15. Amélia

Conto de Luã como (Seguir)

Parte da série O garoto da mesa 09

Entro no quarto e vejo Felipe usando sua camiseta branca lisa em gola V, sua jaqueta de couro preta e seu jeans de lavagem clara. Está deixando a barba crescer, o que lhe deixa ainda mais sexy e adulto. É difícil pra mim escolher qual jeito eu gosto mais, com a cara lisa ou com a barba. Já eu estou usando minha camiseta com estampa floral desbotada e uma jaqueta jeans.

- você tá lindo. – digo com um sorriso apaixonado.

- você também. – recebo um beijo intenso nos lábios, sentindo seu hálito agradável e um pouco de seu perfume amadeirado.

- ansioso?

- muito. E você?

- já repassei as letras das musicas, pra poder cantar com você.

Ele sorri e pega a carteira e as chaves do carro e então seguimos para a garagem. Está uma noite bastante agradável. O céu limpo, a temperatura por volta dos 19 graus, não estando nem frio e nem quente. O caminho até o Pepsi on Stage é calmo, salvo uma pequena lentidão no trânsito por estarmos recém saindo do horário de pico. Chegamos no local cerca de uma hora e meia antes da abertura dos portões. Por sorte, isso não nos atrapalha tanto, pois eu comprei pista premium. Se fosse pista normal, estaríamos ferrados. A fila já dobra o quarteirão agora. Muitas pessoas usando camisetas da banda, cartazes, fotos do Adam Levine. Pessoas de todas as idades. Felipe e eu começamos a conversar coisas aleatórias para o tempo passar rápido. Quando a entrada foi liberada, a multidão foi a loucura. Demorou um pouco para entrarmos. A casa de show é maior que eu pensava. Cabe umas cinco mil pessoas aqui dentro. Acho que metade disso já está ocupando espaço só agora. Há realmente multa gente aqui e ainda não param de entrar. Passado cerca de meia hora, começa o show de abertura, com uma banda americana alternativa que eu não conheço. Mas as músicas são muito boas. Enquanto eles tocam e animam toda a galera, mais pessoas entram na casa de shows. Confesso que agora até eu estou ansioso para ver a banda de perto. Tipo, muito perto, já que estamos na primeira fila e o palco está bem na minha frente. A banda inicial termina seu show e a expectativa de todos aumenta. As luzes se apagam por alguns minutos, começa os preparativos para a subida do Maroon ao palco. Me dá agonia de ver a ansiedade de Felipe. A multidão toda vai ao delírio quando a banda sobe ao palco. A voz inconfundível de Adam Levine começando a cantar Animals faz eu soltar um grito de comemoração. A voz dele é um pouco diferente ao vivo. Não sei, talvez mais grossa. Olho para o lado e vejo Felipe parecendo uma criança, cantando toda a letra com a maior empolgação do mundo. Adam está usando uma regata branca, que mostra bem suas diversas tatuagens, e uma calça com estampa militar. Sua presença de palco é incrível. O jeito que ele se move de uma ponta à outra no palco é sexy, é contagiante. As luzes vibrantes, o público interagindo, tudo isso chega a arrepiar. Nunca tinha ido a um show dessas proporções. Em seguida começa uma das que eu mais gosto; One More Night. Sei cantar do início ao fim e nem preciso olhar para Felipe para me certificar de que ele também sabe, pois ele sabe. Ele sabe todas. Eles tocam Love Somebody, Maps, Payphone, entre tantas outras, e todas eu conheço, até as que não são tão óbvias pra quem acompanha superficialmente, como Lucky Strike e My Heart Is Open, mas com Felipe escutando eles o tempo inteiro, acabei conhecendo a discografia completa. Fico eufórico quando tocam minha preferida absoluta, She Will Be Loved, quase no final do show. Canto de mãos dadas com Felipe, enquanto todos em minha volta entoam um coro em alto e bom som, se misturando com a voz de Adam. Escutar essa música ao vivo é uma experiência única. A letra é linda, a energia que ecoa nesse lugar é eletrizante. O show encerra com Sugar, o que faz o público ir ao delírio. Assim que as luzes se apagam e a banda sai do palco, o público fica pedindo mais. E é assim que a gente fica, depois desse show incrível: querendo mais.

- o Adam é o cara! – grita Felipe no meu ouvido, já suado de tanto pular e cantar durante a última hora.

- esse show foi muito foda! – grito de volta, enquanto começamos a ir em direção à saída. Passa-se cerca de dez minutos ate o pessoal se organizar para sair. Agora estamos na calçada, indo em direção ao nosso carro.

- obrigado pelo presente, meu amor. Foi incrível.

- o que foi? Eu também gosto de Maroon 5. O presente foi pra mim, bobão. Ver o Adam de perto é tipo... – começo a me abanar, fingindo estar com calor.

- você está muito engraçadinho hoje, Eduardo. Quando chegar em casa você vai ver que eu sou melhor que o Adam.

- eu já tenho meu Adam. Na verdade, tenho algo melhor que o Adam Levine. Tenho o Felipe Levine. Esse sim, me faz ficar louco de verdade. – eu o olho despretensioso e ele se derrete.

- seu bobo.

- por você, sempre.

Me seco dos respingos de chuva assim que entro no prédio. Está fazendo um frio fora do normal hoje na cidade e eu fico aliviado quando sinto o calor acolhedor da recepção. Nem parece que os últimos dias estavam tão agradáveis.

- bom dia Eduardo! – dona Maria está usando um casaco pesado, com seu rádio a pilha a todo o vapor.

- bom dia dona Maria. – esfrego as mãos tentando esquenta-las.

- você está mal agasalhado, garoto. Você viu quantos graus está lá fora? 5 graus! Não dá pra sair de casa com menos de dois casacos e você aí, com pouca roupa.

- não gosto de me empacotar com muita roupa. O frio é bom.

- você é louco! Eu queria morar em outro lugar, onde faz sol todos os dias. Porto Alegre é tão cinzenta. – ela faz uma careta e eu sorrio, me despedindo em seguida e me dirigindo até a sala. Assim que cruzo a porta avisto Tais e Marcos, que geralmente são os primeiros a chegar.

- olha quem voltou! O menino viajante! – Taís levanta os braços em exaltação.

