Snoopy & Woodstock - Parte 3

Parte da série Snoopy & Woodstock - Piloto.

Quando dona Marilda saiu, eu fui pro meu quarto, bati uma punheta supercaprichada, daquelas de suar baldes e dormi nu mesmo. Passei dias pensando no que ela havia me pedido, e justamente por isso, eu perdi diversas aulas de anatomia, bioquímica, histologia e o cacete, porque, mesmo estando lá, minha mente estava longe.

Durante esses mesmos dias, eu sequer passei perto da casa de Jonas, apesar de Rosanah, a segurança da família já ter vindo diversas vezes me avisar que estavam me esperando pra um jantar. Eu fui, muito a contragosto.

—o que houve rapaz? Porque tanta demora?

—eu não estava muito bem, seu Janderson. Passei meio mal essa semana. Quase não saí de casa, não sei se o senhor viu.

—o Senhor tá no céu, rapaz. Me chame só de Janderson, ok?

—ok, Janderson.

Jantamos. Seu Jardeson sentou em um lado da mesa, dona Marilda no outro, Raquel ao meu lado, Rosana ao lado de Jonas, que se sentou à minha frente e me olhava como se arrependido do beijo que havia me dado, como se tivesse sido sem querer. Seus olhos negros me davam uma sensação de sufocamento e admiração que eu não conhecia. Terminei de comer rápido.

—Bom, gente, me deem licença, mas eu preciso ir. Amanha acordo cedo pra estudar e ir pra faculdade. Obrigado pelo jantar, dona Marilda, estava maravilhoso. Até logo, gente. Podem deixar que eu mesmo saio. Não se levantem por mim.

Atravessei a rua, transtornado.

Jonas era gay e eu já sabia disso. Ele tinha me beijado, ou eu tinha beijado ele, nem sei, e o pior disso tudo é que eu havia gostado. Me deu um prazer que eu não conhecia. Eu também seria gay? Ou será que tem uma outra denominação pra isso? Me disseram uma vez que existe pessoas que curtem os dois lados, os BISSEXUAIS. Existem até cantores famosos que são. Decidi dali em diante que eu também seria bissexual. Estava definitivamente apaixonado por Jonas. Eu queria transformar aquele belo garoto branquinho e magro em algo que eu também não era? Não. Não podia fazer isso.

Eu e Jonas não nos encontramos naquela semana. Alguém sempre estava atrasado. Ou ele chegava muito cedo da escola, ou eu que chegava muito tarde. enfim, não pude tornar a ver o garoto da boca doce e vermelha que eu havia adorado beijar.

Dois sábados depois da famosa escalada, eu o convidei pra uma balada GLS que eu já ia antes mesmo de “decidir” ser bissexual, só pra pegar umas gatinhas que estavam ali de bobeira. Não contamos pra mãe dele, lógico.

Vesti uma calça preta, com camisa branca (a famosa do Snoopy) e meus velhos all stars. Passei um perfume, gel no cabelo, e olhei no espelho. Não ia dar mais tempo de fazer a barba. Cheguei na casa dele, toquei a campainha e ele já estava esperando. Decidida e deliciosamente lindo. Camisa branca, com uma blusa xadrez por cima, calça preta, com uma corrente fina pendurada, tênis pretos e uma touca preta. Cheirava

à distância.

—o Luis já chegou! To indo, mãe.

—ta bem. Se diverte bastante, viu?

Fomos à Boate La Ronda, a mais famosa daqui, e depois de eu dar uma miguelada da boa no segurança, por que ele era menor de idade, entramos. Pedi um whisky duplo com gelo pra mim, e perguntei o que ele queria.

— eu queria uma Ice de limão. Tem?

—temos sim senhor. Alguma outra coisa? Aperitivos? — pergunta o barman.

—não, não. Ou melhor, traz o do dia. O que é?

—hoje temos dois: filezinho ao madeira e fritas de filé de tambaqui.

—traz o tambaqui. — pedi. —vai combinar mais com a Ice. E traz uma ice de laranja pra mim. Vai demorar?

—uns vinte minutos, senhor. — respondeu.

—então, nós vamos pra pista e voltamos em vinte minutos. Guarda tudo ae. E pode ir lá preparar sem pressa.

— ok.

Enquanto o Barman ia atender outra pessoa, eu chamei ele pra gente ir no banheiro.

— o que foi? —ele perguntou, assustado.

—Jonas, vou ser direto contigo. Eu não sei o que aconteceu naquele dia, em cima da montanha, mas eu gostei. Não queria aceitar isso, mas não tem como fugir. Eu to gostando de ti, e queria te pedir pra namorar comigo. Você aceita?

Naquele momento, parece que o mundo entrou em uma câmera lenta, e nunca mais ia sair dele. Meu coração acelerou, minhas mãos suaram, meus olhos secaram, meu rosto esquentou... tive medo da resposta. Mas eu já havia dito. Não havia volta.

