19. Uma noite memorável

Conto de Luã como (Seguir)

Parte da série Proibido

É fim de tarde e eu vejo a chuva cair pela janela da cafeteria, por trás do ombro de Amanda, que toma um longo gole de seu capuccino gelado, entre uma novidade ou outra. Estamos sentados no balcão da Santo Grão da Oscar Freire, onde o movimento é mediano e há algumas pessoas mais ao fundo, sentadas nas poltronas de madeira estofadas, outras mexendo em seus laptops nas mesas quadradas, a fumaça de suas xícaras formando quase que uma paisagem natural do lugar.

- então quer dizer que você é cobiçado até em Presidente Prudente? Que isso, hein Arthur...

- ah Ams, quem me dera ser tão fácil assim. Digo, o Henrique é gente boa, foi meu melhor amigo por muito tempo, mas as coisas mudaram. Eu vi isso quando voltei pra lá, sabe? Não temos mais aquela ingenuidade de melhores amigos. Ele tentou me agarrar lá na festa e tipo, não foi legal.

- bom, enquanto uns reclamam, outras morrem na seca. – ela caçoa, me fazendo rir.

O simpático atendente me alcança a minha xícara generosa de café preto forte e quase sem açúcar, então assim que ele sai e nos deixa quase completamente a sós, eu me atrevo a contar um pouco mais sobre a minha turbulenta, apesar de curta, viagem até a casa dos meus pais:

- o Gustavo foi até lá atrás de mim.

- ele o que? – ela repete, os olhos arregalados, quase se engasgando com sua bebida.

- é, eu também não acreditei muito quando vi ele lá. Parecia mais um tipo de alucinação da minha cabeça.

- e aí? O que ele te disse?

- só a mesma coisa de antes, que tava se sentindo mal por tudo, que queria me pedir desculpas... Mas dessa vez parecia diferente.

- amigo, ele foi até Presidente Prudente atrás de você, lógico que dessa vez foi diferente!

Ambos de nós rimos e eu brinco com a colher mergulhada dentro do meu café, pensando em tudo o que aconteceu.

- eu não sei, parte de mim quer deixar tudo isso pra lá e pelo menos voltar a falar com ele, mas é meio estranho.

- estranho por quê?

- ah Ams, depois do que aconteceu com a gente, eu sempre sinto alguma coisa a mais por ele. Não sei se seria uma boa ideia tentarmos ser amigos ou coisa parecida. Eu ainda gosto dele. – a última frase ressoa baixa de dentro da minha garganta, como se eu tivesse medo de confessar isso até para mim mesmo.

- pode apostar que ele também sente o mesmo, meu amigo. Vocês só tiveram um mal momento, mas eu acho que vale a pena tentar de novo, se vocês tiverem prontos pra isso.

- é... – eu lanço minha mente pra longe dali, pesando os prós e os contras dessa remota possibilidade, mas mesmo eu tentando pensar ou agir com a razão, meu coração bate mais forte só de pensar nele, ou em seus olhos vivos e falantes, ou em seu cabelo, em seu perfume...

O barulho de xícaras atrás do balcão me assusta e me puxa de volta, então eu tomo mais um pouco do meu café, que já havia esfriado um tanto.

- você já conseguiu emprego?

- não, ainda não.

- você não pensa em voltar pro banco? Talvez se você falasse com o Gus, ele daria um jeito.

- não, acho que não seria uma boa ideia, ainda mais com a Duda lá.

- ah, amigo, essa é a notícia boa que eu precisava te contar. – ela me olha, as sobrancelhas finas bem arqueadas.

- o que?

- a Duda foi demitida.

- tá brincando? Por que?!

- digamos que seu temperamento foi piorando um pouco mais desde que você saiu. Ela começou a fazer intriga com o pessoal e ficava o tempo todo no pé do Gustavo, então começou a ficar um clima tenso e ela começou a ficar agressiva. Deram o aviso prévio pra ela ontem.

- caramba... Eu sabia que ela era difícil de se lidar, um pouco insuportável e tudo mais, mas chegar ao ponto de ser demitida?

- pra você ver... A Duda é uma menina estranha, Arthur. A gente entrou quase ao mesmo tempo lá no banco, eu tinha só umas semanas a mais do que ela. No começo ela ficou trabalhando comigo, ali no térreo. Era um amor de pessoa, se dava bem com todo mundo, mas aí ela foi substituir a outra menina que havia saído, lá no último andar, então aos poucos ela começou a ficar diferente, mais fechada, mais azeda. Não dá pra entender o que se passa na cabeça dela.

- então quer dizer que você já foi íntima da Duda? Difícil de imaginar.

- pois é. Pra ver como são as coisas. - ela ri e eu termino de tomar meu café, empurrando a xícara pra mais longe. – bom, eu tenho um amigo que trabalha numa seguradora. Se você quiser eu posso te indicar, acho que eles estão contratando.

- sim, isso seria perfeito, Ams! Obrigado.

- o que seria de você sem mim, não é? – ela mexe no cabelo, divertida. – me agradece depois.

Meu celular toca e então vejo uma mensagem de Samuel.

"Emergência! Estou com uma duvida cruel. Vou de verde ou de preto?" – em seguida, duas fotos, uma com cada roupa estendida na cama.

Sorrio, pensando que apesar de ele saber muito mais de moda do que eu, sempre recebo essas mensagens ou ligações de emergência para ajudar a tirar suas duvidas cruéis.

"Verde, combina mais com o tom claro do seu olho. Além do mais, eu já vou de preto, então pode cair fora."

- quem é?

- ah, o Samuca. Tá me pedindo ajuda pra escolher uma roupa pra festa de hoje à noite.

- festa?

- é, da Leona, irmã do Gustavo.

- hum. – ela murmura, os olhos julgadores prontos para o ataque. – e você também vai?

- é... vou. – reprimo o riso, os ombros encolhidos.