- ei, como foi lá? Como é São Paulo? – Marcos, como sempre mais reservado, se limitou a apenas me dar um aperto de mão.

- foi muito bom. São Paulo é enorme. Não conheci nem a metade do que eu queria, mas foi legal.

- a gente olhou a prova pela televisão. Ficamos na torcida por você.

- obrigado Marcos. Isso significa muito, de verdade.

- só acho que você tinha que ter ganhado o primeiro lugar. O seu prato estava muito mais bonito. – Tais soa inconformada.

- mas só de ter chegado até lá foi incrível pra mim gente.

- temos que comemorar, né?

- claro, a gente marca de sair qualquer dia desses. Quero que vocês conheçam o Felipe e a Marina.

Mais pessoas entram na sala, seguido de Joaquim, com seu bom humor usual e algumas roupas a mais do que o normal.

- bom dia, bom dia, bom dia!

- bom dia, Joaquim! – todos repetem a mesma frase, um a cada hora.

- tenho dois anúncios importantes antes de começar nossa sessão de hoje. O primeiro é que temos um dos melhores cozinheiros do país entre nós. Pra quem não sabe, o Eduardo concorreu no Espátula de ouro na semana passada e ganhou o segundo lugar. Então, parabéns Edu.

Uma salva de palmas se ecoa pela sala, seguida de muitos parabéns, me fazendo corar.

- e o segundo é que vamos participar da maratona do próximo domingo. Os interessados podem se inscrever na recepção. No ano passado tivemos muito poucos inscritos, mas em compensação nosso colega Marcos ganhou uma medalha de bronze. Você participa esse ano de novo, né campeão? – Joaquim aponta para Marcos, que sinaliza que sim com o polegar.

O resto da sessão, assistimos a um documentário muito motivacional, que acabou mexendo muito comigo. O nome é “Nada é impossível”, que conta a história de dois amigos, onde um deles é cadeirante, percorrem uma trilha de 800 km para chegar até Santiago de Compostela. O filme nos mostra um verdadeiro ensinamento sobre amizade verdadeira, o que me deixa muito emocional. Depois, todos nós discutimos sobre o filme, até o fim da sessão. Quando estava indo embora, vejo Marcos na recepção, provavelmente se inscrevendo para a maratona. Eu até que me animei para o evento, mas não é muito meu estilo. Se eu for, vou apenas torcer por ele, junto com Tais.

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É sábado à noite e eu recém cheguei em casa do trabalho. Estou de banho tomado e feliz por retomar minhas leituras. Felipe vai ficar até um pouco mais tarde na agência, resolvendo alguns assuntos. Meus olhos estão fixos em meu livro, enquanto eu tenho um pote enorme de brigadeiro e uma xícara de café com leite do meu lado. A chuva continua há dias sem cessar e eu aproveito isso para ter meus dias de preguiça. Estou na metade de Se Eu Ficar. Já devo ter lido esse livro umas cinco vezes, mas nunca me canso. Quando estou quase na parte do acidente, meu telefone toca. Olho o número e não reconheço. O DDD é 011. Isso é São Paulo. Mas quem, além de Lívia, poderia me ligar de lá.

- alo?

- alo Eduardo?

- isso, quem é?

- aqui é Cassiano Silva. Não sei se você lembra de mim, mas eu fui um dos jurados da final do Espátula de Ouro.

- pra ser sincero, não lembro de nenhum nome dos jurados. Foi tudo tão rápido. – soo sincero, mas um pouco sem jeito de realmente não conhecê-lo.

- bem, não tivemos a chance de um contato mais aprofundado. Mas eu estou indo para Porto Alegre no dia 19 do mês que vem e gostaria de fazer uma reunião com você.

Minha barriga se embola por dentro. O que será que ele quer comigo? Seja lá o que for, sei que é bom.

- claro! Só me dizer a hora e o lugar.

- a gente vai combinando até lá. Eu te ligo mais pra frente, combinado?

- combinado.

- ótimo. Se cuida, garoto. Até mais.

- até mais.

Desligo a chamada, jogo o celular em cima da cama e me deito olhando para o teto, já me preparando para o ataque de ansiedade que me consumiria a partir desse exato instante. Será uma vaga de emprego? Talvez. As chances são grandes, mas não vou me antecipar. Como eu esperava, não consigo voltar para minha leitura. Minha cabeça fervilha com pensamentos a todo o momento, me atordoando e me deixando agoniado.

O domingo chega e com ele, o sol. Desde ontem à noite que a chuva deu uma trégua, mas ainda estava nublado. O tempo está ajudando na maratona. Felipe saiu faz pouco tempo. Foi na casa do Oscar para um almoço com o pessoal do trabalho, mas eu já estou de pé desde que ele acordou. Fico feliz que estou podendo ter mais liberdade em várias coisas, depois que a reforma terminou, dias atrás. Pra mim é uma realização poder ir no banheiro sozinho. É tão surreal, coisas tão pequenas e singelas para uns são grandes vitórias para outros. Apesar de todos os momentos tristes e o fato de ser difícil absorver tudo o que aconteceu no início, o fato de que eu sou cadeirante me trouxe uma enxurrada de aprendizado, de valorização das pequenas coisas. Termino minhas necessidades e olho para o chuveiro. Eu quero tanto tomar um banho, mas tenho medo de tentar sozinho. Isso me deixa triste. Começo a sair do banheiro, mas quando estou quase passando pela porta, eu paro. Não, eu não vou desistir. Preciso tentar, preciso vencer meus medos. Dou meia volta, tiro minha camiseta e com um pouco de dificuldade, tiro meu calção e minha cueca. Vou até a porta do box e começo a analisar como posso fazer isso. Bem, eu tenho as barras na parede para apoiar e um banco acoplado na parede para me sentar sem problemas. Só preciso ter forças nos braços. E assim o faço. Logo na primeira tentativa, meus braços falham e eu caio de volta na cadeira. Respiro fundo e tento novamente. Dessa vez, tenho êxito, mesmo sentando bastante desajeitado na cadeira adaptada. Tomo um banho com gosto de vitória. Estou sorrindo de orelha a orelha, por conseguir fazer isso sozinho. Depois de estar de banho tomado, vou até o quarto, pego uma camiseta limpa, visto um casaco e deixo o mais difícil por último. Vestir a cueca e a calça jeans é sempre o mais chato. Mas passado isso, pego minhas coisas para ir até o ponto de ônibus. Felipe insistiu para me dar uma carona, mas ele saiu muito cedo. Como eu já sei que a rampa perto do prédio é traiçoeira, contorno-a para não correr o risco de travar as rodas, como sempre acontecia. O ônibus chega e eu sigo até o centro, depois pego outro ônibus até o Cristal, onde os competidores já se preparam, na avenida Diário de Notícias. Ligo para Tais, que sem demora me acha.

