11. Mulher misteriosa

Conto de Luã como (Seguir)

Parte da série Proibido

Começos de mês sempre são turbulentos na agência. Um movimento enorme nos caixas, filas quilométricas, pessoas querendo resolver seus problemas... Mas agora, no meu primeiro começo de ano em um banco, eu vejo como as coisas mudam monstruosamente de ritmo. Estamos na primeira semana de janeiro e a população da cidade parece ter se mudado em massa, deixando as ruas menos afogadas, o ritmo desacelerado, a vida mais fácil, pra tudo. Penso que as cidades do litoral devem estar lucrando horrores com isso, ao mesmo tempo em que devem estar sofrendo pra comportar todo esse mar de gente que está tendo algumas regalias de estarem esticando o feriado de réveillon enquanto eu estou aqui, subindo até o último andar da agência, de elevador. As portas deslizam e eu saio distraído enquanto me atrevo a dar uma espiada nos documentos que Amanda pediu para deixar na mesa de Gustavo, então eu acabo esbarrando em alguém.

- ei, distraído.

- Gustavo! Oi. – eu seguro firme os papéis para que não caiam no chão e acabo amassado-os um pouco. – chegou cedo.

- é, mas eu já estou de saída. Tenho uma reunião com o pessoal de outra agência, depois vou resolver algumas coisas sobre o patrocínio da corrida. Querem me dar os parabéns.

Vejo ele erguer as sobrancelhas, descaradamente orgulhoso. Eu sorrio por vê-lo de bom humor logo cedo e torço internamente para que ele logo esteja de volta, então talvez poderemos descer até o almoxarifado para que ele me ajude a pegar algumas coisas.  Me despeço dele e então o vejo entrar no elevador e desaparecer por entre as portas. Me viro e sigo meu caminho, até ver Duda me olhando com expectativa, pronta pra fazer algum comentário sobre Gustavo.

- bom dia, Arthur! – sua voz irritante quase canta enquanto ela me olha querendo arrancar alguma informação.

- oi, Duda. Tudo bem?

- tudo ótimo!

- aqui, algumas coisas que a Amanda pediu pra você distribuir. – fico apenas com o documento de Gustavo e alcanço o restante pra ela, que me olha sorridente.

- então o Gustavo ganhou a corrida, né?

- pois é...

- fazia tanto tempo que eu não via ele radiante assim. Desde que você entrou na agência as coisas mudaram, sabe?

- sério? Ah eu acho que deve ser impressão sua, eu não faço nada além do meu trabalho pra fazer tanta diferença assim.

- você sabe que é mais que um estagiário pra ele, Arthur.

- bom, isso sinceramente não me convém. Eu faço meu trabalho aqui dentro, e só.

- mas lá fora...

- lá fora é lá fora, né?

Encaro-a de modo que ela perceba claramente que eu não quero mais falar sobre isso. Será que ela não vê que eu não dou essa liberdade toda que ela pensa que tem?

- claro. Você tá certo, aqui dentro vocês são apenas chefe e empregado, ninguém tem nada a ver com o relacionamento de vocês.

Relacionamento? Porra, Duda! Você é surda? Eu não sei se eu tenho saco o suficiente pra ficar relevando esses comentários. Por hora, eu apenas lhe dou um sorriso forçado e sigo o caminho para a minha mesa sem querer arrumar confusão. Acho que meu comportamento mais rude com ela ultimamente já deixa claro que eu não estou gostando de seus comentários.

Assim que eu afundo em minha cadeira, a pilha de coisas pra fazer acaba ocupando minha manhã toda. Entre uma xícara de café e outra, eu penso que seria muito bom estar em casa dormindo ou passando o dia em algum lugar com Gustavo. Por sorte há a festa de aniversário de Diego hoje à noite, o que vai animar muito as coisas. Outro encontro de família, o primeiro encontro de Samuel como namorado oficial de Diego... Há muito o que se esperar. Quando a fome bate, acabo desistindo de esperar Gustavo para talvez ser convidado pra almoçar fora e sair um pouco do ambiente estressante do qual eu havia me desacostumado durante o feriado. O que me resta é almoçar sozinho, na cozinha da agência, eu, a televisão antiga e o meu pote de comida trazida de casa. Chego na cozinha e olho para meu relógio de pulso; ainda não são nem 11:30. Mas o fato de eu estar com bastante fome desde cedo somado ao fato de que nesse horário o refeitório ainda está vazio me faz gostar dessa minha antecipação.

Enquanto meu corpo percorre o caminho em modo automático, meu pensamento está em Gustavo. Eu o vi apenas trinta segundos hoje pela manhã, o que me faz sentir saudades. É engraçado como ele está sendo o centro das atenções e bajulações por todos por causa da sua vitória na corrida da semana passada. Claro que todos sabem que por trás dessa vitória não há apenas o orgulho de nosso querido e amado gerente. Nossa agência ganha várias bonificações e potencializa nosso nome perante o evento, ainda mais por sermos um dos maiores patrocinadores da corrida, tudo graças ao meu chefinho aventureiro e piloto de motos. Sorrio por causa de meu devaneio longo e especialmente por causa das lembranças desse dia, enquanto pego meu pote com comida dentro da geladeira e coloco dentro do microondas, ajustando o tempo para dois minutos. Assim que a geringonça começa a esquentar meu almoço, sinto meu celular vibrar dentro do meu bolso. Penso logo de cara que seja Gustavo, com alguma mensagem divertida de duplo sentido, mas para minha surpresa, é Samuel.

