único executivo e intelectual, todas eram artistas. Isso não deixou de ser engraçado.

O evento do dia foi encerrado no final da tarde. Por volta das 17 horas Brunno veio até mim e disse “Jonas eu preciso falar uma coisa muito importante com você”.

Eu fiz que sim com a cabeça e fiquei pensando comigo mesmo “caraca, o bofe não me dá folga, não posso nem me rasgar com minhas amigas bichas”. Eu pedi licença às monas e saí, logicamente todas se abanavam por causa do Brunno.

E ele foi falando “olha, eu tenho uma surpresa pra você, mas por favor, pelo amor de Deus, não fica pensando mal de mim”.

“Ai bof.. quer dizer, Brunno, eu já estou pensando mal, você não dá ponto sem nó, assim fica difícil”.

“Não Jonas, eu juro pela minha mãe, eu só quero que você fique bem, só quero cultivar nossa amizade”. Ele foi me puxando e me levou pra frente do hotel. O manobrista chegou com um carro do modelo “kia sorento vermelho” e entregou as chaves para Brunno. Ele me disse “vamos dar uma volta comigo? É rapidinho”.

Eu concordei e saímos. Ele foi dirigindo e fomos olhando as paisagens da cidade maravilhosa. Ainda não tínhamos tido tempo de desfrutar o lugar. Fomos até a praia de Copacabana, ao chegarmos lá ele me convidou para passear no calçadão e tomarmos água de coco. Ele foi me falando que conhecia o Rio, que já havia morado lá por uns meses e que adorava o lugar.

Caminhamos um bocado e ele em um gesto de carinho pegou em minhas mãos. Paramos em um quiosque gls e vimos alguns casais gays em profundos gestos de carinho. Ele simplesmente segurou firme e não me deixou desvencilhar dele. Ficamos de frente um para o outro e ele pediu a água de coco pra gente, fez um carinho em meu rosto e disse “obrigado Jonas, obrigado por não recusar minha amizade, você não sabe como isso é importante pra mim”.

Confesso que eu estava me sentindo estranho com aquela situação, pois ele agia diferente, era muito amigo, cortês e másculo. Não tinha como não ficar tentado, minha respiração foi ficando curta e minha cabeça entrou numa profunda confusão, mas eu tive forças para dizer “minha amizade você pode ter Brunno, mas outra coisa não, você sabe que eu já tenho alguém”.

“Claro Jojô (poucas vezes ele me chamou assim), é disso que eu estou falando. Eu aprendi a te admirar e a te respeitar. Compreendo que você é uma pessoa ímpar. Mas vamos mudar de assunto”. E ficamos falando várias coisas.

O luar foi aparecendo e ele se mostrava um príncipe mesmo, todo atencioso e respeitoso comigo. Ele mostrou-se muito engraçado e cavalheiro. Fomos caminhar mais um pouco e ele me disse que queria sentir a brisa do mar e tirou a camisa, ficando só de calça. Seu corpo lindo estava cintilando sob os raios do luar. Ele num gesto rápido também tirou minha camisa e me abraçou.

Minha respiração estava pequena e ofegante. Ele me colocou no colo e começou a rodopiar comigo pela areia, sorria e cantava e eu pensei “Meu Deus, eu estou com tesão nesse homem, me livre dessa tentação”. Eu me desvencilhei dele e disse “está na hora de ir embora amigo” (falei com ironia) e ele respondeu sorrindo “claro meu querido, vamos, precisamos jantar daqui a pouco”.

Ele me surpreendeu, dando-me as chaves para eu dirigir “vamos, dirige, eu estou cansado”. E assim fomos, o carro era realmente maravilhoso. Ele havia colocando um dvd da Adele e cantou durante todo o percurso. Brunno realmente me surpreendia e parecia outra pessoa.

Quando chegamos ao hotel eu estacionei o carro e entramos juntos. Quando entramos no salão eu entreguei as chaves para ele e disse “obrigado pelo passeio, foi realmente uma surpresa maravilhosa”.