- você veio! – ela está com seu bom humor habitual.

- eu não perderia essa. Como o Marcos está?

- bastante ansioso, mas confiante.

Procuro por ele entre os outros, o avistando logo em seguida. Ele está concentrado, nem olha para os lados. Imagino como isso deve ser importante pra ele. Não demora muito até que todos começam a se colocar em suas marcas. Depois de alguns minutos, a prova começa. Marcos sai na frente, ficando em vantagem, o que faz eu e Tais gritar em comemoração e incentivo. Mais à frente, o Guaíba brilha com o reflexo do sol da manhã.

- você nunca participou?

- não. Não é muito a minha cara. – ela dá de ombros. – acho que eu sou muito sedentária pra isso.

- eu acho que também não me daria bem, mas quem sabe um dia. – eu sorrio pra ela.

- Edu, você nunca me disse como conheceu o Felipe.

- foi numa situação bem inusitada. – solto um sorriso bobo só de pensar nele. – eu primeiro atendi ele no restaurante da minha família e ele já me chamou a atenção. Achei ele tão lindo. Fiquei bastante sem jeito, mas me controlei. Logo depois, na mesma noite, eu tava voltando do supermercado quando um cara veio me assaltar.

O Felipe estava passando na rua bem na hora e deu uma de herói. Ele foi muito corajoso, mas ficou com um olho roxo.

- que surreal. – ela me olha surpresa. – você acha que foi amor à primeira vista?

- talvez. Acho que mesmo eu não sabendo, meu coração já sabia que era ele. Eu nunca tinha sentido nada parecido. Depois eu descobri que ele ia estudar na mesma turma que eu, então as coisas só foram acontecendo e eu deixei rolar. Mas quando eu vi o quanto eu estava gostando dele e o quanto isso estava me afetando, eu tive medo. Eu tinha muito receio da reação de todos, resisti no início, temendo a reação dos meus pais, mas no fim meu sentimento pelo Felipe prevaleceu.

- sempre prevalece. Do jeito que você me fala dele, esse seu sorriso estampado aí, não tenho dúvidas que o amor de vocês é forte. Eu fico feliz por vocês, Edu.

E no fim de tudo, ela tem razão. O amor sempre prevalece. Só de pensar em tudo o que a gente passou nesse pouco tempo juntos, eu fico abismado. A força que a gente teve pra lutar pelo que a gente queria foi mais alto que qualquer medo ou incerteza. O fato é que quando eu estou com ele, eu não sinto medo. Felipe sempre está perto de mim, pra me segurar. E eu estou sempre perto dele para segura-lo. Somos como duas bases, um sustentando o outro.

Tais me conta um pouco mais de sua vida, de sua família, de tudo o que eu ainda não sabia quando a gente conversava nas sessões do grupo. Ela é um livro aberto e um exemplo de determinação. Com apenas 25 anos já se formou na UFRGS, passou em primeiro lugar pra Matemática e ama o que faz. Veio de uma família humilde e passou grande parte de sua vida no bairro Farrapos. Faz pouco tempo que financiou um apartamento e está morando com Marcos no Sarandi. O modo como ela fala de Marcos é semelhante ao modo que eu falo de Felipe. Posso ver o amor deles florescendo cada dia mais. Eles também são como a base um do outro, se apoiando para enfrentar os problemas da vida com otimismo e determinação. Antes de tudo, meus mais novos amigos são dois vitoriosos.

Cerca de duas horas depois da largada, o pessoal começa a ficar eufórico. Os competidores estão chegando na linha final. Eu e Tais começamos a esticar nossas cabeças ao horizonte para ver quem está chegando. Quando afirmo meus olhos e consigo ver direito, não consigo acreditar.

- olha lá, é o Marcos! – aponto para frente, assustando Tais.

- onde? – ela está eufórica nesse momento.

- lá, ele tá na frente!

Marcos está na liderança, sendo seguido por mais dois homens que estão na cola dele. Meu coração está acelerado, torcendo para que Marcos sustente a liderança até cruzar a linha de chegada. E assim ele o fez. Marcos ganha a prova, fazendo eu e Tais irmos ao delírio.

- parabéns meu amor! – ela lhe beija, orgulhosa.

- obrigado, bebê.

- parabéns Marcos!

- obrigado Edu, significa muito o apoio de vocês. – ele ainda está ofegante e passa a mão na testa para tirar o excesso de suor.

- o que vocês acham de fazer uma comemoração lá em casa? Hoje a noite?

- por mim, tá fechado. – Tais é a primeira a se manifestar.

- por mim também.

- beleza. O jantar é por minha conta. – digo irredutível.

- não poderia ser de outro jeito, amigo. – Tais me dá um soco de leve no braço, em brincadeira.

Vamos os três almoçar no Barra Shopping, ainda eufóricos e alegres pela vitória de Marcos. Paramos para comer no Applebee’s, onde eu peço um Cowboy Burger. Quase não consigo comer sozinho, de tão grande que é, apesar da minha fome. Após almoçar, me despeço deles e sigo direto para o mercado para comprar as coisas para o jantar. No meio do caminho, decido ligar para Marina e convida-la para ir também.

- fala caipira!

- oi Mari, como você tá?

- to bem, eu e a Bárbara estamos terminando de arrumar a casa. E você?

- eu to bem também, indo para o mercado comprar umas coisas. Eu te liguei pra convidar vocês pra jantar lá em casa hoje. Lembra do Marcos e da Tais, do grupo de apoio?

- hum.

- então, eles vão lá hoje e eu queria que você conhecesse eles.

- tá bom, de tardezinha eu e a Bárbara vamos lá. Precisa levar alguma coisa?