- bom saber. Gustavo vai gostar de te ver lá.

- a gente vai junto.

Ela abre a boca, surpresa, então eu rio alto.

- nem vem, tá! Vamos apenas como amigos. Além do mais, Leona já tinha me falado desse evento há tempos, seria grosseria minha não ir.

- Uhum. Me engana que eu gosto.

Reviro os olhos, enquanto no fundo eu sei que ela tem razão. Essa festa de hoje vem me tirando o sono desde que Gustavo me convidou e só de pensar que estaremos juntos à noite toda me deixa nervoso. Será que eu estou preparado pra isso? Gustavo, família lobo, festa de luxo... Sinceramente eu não sei, mas torço desesperadamente que sim.

__

Passo pela guarita do condomínio e ouço o porteiro me chamar, logo depois de passar pela janela. Ao parar na porta ele me alcança uma caixa de papelão fechada, não muito grande, mas também não tão pequena.

- aqui, deixaram pra você agora a pouco.

- não disseram de quem era?

- não, um menino de bicicleta deixou aqui, só disse que era pra você.

- hum, estranho. – eu resmungo, sacudo um pouco a caixa e vejo o quão leve ela é, fazendo eu me perguntar inclusive se realmente havia alguma coisa ali dentro. Se não fosse o barulho de papel, no entanto, eu teria fortes dúvidas quanto a isso. – obrigado, Jair!

Subo para o apartamento com ela debaixo do braço e fico um tanto curioso pra saber o que tem dentro. Entro em casa e me sento no sofá, colocando a caixa do meu lado e rasgando o embrulho com pressa, a antecipação me deixando um pouco irritado. Ao abrir, enxergo vários papéis picados em tiras largas, apenas. Reviro-as para encontrar alguma coisa, mas então percebo que as folhas na verdade eram partes de alguma foto, xerocadas várias e várias vezes. Pego um dos pedaços e vejo parte do meu rosto e o de Gustavo, na foto da corrida que foi publicada no jornal, algumas semanas atrás. Sinto meu estômago se revirar e a ponta de um papel inteiro acaba se mostrando no fundo da caixa, o que me faz puxa-lo rápido, a aflição me deixando nauseado. No bilhete, apenas uma frase, digitada no meio da folha, dizendo:

"APENAS UM RECADO, ARTHUR. VOCÊS NÃO VÃO FICAR JUNTOS."

Sinto minhas pupilas se dilatarem e minha boca secar, enquanto eu seguro aquele papel e sinto meu sangue esquentar por todo o meu corpo. Meu pensamento corre até Duda, ainda mais depois do que Amanda me falou. Se ela realmente está perdendo o controle do seu psicólogo, ela deve ter ficado irritada ao ser demitida e provavelmente deve estar achando que eu e Gustavo estamos numa boa novamente. Será que ele deixou escapar alguma coisa, quando foi demiti-la? Ou será que ela mesmo foi atrás pra saber? Eu sinceramente não sei e não quero pensar nisso agora. A minha única preocupação é de que talvez eu esteja lidando com alguém um pouco mais perigoso do que eu pensava.

- ei, eu tava te ligando pra saber se você tava em casa! – Samuel fala, logo depois de abrir a porta e me ver no sofá, então eu fecho a caixa no mesmo instante e tento não demonstrar minha preocupação.

- eu não vi. Na verdade eu acabei de chegar.

- hum. E que caixa é essa aí?

- entregaram por engano. – eu disfarço, colocando-a no colo. – depois vou devolver pro porteiro.

- sei. E você, não vai se arrumar não? A festa é daqui a pouco.

- vou, eu só... Ah, não to muito afim de ir.

- como assim? Arthur, é um evento mega importante, além do mais você prometeu pro Gustavo, lembra? – o tom de sua voz é debochado, revelando o sentido que ele quis tomar com a frase.

- você prometeu pro Gustavo, lembra? – faço uma careta, imitando com a voz debochada o que ele falou.

- como se eu não te conhecesse, Arthur. Você sabe que hoje vocês dois voltam pra casa juntos. Os dias de sofrência acabaram!

- Samuel, seu ridículo! – eu grito, jogando uma das almofadas em sua direção, então ele se curva para desviar e sai rindo em direção ao quarto. Eu balanço a cabeça em desaprovação e passo a mão na caixa, voltando a me sentir um tanto incomodado. O que será que Duda quis dizer com isso?

Seja lá o que for, eu mesmo decido por agora que isso não vai me assustar ou acabar com o meu dia. Ela só está querendo chamar a atenção, querendo bancar a doida psicótica, mas não vai conseguir.

_

Me olho em frente ao espelho e não consigo deixar de me sentir orgulhoso. Se na ultima festa da família Lobo eu fui motivo de piada para os amigos de Gustavo, dessa vez eu não vou ir para o ninho de cobras sem estar bem vestido. Coloco minha jaqueta grafite de suede por cima da minha camiseta preta de gola rolê, completando, junto com minha calça cropped, um perfeito monocromático quebrado apenas pelos tênis brancos que Samuel havia me ajudado a escolher, assim como todo o resto. Eu agora me sinto mais como um modelo de uma grife famosa do que o Arthur desencanado pra assuntos de moda, mas gosto do resultado. Vejo a porta do meu quarto se abrir atrás de mim e Samuel surgir, animado e já vestido pra matar, como ele mesmo fala.

- Arthur, essa roupa ficou um estouro!!! Mal posso ver a cara do Gustavo quando te ver. Vai chorar pra te ter de volta no mesmo instante!

- você também tá bonito, Samuel. – eu murmuro, ignorando o comentário desnecessário.

- bonito? Eu não passei o dia todo procurando essa roupa pra estar simplesmente bonito. Eu estou fantástico! – ele gesticula, fingindo uma imodéstia quase convencível. Mas não é pra menos, já que ele está usando um blaser verde militar em um material semelhante à veludo, complementando um monocromático em branco da camisa e da calça, que também é cropped, e calçando um tênis caqui.