- fala, cara de bunda.

- cadê você quando eu mais preciso Arthur? – sua voz beira a histeria, mas eu conheço o nível de dramatização de Samuel.

- trabalhando. Você sabe o que significa?

- credo, essa palavra me dá alergia! Mas não foi pra isso que eu te liguei. Eu preciso de uma ajuda sua pra escolher o blaser de hoje a noite. – ele dá uma pequena pausa, provavelmente olhando para o espelho e analisando uma das peças em sua mão, enquanto veste a outra.

- tom terroso em veludo molhado ou poliéster preto com lapela de couro?

Faço uma careta ao imaginar as duas opções tão exóticas do meu melhor amigo. Samuel apenas sendo Samuel.

- poliéster preto com lapela de couro.

- credo! Eu acho o de veludo molhado muito mais bonito.

Reviro os olhos só de pensar que era óbvio que ele me contrariaria.

- então esse tá perfeito.

- eu sei! Preciso estar perfeito hoje, tenho que impressionar o Diego.

- não só o Diego, mas a Leona. Ela entende de moda e eu até imagino que vocês vão ter muito o que conversar hoje.

- Leona? Irmã dos irmãos maravilha?

- ela mesma. – irmãos maravilha? Essa é nova pra mim.

- Leona Lobo? A estilista? Aí Jesus! Eu conheço essa mulher, ela é tipo a Beyonce da alta costura!

- por isso mesmo, capricha aí pra sair bem na foto em família com a cunhada.

- falar em foto de família, você tá tão lindo com o Gustavo no jornal!

- foto? Gustavo? Jornal? – puta merda.

- é Arthur, vocês saíram juntos na coluna social, a corrida era o evento do mês, lógico que sairia uma foto de família do vencedor do evento.

- foto de família, não minha! Eu... – abaixo o tom de voz drasticamente pra que ninguém ouça, nem mesmo as paredes. – eu não sou da família, pra todos a gente é apenas patrão e empregado, no máximo bons amigos!

- bom, agora já era. Mas a foto ficou linda e ninguém tem nada que falar. Agora deixa eu continuar procurando minhas coisas. Ainda falta a calça e o sapato. Até de noite!

Desligo ainda atônito pela novidade. Eu deveria saber que essa foto me traria problemas no momento em que o Gustavo pediu pra que eu saísse nela.

Acabo ficando irritado pela situação catastrófica que pode se desenrolar e, sabendo que eu não posso fazer mais nada a não ser torcer pra que ninguém mais me veja nesse raio de foto, guardo o telefone de volta no bolso e torço mentalmente que isso seja apenas exagero da minha parte. O microondas volta a dar sinal de vida e me avisa que os dois minutos haviam se passado; tempo suficiente pra eu já ter me aborrecido. Tiro meu pote quente e levo-o nas pontas dos dedos até a mesa grande de madeira e com bancos acoplados, igualzinha àquelas que tem nas escolas de ensino médio. É só eu me sentar que ouço a porta se abrindo e logo Amanda aparece saltitante e sorridente, me fazendo pensar que talvez segundas feiras monótonas de começo de ano sejam ainda mais estranhas por fazer todos ficarem com o astral elevado.

- bom dia, tutu!

- que animação, hein? – digo ao revirar a comida quente com o garfo.

- eu nunca vi essa agência tão vazia, menino! Tá uma paz, uma calmaria tão boa...

Assim que ela termina de falar isso e justo quando eu estava tentando achar uma resposta legal pra não demonstrar meu mal humor repentino, a porta se abre novamente e logo Duda aparece, para minha infelicidade. Não é preciso nem mencionar que a atitude dela do happy hour foi apenas o começo de um convívio não muito agradável entre nós dois, que vem apenas se agravando com comentários como o de hoje cedo.

- calmaria? – eu cochicho antes que Duda chegue perto o suficiente pra ouvir, então Amanda reprime o riso. Ela também está estranhando as atitudes da amiga e aos poucos está tentando evitar ela e sua companhia desagradável, assim como eu.

- e aí gente, passam pelos outros e não dão mais oi? Como que é isso? – ela fala olhando pra Amanda, claramente se referindo ao fato de que minha amiga agora tenta a evitar o máximo que pode. Pelo visto não fui só eu quem notou que Duda tem se tornado uma companhia desagradável nos últimos tempos.

Eu e Amanda forçamos um sorriso amarelo ao mesmo tempo, quase em perfeita sincronia, enquanto ela caminha a passos fortes com seu salto até a cozinha, fazendo-nos perdê-la de vista.

- nada, é que segunda feira as pessoas ficam com o espírito dormindo em casa.

- ou na beira da praia, como a maioria dos paulistanos. – minha brincadeira vai mais para Amanda do que pra Duda,  já que eu falo baixo o suficiente pra que apenas a primeira ouça.  O barulho do microondas ecoa ao longe e logo ela aparece na divisória entre os dois cômodos, com um jornal na mão. Porra Duda, agora não!

- eu tenho que parabenizar você, Arthur. Tá ficando famoso! Só não vai esquecer dos amigos, né?