- só tragam o corpitcho de vocês, já tá de bom tamanho.

- seu bobo. – ela ri do outro lado.

- eu vou desligar então. A gente se fala depois.

- até mais tarde, caipira.

- até.

Desligo e sigo para o mercado. Fazer compras sempre é algo terapêutico pra mim. Eu mergulho nos corredores, procurando temperos e condimentos diferentes para as minhas receitas e experimentos malucos na cozinha. Decido que nosso jantar será frango xadrez. Quero muito impressionar eles, então tenho que caprichar. Depois de comprar tudo o que eu vou precisar e mais um pouco, vou com as sacolas para o ponto de ônibus e espero até que venha o meu.

Quando chego em casa, a preguiça me domina. Quero tanto ir para o quarto e dormir o resto do dia, mas tenho coisas pra fazer. Estou guardando as coisas na geladeira quando ouço um barulho na sala.

- amor? – Felipe grita ao fundo.

- to na cozinha, Fê.

- oi meu amor. – ele me lança um sorriso largo ao me ver. – como você está?

- to bem, recém cheguei em casa. E como foi o almoço?

- foi ótimo, o Oscar sabe preparar um churrasco perfeito. Já disse que na próxima vai ser aqui em casa. Me gabei pra todo mundo o quão bem você cozinha, o pessoal ficou curioso.

Ele olha para as sacolas e me olha instigado.

- o que é isso?

- teremos casa cheia hoje.

- ah é? – ele fala enquanto tira a camiseta e coloca na cadeira da mesa.

- sim, a Marina, a Bárbara, a Tais e o Marcos vão vir jantar aqui hoje.

- sério? Que bacana, finalmente vou conhecer os dois.

- eles também estão ansiosos pra conhecer você, principalmente a Tais.

- falar neles, como foi a prova?

- o Marcos ganhou. – falo orgulhoso.

- tá brincando? Que incrível!

- por isso do jantar, vamos comemorar.

Por um momento, analiso o corpo de Felipe, um pouco vermelho e úmido por causa do calor. Posso olhar para ele mil vezes, as mil vezes eu vou ficar excitado. Ainda mais com essa barba por fazer, esses pelos começando a aparecer no tórax. Ele está gostoso pra um senhor caralho.

- o que foi?

- você.

- o que tem eu?

Eu arqueio a sobrancelha, olhando para ele de cima a baixo. Quando ele finalmente percebe minhas intenções, sua mão percorre sua bermuda, alisando seu pênis, já marcado no tecido.

- Felipe...

- o que foi?

- não faz isso.

- isso o que?

- você sabe.

- você não gosta? – ele repete o movimento, me fazendo morder os lábios. – hein?

- gosto.

Então, ele desabotoa a bermuda, se livrando dela e deixando-a ao redor de seus pés, me revelando uma cueca bóxer branca, bem delineada em seu instrumento.

- tá calor, né? – ele soa debochado.

- você não presta.

- eu, por que?

- você sabe por que, Felipe.

Ele se aproxima lentamente de mim, fazendo eu me arrepiar quando sinto sua pele perto da minha, a respiração quente em meu pescoço.

- o que você vai fazer sobre isso? – ele sussurra sexy em meu ouvido.

- eu ainda não sei... – minha voz quase não sai.

- eu tenho uma ideia.

Ele me dá um beijo molhado no pescoço, subindo até a orelha, me fazendo estremecer, por fora e por dentro. Sua mão travessa começa a passear por mim, por dentro da minha camiseta, fazendo eu soltar um suspiro pesado e fechar meus olhos.

- você me deixa louco, sabia? – eu tento manter minha voz contínua, com muito esforço.

- deixo? – ele sabe da resposta pra sua pergunta, enquanto continua me tocando e me beijando.

- deixa.

Quando eu vejo, estou excitado. Muito mais que excitado. Mal consigo me conter dentro de minha cueca. É uma ereção espontânea. Agarro Felipe com uma necessidade absurda, encaixando-o em meu colo e lhe enchendo de beijos, pois já não aguento mais esse jogo sensual. Quero te-lo totalmente pra mim, sem calma. Ele agarra minha cabeça, puxando meus cabelos pra trás e beijando embaixo de meu pescoço, dando mordiscadas em meu queixo e se esfregando em mim.

- acho que a gente não precisa disso. – ele começa a tirar minha camiseta, me deixando exposto em sua frente. Meus mamilos estão duros de tesão. Voltamos a nos beijar intensamente, com nossas línguas se encontrando e dançando dentro de nossas bocas. Sempre quando elas se encontram, é feroz, é necessitado, é intenso. Puxo Felipe para mais perto, até não ter mais como te-lo mais perto, como uma necessidade de abraçá-lo o mais forte possível. Puxo sua cueca de modo que seu pênis pula pra fora, batendo em sua barriga, me fazendo salivar. Que pênis perfeito. Grande, nem grosso e nem fino, cheio de veias, branco com a cabeça rosada e exposta. Seguro firme nele e começo a masturba-lo. Com meu toque, ele fecha os olhos e levanta a cabeça pra cima, enquanto o líquido de lubrificação já escorre em minhas mãos. Ele está muito excitado, assim como eu. Ele se levanta e fica de pé em minha frente, com o mastro apontando pra cima, e eu literalmente faço a festa. Coloco o máximo que posso em minha boca, engulo e depois solto, passo minha língua em todo o comprimento, lambo os testículos... Eu estou em êxtase. De repente, ele me pega no colo e me leva em direção ao quarto e ao chegar, me coloca na cama e eu começo a ve-lo se masturbar ao me penetrar com seus olhos.

- eu sou louco por você. – Felipe fala baixinho, com a voz sexy, mas eu consigo ouvir perfeitamente.

Então, ele se deita por cima de mim e começa a me beijar, me deixando todo arrepiado. As palavras picantes que ele solta em meu ouvido me levam ao delírio. Sua pele encostando na minha, o calor do seu corpo, o desejo palpável entre nos, tudo é tão intenso pra mim.

- quero que você faça o serviço completo hoje. – eu sussurro em seu ouvido, fazendo-o rir ao olhar pra mim, perplexo.

- tem certeza?

- tenho.

Ele se levanta sorrindo e vai até a cabeceira da cama, pega um preservativo e quando ele vai abrir para colocar, eu o interrompo.