- bom, acho que pelo menos não vamos deixar Leona decepcionada.

- me engana que eu gosto. Você não quer deixar o Diego decepcionado.

- bom, faz parte do pacote. Mas o fato de estar indo a um evento importante de moda me faz querer mostra ainda mais o meu apreço pelo assunto. Vou sair estonteante ao lado da Leona nas colunas sociais!

- nem me fale em colunas sociais. – resmungo azedo ao lembrar do episódio da caixa com as fotos picadas.

- por que?

- nada não. Só esse lance de coluna social que não é muito a minha praia.

- ah Arthur, se você não fosse meu melhor amigo eu mesmo lhe dava um soco na cara por ser tão mala às vezes. Vem, vamos se não a gente perde a hora!

Depois de descermos até o hall, consigo avistar o veículo longo estacionado em frente à calçada.

- mas o que? – eu exclamo, extasiado.

- isso sim que é começar uma noite com o pé direito.

Saímos do condomínio e vejo Gustavo e Diego de pé ao lado da porta da Hummer preta, ambos trajando roupas sociais bem cortadas e finas, apesar de simples e discretas. Gustavo está com uma camisa azul petróleo, marcando seus músculos do braço e caindo em seu corpo feito uma luva. Diego está igualmente lindo com uma camisa vinho, destacando seu tom de pele bronzeado. O motorista está vestindo o tradicional uniforme, em postura séria, na extremidade da lateral do veículo, perto do capô.

- boa noite, cavalheiros! – Diego cumprimenta, sorridente ao nos ver, enquanto Samuel já corre para o seu lado. Eu, por minha vez, me sinto um tanto desconfortável por tudo isso estar parecendo um programa de casais, sendo que eu e Gustavo sequer somos um. Pelo menos não mais. Entretanto eu não posso negar que estar aqui com ele é algo que me deixa feliz; estar com Gustavo é algo que sempre irá me deixar bem, mesmo que parte de mim queira negar isso.

- boa noite, Arthur.

- boa noite, Gustavo. Bela camisa. – eu tremo, oscilando a voz ao sentir seu timbre rouco e acolhedor.

- você também tá lindo.

- obrigado. – eu sorrio, um tanto sem jeito.

Depois de sermos recepcionados pelo motorista, entramos no veículo e, eu não sei os outros, mas pelo menos eu tenho a impressão de que acabei de entrar em uma casa. O tamanho da Hummer por fora já era gigantesco, mas por dentro é ainda maior! Há filetes de luz em tons de rosa e roxo formando uma linha continua nos bancos em curva, além de outras luzes em lilás e azul no teto, no chão e nas paredes, se extendendo por todo o interior do carro, iluminando os bancos pretos em couro, as duas barras de ferro usadas como pole dance, uma em cada extremidade, além dos suportes de taças, pendurados entre as janelas. Breathe, do Seeb, toca enquanto Diego pega uma garrafa de espumante no cesto com gelo e estoura, derramando um pouco no chão e fazendo todos rirem enquanto nos serve.

O caminho até a região do Brooklin é relativamente curto e mal vemos o tempo passar, já que nossa noite começava a ficar agitada ali mesmo, antes de qualquer festa. Quando vemos, o carro diminui de velocidade e eu olho pela janela, avistando a entrada do centro de eventos e alguns fotógrafos prontos pra registrar quem sairia daquele veículo imenso e luxuoso. Assim que a porta é aberta, Diego e Samuel são os primeiros a sair (eu sei como Samuel queria ter feito à frente e, mesmo com Diego ter saído antes dele, ainda consigo ver o sorriso estampado na cara dele ao sentir os flashes em seu rosto. Sozinho com Gustavo, me atrevo a olhar pra ele e vejo que ele faz o mesmo, então naquele breve momento eu estou paralisado, tentando decifrar o que ele quer dizer, mesmo sem nenhuma palavra ser dita em voz alta.

- o que foi? – eu quebro o silêncio, sentindo meus músculos da barriga se contorcerem.

- eu queria tanto poder te beijar agora.

- Gustavo, não...

- eu sei. É só uma tentação momentânea. – ele soa calmo, mas inconvincente. Eu sinto minhas narinas se abrirem nervosamente enquanto puxo o ar com força, como se aquilo fosse o que eu mais precisasse naquele momento. No fundo, eu não queria que aquilo fosse uma tentação momentânea.

- acho que estão esperando a gente lá fora. – ele complementa, calmamente.

- vamos, então.

Saímos para a calçada e vejo uma pequena multidão parada em frente ao prédio, a maioria fotógrafos, com suas lentes apontando para nós dois, então tudo o que eu faço é sorrir no modo automático.

- se eu bem te conheço, você deve estar louco pra ir embora agora mesmo. – ele fala, quase entre dentes, disfarçando enquanto posa para as fotos.

- não digo ir embora, mas entrar pelos fundos, talvez.

- seria bem mais discreto. Talvez daria pra gente aproveitar isso de forma inteligente. Como nos velhos tempos. – Gustavo brinca, seu típico humor mais aceso do que nunca.

- você tem uma mente muito fértil.

Eu sorrio corado e sigo-o até a recepção, no final do tapete. Finalmente estou vendo o antigo Gustavo de volta, aquele que sabia me deixar sem jeito em qualquer ocasião, de qualquer maneira. No fundo, eu senti falta disso.

Após Gustavo dizer nossos nomes para a recepcionista, que veste um terninho grafite e nos encara com uma simpatia forçada, mal escondendo a cara de quem provavelmente tem prisão de ventre, entramos de fato na festa. Passamos pelos seguranças e mergulhamos no salão, onde uma grande quantidade de pessoas vestidas com trajes elegantes, alguns mais discretos e outros beirando a extravagância, conversam em pequenos grupos enquanto garçons circulam distribuindo taxas de champanhe. É, tudo no tradicional estilo Lobo de se festejar.