- como assim? – Amanda me olha curiosa, então eu penso que talvez ela seja a única pessoa na agência que não tenha visto a droga da foto.

- ah você não soube? O Arthur saiu na coluna social com o nosso chefinho! – as palavras saem com tamanha falsidade e deboche que eu não sei se eu vou ter autocontrole pra me esquivar do humor azedo de Duda hoje. Mas talvez ela precise mesmo saber que eu não estou gostando dessas brincadeiras. Ela, vendo que minha cara involuntariamente se fechou ainda mais, abre as páginas com gosto e traz a parte do jornal onde eu apareço, então coloca em cima da mesa, em frente de Amanda.

- o negócio tá ficando sério, né? E eu digo, isso é ótimo! Fico feliz que vocês dois tenham coragem de se expor assim em público, mesmo correndo o risco de perderem o emprego...

Amanda me olha incrédula e eu respiro fundo.

- sabe Duda, acho que você tá precisando tirar umas férias.

Um silêncio de fração de segundos se instala no ambiente, e mesmo que por tão pouco tempo, eu não consigo nem ouvir as nossas respirações.

- Arthur, não compensa... – Amanda fala com o tom quase inaudível, mas agora eu já não conseguia mais me conter.

- sair um pouco daqui da agência, respirar ares diferentes. Eu te digo isso como alguém que sabe quando as pessoas atingem o seu limite, sabe? E eu acho que você já atingiu o seu e eu já to atingindo o meu. Então por que você não vai pra praia? Faz uma viagem pro litoral, pro nordeste? Ou até pra fora do país? Dá uma espairecida e aproveita pra parar de ficar se metendo onde você não foi chamada. Eu não lembro em nenhum momento de ter te dado liberdade pra comentar sobre a minha vida pessoal.

Os olhos de Duda brilham ao ver eu a confrontando, enquanto eu penso que talvez ela deveria ter notado meu mal humor com a nossa conversa de antes e ter fechado a boca.

- eu só quis fazer uma brincadeira, Tutu. Não foi minha intenção te irritar. Qual é, estamos entre amigos aqui! A gente sabe que você tá com ele, e ficamos feliz por isso! Mas se você não quer falar sobre o assunto, eu respeito sua opinião.

Duda então mostra seu sorriso de deboche, gira em seus calcanhares e vai até a cozinha, onde o microondas havia recém apitado. Vejo então ela colocar a comida toda no lixo e segue pra fora do refeitório, parecendo que ela nem precisava mais almoçar; só de me tirar do sério já havia a satisfeito pelo resto do dia. Quando a porta se fecha, eu solto todo o ar que eu estava segurando e olho pra Amanda, que está tão surpresa com toda essa turbulência quanto eu.

- Arthur, você comprou briga feia...

- eu não me importo, Amanda. A Duda já tá me enchendo o saco há semanas, minha paciência com ela já estourou.

- e sobre a foto? Que história é essa? Jornal?

- pois é, acabei de saber disso também. Não achava que ia virar nisso tudo, pra ser sincero eu nem lembrava mais que tinha tirado essa droga de foto.

- bom, mas agora não adianta chorar pelo leite derramado, né? Pelo menos você sabe que a Duda não te enche mais o saco.

- pelo menos isso, né? – faço uma cara tão engraçada que ambos de nós começamos a rir, então logo nosso horário de almoço termina sem eu ter dado uma única garfada na minha comida. Ultimamente eu tenho ficado tão intrigado com algumas atitudes de Gustavo, somado à implicância de Duda pra cima de mim, que eu acabo sempre perdendo a fome ou a paciência. Hoje eu vi que perdi os dois.

_

- Arthur, vem cá!

Faço meu caminho do quarto até o closet e encontro o homem mais lindo do mundo, vestindo a roupa mais sexy e elegante do mundo.

- que foi?

- qual das duas gravatas? – agora ele tem uma gravata em cada mão, uma prateada com uma leve variação de azul, e outra preta com listras diagonais brancas e vermelhas.

- a cinza. Você tá lindo, Gus.

Meu elogio o pega de surpresa, pois eu tenho a leve impressão de ele ficar um pouco sem jeito.

- você que tá lindo, como sempre.

Eu sorrio e caminho até ele para atrapalha-lo de terminar seu nó de gravata por dois segundos, só para beija-lo. Depois que ele termina, de forma rápida e ágil, eu ajeito sua gola, enquanto seus olhos castanhos me fitam de forma intensa.

- cadê a sua gravata?

- ah, é. A única gravata que eu tinha tava com uma mancha que eu não consegui tirar, e eu não consegui comprar outra a tempo... – falo quase que me desculpando, já que eu tenho essa incrível mania de deixar tudo pra ultima hora, além de que eu estou me sentindo a pessoa mais mal vestida do universo pra ir em um aniversário onde as pessoas mais ricas e de influência de São Paulo vão estar presente.

- deixa eu dar um jeito nisso.

Vejo ele se afastar de mim e ir até uma de suas gavetas de carvalho, analisar o conteúdo dela por um instante e depois tirar uma gravata azul royal estupidamente linda, com relevos sutis no tecido que parecia ser a coisa mais macia do mundo. Ele caminha lentamente até mim e levanta a gola da minha camisa, então começa a fazer o nó lentamente de propósito, só pra me ver ficar com a respiração uniforme e com o rosto vermelho, como eu sempre fico quando ele se aproxima dessa forma.