- deixa que eu coloco.

Então, ele sobe na cama de novo, se posicionando de joelhos em minha frente e eu engulo ele novamente, fazendo-o gemer baixinho. Então, após mais alguns minutos aproveitando aquele gosto e cheiro de homem em minha boca, lhe beijo a barriga, passo minha língua em seu umbigo

e depois encho-o de beijos em toda a região que consigo alcançar, finalizando com pequenas mordiscadas em seu membro, o que faz ele acariciar minha cabeça e empurra-la novamente para chupa-lo. Então, eu pego o preservativo e desenrolo nele, fazendo-o fechar os olhos de prazer. Ele então me coloca em seu colo e entra em mim aos poucos e mesmo eu não tendo sensibilidade da cintura para baixo, eu consigo sentir prazer com o momento. O conjunto por si só já me enlouquece. Felipe sentado na cama, entrando em mim, seus olhos nos meus, tudo é tão intenso que me deixa com muito tesão. Ele dobra minhas pernas de modo que eu fique ajoelhado em cima dele, apoiando minhas mãos no colchão e as dele em volta de mim, me segurando. Então, o movimento começa. Ele entra e sai de mim com vontade e o barulho disso me deixa estimulado. Logo meu pênis está duro e lubrificado. Os gemidos de Felipe se misturam com os meus, fazendo eu ter sensações únicas. Seus olhos praticamente me engolem, de tão intenso que ele me observa embaixo de mim. O calor que está fazendo no quarto faz eu e ele rapidamente começar a suar. Deito minha cabeça em seu peito e sinto seu coração batendo forte. Santo Cristo, como eu amo esse homem. Ele me proporciona tantas coisas boas, que uma lágrima acaba caindo do meu rosto, acertando seu peito.

Ele me olha preocupado, mas antes que ele fale alguma coisa, eu lhe falo baixinho “eu te amo”, com o rosto emocionado, o que o faz ficar emotivo também. Então, automaticamente o ritmo diminui, mas sem perder a intensidade. Ele se enfia fundo em mim, revirando os olhos e gemendo toda a vez que ele o faz. Mesmo não sendo a mesma sensação para mim, eu estou com muito prazer ao lhe dar prazer e estar descobrindo outras formas de sentir tudo o que estamos fazendo agora. O toque de Felipe em minhas costas, em meus mamilos, seus beijos e suas mordiscadas em meu corpo, tudo é tão mais intenso, que não consigo me conter muito tempo. Ele está entrando e saindo de mim com bastante intensidade, seus gemidos estão mais altos e rápidos, com aquela voz grossa e intensa, então quando ele vê que eu estou chegando no meu limite, ele goza junto comigo, dentro de mim. Vejo ele tremer um pouco e fechar os olhos intensamente, enquanto eu volto a repousar minha cabeça em seu peito enquanto nossas respirações ainda estão irregulares. À medida que nos acalmamos, ele faz carinho em minhas costas.

- vamos, vem tomar banho comigo. – Felipe se mexe, fazendo eu me levantar, planta um beijo na minha testa e pega na minha mão.

- deixa eu tentar uma coisa.

Ele me assiste parado enquanto eu me apoio na cama e sento na cadeira sem a ajuda dele. No começo ele se move querendo me pegar, mas eu não deixo. Quando eu estou sentado na cadeira, ele me olha perplexo.

- mas como...

- prática. – dou de ombros.

Saímos pela porta em direção ao banheiro, onde há mais surpresas. Eu lhe mostro meu resultado da minha tentativa desajeitada de hoje cedo. Felipe fica aflito, me sondando o tempo inteiro, mas eu consigo com sucesso.

- mas o que... – Felipe me olha atônito.

- surpresa. – lhe dou um sorriso largo, não conseguindo conter o orgulho de estar sendo independente. A reforma na casa fez muito bem pra mim. Estou me sentido muito mais útil e livre pra fazer o que eu quero, sem ninguém na minha cola. Cada pequena conquista pra mim é como se eu estivesse conquistando o mundo. Tomo meu banho por conta própria, enquanto Felipe me assiste incrédulo, com um sorriso bobo no rosto. Assim que termino eu me seco e ele apenas me ajuda a colocar uma roupa decente para quando as visitas chegarem, o que não vai demorar muito. Agora estou com uma camiseta preta lisa, uma bermuda de linho branca e um mocassim vinho. Não demora muito até que o porteiro nos interfona avisando que Tais e Marcos chegaram. Poucos minutos depois eles estão entrando na sala.

- oi gente! – Tais acena um pouco sem graça. Acho que pela primeira vez vejo Tais tímida.

- então vocês são os famosos amigos do Edu? Finalmente a gente se conhecendo! – Felipe faz à frente, quebrando o gelo. Primeiro ele dá um abraço e um beijo na bochecha de Tais e em seguida aperta a mão de Marcos em um cumprimento descontraído.

- de hoje não podia passar né. Temos que comemorar a vitória do nosso campeão! – agora estou do lado de Marcos, lhe envolvendo um braço em um abraço camarada.

- é verdade, o Edu me falou. Parabéns Marcos!

- valeu, Felipe. Minha ficha nem caiu ainda.

- mas e aí gente, o que vai sair de janta? O Edu tem uma ótima fama, viemos hoje pra provar se é verdade.

- ih, você vai pagar a língua Tais, porque eu estou preparando uma janta de lamber os dedos. – tento fingir falsa imodéstia.

- nisso eu tenho que concordar gente, o Edu manda e desmanda na cozinha aqui de casa. Eu nem tenho como discordar.

- discorda pra você ver. – lanço um olhar ameaçador para Felipe, que me rebate com uma careta. O interfone toca novamente. Deve ser as meninas. O porteiro me confirma que são elas, então logo nossa turma está toda reunida. As meninas estão lindas, como sempre. Já estava com saudade da Barbara.

- chegou quem faltava! – vou ao encontro delas, ganhando um abraço caloroso das duas. – você tá linda, Bárbara. Você tá mais ou menos, Marina. Da pro gasto.

