15. Abstinência

Conto de Luã como (Seguir)

Parte da série Proibido

Agora eu sei o motivo dos três últimos funcionários que sentaram perto de Gustavo terem pedido transferência. Quando eu soube eu achei loucura, como pode alguém afetar outra pessoa ao ponto de acontecer isso? Mas agora eu entendo. Provavelmente ele deve ter seduzido-os, usado-os e depois cuspido fora, dizendo que o que ele queria era apenas sexo. O fato de eu estar me sentindo usado me dói tanto quanto o fato de eu estar sentindo a falta dele. São dois tipos de dores distintas, de um lado a mágoa e de outro a falta da companhia, do beijo, das carícias, de tudo que me parecia tão novo ao lado dele e que ele fez questão de me tirar. E o pior de tudo é que agora ele volta dizendo que está arrependido e que não deveria ter dito aquilo, como se fosse fácil retirar todas aquelas palavras da minha mente. O modo como elas foram ditas me fez ter certeza que ele não disse apenas em um momento de raiva; de certa forma ele sentia aquilo e é por isso que talvez eu esteja tão magoado e que também me doa sempre que eu penso em como nossa relação breve e intensa me fez feliz. É como se eu estivesse voando alto nas últimas semanas, ignorando a gravidade e me sentindo em outro mundo. Voar a essas alturas me parecia tão doce, mas aí eu acabei caindo. Por mais racional que uma pessoa possa ser, quando ela se apaixona esse sentido tende a falhar miseravelmente, fazendo você acreditar em palavras, em mentiras; foi isso que aconteceu comigo e agora eu estou em uma espécie de reabilitação.

Mais um dia inteiro procurando por emprego e nada. Saio do ônibus e sigo em silêncio rua abaixo, caminhando com as mãos nos bolsos em direção ao apartamento. Já anoiteceu e faz um pouco de frio, o que me obriga a enlaçar meus braços ao redor do meu corpo. O barulho dos carros e das minhas pegadas na calçada molhada são tudo o que eu ouço, antes do meu telefone tocar. Pego-o e vejo o nome de Amanda na tela, então atendo e percebo seu tom de voz irritado:

- ei!

- ei? Que história é essa de demissão? Tá ficando maluco?

- então você já soube. – comento, sentindo um sorriso irônico surgir em minha boca ao imaginar que essa deve ter sido a notícia dos últimos dois dias lá na agência.

- já, e não gostei nada de ficar sabendo pelos outros. O que deu na tua cabeça, Arthur?

- ah Amanda, é complicado. Eu bem que tentei, mas... não deu.

- eu imagino que deve ser difícil, mas vocês dois precisam ser adultos e encarar a situação. E eu não acredito que você foi embora sem nem se despedir de mim. – posso imaginar seu cenho franzido e sei bico de desaprovação no outro lado da linha.

- eu não gosto de despedidas, minha amiga. Mas a gente marca de se ver ainda essa semana pra conversar melhor.

- tudo bem então. Mas eu ainda estou brava com você e não vai ser fácil pra mudar isso, menino Arthur.

- você é uma manteiga derretida, Amanda. Eu sei que não vai ficar brava comigo muito tempo. – respondo confiante e sorrio, assim como ela.

- idiota. Agora eu vou lá, tenho uma pilha de roupas pra dobrar aqui em cima da cama, vou logo arrumar antes que eu mude de ideia e durma em cima delas. Beijo!