Leona está mais adiante, com um maravilhoso vestido longo de cetim azul petróleo, em um tom um pouco mais claro do que a camisa de Gustavo, com duas alças largas e outras duas mais finas e secundárias, que se traspassam nas costas. O que mais me chama a atenção é o fato de que na verdade é um vestido curto com duas aplicações de tecido que descem da cintura e se abrem suntuosamente para os lados, deixando suas pernas à mostra e casando perfeitamente com seus sapatos rosa escuro,reforçando a ideia de que Leona sempre é especialista quando o assunto é se vestir de maneira impecável. pernas, realçando a beleza de suas pernas e seus sapatos rosa escuro.

Assim que ela olha para o lado e me enxerga, ao lado de Gustavo, seus olhos brilham. Ela pede licença para o casal de meia idade com quem conversava e então se vira para mim, visivelmente feliz em me ver.

- Arthur, você veio!

- eu não perderia por nada. Tá tudo tão lindo, você tá linda! – eu digo, abraçando-a forte e me sentindo feliz ao vê-la e ao prestigiar um momento tão importante para sua carreira.

- você também! E você, Samuel, lindo como sempre!

- ah, Leona, um elogio desses vindo de você é um luxo! Obrigada.

- que rasgação de seda, gente. – Gustavo se intromete, o humor afiado.

- eu não tenho culpa se eles estão lindos, Gus. Já você, mandou zero no quesito criatividade hein? Mesma cor que o meu vestido?

Todos começam a rir, enquanto Gustavo faz uma cara de quem havia perdido a guerra. Logo depois nos despedimos de Leona, que estava obviamente atarefada demais para ser monopolizada pela gente, então seguimos até a longa escadaria que leva até o salão onde o desfile iria acontecer, daqui a alguns minutos. As fileiras estão movimentadas e com muitas personalidades da alta sociedade de São Paulo; artistas, socialites, empresários do ramo, sem contar nos inúmeros fotógrafos. Costuramos as pessoas pelos largos corredores entre as cadeiras, até que chegamos em nossos assentos, na segunda fileira. A vista de onde estamos é privilegiada, dando acesso visual total ao começo da passarela, onde o pessoal da produção técnica ajeita alguns cabos nas beiradas. Esperamos um pouco até que o restante dos assentos começam a ser preenchidos e o burburinho das conversas diminui, depois que as luzes mudam de intensidade, destacando apenas o perímetro da passarela, ao mesmo tempo que a música ambiente não se torna tão alta, anunciando que o desfile começaria logo.

O telão principal muda da imagem estática onde dizia "Coleção outono/inverno 2016 Leona Lobo" para um vídeo introdutório, com cenas de modelos vestindo algumas das peças da coleção em um fundo branco. Enquanto isso, a primeira modelo aparece no início da passarela, usando um vestido assimétrico em tom vinho e exalando um ar elegante e futurista, com alças finas e um cinto metálico marcando toda a cintura da modelo, começando abaixo do busto e terminando no final do abdômen.

- olha esse vestido! Caramba. – Samuel exclama, o tom de voz baixo, fazendo com que apenas eu ouça. A julgar pela paixão do meu melhor amigo por moda, esse momento deve estar sendo algo memorável pra ele.

- isso que é apenas o primeiro. A Leona é uma lenda.

- como eu havia dito, a Beyonce das passarelas, meu amigo.

Ambos de nós rimos, enquanto eu volto a prestar atenção na modelo, que já saia de cena. Depois dessa, uma sequência de várias outras modelos, vestindo peças de extremo bom gosto e deixando todos hipnotizados, inclusive eu, ao pensar que tudo isso foi criado por Leona. A versatilidade das peças é admirável, enquanto parecem se combinar, mesmo nenhuma delas sendo parecidas umas com as outras. Há desde calças largas e curtas, estilo retrô, com tênis de plataforma e camiseta cropped, até vestidos sem alça de cetim com aplicações em 3D, deixando a amostra da coleção bastante diversificada e atrativa. O resultado, como esperado, acaba sendo um sucesso. Todo mundo fica encantado com a variabilidade e a qualidade das roupas e acaba ovacionando Leona quando ela entra na passarela, logo atrás das modelos, que desfilam em conjunto no momento. Seu sorriso radiante simplesmente me deixa ainda mais feliz por ela e eu solto uma salva de palmas ainda mais calorosa, orgulhoso por ela ter feito tudo de maneira impecável.

Assim que todos saem da passarela, algumas pessoas já começam a se levantar e ir embora. Diego e Samuel são os primeiros a levantar, então Gustavo e por ultimo eu.

- vamos dar os parabéns para Leona? – ele pergunta, me olhando com expectativa.

- vamos, claro.

Desviamos da multidão que se aglomerava nas saídas das fileiras, rumando até as escadas. Diego e Samuel estão mais à frente, enquanto Samuel parece conversar animado sobre algum assunto que provavelmente deve ser relacionado ao desfile. Diego, que obviamente não entende tanto quanto Samuca, deve estar se sentindo um peixe fora d'agua, até mesmo a julgar por sua cara, que é totalmente compreensível.

- Gus, e seus pais? – eu pergunto assim que sinto a falta deles. O desfile havia terminado e eles não apareceram.

- estão em uma viagem de negócios. Ultimamente a empresa está negociando abrir uma filial em Buenos Aires, então eles estão bastante atarefados.

- que ótimo! Eu fico feliz por isso. – eu pauso, avaliando se devo ou não comentar. Por fim, decido o fazer. – mas eles sabiam do desfile da Leona, certo?

- sabiam. – ele me olha, dando de ombros. Caramba, Leona deve estar se sentindo um pouco triste por isso. Porém, como não é da minha conta, acabo apenas acenando e voltando a ficar em silêncio.