Ela me mostra o dedo do meio e eu começo a rir, em seguida nos reunimos na cozinha para começar a fazer nosso frango xadrez. Por muita insistência, as meninas decidem me ajudar. Eu fico com o frango, Marina fica com a salada, Bárbara com o arroz e Tais ficou encarregada de fazer um suco de laranja e cenoura que, segundo ela, é o melhor que a gente vai provar na vida. Enquanto isso, Felipe e Marcos conversam animados perto da janela, mas não se distanciando da gente. Estou cortando a cebola, o alho e o pimentão enquanto as meninas discutem sobre política e sociedade. Eu acabo entrando na conversa e expondo meus pensamentos, que são parecidos com os de Bárbara, onde colocamos mais nossa emoção do que nossa razão em jogo, enquanto Marina e Tais discordam da gente, priorizando a razão.

Como é um assunto que rende muito pano pra manga, decido deixar elas terminarem o rumo do debate enquanto eu coloco o frango já cortado em cubos para dourar. Enquanto isso, o arroz já está quase pronto, assim como o suco.

- essa salada é pra hoje, viu Marina.

- você pegou mesmo no meu pé, hein caipira?

- aqui o negocio tem que ser ágil, minha linda.

Ela me aponta a faca, mandando eu calar a boca e eu finjo estar com medo. A noite hoje está tão divertida.

No final, como eu esperava, toda a comida fica pronta, com exceção da salada de Marina. Ela se compenetrou tanto no debate que acabou esquecendo de tudo. Quando ela termina, vamos todos para a mesa. Ouço muitos elogios de todos sobre o meu frango, o que me deixa muito feliz. Depois de comermos, tivemos uma discussão sobre a louça. Eu insisto para Marina que não precisa lavar, mas ela não me ouve. Então, desisto. Ficamos na cozinha conversando enquanto Marina se diverte na pia com aquela montanha de pratos, panelas e copos pra lavar, ao mesmo tempo que Felipe e Marcos agora estão na sala jogando Xbox. Fazia tanto tempo que eu não via o Felipe jogando aquilo. Acho que ele acabou de encontrar um novo melhor amigo. Terminada a louça, vamos todos para a sacada admirar a noite estrelada que faz hoje.

- é uma vista linda. – Tais está encantada.

- é, Porto Alegre é incrível vista daqui. – Marina complementa.

- Porto Alegre é linda vista de qualquer ângulo. – minha voz sai leve e sentimental.

- você ama Porto Alegre, né caipira?

- claro, se não fosse ela, eu não teria encontrado vocês.

Marina, Bárbara e Tais se juntam a mim para um abraço em conjunto. É tão estranho saber que há não tanto tempo atrás eu não tinha nenhum amigo. Eu era tão fechado, tão trancado no meu próprio mundo, que não me deixava compartilhar coisas com ninguém. Agora eu estou aqui, rodeado de amigos sinceros. Isso aquece meu coração.

O sol entra tímido pelo quarto quando eu abro um dos meus olhos. Tateio até o criado mudo para pegar meu celular e ver as horas. Ainda nem são 07h. Olho para o lado e vejo Felipe dormindo tranquilo, de barriga pra cima, a respiração calma. Nesse quase um ano morando juntos, ainda não sei qual é minha coisa preferida nele ao dormirmos todos os dias na mesma cama. Se é o fato de ele ser muito espaçoso na cama e ocupar todo o lado dele e mais um pouco do meu, ou se é o fato de ele se virar o tempo todo durante a noite e pela manhã os lençóis estarem todos bagunçados, ou até mesmo sua cara de sono quando me olha logo ao abrir os olhos e já abrir aquele sorriso dele, que me desconcerta. Talvez seja tudo isso junto e mais um pouco. Eu só sei que olhar o amor da minha vida dormindo me traz uma sensação de paz que eu não consigo explicar. Ele se mexe um pouco, alterando sua respiração e logo em seguida abre aqueles olhos castanhos intensos, logo me olhando.

- bom dia. – sua voz sai sonolenta.

- bom dia, Fê.

- por que acordou tão cedo? O celular nem despertou ainda.

- fiquei te vendo.

Ele me olha sem jeito, se ajeitando na cama e ficando de lado, com a cabeça apoiada pela mão.

- eu não sei o que pode ter de tão interessante em me ver dormindo. Eu já fiz isso com você, confesso que no seu caso é diferente, mas no meu...

- você fez? – acho que eu fico corado no momento.

- muitas vezes. Não me canso nunca. Você é lindo dormindo, Edu.

Antes que eu possa discordar, ele me interrompe com um beijo. De repente, não me importo se estou com aquele hálito desagradável da manhã. Eu e Felipe já ultrapassamos o patamar de namorados comuns. Nossa convivência breve e intensa nos revelou tantas coisas, e ainda revelam, que um beijo ao acordar, revelando nossas caras amassadas, hálitos matinais e cabelos bagunçados, se torna apenas uma das coisas comuns, porém únicas e especiais em que desfrutamos todos os dias. Ele me ajuda com os exercícios habituais das pernas, sempre me olhando fundo nos olhos e me tocando com muito cuidado. Às vezes seu cuidado é até exagerado, mas eu entendo sua preocupação.

Logo estou na minha cadeira, indo ao banheiro para lavar o rosto e escovar os dentes. Depois disso, tomo um banho morno para me despertar por completo. Depois de vestido, vou até a cozinha preparar a mesa enquanto Felipe se arruma. As coisas que mais usamos na geladeira estão bem embaixo, para que eu possa pegar sem dificuldade. Coloco tudo na mesa e logo em seguida Felipe se junta a mim.

- ansioso?

- um pouco. Toda a sessão de fisioterapia pra mim é única. Sempre aprendo alguma coisa nova.

- eu queria poder ir com você, meu amor. Mas as coisas lá na agência estão uma loucura.

- eu entendo, Lipe. – passo minha mão por cima da mesa e encontro a sua, acariciando-a. – lá na loja as coisas também estão corridas.

Eu fico feliz que Ricardo não se importe de eu entrar mais tarde durante esses dias que eu preciso. Ele tem sido bastante compreensivo. Não demoramos muito para terminar nosso café e Felipe me levar para o consultório. Me despeço dele com um beijo breve dentro do carro, antes de ele pegar minha cadeira no porta malas e me ajudar a subir nela.

- se cuida meu amor. Se precisar de alguma coisa, me liga, a hora que for. – lá está o Felipe superprotetor novamente.

