09. Dança, sinuca, boa música e touros mecânicos

Conto de Luã como (Seguir)

Parte da série Proibido

Os raios de sol entram majestosos pela grande vidraça do pavimento, iluminando sem dificuldade todos os lugares, até as repartições mais escondidas, ao fundo. Apenas o barulho do meu teclado é audível no ambiente completamente silencioso e calmo, me proporcionando um prazer em estar apenas eu aqui.

É só quando o toque do elevador chegando no andar soa alto o suficiente para me tirar a concentração e me fazer tirar os olhos do computador e ver quem é a outra pessoa que decidiu chegar cedo que eu noto que se passou quase meia hora desde que eu cheguei, quando na verdade parecia que havia se passado apenas dez minutos. Gustavo sai da cabine e caminha sorridente em minha direção, então eu já me dou por convencido que eu não vou conseguir trabalhar em paz a partir de agora. E o mais engraçado de tudo é que eu adoro isso, ver ele chegar e a parte gloriosa do meu dia.

- chegando mais cedo, saindo mais tarde... Será que eu vou ter que te trancar em casa pra você sair um pouco dessa agência?

- você não ousaria. – minha voz sai um tanto romântica. É impressão minha ou eu senti falta (até demais) dele?

Então, Gustavo se curva e me beija, então pela primeira vez eu não sinto medo de nos verem. Eu sinto seus lábios tocarem nos meus de forma delicada e amorosa, então isso acaba me derretendo por dentro. Passo minha mão ao redor de seu pescoço e o puxo pra mais perto, beijando-o com mais intensidade e sentindo meu coração bater acelerado. É só quando eu me desvencilho dele e abro os olhos sorrindo que eu vejo que há um grupo de umas 10 pessoas paradas nos olhando, perplexos. Com isso, meu chão desaparece dos meus pés. Gustavo dá um pulo pra longe de mim e eu tento falar algo, mas não consigo pensar em nada que pudesse explicar isso. Eu acho que não tem nada o que fazer. Estamos ferrados. Então, os olhares de reprovação e repudia de todos vira um coro de risadas, me deixando confuso. O que está acontecendo aqui? Eles estão achando isso engraçado? Eu olho pra Gustavo e ele parece estar tão assustado quanto eu, não parecendo saber nem como reagir. Meus olhos voltam a encarar a pequena multidão, que agora inexplicavelmente possui o rosto de Duda. Todas as pessoas aqui são Duda. Todas as Dudas estão rindo. Volto a olhar pra Gustavo e agora seu rosto também é o rosto de Duda, que sorri em sintonia com as outras, me causando uma sensação de náusea. Mas que merda é essa?

Me mexo rapidamente no banco e olho para o lado, me localizando e enfim reconhecendo Samuel, o carro, a estrada...

- ta tudo bem?

- ah, uhum, tá sim. Só um pesadelo. – minha voz ainda está sonolenta e eu me espreguiço olhando para fora, procurando por algum sinal de onde estamos.

- estamos chegando?

- quase. – seu sorriso é tranquilo.

Me ajeito novamente no encosto do banco e ouço Begin Again tocar no rádio e dar o tom tranquilo que combina com a paisagem da rodovia. Eu já mencionei que eu sou um grande admirador das musicas da Taylor Swift? Pois é, acho que elas se encaixam perfeitamente em toda e qualquer situação da vida, como agora, por exemplo. O ritmo envolvente do violão, do acordeom e as batidas suaves parecem ser um complemento para o verde das plantações na beira da rodovia, o céu começando a ficar alaranjado e anunciando a noite chegar. A letra por si só me remete diretamente a Gustavo. Nunca tive relacionamentos sérios, mas até mesmo os homens que eu já fiquei sem compromisso acabaram me deixando algumas marcas negativas no passado. Talvez seja por isso também que eu nunca me senti preparado pra ter algo sério com alguém. Bem, até eu cair de cara na frente do Gustavo em sua sala e perceber que ele era o homem que me chamou a atenção na outra noite. Ali, de alguma forma, eu senti que algo diferente estava começando a acontecer. Então foi questão de (bem pouco) tempo pra que tudo se desabrochasse. Às vezes eu até tenho medo de estar me jogando muito nisso tudo e acabar me machucando novamente, mas dessa vez muito mais grave. Mas eu sinto que Gustavo me fez pensar em começar de novo, a querer gostar alguém, a enfrentar medos e querer que tudo dê certo, sabe? Através de meus devaneios vejo a placa nos dando boas vindas a Presidente Prudente no nosso caminho caminho, fazendo meus olhos brilharem.