Na hora em que estamos perto da porta da saída do salão, quase no corredor, uma mulher distraída e um pouco alcoolizada acaba esbarrando em mim e derruba sua bebida em minha camiseta. O líquido gelado me faz contrair meu corpo, enquanto ele pega a taça com força, impedindo de cair.

- ah caramba, me desculpa!

- não foi nada. – eu respondo, um pouco incomodado, enquanto esfrego minha mão no tecido, tentando limpar. A mulher, visivelmente sem jeito, acena com a cabeça em sinal de despedida e sai de perto, encabulada.

- eu acho que vou no banheiro tentar limpar.

- quer que eu vá com você?

- não, não precisa. Acha o Samuel e o Diego e depois me esperem ali no corredor pra procurarmos a Leona.

Ele concorda e então eu saio a procura do lavabo, enquanto penso que Samuel e Diego devem estar tratando de assuntos que ambos gostam, já que até um minuto atrás eles estavam bem em nossa frente e agora já não estão mais.

Quando finalmente descubro a porta do banheiro entre as várias iguais do longo corredor, entro para tentar salvar minha camiseta e tirar aquele cheiro de álcool empregando em mim. Passo um pouco de água e seco com toalha de papel, quando a porta se abre e Diego aparece, surpreso ao me ver.

- ei, em apuros?

- fui o alvo perfeito de uma mulher com um copo na mão. – eu murmuro, zombeteiro.

- uma festa sem um banho de bebida não é uma festa.

Sorrimos e então ele vai até os mictórios logo adiante, me deixando a sós com minha tentativa falha de consertar as coisas. No fim das contas, fico com uma camiseta ainda mais melecada e com um quilo de toalhas de papel gastas em vão.

- eu fico feliz que você e o Gustavo voltaram a se entender. – ele diz, ainda esvaziando a bexiga, enquanto eu fico em um impasse; evitar de olhar para ele ou não? Afinal, se eu evitar, seria falta de educação, se eu não evitar, seria uma situação estranha. No fim das contas acabo olhando pra ele rapidamente, só para sorrir antes de responder:

- é, eu também. Estamos meio que começando do zero, eu acho, mas já é algo, né?

- com certeza.

Ouço a descarga sendo acionada e então Diego está do meu lado novamente, lavando as mãos.

- dá pra ver que vocês são feitos pra ficar juntos. – ele conclui, antes de dar dois tapas em meu ombro e sorrir, antes de sair e me deixar um tanto pensativo. Somos? Bem, então eu acho que fico feliz. Porém, me lembro que ainda estamos de guarda baixa e sem necessariamente estarmos juntos, o que me faz pensar que pisar no freio seria o melhor por agora.

Saio do banheiro e procuro Diego, Samuel e Gustavo, mas não os acho. A mania de Diego de sumir, seja com ou sem Samuca, já começa a ser ago irritante. Caramba, ele estava aqui agora mesmo! Pensei que estaria junto com os dois, me esperando aqui fora. Decido ir atrás deles para procurar Leona juntos. Porém, quando passo em frente a uma porta larga de vidro aberta, vejo Leona, sozinha e fumando, encostada no parapeito da sacada. Caminho até ela, enquanto ela está de lado, olhando pro nada e parecendo estar com a cabeça longe.

- foi um desfile incrível. – eu a interrompo e faço-a voltar à realidade, enquanto ela me nota e sorri ao me ver.

- obrigado, Arthur! Eu estava nervosa, torcendo pra dar tudo certo.

- e deu! O pessoal nas fileiras simplesmente amaram! Fico muito orgulhoso, de verdade.

Ela dá uma tragada e então solta a fumaça para o outro lado, sorrindo ao ouvir minha confissão.

- eu só queria que meus pais tivessem aqui pra ver também.

Eu suspiro ao ver que ela está chateada pela ausência deles. Me aproximo mais um pouco e me encosto na sacada de concreto trabalhado, na mesma posição que ela, então encaro um pouco a vista da noite em minha frente antes de tentar dizer algo:

- tenho certeza que eles também estão orgulhosos de você, mesmo não podendo estar aqui.

- é, eu sei. – ela concorda, o tom um pouco mais leve. – em compensação, foi uma surpresa muito boa te ver aqui, com meu irmão.

- é, é uma surpresa pra mim também. Estamos um pouco... – eu solto e me contenho, lembrando que nem ela e nem ninguém sabiam que eu e Gustavo não estávamos mais juntos.

- eu sei. Foi um pouco obvio o seu sumiço depois da confusão lá na festa do Diego.

- é, eu e o Gustavo tivemos alguns problemas...

- então eu imagino que você já deva saber o que aconteceu lá na festa, aquele dia.

- é, sei sim. – concordo com a cabeça, tentando me manter inexpressivo. Sinto que esse assunto é um pouco delicado demais. – eu quis tentar ajudar, entender um pouco, mas ele se afastou. – a lembrança dolorosa me deixa desestabilizado. Aquela noite, sua confissão enquanto achava que eu estava dormindo, o tempo que ficamos em silêncio absorvendo toda aquela confusão...

- olha Arthur, o Gustavo tem um passado complicado. Muita gente não sabe, eu imagino que ele não gostaria que você soubesse também, mas esse é o jeito dele de encarar as coisas. Sempre preferiu guardar tudo pra si, passar por tudo aquilo sozinho. Desde que temos ele na família, foram raras as vezes que ele tocou no assunto. Mas apesar de toda essa conturbação, felizmente não foi o suficiente pra atingi-lo, emocional ou psicologicamente, e eu me orgulho muito dele por quem ele se tornou, mesmo com tudo aquilo. O Gustavo é um homem de ouro, sempre se dedicou muito pra crescer na vida e construiu o que ele tem hoje com muito esforço. Mas mesmo assim era alguém fechado demais, com algumas marcas dolorosas do passado. Desde que ele te conheceu, no entanto, eu percebi que ele mudou. Ficou um mais alegre, mais próximo da gente, então eu fico mais do que grata em saber que você tá fazendo ele feliz.