- tudo bem. Se cuida, te amo.

- eu também.

Minha sessão corre perfeitamente bem. Além de fazer tudo o que fizemos na última sessão, agora eu faço outros exercícios, um pouco diferentes dos que eu faço sempre aqui e em casa. Primeiro, em cima do colchonete, eu me sento com as pernas esticadas pra frente e começo a me erguer com o apoio das mãos, com os punhos fechados, até eu levantar meu quadril do chão. Em seguida, ainda no colchonete, começo a fazer um tipo de exercício físico diferente, onde eu tenho que jogar o peso do meu corpo para o lado e em seguida levantar minhas costas. É muito difícil no começo, mas depois eu me acostumo. Eu falo pro doutor das minhas tentativas sozinho de me mover de um lugar para o outro no quarto e no banheiro, mas ele me adverte que é perigoso sem uma prática previa. Por isso, praticamos isso no resto da sessão. Eu aprendo a maneira certa de me mover do chão para a cadeira, e vice versa. Tenho certeza que com isso vou ter braços bastante musculosos, pois eu dependo totalmente deles pra isso e isso exige muita força e técnica, pois um movimento errado e eu posso prejudicar ou lesionar alguma parte do meu corpo. Quando terminamos isso, Fábio marca nossa próxima sessão para fazer em casa. Assim, continuaremos com nossas técnicas para eu fazer tudo de uma maneira correta, na prática onde eu realmente vou as usar.

- olha Edu, eu preciso dizer que você foi errado em tentar fazer isso por conta própria. Você poderia ter caído e se machucado sério. – seu tom de voz é duro. – mas eu o o admiro pela sua força de vontade. Você está se saindo muito bem, obtendo ótimos resultados e em muito pouco tempo.

Não consigo conter meu sorriso de orgulho e felicidade. Logo me despeço de Fábio e vou embora, seguindo para o trabalho. Só quando já estou no centro percebo que estou com muita fome e que sai de casa sem tomar café da manhã. Decido parar em uma salgaderia e comer um pastel de calabresa e uma empadinha de palmito. Não sou muito fã de comer coisas assim na rua, ainda mais coisas muito gordurosas, mas eu não tenho muito tempo pra procurar e escolher lugares pra comer, já que preciso ir para a loja. Assim que chego, apenas guardo minha mochila no meu armário, que agora fica em uma pequena sala no primeiro andar da loja, visto minha camiseta do uniforme e vou para o caixa, onde Ricardo assumia enquanto eu estava fora. Começo a organizar alguns documentos e conferir alguns e-mails e planilhas no computador, quando sinto meu estômago embrulhar. E em poucos minutos, ele está empedrado. Sinto muita dor na barriga e quando menos espero, estou vomitando no chão, atrás do balcão do caixa. Merda. Ainda bem que não havia ninguém perto. Mas Ricardo logo me vê e vem correndo.

- Edu, tá tudo bem?

- tá sim, só não vem aqui dentro. – digo com a mão na boca.

- o que aconteceu?

- eu vomitei aqui. – estou com muita vergonha.

- espera aí, deixa eu pegar um pano pra limpar.

Pouco tempo depois ele retorna com um balde e um rodo com um pano de chão. Mesmo insistindo para eu mesmo limpar, ele o faz. Meu estômago volta a se embrulhar e dessa vez eu rapidamente pego o balde e despejo todo meu vomito dentro dele. Minha barriga dói. Decido ir para o banheiro, caso contrário vou acabar espantando todos os clientes que possam estar na loja. Fico curvado na privada por alguns minutos, despejando tudo o que eu tinha no meu estômago. O gosto na minha boca é horrível.

- nunca mais vou comer em salgaderia, nunca mais vou comer em salgaderia. – repito isso na minha cabeça como um mantra, uma ordem que dou a mim mesmo para não acontecer mais isso. Deve ter sido aquela empada de palmito. Quando finalmente meu estômago parece ter me dado uma trégua, Ricardo aparece na porta do banheiro.

- Edu, vamos para o hospital.

- não Ricardo, não precisa.

- não Edu, é sério. Não vou deixar você assim. Vem comigo.

Agora sim, a vergonha está completa. Ricardo me coloca em seu carro e vamos direto para o pronto socorro. Chegando lá, me dirijo até o balcão para apresentar meu cartão de convênio e então eu espero para ser atendido.

- você tá melhor?

- um pouco.

- você comeu alguma coisa estranha hoje de manhã?

- sim, acabei parando em uma maldita salgaderia pra comer algo rápido e acabei ficando assim.

- isso é um sinal pra você não comer besteiras na rua. – Ricardo tenta brincar para aliviar a tensão e o clima chato.

- é, eu já prometi pra mim mesmo que não vou mais fazer isso. – ele sorri para mim e se ajeita no banco. – desculpa pelo incomodo, Ricardo.

- que isso Edu, não é incômodo não.

- se você quiser ir pra loja, eu fico aqui sem problemas.

- não, eu fico com você até te chamarem. Você já avisou o Felipe?

- não, mas nem vou. Não quero preocupa-lo por besteira.

- não e besteira Edu, você teve uma intoxicação alimentar.

- eu sei, mas não precisa.

- bem, você que sabe.

Logo me chamam e eu sou atendido. O médico me receita um antibiótico e me pede para tomar bastante liquido, para reidratar. Sem demora já estou saindo do consultório. Ricardo insiste em me levar pra casa, mesmo eu falando que não é necessário e que eu pego um ônibus ou taxi. No caminho fica um silêncio não tão desconfortável, mas eu prefiro ficar quieto para não forçar meu estômago e repousar enquanto o vento entra pela janela e bate no meu rosto, aliviando meu mal estar.