- pronto. Agora sim, perfeito. – seu sorriso de canto aparece, pra minha felicidade.

Em um movimento automático eu me viro e me encaro no espelho que cobre toda a parede do meu lado direito, então vejo como uma peça tão pequena e aparentemente tão desnecessária pra mim me deixou tão mais... uau. Uau sempre é uma palavra que me ajuda quando me falta os termos certos, em momentos como esse, quando vejo eu mesmo e Gustavo, lado a lado e parecendo tão certo juntos, se encaixando tão bem.

- vamos?

- claro.

A entrada da casa de campo dos Lobo está lotada de carros, em sua maioria importados. Os imensos portões se abrem e Gustavo dirige pra dentro da propriedade, indo até uma das vagas livres, parando bem ao lado de um Porsche Cayenne. Assim que Gustavo desliga o motor eu engulo em seco. Eu ainda não conheço ninguém o suficiente, e hoje vai ser uma festa tão importante, com tantos convidados importantes, será que eu vou me sair bem? Será que eu vou saber lidar com as consequências de ser apresentado a todos como namorado de Gustavo? Porque depois disso, não vai ter mais como esconder, nem evitar os comentários. Ah droga, eu não deveria ter vindo!

- Arthur? Tá tudo bem?

Saio depressa de meus pensamentos, piscando e olhando atordoado pra Gustavo, que me encara curioso.

- ta, tá sim. – não, não tá não!

- então vamos?

Concordo com a cabeça e sorrio, tentando aliviar minha tensão interna e dizendo pra mim mesmo que não pode ser assim tão ruim.

Saímos para o fim de tarde ainda claro e caminhamos lado a lado até a entrada da casa, onde um grande número de pessoas estão espalhadas pelo gramado, conversando e tomando champanhe. A elegância das roupas, o comportamento recatado, os trejeitos finos... Tudo isso chega a ser exagerado pra mim. Muitos cumprimentam Gustavo no caminho, então a recepcionista que está na porta da frente nos cumprimenta e fica um tanto corada ao olhar um pouco demais pra Gustavo. Ele, por sua vez, estava sorridente e evidentemente não dando a mínima para a moça, o que faz eu me divertir e ficar satisfeito por dentro. Ao entrar na sala, mais umas cinquenta ou sessenta pessoas distribuídas nos sofás, poltronas ou simplesmente em pé, conversando e tomando taças de champanhe que eram servidas pelos garçons. Eu pisco rápido olhando toda aquela gente, toda aquela atmosfera diferente da que eu estou acostumado, então penso:

"Lá vai o menino Arthur mais uma vez, ser jogado aos Lobos."

Os pais de Gustavo estão conversando com mais outro casal, parados em pé ao lado da lareira e gesticulando para o quadro acima deles.

- mãe, pai. – Gustavo os cumprimenta com um meio sorriso e de forma um tanto formal, interrompendo a conversa dos quatro.

- Gustavo! Arthur! Que bom que vocês chegaram. Clara, César, esse é o Gustavo, meu filho e Arthur, namorado dele.

- é um prazer. – eu estendo minha mão para cumprimentar os dois formalmente, enquanto sinto meu rosto esquentar e uma leve euforia percorrer meu corpo. "Namorado." Até que a situação não é tão ruim como eu pensei.

- estava aqui falando pra Clara sobre o nosso Picasso. Você lembra, filho?

- ah, e como esquecer, mãe? Você quase fez escândalo no leilão com a outra mulher, no fim eu acho que ela ficou com medo de você e parou de dar os lances pra você ganhar.

Todos começam a rir, então eu olho mais uma vez para o quadro. Picasso? Puta merda, isso aí deve ser o quanto eu ganhei de salário até hoje nas minhas ultimas duas vidas.

- e cadê o Diego?

- foi buscar o Samuel. Acho que eles já devem estar chegando. – Rodolfo responde, simpático. – agora vão procurar a Leona, pois ela queria que vocês fossem direto até ela quando chegassem!

- tá bem. Vamos? – a voz quente e rouca de Gustavo me pega desprevenido, junto com seu olhar firme, que faz o meu se encontrar e se desencontrar com o dele logo em seguida por um instante.

- vamos.

Na parte de trás da casa, o triplo de pessoas que eu tinha visto até agora está espalhado ao redor da piscina gigantesca. Vários garçons servem bebidas e petiscos finos nas mesas revestidas em seda branca, ou seja, uma legítima festa de quem tem dinheiro de sobra pra gastar e exibir status.

- o aniversariante sair da própria festa pra buscar o namorado? Isso é um sinal de que as coisas estão indo ótimas com os dois.

- eu não tenho dúvida. Não sei o que aconteceu com o meu irmão, mas o Samuel fez milagres.

