parte 9
Parte da série Snoopy & Woodstock - Piloto.
Tenho meu momento de lucidez, consigo me conter.
— tu tem sotaque. Não é daqui, né?
— não, sou do interior. De São Miguel.
— bom. Nunca fui lá, mas me disseram que é massa. E dae, porque tá aqui, mano?
— acabei numa briga feia, e levei uma facada pelas costas. Mas não quero falar nisso. E tu, porque tá aqui?
— acidente. Tava com um amigo no carro, e ele capotou porque bateram atrás de mim, e uma carreta me pegou em cheio, mano. Quase morro.
— caralho... foi grave então...
— demais. Tu faz o que da vida?
— to tentando ser modelo, mais é mó difícil. E tu?
— só estudo. Terminando a facu de biomedicina. Sabe o que é?
— hahaha tu mexe com bosta, rapaz! Hahaha zueira. Sei sim. Paga bem?
— depende. Isso varia bastante...
— chega de papo. Hora de dormir, que amanhã vai ser dia cheio. — entra uma gatinha, auxiliar de enfermagem, do tipo que faz o cara pirar só de olhar.
— mas eu ainda nem comi... — respondo.
— perae então. Vou te buscar algo.
Quando ela sai...
— eu comia na moral, mano. E tu? — pergunto, safado como sempre fui, porque, ser safado e gostoso como eu, é pra poucos. (Ele vai me matar depois, mas nem ligo. Pierre sabe que eu amo ele.)
— haha, é né? Cara, vou te jogar a real. Eu sou gay. — ele disse.
— sei como é. Relaxa pow, eu sou bi.
— hmmm... eu não acredito em bissexuais. Pra mim não parece real. Sei lá.
Deu vontade de rir. Mas é a opinião dele. Mas tentei argumentar.
— eu já comi mais mulher do que eu posso lembrar nessa vida. E sei que gosto tanto de bunda de homem quanto de mulher. De homem, não, porque só um me interessa. Mas o tesão, a vontade de estar perto, tudo é igual pra mim.
Ele não respondeu. Só me encarou, e olhou pro teto, fitando o vazio. A gostosinha não voltou. Quem veio foi um velho lá.
— quem aí ta com fomeee?
— eu! — levanto o braço que não dói.
— pois vai ficar, que só mandaram leite e biscoito. Prazer, sou Hermes, auxiliar de enfermagem a 27 anos, e eu vou cuidar de vocês hoje.
— e a gostosa baixinha? — pergunto, interessado.
— foi pra casa. Troca de turnos.
Comi o leite e biscoitos e o cara roncando do meu lado. Pensei até em tirar casquinha antes de ir embora, quando eu fosse. Hehe
Resolvi dormir também, e não sonhei porra nenhuma.
Meu gatinho aparece no outro dia, com carinha de arrependido, durante a visita. Eu já tinha tomado um banhão bem gostoso, tava cheirando muito, e troquei de roupa como sempre fiz. Depois de sair do banheiro. O Maik deu uma olhada em cheio, e eu nem liguei. Pierre veio com a roupa da escola, e a mochila cheia de coisas pra mim que minha mãe devia ter vindo trazer.
— Oi. — respondi suavemente.
— tá bem? — ele pergunta, sem jeito.
— medida do possível. Cade meu beijo? — falo, sensual como eu sou naturalmente. Rs
Ele olha pra mim com cara de E O CARA ALÍ?
— ele já sabe da gente. Agora cala a boca e me beija, porque eu to com saudade. — ele beija, relutante. E eu quase engulo ele inteiro. — mas porque não veio antes? — pergunto, depois de restaurar o folego.
— contei tudo pra eles. E foi uma briga horrível. Gritamos, choramos, fizemos escândalo, mas estamos nos entendendo, eu acho.
Ele me contou tudo que havia acontecido. Foram minutos e mais minutos em que eu fiquei mais preocupado que nunca havia ficado. Maik fingia não ouvir. Mas eu sei que ele tava atento a tudo.
