Capitulo: III Quarenta e oito porcento.

Conto de Lucky32 como (Seguir)

Parte da série O homem esguio.

Andamos direto para um bar perto. O lugar não havia requinte nenhum, e cheirava a cerveja e tabaco. Eduarda pediu três marmitex. Comemos elas dentro do carro, porquê Duda estava sendo cantada por alguns bêbados.

- Hum...- Gemi em descontentamento pela vigésima tentativa de roubar minhas batatas fritas.

- Você não tem vergonha?- A morena perguntou cruzando os braços. – Você não besta.- Duda disse para o Wendel que já começou a se desculpar. – Por você que não dividir batatas.- E em um gesto brusco ela enfio a mão roubando uma porção de batatas. O maior também no embalo fez o mesmo.

Resultado acabei não comendo nada. Mas agora que lembrei disso, vejo o quanto sinto falta dela. Além de saudade que me dá Dudinha, vale ressaltar que me senti mais a vontade com o Wendel. Para quem ler pode achar banalidade mais sempre fui muito duro para essas coisas. Mas enfim depois de muitas risadas e conversa voltamos para o trabalho.

Os dois foram para o escritório terminar o serviço lá. Enquanto terminava de retirar o restante do entulho.

Só de entrar na sala dava para notar a diferença. Até mesmo o ar estava diferente.

Por algum motivo estranho o buraco me chamou atenção, lentamente me agachei até ele, estava escuro lá dentro eu não enxergava nada. Peguei me celular e acendi a lanterna e apontei para a cratera. No começo não vi nada. Porém notei um pequeno movimento, fui me aproximando cada vez mais, quando meu rosto estava a pouco centímetros do buraco. Algo saiu dela em direção ao meu rosto. Levantei assustado se debatendo.

- Calma man.- O Wendel gritou ao mesmo tempo que tentava me acalmar . – São só baratas.- Com a ponta do dedos ele retirou o inseto que estava no meu cabelo.

O maior gargalhou enquanto matava as outras baratas que procuravam uma fresta para se esconder.

- Ta qualquer coisa grita de novo. – Ele sussurrou no meu ouvido enquanto cutucava minha costela.

Após o maior sair. Decidi ficar longe do ninho de insetos e terminar o trabalho. Não lembro exatamente quando terminei , mas estava quase na hora de irmos embora. Duda estava fumando. E o Wendel terminando a pintura do escritório, dando os últimos retoques.

Peguei meu moletom e fui em direção a porta para sair, infelizmente a sensação retornou a mim, e no final senti a necessidade de verificar a fissura no chão. Liguei a lanterna do meu aparelho e direcionei a rachadura, não haviam mais baratas, porém além de muita sujeira pude notar algo. Enfiei a mão e senti a textura áspera. E com alguma dificuldade retirei para fora. Era um caderno, ou agenda, no momento não sabia, mas na verdade era um álbum de fotografias.

Com algum cuidado, usando a palma da mão expulsei toda crosta de sujeira acumulada. Na capa não havia nada escrito, era da cor preta. Abri com cuidado, havia muitas fotos, porém por algum motivo misterioso elas haviam sido pintadas de preto todas sem nenhuma exceção.

- Que estranho!-

Levantei assustado deixando cair o álbum no chão, no fim era sô o Wendel me pregando uma peça. Retribui com um olhar serio.

- Calma ai matador só vim aqui avisar que a Dudinha ta no carro esperando.- O maior se pronunciou dando uma piscadela, e um típico cutucão. O que mais tarde eu descobriria que se tornaria um gesto habitual dele.

Olhei para o livro e vi que a capa estava rasgada, então o peguei para verificar melhor, para minha surpresa uma foto caiu de dentro da capa. Nunca soube o porque dessa foto estar escondida lá, porém que o fez tinha ótimos motivos.

Só de me lembrar da foto, me da arrepios, pois por culpa dela que tudo isso começou. Ela era antiga estilo preto e branca, a cena era uma garota de aproximadamente cinco anos, em frente a uma casa da época, ela trajava um vestido, mas o que era intrigante era a expressão dela infelicidade.

- Olha cara da menina, não gostou que tu rasgou o livro dela.- Wendel falou em meio a gargalhadas.

Voltei a olhar para imagem, minha cabeça começou a doer então pude notar uma silhueta escondida no fundo das arvores, não dava para ver se era homem ou mulher, apenas enxerguei ela estática parada observando a menina.

- Você está vendo?- Perguntei para o maior, apontou para figura desforme.

- O que galhos?- Ele respondeu confuso.

Olhei novamente a fotografia descrente que o Wendel não enxergasse tão claramente o homem na imagem.

Nunca soube dizer se ele estava brincando comigo, ou se estava falando a verdade, mas sem pensar duas vezes joguei a foto junto do álbum no latão, enquanto eu me dirigia em direção a saída.

Como de costume Duda estacionou perto, e mais uma vez veio uma criança pedir alguns trocados.

- Desse jeito se vai ficar rico!- Brincou o Wendel aos mesmo tempo que entregava uma moeda paro o garoto.

Eduarda agradeceu o maior enquanto se despedia.

- Falou man, espero te encontrar amanhã.- E foi embora na direção oposta.

Aquela seria a primeira vez que o Wendel mexeu comigo. Claro que no momento sinto ódio, ou talvez seja esperança que ele apareça e me salve. Mas estou perdido, não consigo nem escrever uma linha sem errar o que escrevo e ter que redigitar.