Desligo e me sinto um pouco melhor por conversar com ela. De todas as coisas que me faziam querer ficar longe do banco, Amanda era a única que me fazia querer ficar. É engraçado como formamos uma amizade tão rápido e mesmo que não sejamos tão próximos, nossa relação é algo que eu quero manter mesmo depois de não sermos mais colegas. Pensando um pouco sobre o que ela disse, talvez ela tenha razão. Apesar de ser difícil, eu deveria ter aguentado um pouco mais e ter ficado na agência, pelo menos até conseguir outro emprego. Mas aí meu subconsciente logo rebate dizendo que talvez eu não conseguisse, já que ficar perto dele com a nossa situação se complicando cada dia mais seria quase impossível. Mas pelo menos agora eu não estaria sem emprego e sem carro. Me vem um aperto no peito ao lembrar que eu me desfiz do meu Chevette há alguns dias, bem antes de eu e Gustavo termos brigado. Pra ser sincero, eu nunca deveria ter me desfeito, muito menos ter aceito o Elantra, eu estava muito bem com a minha querida lata velha, mesmo com todos os poréns. Chegando em frente ao prédio, sinto uma pontada de vergonha ao encarar o porteiro, que com certeza deve estar sabendo do escândalo que aconteceu no final de semana, bem no dia em que acabou ficando doente. Ele destrava o portão pra mim e eu entro, cumprimento-o com o máximo de cordialidade que eu posso e torcendo para que não haja nenhum tipo de comentário sobre o ocorrido, então sigo para o prédio, me sentindo mais confortável depois de sair do ar frio e sentir o calor do hall de entrada.

Assim que entro na sala, a música baixa vinda do home theater e o cheiro de cebola e alho fritando fazem eu pensar que Samuel está em seus dias produtivos. Vou até a cozinha e vejo ele no meio de vários pratos com vegetais picados, formando um leque de cores bonito e atrativo, abrindo ainda mais meu apetite.

- alguém acordou inspirado hoje?

- eu sou a inspiração em carne e osso, lindo! - ele se vira e me solta um sorriso largo. – conseguiu alguma coisa?

- nada. – passo por ele e vou direto até a geladeira, abrindo a porta e tomando um pouco de suco direto da jarra e tentando ao máximo disfarçar minha desanimação. Porém, após eu dar meu sorriso chocho e perceber que eu havia levantado suspeitas, ele arqueia a sobrancelha e me olha com um misto de desaprovação e seriedade repentina. É, eu estou ferrado.

- Arthur...

- eu sei, Samuel. Eu já to melhor, de verdade. Só preciso de um tempo pra digerir tudo.

- eu te conheço há anos, cara, você acha que eu não sei o que você sente? Eu sou teu melhor amigo, poxa... Desde que aconteceu isso você se fechou e só fica com esse disco arranhado de "eu to bem, eu to melhor, eu só preciso de um tempo, sou desprovido de sentimentos e tá tudo legal."

Eu paro e olho pra ele por alguns instantes, então como se eu não tivesse mais como segurar, eu fecho os olhos firme e começo a chorar. Droga de homem idiota que tá me fazendo agir feito um garoto! Eu ouço Samuel suspirar um "ai, Arthur" e vem em minha direção, me abraçando em seguida.

- que droga Samuel, porque você tem que fazer isso comigo? – eu choramingo, achando que não é justo ele saber tanto sobre mim. Eu estava indo bem até agora.

- porque eu não gosto de te ver assim, meu amigo. E você precisa desabafar, tirar isso aí pra fora. Chorar faz bem, lava o teu interior, deixa tudo leve.

- virou hippie agora, foi?

Eu consigo achar um vestígio de humor entre o drama todo do momento e acabo dando um bom motivo pra nós dois cairmos na risada.

- babaca. Agora vem me ajudar a fazer o jantar, eu to tentando pensar em alguma coisa pra impressionar o Diego mas tudo o que eu sei fazer é arroz, omelete e miojo.

- então quer dizer que o Diego vem pro jantar? Parece que temos um progresso por aqui.

- por isso mesmo! Eu não tenho nem um pingo de dom pra cozinhar.

- e você acha que eu tenho?

- eu sei que não, mas dois tentando fazer algo direito tem mais possibilidade de sair alguma coisa boa, né?

Eu sorrio e puxo minhas mangas pra cima, feliz pelo namoro de Samuca estar progredindo e preocupado ao pensar que talvez teremos que pedir comida de fora e dizer que foi autoria do nosso loirinho aqui, pois se depender de nossos dotes, estamos ferrados.

Depois de muito esforço, nosso trabalho em grupo acaba resultando em um maravilhoso escondidinho de frango com tomate seco, queijo e manjericão, arroz com proteína de soja e salada de alface, pimentão amarelo, manga, beterraba e molho de mostarda e mel. Ao ver os pratos coloridos e cheirosos, olhamos orgulhosos um para o outro e batemos as mãos.