Descemos a escadaria de pedra, que separa a casa da área da festa em si, até estarmos no mesmo ambiente que que todos. Logo raciocino que as pessoas lá em cima são aquelas que gostam de privacidade e de menos barulho em festas. Talvez logo logo eu esteja lá também, já que toda essa gente e esses olhares pra cima de mim e de Gustavo me intimida ao ponto de querer sair correndo. Logo adiante está Leona, previsivelmente linda, mas sem deixar de arrancar longos olhares para seu vestido longo preto com uma fenda enorme na lateral esquerda, deixando parte de sua perna a mostra. Ele, apesar de bem básico, cai feito uma luva para ela, com o decote indo do busto até o umbigo, terminando em duas alças largas que se entrelaçam em suas costas. Em seu pescoço, um colar e liso largo em ouro, que fica bem demarcado em seu pescoço e mais parecendo uma parte do vestido, como um tipo de gola.

- Leona, você tá linda!

- ah, Arthur! Finalmente vocês chegaram! Obrigada, você também está muito lindo!

Bem, um elogio vindo de uma estilista conceituada é mais do que um presente pra mim e um tapa na cara da minha insegurança. Valeu, Leona!

Eu sorrio em agradecimento, enquanto Gustavo se pronuncia, brincalhão como sempre:

- e de mim, você não vai falar nada? Vou começar a ficar com ciúmes.

- ah Gustavo, deixa de ser bobo! Você também tá lindo. – Leona sorri, mostrando os dentes brancos perfeitos. Essa criatura teria como ser mais linda?

- e o Diego? Perdeu o caminho de casa?

- foi buscar o Samuel. – Gustavo me olha de relance e reprime o riso. Ele também sabe, ou pelo menos tem uma boa ideia do que os dois devem estar fazendo pra se atrasar assim. O fogo do início de relações.

- é eu sei, mas faz quase uma hora e meia. Não é tão longe assim.

- acho que a espera acabou. – eu me pronuncio, vendo os dois surgindo no gramado em direção a nós.

Os olhos de Leona os caça na multidão e parecem brilhar em antecipação. Minha dúvida agora apenas é se isso se deve só pelo fato de ela conhecer o novo namorado do irmão ou se é por causa do blaser de veludo molhado que Samuel veste.

- demorei? – Diego chega até nós e pousa sua mão no ombro de Gustavo, fazendo uma expressão de que sabe sobre os possíveis e prováveis comentários. Ele recebe as felicitações de todos por seu aniversário, enquanto eu vejo Samuel pela primeira vez em milênios estar discreto, quieto e acanhado. Sem duvida isso não é uma cena muito comum de se ver.

- você é o Samuel, certo? Prazer em conhecê-lo!

- o prazer é meu, Leona!

- eu preciso falar que seu blaser e a coisa mais linda que eu já vi na vida.

- ah, obrigado! Quando eu vi ele também foi amor à primeira vista.

Bingo! Já sei que agora Samuel achou sua brecha pra ter uma conversa de horas com Leona. Os dois se esquecem da presença dos outros e engatam um debate fervoroso sobre tendências, tanto masculinas quanto femininas, então Diego fica com uma cara de avulso, provavelmente sabendo que perdeu seu parceiro.

- vem Diego, acho que você não vai poder contar com o Samuel por enquanto. – falo em tom de brincadeira e arranco risadas tanto dele quanto de Gustavo, enquanto caminhamos em direção à tenda montada perto da edícula, na lateral da piscina, onde estão alguns sofás e com uma vista privilegiada do restante da festa.

- então Diego, quantos anos você tá fazendo?

- 28. – ele fala ao pegar uma taça de champanhe de um garçom que passava por nós.

- ah, a diferença de idade entre vocês é pequena, então.

- é, a Leona tem alguns meses a menos que eu, o Gustavo é o mais novo de todos. Né, caçula?

Gustavo faz uma cara azeda enquanto toma um gole de seu whisky, olhando brevemente para as outras pessoas no espaço, provocando o riso do irmão. Diego vai atrás do garçom para buscar mais bebidas para nós, então eu e Gustavo finalmente temos um momento a sós. O jogo de luzes ao longe é envolvente mas não é exagerado, visto assim de longe, e a música está em um volume mais agradável, estando um pouco mais afastado das caixas de som. Seguimos até ao final da tenda, onde a vista do lago ao anoitecer nos proporciona uma vista surreal, com a água ainda mais brilhante e com o céu em tons de laranja.

- uau. Olha essa vista!

- é, eu sei. É uma vista linda mesmo.

Olho para Gustavo e a luz do fim de tarde ilumina seu rosto, revelando olhos cintilantes e profundos, entrando em contato com os meus. Sua resposta de duplo sentido me faz ficar sem reação, já que a vista em que ele se refere é claramente sobre mim.

- obrigado.

- pelo que?

- por ter me trazido, por ter me apresentado pra sua família, por estar me deixando fazer parte da sua vida assim.

Ele pisca lentamente e eu vejo um vestígio de felicidade em seu olhar.

- você já faz parte da minha vida, Arthur. Não seria diferente, nem se eu quisesse.

Meu coração bate mais forte ao ouvir isso, então eu sinto uma vontade enorme de beija-lo aqui mesmo, sem me importar com nada.

- pronto! – Diego chega ao nosso lado nos alcançando as bebidas, minha champanhe e o whisky de Gustavo, então o clima volta a ficar familiar, tendo que deixar nosso momento a sós para mais tarde.

- quem organizou a festa? – a dúvida me corre, despretensiosamente.

- a Leona. Mamãe também ajudou um pouco, mas Leona fez questão de se encarregar de tudo.

- não teria como não ser ela. Ta tudo lindo.