- ele também me faz muito feliz. Mesmo que não estejamos mais juntos. – eu admito, mesmo que eu não saiba ao certo a que pé anda a nossa situação. Na realidade eu não consigo entender o que está acontecendo com a gente. O convite pra festa, a limusine, a nossa troca de olhares, será que estamos finalmente voltando para os trilhos? Fico um pouco absorto com a quantidade de informações soltas para mim, mas sinto que eu precisava saber disso. E no fundo eu sabia que apenas Leona me deixaria saber um pouco mais sobre os motivos de Gustavo.

- você sabe que o que vocês têm é mais forte do que qualquer diferença. O Gustavo é orgulhoso, mas desde que vocês se separaram foram os piores dias pra ele.

- foram? – eu pergunto, um tanto confuso, enquanto lembro o que Diego havia me dito no apartamento, outro dia.

- é, digamos que o meu irmão é péssimo em esconder os sentimentos.

- aí estão vocês! – Gustavo surge na porta, interrompendo nossa conversa e sorrindo de forma larga e vibrante. Diego e Samuel aparecem logo atrás, então eu encaro Diego, que acaba se tornando um mistério pra mim. Se ele havia me dito que eu e Gustavo fomos feitos um pro outro há poucos minutos no banheiro, por que ele mentiria pra mim no apartamento aquele dia, dizendo que o Gustavo estava muito bem depois que havíamos terminado? E por que Leona mentiria sobre ele estar exatamente o oposto, sendo que ela havia me contado tanta coisa sobre seu passado um pouco antes disso? A dualidade das versões acaba me deixando confuso e irritado, enquanto minha intuição diz claramente que Diego não parece ser uma pessoa confiável.

Saio dos meus pensamentos e decido tentar ao menos disfarçar meu aborrecimento, entrando conversa animada dos quatro sobre o desfile.

Ficamos em nosso momento particular até um dos fotógrafos nos achar e pedir para tirar algumas fotos. Quando ele pede para tirar algumas apenas de Leona, aproveitamos a brecha e nos despedimos dela, decidindo por fim irmos pra casa.

Dentro da Hummer, aproveitamos o espaço entre uma ponta de outra para conversarmos, eu e Gustavo.

- gostou de hoje? – ele me pergunta, o rosto cheio de expectativa.

- foi muito bom. Obrigado.

Gustavo parece querer dizer algo, mas se detém. Porém seus olhos não saem dos meus, o sorriso acolhedor me rondando e me deixando embaraçado.

- que foi?

- eu ainda estou com uma vontade imensa de te beijar.

Santo Cristo, direto e sincero! Eu engulo e sufoco um riso involuntário, achando sua atitude bastante audaciosa e percebendo que ele está começando um de seus jogos.

- Gustavo...

- o que foi? Apenas um comentário. – ele olha para fora e então reprime o riso, deixando claro suas intenções.

O carro para no meio fio e então eu nem me dou ao trabalho de perguntar para Samuel se ele vai descer, pois eu sei que a noite estava apenas começando para ele e para Diego.

- bom, então é isso. – eu digo para ele, sentindo meu corpo vibrar e querer que nossa noite também não acabe aqui. – boa noite, rapazes. Se comportem! – eu me dirijo para os dois na outra ponta e, quando vou me despedir de Gustavo, me limito apenas a lhe plantar um beijo na bochecha, sentido um arrepio ao tocar em sua barba cerrada do maxilar.

Ao sair do carro, no entanto, vejo-o fazer o mesmo e fechar a porta. A Hummer arranca e eu fico olhando tudo sem entender nada, enquanto ele se diverte com a minha reação.

- o que é isso? – eu pergunto, as sobrancelhas arqueadas.

- estou resolvendo as coisas por aqui. – ele diz, dando dois passos até a mim e me roubando um beijo, me pegando pelo pescoço e me tomando para si. Nesse momento eu sinto minhas pernas bambearem, então decido deixar meus olhos fechados e sentir o gosto de seu beijo feroz e necessitado, matando tanto sua vontade quanto a minha, já que era óbvio que queríamos fazer isso a noite toda.

Entramos afobados pela sala e fazemos nosso caminho rapidamente até o meu quarto, sem nos importamos muito com barulhos ou com objetos caindo entre um beijo e outro. Dois passos pra dentro do cômodo e eu já estou sem minha jaqueta, quase perdendo minha camiseta e clamando por um pouco de fôlego.

- como eu senti saudade do seu beijo, do seu corpo... – Gustavo sussurra, soprando as palavras vorazmente em meu ouvido e me fazendo arrepiar cada centímetro do meu corpo. – diz pra mim que sentiu saudades também.

- eu também senti, muita. – minha voz quase não sai, então eu sou praticamente um sopro.

Sinto sua mão me empurrar contra a cama até que eu esteja caindo sobre a superfície gelada e macia do edredom, vendo ele tirar sua camisa com agilidade e maestria, revelando seu corpo esculpido, o qual eu havia sentido tanta falta nesses últimos tempos. Em menos de um segundo, Gustavo já está subindo em cima de mim e invadindo minha boca com sua língua, fazendo eu sentir seu gosto, sua necessidade, seu desejo, o qual se encontra com o meu e eu sinceramente não sei dizer qual dos dois é mais intenso, mais necessitado. Sinto sua ereção por cima de sua calça, que roça na minha enquanto eu sou pressionado contra a cama. Seus braços estão prendendo minhas mãos pra trás, em direção à cabeceira, me deixando sem qualquer tipo de escape, enquanto sua boca desce até meu pescoço e depois se dedica em minha orelha, mordendo meu lóbulo e respirando forte propositalmente, só para me deixar ainda mais fora de controle.

- diz que eu sou seu homem, Arthur. – ele pede, enquanto suas mãos me libertam e correm até minha calca, fazendo eu me contorcer.