Ele sorriu e falou “mas a surpresa não era o passeio, era o carro, ele é seu Jonas. É um presente para você”.

Eu o olhei com cara de espanto e disse “como é que é? Você está louco? Esse carro custa uns cento e vinte mil, eu só conseguiria pagar um carro desses se passasse fome por muitos meses”.

“Mas você não vai pagar, ele é o meu presenta para você. E não se preocupe, já está emplacado, com seguro e já paguei a viagem para Manaus, ele vai com a gente e a transportadora vai deixar em sua casa”.

“Brunno, presta atenção, eu vou trocar de carro sim, mas ele vai custar uns 35 mil e eu ainda pagarei em várias prestações. É o que eu posso pagar, eu jamais aceitaria um presente caro desses”.

“Eu juro que não estou tentando te comprar. Até por que seu valor é inestimável. A única coisa que eu quero é sua amizade e que você fique bem”.

Eu joguei a chave em cima dele e saí em disparada pra minha suíte. Ele veio logo atrás de mim, quando eu entrei ele entrou atrás “Brunno por favor, me dá licença, eu vou ao banheiro” e saí em disparada.

Por uma infelicidade eu deixei meu celular em cima do criado mudo e ele começou a vibrar. Era uma ligação do Cláudio. Brunno na maior cara de pau atendeu “alô!”.

“Quem está falando?”.

Brunno respondeu “Você gostaria de falar com quem?”.

“Com o Jonas é claro. Esse celular é dele”.

“Ele não pode atender agora, está tomando banho. Você gostaria de deixar recado?”.

“Claro que não. Eu quero falar é com ele. Quem está falando?”.

“É o namorado dele. Ele não pode atender agora, está tomando banho, pois acabamos de fazer amor, passar bem”.

Ele desligou o celular e foi saindo sorrateiramente, não sem antes deixar as chaves e o documento do carro novo...

Continua...

Parte II – Metade

Narrado por Fernando

Depois de algum tempo e de muita ansiedade, ela abriu os dois envelopes e quis saber quem era Olavo e quem era Horácio. Depois das devidas identificações, ela entregou os envelopes para mim e finalmente eu tirei a minha dúvida e descobri a verdade, quando abri os envelopes olhei os dois ao mesmo tempo e disse pra mim mesmo “então é ele o meu pai.”.

Eu devolvi o envelope para a exma. Juíza, que leu o resultado. “Sr. Olavo Villaverde o teste de paternidade entre o senhor e Fernando Villaverde deu incompatível. Já o seu Sr. Horácio Villaverde, o resultado deu 99,99% compatível. Abaixei minha cabeça e comecei a lagrimar.

Tio Olavo também ficou triste, até tia Jurema ficou. A Juíza falou sobre a importância da família e depois deu o caso por encerrado, alegando que se tivéssemos algum outro objetivo teríamos que agir com outro processo judicial, mas que a paternidade de Horácio Villaverde estava garantida, para ele e para mim, para fins de direito de ambos.

Tio Olavo e Tia Jurema vieram falar comigo. Abraçaram-me e disseram que eu era filhos dele e não de Horácio. Eu falei um pouco com eles e saí em seguida triste, fui acompanhado de Noé. Por uma felicidade eu vi o carro do Horácio e esperei ele sair do Fórum. Quando ele se aproximou eu fiquei em frente ao carro, não o deixei entrar e o encarei “agora você vai ouvir tudo o que eu tenho pra te dizer”.

Ele ficou atônito, mas não perdeu a arrogância “não pense que por que agora eu tenho certeza da sua paternidade que eu mudei meu pensamento sobre você. Pra mim você continua e vai ser sempre igual a sua mãe”.

“Pois eu quero dizer duas coisas: ainda bem que eu sou igual a minha mãe e não igual a você. E eu também continuo pensando a mesma coisa de você, seu velho maldito”.