Ele está inquieto, não está mais estático se move de um lado para outro, com passos lentos e longos. Tenho impressão que ele a qualquer momento vai pular em cima de mim, e no final eu ter o mesmo destino da Eduarda. Lagrimas continuam descer, mas não tiro meu rosto da frente do notebook.

O restante da semana vôo como um jato, serio trabalhos muito duro, e finalmente só restava o trabalho dos pisos que ficaria a cargo de uma empresa contratada. E a Duda havia convidado eu e o Wendel para comemorar.

Aqui no cômodo estava muito calor, acabei pegando um ventilador emprestado com a Eduarda para suportar. A tarde se arrastou preguiçosa, mas quando finalmente chegou o horário eu estava arrumado. Usando uma camiseta rosa com um colete por cima, jeans desbotado e um alls star preto.

Não tardamos para sair, apesar do calor daquele dia, a noite estava fresca. Enfim tudo estava perfeito para sair e se divertir, mas possuia um porém. O Wendel estava muito calado, e estranhei. A semana inteira ele foi falante cheio de brincadeiras e intimidades, e de alguma forma ele quebrava esse muro que eu havia construído para me isolar de todo contato social. E ver que ele não queria nem me olhar me desnorteou.

Chegamos finalmente no boteco a rua havia sido fechada e o samba tocava bem alto. Eduarda demorou para estacionar. Mas após achar, saímos e sentamos em uma mesa.

- Oi gente essa é Aline.- Duda apresentou a mulher ao mesmo tempo que sentávamos.- Ela é minha prima.

Ambos cumprimentamos ela. Aline é linda com o cabelo afro pintado propositalmente de vermelho, pele negra que entrava em contraste com os olhos claros, e ainda por cima usava roupas curtas que evidenciavam a beleza do corpo. Tenho certeza que todos ali dariam de tudo para ficar com ela. Até mesmo o Wendel que estava quieto olhou discretamente. Eduarda pediu licença e se enfiou na multidão. A musica rolava, e eu observava as pessoas dançando animadas. Queria no fundo fazer parte de tudo aquilo de me entregar na dança e parecer tão feliz quanto eles, mas no fundo eu sei que nem antes, e muito menos agora eu serei como todos.

Talvez seja por isso que ele está no meu quarto.

Acho que fiquei na mesa por umas três horas o Wendel também havia saído, e eu fiquei sozinho. Não que eu me sentisse mal, muito pelo o contrário sempre fui acostumado a fazer tudo sozinho e ser independente, não queria ficar no pé de ninguém.

Lá pela meia noite o samba estava no ápice, havia mais pessoas do que se podia contar, e eu apenas observava atento a tudo. De repente a alguns gritos são escutados e uma bagunça é formada. E em questão de minutos surge Duda com sua prima Aline abraçada.

- Cleber, vou para meu quarto com minha prima, o babaca do Ex dela o Antônio fez o maior show, e ainda ameaçou a nós duas de morte... – Eduarda disse irritada. – Mas se aquele bosta acha que vai sair livre, pode tirar o cavalinho da chuva, amanhã faço questão de abrir uma ocorrência contra ele.- Aline apenas chorava e soluçava sem dizer nada. – Vou indo na frente, mas já conversei com o Wendel ele falou que te leva para casa. Beijos lindo.- Ela se despediu junto da Aline e as duas desapareceram. –

Eu queria ir com elas, mas algo me disse para esperar, não queria incomodar as duas. Então continuei sentado esperando o Wendel aparecer. Depois da briga com Antônio, o lugar havia esvaziado um pouco, já conseguia até mesmo observar o canto da rua que dava para uma ladeira.

O poste da rua estava quebrado hora acendia outra apagava. Pisquei o olho cansado e soltei um bocejo longo, queria ir embora e praguejei por não ter ido com a Duda. Dei mais uma olhada ao redor, então percebi que a luz do poste estava acesa e longe estava parada a figura de um homem, um choque percorreu minha espinha, pois era o mesmo da foto . Atravessei a multidão desesperado, queria ter certeza que não era alguma ilusão ou coisa da minha cabeça. Demorou um pouco mais quando cheguei encontrei apenas um mendigo que fumava um cigarro de maconha. Ele me ofereceu, eu apenas recusei, então ele deu de costas e desceu o morro desparecendo na escuridão.

Novamente levei um susto senti alguém segurando minha cintura, pensei em gritar, mas meu atacante foi mais rápido e pós a mão na minha boca. Olhei para o lado e vi a multidão afastada que continuavam a festejar despreocupadamente.

- Calma sou eu. – A voz era semelhante, então me virei e vi que era o Wendel. – E eu sei que você gosta.- Ele se aproximou de mim lentamente na intenção de me beijar.

No momento fiquei em pânico não sabia o que fazer, não que sentisse nada ou algo do gênero, porém estava andando em áreas estranhas e desconhecidas. Por impulso e puro instinto me joguei para trás e acabei caindo no chão.

Após alguns segundos de silêncio ele me estendeu a mão para levantar, me senti envergonhado e virei o rosto e aceitei a ajuda. Mas a olhar naquela direção noto algo diferente no gramado, após levantar vou até o objeto, minha pressão cai e sinto que vou desmaiar, não podia crer que a foto que encontrei escondida na capa do álbum, e que joguei fora estava ali no chão.

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