É véspera de Natal e eu estou indo passar a ceia com minha família acompanhado do meu melhor amigo. Isso pra mim é sinônimo de perfeição. Os pais de Samuel devem estar agora em Paris, curtindo a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo ou jantando em algum restaurante aconchegante e romântico, já que eles foram pra lá comemorar as bodas de prata deles. Como eles estão fora e só voltam na semana do réveillon, não deixaria Samuel passar o natal sozinho nem que ele quisesse, ainda mais que qualquer viagem ou passeio com ele se torna mais divertido. Tenho certeza que a gente por aqui vai ter mais momentos engraçados pra colocar na coleção.

Assim que encostamos em frente ao prédio recém reformado de dois andares da esquina, onde na parte debaixo fica a mercearia e na de cima a casa, eu já sinto as memórias de um passado recente invadirem minha mente. Quantos momentos eu tive aqui! Voltar pra cidade natal e sempre mágico pra mim. Mesmo que eu ame morar em São Paulo, eu sempre vou ter um carinho muito grande por onde eu nasci, por essa cidade, por essa rua, essa mercearia, essa casa onde eu vivi desde que eu nasci... Lembro-me de quando eu ajudava meus pais aqui, eu era tão novo, com meus 15 anos e já me sentia poderoso por ficar no caixa, ajudar a controlar os pedidos, a varrer o chão quando não tinha movimento... O tempo passa rápido e a gente nem percebe, mesmo. Sempre ouvia as pessoas falando isso e eu achava que elas só repetiam a mesma velha frase que pra mim não fazia sentido. Foi uma surpresa pra mim quando ela começou a fazer sentido na minha vida, sabe?

O sorriso de minha mãe ao abrir a porta e ver a gente é algo incrível pra mim. Fazer essas voltas pra casa em feriados importantes se torna algo fora do comum simplesmente pelo fato de estar perto de quem a gente ama. Entro na sala tão familiar e cheia de lembranças pra mim e já lembro de mim com 10 anos, colocando tudo de pernas pro ar enquanto brincava com meus bonecos dos power rangers, ou quando eu jogava bola sozinho, ou até quando eu fiquei de castigo durante um mês porque eu quebrei a televisão andando de bicicleta dentro de casa.

Ah, as lembranças. Como elas conseguem ter esse poder tão nostálgico sobre a gente?

Logo vou para o meu antigo quarto guardar minhas coisas com Samuca, onde minha cama de solteiro está arrumada e com lençóis limpos e com cheiro de amaciante. Aqui, o pôster do penúltimo Star Wars que foi lançado ainda está impecável na parede, do mesmo jeito que estava quando eu pedi insistentemente no cinema até que o filme saísse de cartaz e eles me dessem, sendo mais um alívio pra eles do que pra mim, já que eu pararia de encher o saco. Acho que já deu pra perceber que eu fui uma criança bem chata, né?

Depois de deixar minha sacola de viagem e a de Samuel em cima da cama, tomo um banho rápido e me arrumo para a ceia. Podem se passar anos, mas o chester que minha mãe faz continua sendo o melhor do mundo inteiro. O modo como ela tempera, prepara, eu não sei ao certo, mas é diferente. Durante o jantar, conversamos sobre um pouco de tudo. Mesmo tendo nos visto há poucos dias, há muitas novidades. Me surpreendo quando meu pai pergunta de Gustavo, o por que ele não veio junto, então respondo que ele foi passar com a família dele. É só tocar em Gustavo que já me bate uma saudade imensa. Quem diria que eu me apegaria tanto assim? Cada dia mais eu acho que eu estou sendo fisgado, algo que eu não achava que iria acontecer tão cedo.