— fim da visita! — grita o guarda, do corredor.
— preciso ir. — ele diz.
Sem resposta, eu seguro ele com o braço esquerdo, pelo bumbum, e pelo direito a cabeça. Sem ter onde se apoiar, a mão dele cai onde eu mais gosto. E vira um poste.
— preciso mesmo ir — diz, tentando não corar mais. (eu adoro ele vermelho. Fica mais lindo ainda. Fora outras coisas...¬)
— tá bom. Te amo, viu? Muito. Não demora a voltar.
Mas ele já tinha ido.
Chega a hora do almoço. Não é mil maravilhas, mas é bom. Como tudo.
— cara, eu achei que você não conseguia levantar. Não te doi? — eu pergunto, sem ter mais papo pra nada.
— até doi, mas precisa levantar, né? Comer deitado não rola.
— entendo. E você consegue ir até o banheiro se precisar?
— consigo, mas to sem vontade de mais nada. Entende né?
— acho que sim.
E começamos a interagir mais. Não que fossem conversas extremamente extensas, mas serviam pra passar o tempo. Isso quando eu não tava jogando, vendo vídeos, ouvindo musica, ou coisa do tipo. Você acaba perdendo um pouco a noção de tempo lá dentro. Só se orienta pelas refeições. E as horas vão passando... dias...
— mano, mostra aí as musicas que tu tem.
— só tem rock. Tu curte?
— não muito. Algumas. Deixa eu ver se eu gosto de alguma.
Ele dá uma olhada nas musicas, e para em uma que eu gosto bastante.
Show Me Love (America)
You should've known I love you
Though I'll never say it too much
Maybe you didn't get me
Maybe I'll never know what I done
Now I'm lost in the distance
You're looking me like a stranger
Cause how it looks right now to me
Is it you're scared of the danger
I could've shown you america
All the bright lights in the universe
Could have reached, the highest heights
A different place, a different life
Remember that night underneath the stars
For a minute I thought the world was ours
All you had to do was show me love
Yeah it's true you know, we're not perfect
There's a fire inside of me
It means I'll fight for the things that are worth it
If it makes me feel complete
Cause I'm hitting rocks, and I'm taking shots
I'm prepared to lose everything I've got
Now I'm lost in the distance
You're looking me like a stranger
Cause how it looks right now to me
That nothing can save us
I could've shown America
All the bright lights in the universe
Could have reached, the highest heights
A different place, a different life
Remember that night underneath the stars
For a minute I thought the world was ours
All you had to do was show me love
Show me love, love
Show me love, love
Show me love, show me show me love
Show me show me love
Show me love
I could've shown America
All the bright lights in the universe
Could have reached, the highest heights
A different place, a different life
Remember that night underneath the stars
For a minute I thought the world was ours
All you had to do was show me love
All you had to do was show me lo
— cara, eu amo essa musica. — digo, excitado ( no bom sentido. )
Pierre vem chegando nessa hora. Com sua linda pele branca, e sua roupa que nunca fica estranha.
— oi amor! Tava te esperando — digo.
— serio? Brigado paixão. — ele solta um sorriso enorme pra mim, que eu nunca tinha visto. Tem como não se apaixonar nesse garoto? Parece impossível. E o melhor: só eu posso.
Conversamos o tempo inteiro, e o Maik com o meu celular, que eu nem lembrava, ouvindo com o fone que eu emprestei pra ele. Ele me conta da escola, das fofocas de ensino médio, e tudo aqui, e eu, como um bom namorido, escuto tudo. Mas acaba de novo o horário das visitas. E eu tiro minha ultima casquinha dele antes de sair.
— vocês se amam mesmo né? — Maik pergunta.
— muito. Fora que ele é puta gostoso, e beija bem pra caralho...
Ele levanta, e em poucos segundos, está do meu lado da cama.
— melhor que eu? — e sem que eu tenha tempo de esquivar, ele me beija.