Conto de love story como (Seguir)

Sentei-me em minha habitual carteira, ao lado de Karina. Ela cheirava bem.

Karina sorriu para mim, e eu sorri de volta. Seus olhos eram azuis, e seu cabelo encaracolado estava amarrado em um cóqui meio descabelado. Os fios de cabelo negro davam contraste ao batom exageradamente vermelho, que não combinava nem um pouco com o lápis de olho preto. Ela usava roupas largas, uma calça e uma blusa moletom, dando a impressão de que ela era magrela e desproporcional.

Dei de ombros. Karina era o tipo de garota agradável, tinha um certo ar sexy, mas não sabia como usá-lo. Cheirava a Pur Blanca - meu perfume favorito - e a shampoo.

- Como você está? - Perguntei meio sem jeito, sem saber como puxar assunto.

- Eu é que pergunto. - Sussurrou em um tom descontraído e sutil.

Sua voz era contagiante, e fazia com que qualquer um que a ouvisse se encantasse com seu tom de voz, um pouco fino de mais.

- Estou bem, obrigado. - Falei.

Ficamos em silêncio, e Karina tirou o óculos para limpar as lentes ao mesmo tempo em que o sol iluminou a sala, deixando sua luz forte e suave passar pelos estreitos das cortinas brancas. Pude perceber - ou foi só uma alucinação - seus olhos brilhando num verde água.

- Nossa... - Falei um tanto maravilhado, mas deixando transparecer um leve tom de susto, ou algo parecido com espanto.

Karina tratou de recolocar os óculos rapidamente. Ela me olhou tímida, suas bochechas sardentas em um tom rosado.

- Desculpe. - Foi só o que consegui dizer.

- Tudo bem, normal. - Rebateu e fechou a cara, voltando para seu livro extremamente grande.

(...)

O tempo passou rapidamente, e pude conhecer melhor Karina: ela era descendente de alemão, mas sua avó era japonesa, o que resultou em uma garota branca de cabelos negros e olhos levemente puxados para a lateral, mas nada muito associado ao japonês. O óculos não tinha grau, era apenas para descanso, mas ela gostava dele, por isso o usava sempre, e a justificativa para as roupas largas foi seu peso. Ela se achava gorda, e as roupas disfarçavam suas gordurinhas a mais.

O sinal tocou, anunciando a troca de aulas para o último turno.

Peguei meus livros. A próxima aula eu não teria a companhia de Karina, pois eu optei por espanhol, e ela por inglês no curso de línguas. Me despedi e saí da sala.

Uma garoa fina caía do lado de fora, fechando o tempo e escurecendo o céu, outrora recheado de nuvens claras.

Entrei na sala seguido de Jhon, e isso já estava me irritando. Ele mais parecia uma sombra do que um protetor. Sentei-me na cadeira à esquerda da carteira dupla vazia na primeira fileira de carteiras, ao lado da parede. Jhon se sentou no assento direito da carteira de trás, e rezei para que ele parasse de agir de forma tão estranha.

A aula arrastou-se, deixando cada ponteiro do relógio paralisado, como se não se movessem.

No fim do dia, a garoa se tranformara em uma pequena tempestade.

- Quer que eu te leve? - Perguntou Jhon, parando ao meu lado.

- Não obrigado. A chuva nem está tão forte. - Expliquei, já decidindo que esperaria papai sair da reunião.

Mas na verdade a tempestade parecia ficar mais forte e perigosa a cada segundo.

Dez minutos, vinte, e papai ainda estava na reunião. Olhei para Jhon perto da porta, com a cabeça apoiada nos joelhos.

- Pode me levar para casa? - Perguntei.

Jhon sorriu.

- Não. É muito longe. Vou te levar para a casa da minha mãe, fica à poucas quadras daqui. - Falou.

Assenti - inseguro -, não muito confiante em Jhon. Não que ele não fosse digno de confiança - ele não era - mas era me arriscar ou esperar não sei mais quanto tempo por papai.

Assenti, decidindo me arriscar em ir com Jhon. Não que sair com ele fosse perigoso, afinal, que mal poderia acontecer? E mesmo que fosse perigoso, um magnetismo me obrigava a seguir Jhon. Eu o queria por perto. Eu queria que ele me protegesse, e queria protege-lo.

(...)

Chegamos molhados em sua casa - que era grande e bem arejada - e Jhon me ofereceu uma toalha. Ele ria frenéticamente por causa de um escorregão que eu havia levado no meio do caminho.

- Engraçado você. - Ironizei.aceitando a toalha.

Jhon tirou a calça na minha frente, mas logo corou. Suas bochechas ficaram vermelhas, e combinavam perfeitamente com os cabelos negros e molhados caídos sobre sua testa.

Ele saiu desfilando com sua boxer azul à mostra - e exibindo uma bela bunda empinadinha e durinha - e voltou vestido com uma regata branca e um short de dormir azul claro. Me entregou algumas roupas, e eu aceitei.

Uma calça moletom branca e uma regata vermelha.

- Tem alguma de manga comprida? - Pergunto, temendo que ele pudesse ver minhas cicatrizes. - Está frio.

- Vou ver - Falou, e saiu novamente.

Tirei os sapatos e joguei o cabelo para trás, pois já atrapalhavam minha visão. Bocejei e avistei Jhon retornar, com algumas camisetas de manga comprida.

Peguei a azul com a cara do Kurt Cobain estampada, e a frase "Ninguém morre virgem, a vida fode com todos nós".

- Gosta de Rock? - Perguntei.

- Não. - Jhon rebateu - Mas as frases e as lições que eles nos ensinam são incompensáveis.

Concordei.

- "Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração?" - recitei um pedaço da música Eduardo e Mônica, e Jhon aprovou com um sorriso torto e desconcertante.

- Às vezes o coração nos surpreende, e às vezes somos nós quem surpreendemos nosso coração Thiago. Ele escolhe um caminho, nós escolhemos se vamos trilha-lo ou não. - Thiago sorriu meio deprimido, nostálgico - o que acha de tirar essa roupa antes de pegar uma pneumonia?

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