- você é meu homem. – eu obedeço, indubitavelmente.

- bom garoto.

Então, Gustavo passa suas mãos em minha calça e procura o botão e depois o zíper, abrindo-os sem afastar seus lábios dos meus um segundo sequer. Aí é só uma questão de segundos para que eu esteja apenas de cueca, para logo depois estar sem ela. Quando meu pênis fica totalmente a mostra, os olhos de Gustavo brilham, comemorando como se estivessem vendo algum tipo de miragem. Ele se curva até que sua cabeça chegue na altura da minha cintura, então, sem rodeios, sinto sua boca tomar meu membro para si, fazendo com que eu solte meu primeiro gemido, baixo e involuntário. A sensação de receber prazeres preliminares de Gustavo é algo que até hoje eu não consigo explicar ao certo. Ele acerta cada movimento e sabe muito bem como usar sua destreza, para minha total felicidade. Fecho os olhos e deito a cabeça pra trás, sentindo como se eu estivesse quase explodindo de tanta antecipação. Eu estava com saudade de libertar meu lado selvagem, de despir meus desejos com Gustavo, assim, em quatro paredes. Portanto, tenho certeza que uma noite pode ser pouco tempo para matarmos a saudade que sentimos um do outro enquanto estivemos separados.

- seu corpo, tão liso, tão quente... Ah, Arthur, você é tão lindo, tão meu.

Olho para ele e vejo sua calça com o botão desfeito, o caminho dos pelos curtos descendo e sumindo através da barra da cueca, levemente à mostra. Me curvo pra frente e o puxo pra mim, voltando a beija-lo e deitando-o na cama, onde eu consigo passear minhas mãos em sua pele, quente e firme, descendo até suas calças e tirando-as. Sua cueca boxer preta revela seu membro bem delineado atrás do tecido, apontando para a direita, então eu desço e passo meus lábios na superfície, sentindo o quão duro e preparado ele estava para mim. Acabo não conseguindo me conter e então logo ele também está totalmente nu, assim como eu.

Logo ele está em cima de mim novamente e volta a me beijar, mais rápido e intenso, seu membro tocando e roçando no meu, em minha barriga, me causando um frio no estômago que entra em conflito com o calor que eu sinto emanar de dentro pra fora. Passo minhas mãos por suas costas largas e fortes, por seus braços largos, então sinto-o erguer minhas pernas até que eu fique totalmente exposto pra ele. Compreendo o que ele quer ver e então seguro minhas duas pernas na mesma posição que ele deixou, para que então ele sente um pouco mais pra trás na cama e admire a vista, hipnotizado. Sua mão acaba tocando minhas nádegas e se arrisca a escorregar até o centro, fazendo com que eu sinta seu dedo pedindo passagem. Eu tomo fôlego rapidamente e ele gosta da minha reação, então vejo-o se espichar até a gaveta do criado mudo e tirar o tubo de lubrificante.

- bem onde eu imaginava que estaria. – ele brinca, o rosto já um tanto rosado pela nossa agitação.

Vejo-o passar um pouco do gel em seu dedo indicador e então se aproximar de mim, deixando seu rosto perto o suficiente do meu para tocar, mas não o fazendo. Então, com os olhos fixos nos meus, sinto seu indicador entrar sem dificuldade em mim, fazendo eu abrir e fechar a boca como resposta.

- você gosta?

- uhum. – eu murmuro, torturado.

- não te ouvi. – ele puxa e então empurra novamente, fazendo eu quase gemer.

- gosto. – me faço mais claro, com dificuldade. Droga, eu estou de pernas bambas!

- sabia que eu adoro te ver assim, com tesao, pedindo mais, mesmo sem dizer nada?

Eu não consigo dizer nada, mas ele sabe que eu estou lhe ouvindo perfeitamente. Meus olhos estão estreitos e conectados a ele, a cada movimento, cada feição de seu rosto atraente e sedutor.

- hoje eu vou te deixar louco. – ele garante, ao pé do meu ouvido. Com isso, solto outro gemido incontido, pegando forte em seu braço, que está apoiado ao meu lado nas cobertas.

O vai e vem de seu dedo dentro de mim agora dá espaço também para o dedo do meio, me deixando um pouco mais aberto e com um pouco mais de prazer. Sinto meu pênis derramar um pouco do líquido de pré-gozo, enquanto eu ouço apenas o som de nossas respirações instáveis e sinto meu corpo querendo um pouco mais. Como se ele soubesse, sinto seus dois dedos saírem de mim e então o vejo se estica novamente até a gaveta, dessa vez pescando um envelope de preservativo.

Seu sorriso malicioso acende ainda mais o meu desejo, assim que ele vê o quão satisfeito eu fico por ver ele seguindo exatamente por onde eu quero que ele siga.

- é isso o que você quer, não é?

Eu concordo com a cabeça, necessitando daquilo mais que tudo nesse momento.

Ele então rasga o envelope com a boca, tirando a camisinha e colocando em seu membro duro. Logo em seguida vejo-o passar uma quantidade generosa de gel lubrificante em toda a extensão de seu pênis, em especial na ponta. Logo ele se aproxima de mim e me beija, mordiscando meus lábios e depois meu queixo, me causando uma dor gostosa.

- então me pede pra fazer amor contigo. Diz que você sentiu saudades de fazer amor comigo, diz.

- faz amor comigo, Gustavo.

- não entendi. Pode pedir de novo? – seu tom de voz é macio e erótico; mais uma de suas poderosas armas de prazer.

- Gustavo, por favor...

Ele sorri e então volta a me colocar com as pernas pra cima, dessa vez segurando uma delas com uma mão e a outra manuseando seu mastro na entrada do meu ânus. Sinto-o forçando a entrada até que ele esteja fazendo seu caminho dentro de mim. A dor inicial é muito forte, então peço para que ele pare e espere eu me acostumar. Depois de alguns segundos, faço sinal para ele continuar. Logo sinto sua virilha batendo em minhas nádegas, lentamente, enquanto seu rosto exala satisfação. A primeira estocada me faz segura-lo firme nos braços; então, a medida que sinto a velocidade aumentar gradativamente, começo a soltar minha respiração de forma pesada, enquanto meu corpo anseia por mais.