“Você é um devasso, igual a sua mãe, até de homem você gosta, igualzinho a ela”.

“Eu já disse que você deve lavar a boca com sabão de cachorro antes de falar da minha mãe. Mas antes de eu enfiar a mão na sua cara, eu quero falar a segunda coisa”.

“Então fala seu moleque, fala se você tem coragem. Você quer apanhar aqui mesmo?”.

Eu olhei fixo em seus olhos e disse “E você acha que eu ainda sou aquela criança que você espancava? E ainda espancava minha mãe? Eu não tenho mais medo de você”.

“E o que você quer me dizer? Fala. Coloca esse ódio pra fora”.

“Pois eu falo. Agora todo mundo sabe que minha mãe não era uma mulher mentirosa. Você perdeu velho babão. Mesmo que o exame de DNA tenha dado positivo, você não é meu pai e nunca vai ser. Você nunca foi amado como homem e nunca vai ser amado como pai, por que você é podre. Eu tenho nojo de você. Eu te desprezo, tenho asco de olhar pra tua cara”.

Aproximei-me dele e ele se escorou no carro. Eu juntei minha saliva e dei uma cusparada bem forte em seu rosto “isso é pela minha mãe” e desferi um soco em seu olho que ele caiu no chão.

“E isso é por mim”. Ele gritou “eu te odeio, eu odeio tudo o que você representa”.

Ele estava visivelmente abalado e eu disse “eu não te odeio, eu te desprezo e você... você nunca vai ser igual ao Olavo, você nunca vai chegar aos pés dele, ele sim é um homem de verdade e é só a ele que eu amo. Fica aí no chão que aí é o seu lugar, velho maldito”.

Noé me puxou de lá. Foi uma cena horrorosa, mas ela tinha que acontecer. A vida toda eu esperei por aquilo. Sempre fui rejeitado, espancado, desprezado por aquele homem. Sempre me senti um lixo perto dele. Por causa dele a minha mãe tinha sido tão infeliz. Finalmente ele tinha perdido, por que eu tinha em Olavo um pai e ele não tinha ninguém como filho.

Noé me acompanhou e me acalmou e eu voltei para a empresa, tinha que continuar minha vida e meus amados funcionários e amigos precisavam de mim.

Trabalhei o dia inteiro de maneira intensa. Eu tinha que me preparar para passar uns dias num hotel de selva, aqui mesmo no Amazonas. Eu tinha um encontro com uns empresários que queriam construir outro hotel, maior e mais sofisticado, mas com as mesmas características da Pousada Amazônida, pasmem, um hotel 5 estrelas que ficava localizado em cima de árvores.

Marquei um jantar com Thiago e Glauber, pois precisávamos acertar alguns detalhes e matar a saudade como amigos de farra, era o aniversário de Thiago, que completava 29 anos. Quando eu cheguei em casa, Marcos estava me esperando de malas prontas. Eu fiquei um pouco triste, pois ele estava me fazendo companhia.

“Fernando, querido amigo, só estava te esperando pra agradecer por tudo o que você fez por mim, me deixando ficar, mas eu não posso ficar mais, especialmente depois do que aconteceu entre você e minha família”.

“Marcos, eu sinto muito, me desculpe eu não queria fazer isso. Eu é que tenho que agradecer, se não fosse por você acho que verdade não viria à tona. Me desculpe mais uma vez”.

“Tudo bem Fernando, eu entendo. Na verdade você tinha todo o direito de fazer o que fez, mas eu não posso deixar meus pais assim, na rua, enquanto eu fico no bem bom aqui na tua casa. A Sabrina tem a mesada que você dá pra ela, mas meus pais não tem nada. A gente vai pra um lugar barato, é o que eu posso pagar, mas pelo menos eles não ficarão morando de favor, como estão agora”.

Eu me aproximei de Marcos e dei um grande abraço. Ele correspondeu e começou a chorar. Olhou nos meus olhos e deu-me um beijo, que foi correspondido por mim.