__

Mesmo estando aqui, com minha mãe lavando a louça e me contando coisas sobre a mercearia e as novidades da cidade, eu apenas sorrio e aceno a cabeça, no modo automático enquanto seco o que ela me alcança, eu não consigo parar de pensar em Duda. O modo como ela me colocou contra a parede pra contar sobre Gustavo me pegou de surpresa e me deixou inseguro, preocupado. Eu preciso conversar com alguém pra saber o que fazer. Será que eu conto pro Gustavo que ela sabe? Será que é algo bobo e que ela está apenas com ciúmes bobos, mas não vai fazer nada? Ou será que ela pode fazer?

- terra pra Arthur! – Samuel me coloca de volta ao aqui e agora, enquanto eu estou secando a pia e minha mãe pega a sobremesa na geladeira. Como ele chegou aqui tão rápido? Até a dois segundos ele estava na sala com meu pai.

- oi, Samuca.

- nossa, que animação! O que aconteceu?

Eu olho pra trás e vejo que minha mãe está entretida levando o doce pra sala de jantar, junto com os potes de sobremesa que já estão postos, então decido desabafar.

- acho que eu cheguei a comentar com você uma vez sobre uma menina que trabalha lá comigo, a Duda. – olho pra ele pra me certificar de que ele realmente se lembre dela pelo nome, mas sua reação me faz ver que não. – bom, ela é uma das pessoas mais próximas a mim lá, além da Amanda. Só que faz um tempo que eu fiquei sabendo que ela gosta do Gustavo...

- e?

- e aí que parece que ela sabe da gente.

Ele me olha surpreso, como eu esperava.

- como ela sabe?

- não sei, não sei se ela só blefou, mas ela me parecia muito segura do que ela tava falando.

- e o Gustavo sabe disso?

- não, ainda não.

- bom, acho que você deveria falar pra ele. Pelo menos pra vocês dois terem mais cautela lá dentro, sei lá. Vai que ele tenta te dar uma daquelas roçadas de bunda violentas e ela vê? O barraco tá armado. – ele chega mais perto do meu ouvido, então eu já sei que lá vem besteira. – até mesmo porque a barraca já arma né? Mas barraco não dá.

- babaca. – bato com o pano de prato no ombro dele, feliz por ele conseguir, como sempre, me deixar mais calmo. – assim que eu voltar pra São Paulo eu falo com ele.

Depois disso, seco minhas maos e olho pra Samuca, ainda um pouco tenso, então ele me analisa por uns segundos. Isso me diz que não vai dar boa coisa, eu conheço essa cara dele.

- sabe do que você precisa?

- hum.

- relaxar. Vamos sair depois da meia noite?

- sair? Pra onde?

- bom, isso eu não sei, é você quem conhece a cidade, se vira!

Então ele gira em seus calcanhares e vai para a sala de jantar junto com meus pais, gritando que quer um pedaço bem grande de pudim, enquanto eu penso que essa tem tudo pra ser uma daquelas noites mais do que proveitosas, se depender do meu melhor amigo louco e folião.