- o que seria de nós sem o Google?

- nada, meu amigo. Nadinha. – Samuel brinca, os olhos azuis brilhando de satisfação. Bem na hora a campainha toca, fazendo Samuca olhar no relógio de pulso e sorrir.

- mais pontual impossível.

Então ele praticamente dança enquanto caminha até a porta, e eu me pergunto se alguma vez eu já havia visto meu amigo mais apaixonado do que agora, com Diego. Segundos depois os dois surgem na porta da cozinha, sorridentes. Diego está com o cabelo úmido da chuva que havia voltado teimosa lá fora, com seu casaco na mão e os olhos brilhando ao me ver e ao ver a mesa cheia com as nossas engenhocas.

- e aí Arthur!

- e aí, quanto tempo! – aproximo para um aperto de mão, então ele me puxa para um abraço.

Confesso que é meio estranho conversar com ele agora que eu e Gustavo não estamos mais juntos. Será que é estranho pra ele também?

- to vendo que vocês capricharam! Essa mesa tá linda!

- é, o Samuel pode ser bem eficiente quando ele quer. – olho para ele, que está um pouco atrás de Diego e fazendo uma careta para eu o elogiar e provavelmente dizer que foi ele quem fez tudo aquilo sozinho, então depois do meu pseudo elogio ele sorri, satisfeito.

- disso eu não tenho dúvidas.

Então, Diego se vira para Samuel e os dois se beijam brevemente, antes de Samuel anunciar que vai tomar um banho rápido para podermos jantar. Agora a sós, o silêncio constrangedor que eu torcia para não se instalar entre nós acaba se fazendo presente. Para não deixar tudo ainda mais estranho, eu começo a colocar os poucos potes sujos e a tábua de madeira na pia, para lavar mais tarde.

- Arthur?

- oi! – me viro, tentando parecer o mais natural possível.

- olha, eu sei que pode ser um pouco estranho, mas eu não quero que fique um clima chato só porque você e o meu irmão não estão mais juntos. Gosto muito de você e quero manter nossa amizade, acima de qualquer coisa.

Eu acabo sendo pego desprevenido e apenas sorrio, sem jeito.

- é, eu sei. Eu digo o mesmo.

- você tá bem? No geral?

- to indo. Samuel não me deixaria ficar pra baixo nem se eu quisesse. Ele tá sendo tipo um guarda costas nos últimos dias. – ambos de nós começamos a rir, então a situação não fica mais tão desconfortável. – e o Gustavo, como está?

- ah, Arthur...

- que foi? – eu já fico em estado de alerta e o vejo ficar sem jeito. O que será que aconteceu?

- eu não queria ficar falando essas coisas, mas eu não gosto de mentir. Ele tá bem, na verdade, até melhor do que eu achava que ele estaria. Ontem ele foi lá em casa almoçar com a gente e parecia estar bastante animado. Avisou que sairia hoje cedo para uma viagem a negócios e depois me chamou pra conversar e pediu pra trazer suas coisas até o final dessa semana, já que ele estaria fora.

- então ele tá superando...

- é, eu acho que ele já superou.

- que bom. – engulo em seco. Ele poderia ser um pouco mais discreto e sensível ao me falar isso. Na verdade eu nem sei se queria saber disso tudo.

- olha Arthur, desculpa, eu só...

- não, tá tudo bem. Eu não deveria ter perguntado. Mas fico feliz que ele esteja bem. A vida segue, né?

- é...

- aí gente tomar banho frio é dose! O chuveiro tem que queimar justo nesses dias frios?

Samuel acaba chegando na melhor hora, com os cabelos molhados e com uma roupa um pouco mais simples, então eu tento não transparecer meu aborrecimento enquanto ele faz a frente para servir o jantar. Me pego pensando em como eu posso ter sido idiota ao ficar pensando nele, ao me preocupar com ele durante o final de semana por causa do porre que ele tomou na sexta, só para eu ficar sabendo que depois ele já está super bem, fazendo viagens, agindo como se o que aconteceu com a gente não significou nada. Será que ao menos em algum momento ele se sentiu mal pela nossa separação? Agora eu fico pensando que não. E isso só me faz pensar que eu preciso parar de sofrer por ele e fazer o mesmo; seguir em diante.