“Fernando, eu te amo, eu ainda sou apaixonado por você, mas por favor, não fica com pena de mim”.

Eu segurei em seu queixo e disse “eu não tenho pena de você Marcos, eu tenho é muito carinho, eu não tenho pena, pois não há motivo pra isso, eu tenho certeza que em breve você encontrará um cara maravilhoso pra corresponder esse amor lindo que você tem no peito e vocês irão ser muito felizes”. Ele fez que sim com a cabeça e saiu.

Fiquei realmente triste com a saída do Marcos e com o coração apertado por ter feito aquilo com os pais dele, mas o que estava feito não poderia voltar. Ele precisava ficar sem me ver e tentar dar uma chance pra ele mesmo, pra ele ser feliz com outro cara, pois ele tinha todas as condições do mundo, era bonito, jovem, trabalhador e tinha caráter.

Fui jantar com os meus dois amigos palhaços. Parecia que tínhamos voltado no tempo, tamanha era a sintonia entre nós três. Fizemos uma retrospectiva da nossa caminhada e vimos que a gente tinha crescido muito, e o melhor de tudo, crescemos juntos, mantendo a amizade. Claro, não poderíamos deixar de fazer o Thiagão pagar um mico básico e cantamos parabéns, que fora acompanhado por todos do restaurante.

Revisamos os detalhes da viagem e parecia tudo tranquilo, até que meus queridos amigos me surpreenderam.

“Então Nando, quando é que você vai dar uma nova chance pro Cristiano?”. Perguntou Glauber.

Eu comecei a rir “hahahahahha. Como é que é? Eu estou ouvindo direito? Colocaram maconha no meu chope? Vocês me perguntando isso?”.

Thiago tomou a palavra “Ah Nando! Na boa cara, você é tão feliz quando está com o Cristiano. Você não consegue disfarçar a felicidade quando está com ele, teu olhos brilham irmãozinho”.

“Hahahahahahah! Você estão querendo me gozar sem me comer né? Só pode. Vocês me incentivando a voltar pro Cristiano? Hahahahahha”.

Glauber fingiu indignação “e por que não? Eu sou hétero, mas digamos que agora eu sou um simpatizante da causa. Hahahahahaha”. Thiago ria e balançava a cabeça em sinal de aprovação.

Eu comecei a rir da palhaçada deles e Thiago falou “é sério Nando. A gente tá falando sério cara. Dá uma chance pro garoto. Vocês merecem ser felizes e, eu nunca pensei que eu fosse dizer isso, mas, vocês foram feitos um para o outro”.

E Glauber completou “a gente só quer te ver feliz e isso só vai acontecer ao lado do Cris”.

Eu fiquei passado com os meus amigos, o queixo caiu “meninos eu morro de saudades dele, mas acho que não está na hora, sei lá, o Cris é muito ciumento e eu sofri muito com a separação, agora é que eu estou me recuperando”.

E Thiago disse “faz assim. Vai pra essa reunião, relaxa, pensa bem e quando você voltar procura o Cris, você tem que se entender com ele, é a tua felicidade que está em jogo cara”.

Eu fiquei realmente emocionado com os meus amigos, resolvi desabafar com eles e falar tudo o que eu estava sentindo. Eles me deram a maior força pra eu voltar para o Cris. Meu coração foi ficando aliviado, mas ao mesmo tempo eu pensava “será?”.

Bebemos tanto àquela noite que eu cheguei em casa e apaguei. Pela manhã eu só arrumei minhas coisas, tomei o café que Antônia tinha preparado e fui me retirando, quando ela me chama “seu Fernando! Posso lhe falar uma coisa antes do senhor ir embora?”.

“Claro Antônia. Tá faltando alguma coisa? Você está precisando de algo?”.

“Não. Nada disso. Primeiramente eu quero lhe desejar boa viagem e segundo lhe pedir – volta pro seu Cristiano seu Fernando - Essa casa fica tão vazia sem ele e o senhor não está feliz sem ele que eu sei”.