O carro para em frente ao prédio e eu me despeço de Ricardo, pedindo novamente desculpas pelo ocorrido e prometendo cobrir as horas que eu não pude fazer hoje. Ele, por sua vez diz que não precisa, que é para eu repousar e que se amanhã estivesse melhor, voltasse a trabalhar. Chego em casa com muita indisposição. Vou direto para o banheiro lavar as mãos e o rosto e em seguida tomo um banho para tirar o cheiro de hospital que está me deixando agoniado. Dessa vez sigo a orientação de Fábio e faço tudo direitinho ao migrar da cadeira para o banco. Depois vou até a cozinha e tomo um copo de água. Sinto meu estômago completamente vazio, mas não quero comer nada agora. Como estou muito desanimado, decido ir para a cama e torcer para que isso passe logo. Queria muito que Felipe estivesse aqui comigo, mas não vou incomoda-lo com isso. Daqui a pouco já devo estar melhor. Quando estou chegando na porta do quarto o interfone toca. Quem será a essas horas? Não estou esperando ninguém agora de manhã. Atendo e o porteiro me fala que há uma mulher lá embaixo querendo falar comigo.

- qual o nome dela?

- Amélia.

- Amélia? – tento procurar em minha memória alguém com esse nome que eu conheço, mas ninguém vem à mente.

- tudo bem, pode deixar subir.

Seja lá o que for, deve ser importante. Espero a mulher estranha chegar até a mim e assim que as portas do elevador privativo se abrem, vejo uma senhora de uns 40 e poucos anos, muito bem arrumada e elegante, com uma calça e um blaser cinza escuro e uma camisa de seda rosa pálido, cabelos loiros presos em um coque e com um rosto bastante familiar. Muito familiar mesmo.

- Eduardo Cardoso?

- isso. A senhora é?

- por favor, não precisa de formalidades. Me chame apenas de Amélia.

- tudo bem, Amélia. – estendo-lhe a mão para cumprimentar. Guio ela até o sofá da sala. – em que eu posso ajudar? –

- bem, é complicado, Eduardo. Eu imagino como você deve estar traumatizado por causa do seu acidente, mas eu preciso lhe pedir uma coisa. É meu dever de mãe fazer isso.

Nessa hora, meu corpo todo se amolece. Dever de mãe? Mas que droga, eu sabia que reconhecia esse rosto.

- você é a mãe do Caio?

- sim. – ela está acuada.

- o que você quer, dona Amélia?

- eu imagino como deve ser difícil pra você, Eduardo, eu imagino mesmo e sinto muito pelo que aconteceu, mas meu filho está sofrendo muito naquela prisão imunda, sendo maltratado e agora o julgamento está quase aí, não posso ver ele perder toda a vida dele lá dentro.

- ah é mesmo? – eu estou indignado, com tanta raiva que ela começa a transbordar pelos meus olhos. – e você quer que eu faça o que?

- que faça o possível para ele não ser condenado. Ele sempre teve problemas psicológicos, sempre foi problemático. Eu digo, o que está feito está feito, né? Ele ficar lá dentro não vai trazer seus movimentos de volta, e...

- chega! Eu não quero ouvir mais nenhuma palavra sua. Você já parou pra pensar no que você está me pedindo, em tudo o que você está falando? Se o Caio tem problemas psicológicos, deve ter puxado pela senhora. Eu vou até o fim dona Amélia. Seu filho precisa pagar pelo crime que ele fez. Ele deixou bem claro que ia me matar aquele dia. Bem, ele chegou bem perto, mas graças a Deus não conseguiu. – abro meus braços em sinal de vitória e comemoração, enquanto ela me observa impassível.

- Eduardo, meu filho não pode ficar lá dentro daquele lugar.

- ele fez as próprias escolhas, Amélia. Eu sinto muito por isso, mas você perdeu seu tempo vindo até aqui.

- Eduardo, eu...

- passar bem, dona Amélia. – indico a direção da saída para ela, que me olha por uns instantes e eu sustento seu olhar com o máximo de superioridade possível.

- obrigado mesmo assim. – ela se levanta e vai em direção ao elevador. Eu nem me dou ao trabalho de acompanha-la até lá. Eu estou enojado. Essa conversa foi tão tóxica quanto o lanche que eu fiz hoje mais cedo, me deixando muito mal. É realmente multa cara de pau querer que eu inocente o culpado por tudo o que me aconteceu nos últimos tempos. A porta do elevador se fecha e eu me desarmo ao ver Amélia desaparecer. Suspiro fundo e por um instante fico sem saber nem o que pensar. Sei que terei que enfrentar ela e Caio muito em breve, mas não estava preparado com esse encontro repentino com meu passado.

Comentários

Há 6 comentários.

Por Dougglas em 2015-12-26 12:09:26
Não sou muito fã do Maroon 5, conheço so algumas músicas, mas adoraria ir num show deles. A cena do jantar foi tão linda, é bom saber que o Edu tem amigos verdadeiros com ele. E ele é o Lipe são mto eróticos. Fico sem ar aqui com essas cenas kkkkkkkkkkkkkk. Edu tem que tomar cuidado com essas comidas de rua, sempre é perigoso. E essa Amélia? Que cara de Pau. Se ele tinha problemas, que se tratasse. O que ele fez precisa ser compensado e espero que o Edu não amoleça no julgamento.
Por diegocampos em 2015-10-24 12:58:38
O Felipe e o Eduardo são muito fofos, amei a parte do maroon 5 muito massa, essa dona Amélia tem muita cara de pau para vir pedir isso ao edu estou ansioso para o próximo
Por luan silva em 2015-10-23 00:46:15
Edu e fê <3 sao muito fofos... Gente muita cara d pau da mae daquele garoto, pedir para o edu o inocentar... Me poupe... Ansioso pelo proximo
Por em 2015-10-22 02:28:01
Estava todos os dias entrando para olhar se já havia postado kkk. Amo entrar no mundo do Edu, amo essa história, não pare de eecrever sobre eles nunca, beijo! Aguardo o próximo capítulo!!
Por Niss em 2015-10-22 01:49:38
Ah mas não tô dizendo, essa vagabundinha vai á casa da vítima pedir piedade pro fudido do filho dela? Que isso?? Eu hein, tomara que ele se foda mais e mais!! Adoro o Maroon 5, Levine lindo *-* -Esses dois são safadinhos hein hahaha, adorei a cena do jantar!! A Marina linda!! Tais, Barbara, que bom que eles são todos amigos... Felipe como sempre fofo... Imagino a cena deles acordando!! Adorei Luã. Espero pelo proximo. Kisses, Niss.
Por Disturbia em 2015-10-22 01:01:21
Gente, amei esse capítulo, ansioso pelos próximos, abraços e beijos de luz;)