—também preciso ser sincero. Eu também gosto de ti, e me apaixonei na primeira vez que te vi. Eu sabia que tinha algo de diferente em você. E eu acertei. Meu GAYDAR nunca falha. Hahaha.

--- nhé! e então? Aceita?

—lógico que eu aceito, AMOR.

—vou ter que me acostumar com isso. Ser chamado de amor por um homem...

—vou te chamar de Snoopy então. Melhor?

—na verdade, sim. E eu vou te chamar de Woody. Rsrs. Woodstock, igual ao festival de rock.

—detesto rock. Pra mim é só barulho sem sentido.

—pois eu adoro. Rock, MPB, Sertanejo, tudo isso. E tu, curte o que?

—você, homens em geral, Pop, e sair desse banheiro.

—hahaha. Também acho. Bora pra pista, Woodstock. Meu Woodstock.

Dançamos cerca de uns cinco minutos, e voltamos pro balcão. Comemos rapidinho, tomamos a ice e voltamos pra pista, exatamente na hora do “Love moment”, que é, durante cinco minutos, tocar uma musica romântica, que se possa dançar colado. A musica daquela noite era Sweet child o’mine, do Guns and roses. Ele, mais baixo que eu, colou a cabeça no meu peito. E com certeza, devia sentir meu coração acelerado, e o cheiro do meu perfume.

VERSÃO JONAS.

ERA DELICIOSO. ELE HAVIA ACABADO DE ME PEDIR EM NAMORO, E JÁ ESTAVA DANÇANDO COMIGO... SENTIR SEU CHEIRO, CADA MUSCULO DO SEU CORPO, OUVIR SEU CORAÇÃO BATENDO, SUA RESPIRAÇÃO ACELERADA, SUAS MÃOS NAS MINHAS COSTAS, ME ACARICIANDO...

ME SENTI NO PARAÍSO. O GAROTO MAIS PEGADOR, MARRENTO, E BONITO DAQUELE BAIRRO, HAVIA ESCOLHIDO A MIM PRA NAMORAR. O SONHO DE QUALQUER UM NO MUNDO. EU DECIDIDAMENTE ODEIO ROCK, MAS AQUELA MUSICA, AQUELE AMBIENTE, O CHEIRO DELE, TUDO, ABSOLUTAMENTE TUDO, ESTAVA PERFEITO. UM PRINCIPE COMO ELE, DANÇANDO COMIGO, UM SIMPLES PLEBEU...

QUE SONHO ERA AQUELE QUE EU ESTAVA VIVENDO? SE AQUILO ERA MESMO SONHO, NÃO QUERIA QUE ACABASSE NUNCA. OLHEI PARA O ROSTO DELE. VI QUE ELE NÃO HAVIA FEITO A BARBA, E AQUILO ERA SEXY DEMAIS, APESAR DE EU TAMBÉM ODIAR BARBA. (É GENTE, EU SEI QUE SOU COMPLICADO. HAHAHAHA) ELE PERCEBEU QUE EU ESTAVA O OLHANDO, E... ME BEIJOU! ELE ME BEIJOU! TÁ CERTO QUE EU JÁ O HAVIA BEIJADO ANTES, MAS NAQUELA SITUAÇÃO ERA DIFERENTE. EU NÃO TAVA BEIJANDO SÓ O CARA QUE EU GOSTAVA (E AINDA GOSTO). EU ESTAVA BEIJANDO O MEU N-A-M-O-R-A-D-O! CHORA, RECALQUE! NA-MO-RA-DO!

O BEIJO DELE É CALMO, DEMORADO. ELE EXPLORA CADA PEDACINHO DA BOCA COM A LINGUA, E TERMINA NUMA MASSAGEM NA BOCA COMO SE FOSSEM AS MÃOS DELE E UMA MORDIDINHA GENEROSA NO LÁBIO. A BOCA DELE É DOCE, MACIA, COM LÁBIOS NÃO FINOS E NEM GROSSOS. GOSTOSOS. DELICIOSOS, NA VERDADE. A RESPIRAÇÃO LENTA E MORNA ME CAUSA ARREPIOS NA PELE.

CONTINUAMOS NOSSA DANÇA, COMO SE NÃO HOUVESSE MAIS NADA AO NOSSO REDOR, E TUDO O QUE EXISTISSE NO MUNDO FOSSE EU, ELE E O NOSSOS BEIJOS.

A MUSICA POR FIM TERMINA, E O MUNDO AO REDOR COMEÇA A REAPARECER. EU ME SINTO ENVERGONHADO E AO MESMO TEMPO, ORGULHOSO.

—QUER IR PRA CASA? — ELE ME PERGUNTA.

—NÃO. QUERO SAIR DAQUI, PRA FICAR MAIS UM POUCO COM VOCÊ.

SAÍMOS DALI, E VOLTAMOS PARA O CARRO.

Comentários

Há 2 comentários.

Por Angellix em 2013-11-20 23:58:07
Ah ta muitoooooo bom... continua logo tah. Bjaum
Por Thiago em 2013-11-20 10:39:07
Estou adorando!! não demora para postar viu.. ;P