_

A chuva finalmente resolveu dar uma trégua na sexta feira. Aproveito que o sol está timidamente dando as caras lá fora e resolvo convidar Samuel para correr até a Paulista. Ele está de cara fechada desde que acordou e eu posso afirmar com toda a certeza que a saída de ontem dele e de Diego não foi das melhores. Agora já estamos fazendo nosso caminho pra casa, correndo pela calçada livre ao lado de um conjunto de prédios em construção, no nosso bairro. Diminuo um pouco a velocidade para tomar fôlego e Samuel faz o mesmo, então aproveito pra tentar arrancar alguma palavra dele:

- quer me contar o que aconteceu ontem?

- por que? Tá tão óbvio que aconteceu alguma coisa?

- você e seu bico enorme de emburrado não conseguem mentir. – caçoo dele enquanto abro a garrafa de água e tomo alguns goles para molhar a garganta, então ele decide desabafar:

- o Diego é um cara estranho, Arthur. Tem dias que ele parece ser o melhor namorado do mundo, me dá atenção, é carinhoso, mas aí de uma hora pra outra ele fica diferente.

- é, talvez seja de família.

- não, eu to falando sério. Ontem a gente resolveu ir ao cinema, sendo que a ideia tinha sido dele, o que é algo bastante romântico, diga-se de passagem, mas assim que a gente acabou chegando no shopping, parecia outro Diego. Tava impaciente, grosso, mas eu tentei relevar. Depois que a sessão acabou eu queria ir logo pra casa, aí eu acho que ele percebeu que eu fiquei chateado e me convidou pra ir até um barzinho lá perto. Quando a gente chegou, tinha uma mulher que se sentou na mesa com a gente do nada e ficou conversando sobre uns assuntos que eu não consegui entender. O que foi mais estranho é que era aquela garota lá do banco, que trabalhou com você.

- a Amanda?

- não, a outra. Qual o nome dela mesmo? – ele olha pra cima, tentando se lembrar.

- Duda?

- essa mesmo! Aquela estranha. A conversa dos dois parecia muito pessoal deles, então Diego parecia ter ficado um pouco irritado e acabou se levantando pra ir ao banheiro, aí ela foi atrás. Quando ele voltou, ele disse que ela tinha ido embora e que também já queria ir.  Final da história, acabei voltando pra casa não era nem 1h da manhã. Ele quis dormir lá em casa mas eu disse que era melhor não, que eu tava cansado e que no outro dia a gente se via. Eu fiz bem, né?

Eu fico pensando sobre esse encontro de Diego e Duda, eu não sabia que eles se conheciam. E por que essa tensão entre eles? Isso tudo é no mínimo estranho.

- ei, tá me ouvindo?

- ah, to, é que... Você sabe se o Diego e a Duda já se conheciam?

- pelo visto sim né, aquela conversa deles não foi de simples estranhos ou conhecidos distantes. Por que?

- não, só curiosidade.

Samuel parece não dar muita atenção para a minha loucura momentânea e segue fazendo suas deduções:

- mas acho que fiz bem sim, pra ele ver que essas mudanças drásticas de humor dele acabam afetando a gente. Poxa, eu planejei tanto a nossa noite, ontem fez um mês de namoro e aí acabou melando tudo.

Sigo em silêncio, tentando achar alguma lógica no encontro dos dois, mesmo que por hora não pareça fazer sentido. O que os dois teriam pra conversar?

- tá, vou parar de falar sobre os meus problemas. Mas você precisa se animar um pouco!

- ah Samuca, ontem o Diego acabou me falando que o Gustavo parece estar bem, estar seguindo em frente... Digo, isso é muito legal, mas eu achava que ele sentiria um pouco mais sobre a nossa separação.

- então você precisa fazer o mesmo, Arthur. Deixa de ser bobo, vai ficar choramingando pelos cantos por causa de alguém que não te quer? Isso não é algo que você faria até uns meses atrás. Nunca fez.