__

Assim que passamos pela porta, vejo a multidão vestida com camisas xadrez, botas e uma grande parte até de chapéu, se interagindo, bebendo e se divertindo ao som de Last Name, da Carrie Underwood. Só pela animação do lugar a noite já me parece valer a pequena viagem até aqui, já que o bar é fora de Presidente Prudente, pra ser mais específico, na beira da rodovia que dá acesso à cidade. A decoração do lugar também é bem charmosa e faz jus a proposta do bar country, com decoração e revestimento de madeira, cabeças de veados empalhadas nas paredes, mesas de sinuca, máquinas antigas de musicas... Isso tudo parece ser tão característico de um bar dos Estados Unidos que por um momento eu acho que não estou no Brasil e sim em um bar de verdade do Tennessee. Mas sem duvida o grande destaque do lugar é o touro mecânico instalado no meio do salão, onde há uma pequena fila de pessoas loucas pra montar no "animal" e dar uma de cowboy. Antes que eu pudesse pensar, Samuel já está se dirigindo pra lá, como eu achei que ele faria. Eu sorrio e grito pra ele que vou no bar pegar alguma coisa pra gente se animar, então passo costurando por entre as pessoas simpáticas e sorridentes até chegar no balcão e pedir dois shots de tequila. Não bastando apenas ser tequila, que por si só já é uma bebida bem forte e atrevida, o garçom coloca fogo no copo e a chama azul me faz pensar que isso vai descer fazendo um caminho bem marcado na garganta. Vou até Samuel, que agora está quase em sua vez de montar, então lhe alcanço o copo e ele sorri ao ver qual bebida que eu trouxe.

- animado hoje, hein Arthur?

- só pra aquecer. – eu digo aproximando o copo do dele, então ele bate no meu, como um drink, então bebemos ao mesmo tempo. Assim que o álcool desce queimado em minha garganta, eu solto uma careta e sorrio logo em seguida, então logo eu já vejo que estou mais à vontade. Samuel pega o chapéu de um homem perto da fila e coloca em sua cabeça, sorri para ele e parece que já temos o primeiro amor da noite de Samuca bem ali. Então, ele tira os tênis e sobe no touro, se segurando firme e mandando o homem que controla a máquina pra colocar em velocidade máxima. O movimento brusco logo de início faz ele se desequilibrar, mas logo ele se ajeita e fica contando vantagem com uma mão só, enquanto a outra segura o chapéu, como um vaqueiro de rodeio profissional.

"Tem como ele ser mais exibido?" – penso comigo mesmo, achando graça.

Depois que ele desce, é a minha vez de subir. Ele me estende a mão e eu hesito por um instante, mas o efeito do álcool no meu sangue me faz ter uma coragem e um atrevimento que sinceramente eu estou aproveitando muito. Subo na superfície inflada e ignoro os olhares curiosos em cima de mim, monto no touro e, diferente de Samuel, mantenho minha boca fechada e torço pra que a velocidade desse troço tenha voltado para a de antes. Porém, pra minha grande sorte, o negocio continua rapido, me fazendo dar um pulo e me segurar com as duas mãos pra nao cair. A partir daí, eu me sinto como se tivesse em um rodeio mesmo é através dos flashes em que eu conseguia firmar meus olhos em Samuel, eu via ele vibrando por mim, mas aí dois segundos depois eu já vejo o carinha do chapéu se aproximando dele e tentando uma conversa. Não demora muito pra que eu me desequilibre e caia do touro, mas mesmo assim me fazendo ficar feliz pela adrenalina da brincadeira.

Feito isso, eu, Samuel e o carinha do chapéu, que por sinal se chama Henrique e é bem atraente, com um par de olhos castanho esverdeados e braços fortes, decidimos jogar um pouco de sinuca em uma das cinco mesas do bar. Eu e Samuca ficamos em um grupo, enquanto Henrique fica em outro, chamando um amigo que também é bem atraente, mas puxando mais pro lado fofo, com traços orientais e uma barba e cabelos escuros que contrastam com a pele branca. Os dois parecem saber jogar mais do que qualquer pessoa que eu já vi na vida, mas por sorte Samuel também entende um pouco do jogo, o que não nos deixa passar tanta vergonha. Porém, mesmo assim, obviamente perdemos. Eu e Samuel ficamos revoltados e pedimos revanche, mas eles falam que é melhor parar enquanto estão por cima, sorrindo vitoriosos. Enquanto Henrique vai até o bar buscar mais cerveja pra gente, vejo que seu amigo tenta investir em mim, o que eu acho engraçado, já que ele está parecendo um pouco nervoso ao tentar puxar assunto, mas eu não lhe dou muita abertura. É só quando ele tenta ser um pouco mais direto e pergunta se eu queria sair pra algum lugar mais reservado depois que eu me preparo pra dar um chega pra lá nele, mas antes que eu pudesse falar, Samuel o corta e diz que eu tenho namorado. A pele branca do pobre coitado fica tão vermelha de vergonha que eu fico com pena, mas no fundo eu sei que foi até engraçado.