- é, digamos que ela seja bem exigente com tudo o que ela faz. – Gustavo se pronuncia, com uma pontada de orgulho de sua irmã vinda de seu tom de voz. Logo em seguida ele olha para o lado e sua feição se anima, então eu acompanho seu olhar. Ele está sorrindo para dois homens, que fazem o mesmo para ele.

- vem, deixa eu te apresentar alguns amigos.

Ele me puxa pelo braço e vejo Diego ficar ali mesmo, conversando com outra mulher. Nos aproximamos dos homens e eu vejo que eles nos olham com surpresa, especialmente para mim.

- só assim pra gente se encontrar, né? – um deles já fala antes de chegarmos perto o suficiente, extendendo os braços para Gustavo.

- Felipe! Quanto tempo! Esse é meu namorado, Arthur. Arthur, esse é meu amigo de faculdade, Felipe.

- é um prazer, Arthur! – ele estende a mão para um cumprimento formal, então eu tento retribuir de maneira mais firme possível, já que tanto ele quanto o outro homem parecem ser um tanto intimidantes, com seus olhares firmes.

- o prazer é meu.

- Ricardo, Arthur. Arthur, Ricardo.

Gustavo faz a frente para as apresentações com o outro amigo, que chama a atenção por sua altura. Ele com certeza deve ter sido do time de basquete ou de vôlei nos tempos de escola.

- prazer, Ricardo!

- prazer, Arthur! Faz tanto tempo que a gente não se fala que você nem havia falado que estava namorando, Gus! Meus parabéns.

-  obrigado, Fê! Pois é, vida corrida, não tenho tempo pra mais nada... E vocês?

- eu voltei faz algumas semanas de viagem. Havia ido até Portugal visitar meus pais.

- ah é verdade! Como eles estão?

- ainda sentem um pouco de falta do Brasil, mas os negócios lá estão indo bem, então acho que eles vão acabar se instalando por lá mesmo.

Os três engatam uma conversa animada e eu tento ao máximo parecer interessado, mas há um pouco de futilidade escondida no meio de todas essas novidades sobre viagens, festas e dinheiro. Ambos parecem ser ótimas pessoas, mas eles são uma versão de amigos de Gustavo que eu não gostaria de ter contato; típicas pessoas da alta sociedade que gostam de mencionar o quão ricos eles são, de forma sutil, é claro.

- Arthur, eu vou ao banheiro, você quer ir também? – Gustavo me tira de meus pensamentos, fazendo eu voltar ao aqui e ao agora.

- hum, não. Vai lá, depois a gente vai procurar o Samuel e a Leona.

- tá bom. Cuidem bem dele! – Gustavo fala fingindo seriedade enquanto se afasta. Eu quase me arrependo de não ir junto, mas penso que talvez seria rude deixar eles ali sem ao menos tentar mudar meu conceito.

- então Arthur, fala um pouco sobre você!

Felipe me olha com expectativa, então eu tento fazer um resumo sobre mim mesmo, o que eu particularmente acho uma das coisas mais difíceis do mundo.

- ah, não há muito o que falar. – tento rir e parecer um pouco amigável, mas na verdade eu penso que eu não tenho muitas histórias tão legais quanto as deles pra contar. – eu acabei de me formar, moro aqui em São Paulo faz alguns anos.

- qual curso que você fazia?

- economia.

- olha! Bacana.

- como você e o Gustavo se conheceram?

Ah Ricardo, não faça perguntas complicadas! Como eu falo que a gente se conheceu primeiro em uma balada, depois descobrimos que trabalhávamos juntos? Isso soa um pouco desapropriado.

- em uma festa. – o que não deixa de ser verdade. Balada nada mais é do que uma festa, certo?

- legal! Eu fico muito feliz pelo Gustavo, você é totalmente diferente dos outros caras que ele saia. Agora eu vejo que ele está no caminho certo!

Outros caras? Ah droga. Sinto meu cenho cerrando gradativamente. Logo depois eu tento disfarçar, com muita dificuldade.

- fora que é bacana ver ele namorar alguém fora do círculo. Você parece ser um cara bem humilde, sem frescuras. Os outros eram sempre aqueles ricaços exibidos, com roupas caras e elegantes e com aquela arrogância toda. É legal ver que o Gustavo mudou de conceito, acabou conhecendo alguém totalmente diferente.

Nessa hora, percebo um pouco de maldade nas palavras de Felipe, tanto quanto na expressão que Ricardo faz ao ver minhas reações. "Namorar alguém fora do círculo?" Tipo alguém que não seja rico, viajado e com influências?

É só ai que eu vejo a máscara de bons moços cair. Eles mal conseguem conter o riso irônico, claramente falando sobre a diferença social entre eu e Gustavo. O olhar de cima a baixo de Felipe faz tudo se confirmar, como se ele estivesse analisando minha roupa barata, enquanto ele acaba de mencionar que os outros vestiam "roupas caras" e que eu era "totalmente diferente".

- é bom saber. – disfarço minha raiva em minha melhor tentativa de sustentar o olhar deles com a mesma intensidade.

