4. A Ventania Chega Ao Fim
Parte da série Depois da Tempestade
[Jhon's voice]
A sala estava em silêncio, e eu fitava Thiago com cautela, tentando parecer o mais vago possível.
Ele olhava mamãe fixamente. Desde que entrara na sala, só olhou para mim uma única vez.
Thiago tem o cabelo loiro e longo, olhos cor-de-mel, que combinam com seu rosto angelical e sua boca rosada, dando destaque à pele quase bronzeada.
Ele não tinha músculos, mas seu braço não era fino.
Mamãe sorria, com um olhar de aprovação.
Thiago deve ter pensado que o sorriso era para mim, pois me olhou de relance.
Seus olhos se fixaram no meu, sua boca era pequena e formava uma linha reta em seu rosto. Mais um sorriso involuntário. Era o segundo sorriso em menos de meia hora.
Continuei com cara de indiferença, mas fiquei meio tonto. Seus olhos tentavam tirar de mim o segredo que eu guardei durante anos. Remontei minhas defesas e ergui um muro, escondendo meu segredo à sete chaves.
[Thiago's voice]
O olhar de Jhon se tornou frio e cheio de ódio, mas continuei encarando-o. Era impossível desviar o olhar. Era como se os olhos negros dele me sugassem, sugerindo que eu chegasse mais perto, e isso me deixava inseguro, com medo.
Jhon ergueu a sobrancelha esquerda. Seu cabelo era tão negro quanto seus olhos, e ambos se destacavam em sua pele externamente pálida. Sua boca era vermelha, quase num tom de sangue, e seus dentes eram brancos e alinhados.
- Muito bem Thiago - Disse Stela - O que te motivou a tomar essa decisão?
Olhei para Stela, observando sua expressão serena. Ela não olhava mais com aprovação, estava chateada.
- Não seria justo. - repeti - ELE é seu filho, não eu.
Me surpreendi quando notei que repeti a mesma frase que Jhon dissera a minutos atrás.
O olhar de Stela se modificou, ficando intenso e mortal. Tive a sensação de estar sendo baleado mentalmente, mas ignorei o sentimento. Eu me sentia ótimo, e não era um inimigo a mais que me colocaria para baixo. Havia muito tempo que eu não expressava minha opinião, e agora que eu estava falando, nem Jhon, nem Stela e nem ninguém me calaria.
- Você está jogando o sacrifício que eu fiz por você no lixo Thiago Miller. - Disse Stela, mas soou mais como uma pergunta. Uma pergunta em tom ameaçador.
- Não diretora, o sacrifício foi escolha sua. Há várias maneiras de lidar com essa situação, e expulsar alguém para manter outra pessoa? Me perdoe, mas não é uma escolha inteligente, tam pouco uma escolha que alguém inteligente colocaria na lista de possibilidades.
Stela ficou quieta.
- Está mesmo disposto a ser expulso por causa de alguém que... - Começou, mas a interrompi:
- Que não merece ser expulso? Que tem a melhor média da sala? Alguém brilhante e inteligente? Sim diretora, estou disposto. E você? Está disposta a deixar seu papel de mãe para cometer essa atrocidade?
- Estou disposta a lhe dar uma advertência se me interromper novamente. - Falou, ainda emburrada. - Muito bem Miller, você sempre me surpreende.
Stela se levantou.
- Obrigado. - Falei.
- Surpresas nem sempre são boas Thiago, e mesmo que você seja uma boa pessoa, ainda estou disposta à puni-lo pelo desrespeito, e Jhon pela agressão. É já que você se dispôs a defende-lo, a punição de ambos serão de mesma grandiosidade. Levante-se Jhon.
Jhon se levantou com calma, e se colocou ao meu lado. Seu corpo tão próximo do meu me dava calafrios, mas ao mesmo tempo, me transmitia calor.
E era sempre assim quando se tratava Jhon, tudo era contraditório. Estar com ele me dava medo, mas havia uma magnetização que sempre me fazia querer chegar mais perto dele.
- A partir de hoje, até o final deste ano letivo - isso queria dizer um mês - um estará sob custódia do outro. Jhon terá que cuidar de Thiago, e vice-versa. Entendido?
Jhon não protestou, e isso quebrou meus conceitos e teorias.
Jhon não tem cara de guarda-costas, e muito menos de quem gosta de bancar um.
Jhon é forte, mas não em exagero. Seu rosto lembra o de um anjo - um anjo bravo, na maioria das vezes - e seus olhos são profundos. Tem aproximadamente 1,75 de altura, dez centímetros a mais que eu, usa camisa polo com a manga marcando os músculos e calça jeans skinny. Tem um brinco na orelha direita, e usa - sempre - uma corrente militar.
O braço de Jhon encostou no meu, e o contato aqueceu todo meu corpo.
- Por que está fazendo isso? - Perguntei, minha voz trêmula por causa do contato.
Aquela foi a primeira vez que Jhon me tocou - pelo menos que não fosse para me bater - e tive uma leve sensação de que o toque foi proposital. Mas logo meu delírio passou, e considerei que foi apenas um leve esbarro.
- Como assim? - Perguntou Stela - Não queria que eu o expulsasse, então o castiguei.
Ela fazia uma cara de inocente, mas não me convenceu.
- Mas... Não! Jhon e eu? Juntos?
Me imaginei junto de Jhon - sozinhos - e meus pelos se arrepiaram.
Afastei tais pensamentos da cabeça e voltei à realidade.
- Muito bem Thiago, fica a seu critério: Expulsão ou proteção? - Stela ergueu a sobrancelha.
Fiquei realmente tentado a escolher a expulsão, mas concordei com o método menos drástico. Afinal, se Jhon não reclamou, por que eu estava reclamando?
- Muito bem. Podem se retirar. - Disse Stela.
Jhon foi o primeiro a se mover. Ele abriu a porta mas não saiu, esperando que eu fosse na frente, provavelmente com uma piadinha sobre gays do tipo "damas na frente".
Antes de me distanciar da sala, Stela me chamou.
- Thiago? - Chamou - Bem-vindo novamente à Jefferson.
Jefferson é o nome do colégio - Colégio Particular Jefferson Vittiello.
Agradeci e sai. A primeira coisa que fiz foi falar com o meu pai, avisar que ele poderia continuar a trabalhar no colégio.
Papai tentou me convencer a sair do colégio, sondado minhas respostas para achar alguma mentira, mas no fim acreditou e me abraçou.
Definitivamente, tudo já começava a melhorar.