- é, mas não é assim tão fácil. – digo ao chegarmos na frente do prédio, o suor pendendo da minha testa.

- o que você pretende fazer por enquanto, que tá sem trabalhar?

- continuar procurando algo até achar. – eu solto um pouco preocupado, mas soando divertido.

- por que não passa um tempo lá com os teus pais? Sai um pouco desse caos de São Paulo, esfria a cabeça, sei lá.

Eu paro pra pensar nisso e acabo não achando uma má ideia. Na verdade, acho que seria ótimo.

- é, talvez eu vá passar alguns dias lá. Mas aí eu ficaria preocupado com o nenezão aqui, imagina ele se virando sem mim?

- que engraçado você. Eu consigo muito bem me virar sem você.

- ah com certeza. Vou chegar de volta e ver o lixo cheio de pacotes de macarrão instantâneo, se eu bem te conheço.

Ele sorri e chegamos ao hall de entrada, enquanto eu já penso ansiosamente em ir direto pro banho, tirar essa roupa e esse suor do corpo.

- mas sei lá, sabe? É estranho ir pra lá com a intenção de ficar alguns dias, sendo que eu já me desacostumei totalmente com o clima de cidade pequena. E eu não quero ficar dando explicações pros meus pais. O que eu falo quando eles me perguntarem do trabalho? Eles vão surtar se eu disser que eu pedi demissão, ainda mais por causa do Gustavo.

- só fala que você não tava se adaptando muito lá no banco e quis achar outra coisa, sei lá. Não precisa dizer nada que você não queira, até mesmo pra não ficar cutucando a ferida.

- é, acho que você tem razão.

- eu sempre tenho, bebê. – ele fala ao chegarmos em frente à porta. Passamos pela sala e enquanto ele vai direto para seu quarto, tomar banho em seu banheiro próprio, eu vou até o banheiro do corredor e dedico uns bons minutos para relaxar enquanto penso nessa viagem. A verdade é que eu quero muito ir, mas não sei se fugir dos meus problemas é a melhor solução.

Porém ficar e sentir minha vida toda paralisada em torno de Gustavo também não é algo que eu goste de pensar. Então talvez seria bom passar uns dias fora, esfriar a cabeça e voltar um pouco mais preparado pra tocar minha vida adiante.

Depois de me vestir, pego meu telefone e disco o número de minha mãe. Após alguns segundos, ela atende.

- filho?

- oi mãe! Tudo bem?

- tudo e com você? Que milagre você ligando essa hora. Aconteceu alguma coisa? – ela já parecia preocupada, sabia que não iria enganar ela assim tão fácil. Olho para o relógio e respiro aliviado ao ver que passa um pouco do meio dia. Pra qualquer efeito, eu estaria no meu horário de almoço.

- não, tá tudo bem! Só queria te dizer que eu vou passar uns dias aí com vocês. – eu sinto a antecipação em minha voz na medida que as palavras saem, esperando o que ela falaria em resposta.

- que coisa boa, meu filho! Já vou avisar teu pai e lavar tua roupa de cama, pra deixar tudo prontinho!

- calma, mãe. – eu a seguro, achando engraçado e fofo ao mesmo tempo sua reação instantânea. - Eu não sei quando eu vou ainda, mas é logo.

- ah deixa disso! Vem passar o final de semana, vem na sexta de tardezinha e domingo de noite você volta pra aí pra trabalhar.

Eu engulo em seco e penso "eu não tenho mais emprego pra ter que voltar no domingo, mãe", mas decido manter isso em segredo e apenas dizer:

- claro, eu vou ver aqui e te ligo pra confirmar. Eu tenho que ir agora mãe, vou comer alguma coisa. Depois a gente se fala mais.

- tá bom, se cuida, filho!

- a senhora também. Beijo.

Desligo e fico com o celular encostado na boca por alguns segundos, sentindo a ansiedade me pegar de surpresa. Sorrio ao pensar que vou voltar para a calmaria lá do meu bairro, aos dias ajudando na mercearia, ao clima de família, os almoços e jantares... Talvez sair um pouco de São Paulo não seja assim tão ruim.

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