Mas eu não posso deixar de pensar que tudo isso, essa festa, essas pessoas, os garçons, as champanhes, as roupas finas, isso tudo é tão diferente de mim e todo mundo consegue ver isso. Chega a ser ridículo da minha parte achar que seria diferente. O estilo de vida de Gustavo e de toda sua família é algo insano pra mim e o que eles disseram, apesar de ser algo apenas para me ofender, acabou me ajudando de alguma forma, pois só me fez ver ainda mais que todo esse mundo de luxo e de status me deixa mal. E o pior de tudo é que a pessoa que eu amo esta infiltrada nisso e eu não posso fazer nada pra mudar isso. A diferença entre mim e Gustavo era algo visível, mas indiferente pra mim, até agora.

- e aí, sentiram minha falta? – Gustavo chega ao meu lado e nos olha animado, provavelmente pensando que estávamos nos dando bem.

- um pouco.

- estávamos elogiando o Arthur. Você finalmente acertou, né Gustavo?

- com certeza. – ele me olha orgulhoso e aperta sua mão em meu ombro. – agora a gente vai lá procurar minha família. A gente se vê por aí. Aproveitem a festa!

- pode deixar, vê se não some! E foi um prazer te conhecer, Arthur! – Felipe tenta bancar o simpático e demonstrar algum tipo de empatia que ele definitivamente não tem.

Já caminhando pra fora da tenda, não consigo mais esconder minha chateação pelo que aconteceu. É o pior é que Gustavo percebe, ele sempre o faz.

- você tá quieto. Tá tudo bem?

- tá, tá sim. Só que... Podemos ficar um pouco a sós, longe de toda essa gente, essas bebidas caras e tudo mais?

Ele sorri e parece não ver completamente o motivo de meu pedido, então caminha até perto o bastante para envolver seu braço atrás de minhas costas e me guiar pelo caminho que leva até o jardim ornamental enorme, mais afastado de tudo.

- eu to achando você um pouco tenso, desde que a gente chegou.

Ele realmente é persuasivo. Será que eu tenho como escapar de seus interrogatórios? Porém eu não consigo mentir descaradamente para ele e dizer que está tudo bem o tempo inteiro, pois não está. Eu continuo com minhas mãos nos bolsos descendo o caminho, enquanto ele acabara de se desvencilhar de mim, mas não se afasta um milímetro sequer.

- Arthur?

- não é nada, Gus, eu só não estou me sentindo muito à vontade com tudo isso.

- tudo isso?

- é, tudo isso! – eu aponto o dedo pra trás, me referindo a... tudo isso.

- ah Arthur, isso é bobagem! Você é da família, todos gostam de você. Esses eventos são exagerados mesmo, mas são necessários.

- é eu sei, mas todo mundo vê que eu não sou do mesmo nível que você. Digo, olha só, eu não consigo me portar feito seus amigos, não consigo me sentir igual a eles.

- mas você não precisa se sentir igual a eles, Arthur. Você não é igual a eles, e é isso que eu tanto gosto em você.

- é fácil falar, Gustavo, quando todo mundo deve ver que eu sou um pobre coitado que não consegue acompanhar o estilo de vida da família Lobo. Nem minha roupa parece ser boa o suficiente pra essa festa!

Ele me analisa e por uns segundos não fala nada. Eu sei o que ele está fazendo. Ele está me decifrando. Decifrando meus aborrecimentos, os meus motivos de estar assim. É uma droga que ele me conheça tão bem em tão pouco tempo.

- o Felipe e o Ricardo te falaram alguma coisa?

- não, não falaram nada.

- Arthur...

- nem precisariam falar Gustavo, mas eles foram bem claros que eu sou diferente dos caras que você já namorou, dos caras que você já trouxe em festas de família. Eu sou mais... – faço uma pausa, pra lembrar das palavras ácidas – "humilde, sem frescuras, diferente dos outros, com roupas caras e elegantes e com aquela arrogância toda."

- eles estavam te fazendo um elogio, Arthur.

- eles estavam sendo sarcásticos. – eu rebato, irritado. Desde quando Gustavo começou a ser ingênuo? - Mas de qualquer forma, eu sei que eu não combino com tudo isso. Fico mais aliviado que todos também vejam, assim fica mais fácil pra todos.

Eu me sinto como uma criança brigando com seus pais e fazendo bico, mas sei que eu precisava desabafar. Estar no meio de todo esse clima de riqueza e de poder acaba me afetando.

- eu entendo que você deva estar se sentindo acuado com tudo isso, mas acho que você deve relaxar. Não é tão ruim assim, você só precisa se acostumar. E eu não vou deixar ninguém zombar de você. Você é o que você é e eu me orgulho disso. E eu acho que você nem deveria se importar com roupas, caras ou baratas. Sabe por que?

- por que? – questiono, já percebendo que minha cara fechada estava se desmanchando com um sorriso reprimido.

- porque eu vou te deixar sem roupa depois, de qualquer forma.

Ah Gustavo, olha a boca! Eu sinto meu corpo se aquecer e de repente todo o aborrecimento vai embora. Sinto uma pontada de culpa por estar sendo tão infantil, então decidi deixar tudo isso pra lá.

- parece um bom plano.

