2. Verdades

Parte da série Depois da Tempestade

Eu me sentia um idiota por estar ali na enfermaria do colégio.

A maçã lançada por Jhon me acertou em cheio. Eu não consigo me lembrar da dor, mas me lembro do impacto que me fez cair instantaneamente no chão, sem movimentos por alguns instantes.

- Você vai ficar bem. - Disse a enfermeira - A pancada só te fez desmaiar por causa do impacto e do susto.

A enfermeira sorriu, aparentemente tentando ser simpática. Lhe devolvi e sorriso e desci da maca.

- Vou voltar pra classe. - avisei.

- Na verdade, a diretora Stela quer falar com você. Pediu para que fosse à sala dela. - informou-me a enfermeira.

Assenti e fui em direção à sala da coordenação.

Enquanto passava pelo vestiário, notei que um casal se beijava loucamente embaixo da escada, e a mão direita da menina massageava a região peniana do rapaz por cima da calça.

Dei um leve sorriso, o que fez com que procedesse uma gargalhada baixa. Por algum motivo, achei aquela cena engraçada.

Quando cheguei à coordenação, bati de leve na porta e a empurrei.

- Entre Thiago. - Disse a diretora.

Entrei, e ela fez um gesto para que eu me sentasse ao lado de Jhon. Tentei não fazer cara de nojo, mas não posso dizer com certeza se foi uma tentativa válida.

- Como você está Thiago? - Perguntou Stela com uma voz suave e delicada.

Sempre tão gentil comigo, como pôde ter um filho assim?

- Estou bem obrigada. - Falei, mas logo me arrependi.

Pensei na palavra "bem", e percebi que quando se tratava de mim, nada nunca estava bem.

- Muito bem... Vamos direto ao assunto. - Disse a diretora - Thiago, Jhon me contou à respeito do que aconteceu. Pode contar sua versão por favor?

- Estávamos na aula de biologia, e, bem... - gaguejei - Sinceramente? Seu filho é problemático, e tem que se tratar, por que eu nunca fiz nada para ele, e ele me trata como se eu o tivesse deixado paralítico.

Eu estava ofegante, com raiva e medo. Olhei para Jhon, sua face expressava serenidade e calma. Seus olhos negros fitavam a diretora com tanta intensidade, que era capaz de desmentir apenas com o olhar.

- Quero saber o que aconteceu nessa aula. - Disse a diretora, rude desta vez.

- Ele ficou me ofendendo, e então coloquei o nome da senhora na conversa... - expliquei de cabeça baixa.

Não a olhei, mas sabia que seu olhar de decepção pousava sobre mim.

- Jhon?

- Ele está absolutamente certo mamãe. Não soube controlar a raiva quando ele falou de você.

- Este ato é caso de expulsão Jhon, e para você também Thiago.

Jhon riu.

- Você é minha mãe, não pode me expulsar. - Falou, convicto de que tinha razão.

- Está enganado Jhon! - foi um semi grito - Sou sua diretora, e tenho total liberdade de te expulsar. Thiago, está suspenso por duas semanas por desrespeitar sua diretora. Jhon, está expulso da escola por cometer agressão moral e física com um colega de classe.

"Vou lhe aconselhar a prestar queixa na delegacia Thiago, mas isso é uma escolha de aluno sua, não minha de diretora.

Fiquei boquiaberto com o conselho.

- Eu... não! - falei - Eu estaria te processando duplamente. Por ser a responsável por ele, e por ser a diretora da escola.

Jhon se levantou com raiva.

- Isso não é justo. Por que não vai expulsá-lo? Está com peninha dele?

- Calado Jhon! - Ordenou.

- Estou expulso não estou? Então foda-se, você não é mais a minha diretora. - gritou.

- Do que vocês estão falando? - Perguntei, certo de que era algo sobre mim que só eu não sabia.

- Nada... - Disse Stela, mas foi interrompida.

- Seu pai se demitiu. - Disse Jhon - Está cumprindo aviso prévio há duas semanas. Isso mesmo Thiago, papai está sem emprego, e você vai ter que sair da escola.