Depois de algumas cervejas, eu e Samuel, que logo deu um jeito de despistar Henrique e seu amigo, vamos para o meio da pista dançar a coreografia country que todos estavam fazendo. Isso sim faz a noite ficar realmente animada! Eu danço sem ter muita vergonha e sorrio ao ver Samuel todo exibido mexendo aquele corpo como se ele fosse um pinto no lixo, no meio do pessoal.

São quase 5h da manhã quando a gente sai do bar e eu dirijo de volta pra dentro da cidade, levando Samuel que agora está um pouco bêbado e animado querendo voltar pra lá ou pra qualquer outro lugar que tivesse tendo alguma festa. Assim que chegamos, tentamos fazer o mínimo de barulho e vamos direto para o meu quarto descansar os pés, que foram muito bem usados nessa noite regada a dança, sinuca, boa música e touros mecânicos.

__

De volta a São Paulo, eu ainda fico com um gosto de quero mais que a casa dos meus pais me deixa toda vez que eu vou pra lá e fico poucos dias. Agora eu estou deitado na cama de Gustavo, que assim como eu também está sem roupa e com o corpo úmido depois de tomarmos um banho pra nos limparmos depois de termos matado a saudade um do outro da melhor maneira possível. Seu corpo quente está colado no meu, seus braços me puxam pra perto dele e eu sinto que a saudade que eu tive dele durante esses dias era maior do que eu pensava, enquanto ele dá todos os sinais de que também sentiu minha falta, embora ninguém admita isso.

- Gus?

- hum?

- preciso conversar com você sobre uma coisa.

Meu tom de voz sério faz ele se mexer na cama e eu o olho, vendo que ele não está mais com a serenidade de antes.

- o que aconteceu?

- bom, é complicado. – eu tento escolher bem as palavras. – sabe a Duda?

- sei. O que tem?

- ela sabe da gente.

- sabe? Como?

- isso eu não sei. Ela só me pareceu muito segura quando tentou jogar verde, sabe?

- e você?

- não cai na dela, claro. Fiquei nervoso, mas não deixei nada escapar. Só que eu fico preocupado que outras pessoas também desconfiem, percebam a gente ou até tenham certeza que a gente tem algo. Eu não quero prejudicar a nossa carreira.

Ele sorri e se põe apoiado em seu cotovelo, me olhando com aquela expressão calma que só ele sabe fazer quando eu estou aflito com algo.

- a Duda só tá tentando te rondar pra ver se você fala algo. Você sabe que ela gosta de mim, então se ela vê você muito próximo de mim ela vai ficar com dor de cotovelo mesmo. É normal, relaxa.

- mas e se ela... – ele me pausa com um beijo, um beijo rápido, certeiro e de tirar o fôlego.

Depois que ele separa seus lábios dos meus, eu me esqueci completamente do que eu ia falar, de como se fala e de como se respira. Isso é sem duvida uma ótima tática pra me distrair, Gustavo.

- não precisa se preocupar com nada. Tenho certeza que ela só quis fazer uma brincadeira de mal gosto, sabendo que você e eu somos gays e que trabalhamos perto um do outro, o que faz a gente ter um contato direto maior do que eu tenho com ela, por exemplo.

- será mesmo? Eu não sei... Melhor a gente ser mais discretos lá dentro.

- bom, se é assim que você quer, a gente pode ser sim mais discretos. Mas eu tenho uma condição.

Oh céus, o que agora? Eu o olho com expectativa, então ele prossegue.