A voz de Gustavo começa a se fazer um pouco mais alta entre seus gemidos abafados, enquanto eu começo a sentir o suor brotar de minha testa e de meu pescoço. Começo a me masturbar e então a velha sensação de sentir prazer duplamente me invade, fazendo tudo em mim ficar mais sensível; sensível ao toque da minha mão, sensível à penetração, ao encontro de nossas peles...

Gustavo se curva e volta a me beijar, então eu solto meu membro para dedicar-me completamente a agarrar suas costas suadas, puxando-o mais pra perto. Abro um pouco mais as pernas e sinto-o entrar um pouco mais dentro de mim; ele percebe o que eu estou fazendo e então me lança seu sorriso largo, o rosto cada vez mais vermelho e suado.

Sinto seus dedos puxarem meus cabelos pra trás e então sua língua está passeando em meu pescoço novamente, enquanto ele se retira totalmente de dentro de mim, sem nenhum aviso, fazendo eu me retorcer com o vazio e o frio momentâneo que eu sinto lá atrás, só pra depois estocar fundo novamente. Gemo mais alto ao pé do seu ouvido e sei o quanto isso o deixa louco, prova disso é que ele repete o movimento de retirada e estocada várias vezes, cada vez mais forte. Nessa hora eu sinto minha próstata ser tocada, então eu penso ter chegado ao meu ápice de prazer. Toda minha região da cintura e do quadril começam a se remexer e eu começo a sentir meu orgasmo criar vida, mas Gustavo diminui o ritmo e sorri, vendo que eu estava quase gozando.

- não tão rápido assim, bebê. Hoje a gente vai fazer durar. – sua voz safada casa perfeitamente com seus olhos acesos em brasa, me deixando sem saída.

Sinto-o sair de mim novamente e então ele troca de posição comigo, deitando na cama e me puxando para seu colo. Deslizo lentamente em seu membro até que ele esteja totalmente dentro de mim mais uma vez, então apoio minhas mãos em seu tórax e começo a comandar o movimento. Olhando aqui de cima, Gustavo consegue ser ainda mais sensual, com seus cabelos bagunçados e seus olhos estreitos, a feição puramente de prazer. Ele bem que tenta comandar as estocadas, mas eu o reprimo:

- agora é a minha vez.

Subo e desço nele de forma que eu seja preenchido por completo. Suas mãos agora estão presas pra trás, em direção à cabeceira, da mesma forma que ele havia feito comigo antes. Ver seus braços musculosos se retraindo só me faz ter ainda mais prazer; cada centímetro do corpo de Gustavo me acende, me fascina, me instiga. Curvo-me pra frente até que eu esteja totalmente deitado em cima dele, então o deixo manusear a situação por um tempo. As suas estocadas começam a ficar rápidas, combinando com o ritmo frenético em que começamos a ficar. Nessa posição eu volto a sentir minha próstata sendo estimulada, então eu aperto suas mãos, as quais eu ainda seguro pra trás, mas que agora servem de descarga para liberar um pouco do prazer que eu estou sentindo dentro de mim.

Acabo por me erguer e ficar ereto em seu colo, enquanto ele ajeita o travesseiro e fica um pouco mais sentado também, então eu volto a controlar a transa. Estou me curvando um pouco pra trás e com a cabeça tombada pro lado, empurrando seu pênis cada vez mais fundo dentro de mim, enquanto Gustavo me segura pela cintura, as mãos firmes me deixando estabilizado em seu colo. Volto a me masturbar e dessa vez eu logo sinto a ejaculação querer dar as caras novamente:

- Gustavo, desse jeito eu vou gozar.

Ele me ouve, mas não para. Então, presumindo que ele também está chegando em seu ápice, continuo estimulando meu pênis, até que sinto a explosão de dentro pra fora chegando sem dó nem piedade, os jatos de esperma caindo no abdômen de Gustavo, enquanto as paredes do meu ânus se contraem loucamente, aumentando minha sensibilidade ao mesmo tempo em que ele começa a fechar os olhos com força e liberar seus instintos, com gemidos mais altos, enquanto encontra seu momento máximo de prazer junto comigo.

Sem forças, acabo tombando em cima de Gustavo e sinto meu coração bater em agitação, quase sendo audível fora do meu peito. Afundo o nariz em seu pescoço e sinto seu cheiro familiar, o qual eu tanto tentava evitar de lembrar ou sentir, mas que agora parece ser meu lar novamente. Os aromas de perfume, de sexo e de suor se misturam e o deixam ainda mais atrativo, enquanto sinto meu corpo pedir descanso e meus músculos todos ficarem moles, se recuperando depois de tudo.

Ficamos em silêncio durante algum tempo, enquanto um de seus braços envolve minhas costas e sua outra mão afaga meus cabelos.

- Gus?

- hum.

- eu te amo.

A frase solta sem freio acaba me pegando de surpresa. O fato é que eu deveria ter dito isso aquele dia, no carro, mas talvez o fato de eu estar bêbado tiraria um pouco da minha credibilidade.  Apesar de não enxergar seu rosto, posso apostar que Gustavo está sorrindo agora. E então, depois de confessar em alto e bom som o que se passava em minha mente e em meu peito, sinto que enfim eu posso adormecer, sabendo que as coisas finalmente estão bem.

Comentários

Há 2 comentários.

Por edward em 2017-05-30 13:17:54
Espetacular
Por Dannnn em 2017-05-29 19:49:49
GENTEE, estou pasmo, nem sei o que dizer. Já estou ansioso pelo próximo capítulo, espero que não demore. Bjss