Como resposta, recebo um beijo. Suas mãos pousam em minha cintura e me puxam pra perto, enquanto sua língua invade minha boca e me deixa sem fôlego. Com a correria do banco e depois com a festa, não tivemos tempo de nos dar carinho, de nós beijar, de sentir isso o que eu estou sentindo agora; suas mãos percorrendo meu corpo, sua ereção roçando na minha, seu jeito carinhoso e intenso de me beijar... Eu senti falta disso, mesmo que tenhamos ficado o réveillon inteiro juntos. A sensação que tenho é que quanto mais tempo eu passo com Gustavo, mais eu preciso estar com ele. Nosso beijo diminui de ritmo e intensidade até darmos alguns selinhos e abrirmos os olhos novamente, enquanto eu vejo Gustavo mais leve e feliz do que antes. Penso que eu também deva estar do mesmo jeito, o que me deixa contente. Só então que nos damos conta de que estamos aqui há tempo demais e que precisamos voltar para a festa.

- o pessoal deve estar pensando que fomos embora.

- verdade. – Gustavo solta uma risada larga. – vamos voltar?

- vamos.

De volta à agitação, logo avisto Samuel, Diego e Leona sentados em uma das mesas próximas à piscina. Eles parecem estar em uma conversa animada quando nos juntamos a eles, enquanto vejo os olhos maliciosa de Samuel me analisarem e quase me fazerem corar.

- nossa, onde vocês estavam? – Leona é a primeira a evidenciar sua curiosidade, nos olhando com as sobrancelhas arqueadas.

- fomos dar uma volta no jardim.

- que volta demorada, hein? – Diego rebate, com seu bom humor e seu hábito de retrucar o irmão.

Sentamos à mesa e entramos no debate deles sobre política, que acabou se engatando em economia e depois em assuntos do banco. Gustavo nos contou que a próxima corrida vai ser já nos próximos meses, em Curitiba, então Diego falou sobre o clima do Sul e de como ele gostaria de morar pra lá. É assim nossa noite rendeu boas risadas e conversas e acabou me distraindo sobre minhas neuras, tanto que era como se eu estivesse em uma roda de amigos no bar, discutindo assuntos que interessavam e que agradavam, o que acabou fazendo com que qualquer chateação fosse embora. No entanto, vejo alguns seguranças perto da gente se comunicarem pelo fone de ouvido e irem na mesma direção. Eles seguiam até a escadaria, onde meu olhar acompanhava seus passos. Será que está acontecendo alguma coisa?

- Gustavo!

Ouço uma voz feminina ao longe, então todos os olhares se voltam para a mesma direção. Vindo da lateral do jardim, uma mulher de aproximadamente trinta anos, pele parda e cabelos longos e escuros, olhava para nossa direção com a expressão de agonia e irritação. Olho para Gustavo e parece que todo o sangue de seu rosto havia sido drenado. Seus olhos estão grandes, a respiração fora do normal e sua mandíbula está tensa, se sobressaindo e revelando sua tensão.

- eu pedi pra que me deixassem entrar ou que pelo menos te chamassem lá fora, mas eu acho que eu não estou nem vestida para a ocasião. – suas palavras são venenosas, mas há um tom de tristeza por trás desse sarcasmo. Parece que Gustavo perdeu a noção de tempo e espaço e estava hipnotizado, olhando pra ela sem ao menos piscar. Seus olhos agora estavam quase úmidos e eu começo a me assustar. Quem é essa mulher?

- eu preciso falar com você. Será que poderíamos falar a sós, ou não teria problema de eu falar na frente de todo mundo?

Nessa hora, os seguranças chegam perto dela é um deles pega em seu braço, então ela tenta se soltar enquanto fala de forma ríspida para não tocarem nela. O silêncio no local é agonizante e deixa tudo ainda mais tenso. Todos estão olhando para ela e para Gustavo, que parecem ser os únicos a entender o que está acontecendo aqui. Em um movimento brusco, Gustavo se levanta e sai da mesa a passos largos, parecendo estar cego de raiva. Ele chega até ela e pede oara os seguranças a soltarem, então eles caminham até as escadas e desaparecem em direção à casa. Alguns começam a de entreolhar e eu me sinto preocupado, incomodado e irritado. Quem é essa mulher e porque ela tratou Gustavo assim? Qual a ligação deles? E por que Gustavo reagiu dessa forma? São tantas perguntas, mas eu sei que assim que ele voltar para a mesa eu vou exigir algumas respostas, pois eu já não suporto viver cercado de mistérios em relação a Gustavo e a tudo que o envolve.

Comentários

Há 3 comentários.

Por Luã em 2017-04-05 23:27:22
Ou Eli! Então, nem tudo são flores, os dois ainda vão passar por muita coisa juntos, você vai descobrir logo nos próximos capítulos! <3 Edward, é uma honra ter um comentário seu aqui, conheço histórias suas aqui do site e também posso dizer que você é um escritor sensacional. Obrigado pelo carinho!
Por edward em 2017-04-05 19:25:18
Sobre a série ?? Que tal fantástica. Cara essa é uma das melhores séries que eu já li , o jeito que você conduz a narrativa é arrebatador , sem contar nesse enredo incrível,que nos faz querer entrar e participar dá história ! Parabéns😘😘😘😘😘
Por Elizalva.c.s em 2017-04-04 15:43:03
Como eu falei no capítulo anterior quando a felicidade e grande da até medo dela,Gustavo tava bom demais pra ser verdade tinha que ter algo errado por trás.parabéns muito boa sua história não canso de lê.😘😘😘😘