Eu comecei a rir “Meu Deus, será que eu não estou sabendo, mas tem uma campanha rolando pra eu voltar pro Cristiano: é você, os meus tios, meus amigos. Todo mundo pedindo a mesma coisa”.

“A voz do povo é a voz de Deus. Volte logo pro seu namorado. Ele é um rapaz muito bonito, não pode ficar dando sopa por aí. O senhor é lindo, mas ele também é. Escute a voz de uma mulher experiente. Segure logo seu homem, ele é louco pelo senhor. Se aconteceu tudo isso é por que ele é louco pelo senhor, pense bem seu Fernando”.

“Tá. Tá bom Antônia. Eu prometo que eu vou pensar em tudo o que você me disse”.

Não é que as palavras da minha fiel escudeira não saiam da minha cabeça? Em minha vigem no barco eu não parava de pensar em Cristiano. Confesso que metade de mim queria se afastar dele e a outra metade morria de medo de perdê-lo pra sempre. Olhei a paisagem (mato, água, natureza) e fiquei imaginando a gente num hotel de selva, seria maravilhoso, falei comigo mesmo “será Cris? Será que nós ainda iremos ficar juntos? Será que nós somos a metade que completa um ao outro?”.

Um hotel de selva, no meio da Floresta Amazônica. Verde para todos os lados, água em abundância. Tudo exageradamente belo, perfeito. Um lugar em cima das árvores, torres ligadas por pontes, muito luxo, natureza e sedução. Eu ainda não conhecia aquele lugar e fiquei imensamente impressionado com tudo, desde a paisagem natural, até a sofisticação. Por esse lugar passavam os empresários, artistas e políticos, pessoas influentes e poderosas e nosso desafio era fazer algo maior, mais sofisticado e mais popular. Glauber e Thiago disseram que só eu poderia encarar esse desafio e eu topei.

Levou menos de uma hora a viagem e ao chegarmos fomos bem recepcionados por um casal de jovens com características bem Amazônica, lindos, morenos, com aspectos indígenas. Eles me informaram que minha suíte já estava pronta e me desejaram boas vindas. O rapaz pediu para eu ir à recepção, que o gerente já estava me aguardando e ele mesmo me acompanharia.

Ele estava de costas, parecia que estava olhando uns papeis, estava bem vestido, como era adequado a um gerente. Dava pra ver que era um homem belo e bem jovem. Eu fiquei bastante curioso e falei “Eu sou Fernando Alberto Villaverde, o senhor é o gerente do hotel? Gostaria de ir direto para meus aposentos”.

Ele virou-se. Era um homem lindíssimo. Com um sorriso encantador no rosto me falou “pois não senhor Villaverde, eu mesmo vou acompanhá-lo a seus aposentos”. E eu não conseguia tirar meus olhos, dos olhos dele...

Continua...

Hoje eu fiz diferente meus amores. Eu dedico ao final essa poesia a todos os meus amados leitores e amadas leitoras. Ela expressa bem o sentimento de Fernando.

Metade (Oswaldo Montenegro)

Que a força do medo que tenho

Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito

Não me tape os ouvidos e a boca

Porque metade de mim é o que eu grito

Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe

Seja linda ainda que tristeza

Que o homem que eu amo seja pra sempre amado

Mesmo que distante

Porque metade de mim é partida

Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo

Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor

Apenas respeitadas

Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos

Porque metade de mim é o que ouço

Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora

Se transforme na calma e na paz que eu mereço

Que essa tensão que me corrói por dentro

Seja um dia recompensada

Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso

Que eu me lembro ter dado na infância

Por que metade de mim é a lembrança do que fui

A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria

Pra me fazer aquietar o espírito

E que o teu silêncio me fale cada vez mais

Porque metade de mim é abrigo

Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta

Mesmo que ela não saiba

E que ninguém a tente complicar

Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer

Porque metade de mim é platéia

E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada

Porque metade de mim é amor

E a outra metade também

Continua

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