- pelo menos uma vez no dia a gente tem que se encontrar lá no almoxarifado pra eu te dar um beijo, se não eu não aguento.

Eu lanço a cabeça pra trás em uma risada incontida, imaginando nossos encontros diários às escondidas.

- justo?

- arriscado. Porém, justo.

- bom, muito bom. Mas tem mais.

- mais? – eu começo a temer que ele queira me encontrar na cabine do banheiro, também. Será que vamos descer tanto o nível?

- quero que você venha dormir comigo aqui, sempre que puder.

- dormir juntos? Desse jeito eu vou achar que a gente tá namorando.

Ele se mexe e fica mais perto de mim, a expressão séria.

- mas a gente tá namorando, arthur.

Minha santa! Agora é oficial? Um namoro às escondidas, mas mesmo assim, um namoro?

- estamos? Tipo oficialmente?

- bom, eu achava que estávamos, mas se você prefere da maneira antiga...

Vejo Gustavo se levantar e então seu corpo malhado e musculoso faz seu caminho até o outro lado da cama, se sentando em minha frente e seus olhos me analisando cautelosamente.

- Arthur, você quer namorar comigo?

A sensação de adrenalina que me corre o corpo faz eu me sentir como um adolescente que acaba de ser pedido em namoro pela primeira vez, na escola.

Pela demora da minha resposta, ele começa a parecer nervoso e eu não sei colocar em palavras a felicidade que eu sinto nesse momento. Eu estou sendo pedindo em namoro pelo Gustavo?

- eu sei que você deve ter tido pedidos mais bonitos e românticos, não com um cara de cueca na sua frente depois de fazer sexo, e talvez tenha até tido namorados melhores, mas...

- eu te amo, Gustavo.

O som dessas palavras pesam mais do que qualquer outro som alheio, até mesmo o de nossas respirações pesadas pelo nervosismo e pela carga sentimental do momento. Tudo saiu tão rápido e sem controle da minha boca que eu quase me arrependo de ter dito isso. Será que eu fui longe demais?

- eu também te amo, Arthur. – ele parece sem jeito, semelhante a um adolescente também, assim como eu.

Então tudo o que eu consigo fazer é me aproximar dele e beija-lo. Um beijo leve, intenso e demorado, transmitindo todo meu sentimento por ele e torcendo para que ele saiba o quanto eu estou feliz por esse momento. Esses dias longe dele só me fez ter a certeza de quais sentimentos eu tinha por ele. Eu nunca fui uma pessoa carente, então sentir falta de qualquer pessoa por qualquer motivo era algo fora de cogitação. É só quando eu vi ele novamente na agência hoje de manhã que eu percebi o quanto eu senti sua falta e o quanto isso me assustou.

Depois de um longo tempo, ele finaliza o beijo com pequenos selinhos e um sorriso de alívio que me aquece por dentro.

- eu sei que você não merece um namoro escondido, eu não quero que você compare a nossa relação com outras no passado e ache tudo isso uma grande bagunça, sabe? Só preciso de tempo pra que tudo isso se resolva pra gente.

- na verdade eu não tenho como comparar a nenhum outro namoro, porque eu nunca fui pedido em namoro.

Ele reprime um riso e parece estar mais do que realizado em ouvir isso nesse momento.

- então eu sou seu primeiro namorado?

- é, acho que sim.

Suas mãos passam por meu rosto e então eu vejo seus olhos brilhando, realizados com tantas revelações.

- é, você é uma caixinha de surpresas, Arthur.

Comentários

Há 2 comentários.

Por Luã em 2017-04-04 10:26:57
Oi Eli! Obrigado pelo carinho, fico feliz que você esteja gostando. Essa história ainda vai te surpreender muuuuito, quero ver você sempre por aqui hein! Beijo! <3
Por Elizalva.c.s em 2017-04-04 00:58:20
Que momento mais gute gute adorei muito fofos.😍😍😍😍😘😘😘😘