13. Futuro (último capítulo)

Conto de Luã como (Seguir)

Parte da série O garoto da mesa 09

Fala galera! O momento temido chegou. A primeira temporada terminou ): fico feliz e muito orgulhoso desse projeto, e eu não canso de falar o quanto os comentários de vocês me fazem feliz. Cada um que acompanha o meu romance aqui no site é importante pra mim. Agora fiquem ligados que nos próximos dias eu já vou começar a soltar informações da próxima temporada pra vocês. Algum palpite de como vai ser? Alguma sugestão? Fala ai nos comentários! Boa leitura (:

Estamos em um silêncio desconfortável. Preciso fazer alguma coisa.

- posso entrar?

- claro.

Entrar nesse apartamento soa tão diferente agora. O clima está diferente, a situação é outra. Nesse momento nem as lembranças boas conseguem acalmar minha tensão de estar frente a frente com ela.

- posso te ajudar em alguma coisa?

Ela faz com que parecêssemos totalmente estranhos.

- precisamos conversar.

- sobre o que?

- sobre tudo, Paula. Felipe sente sua falta.

- eu sei.

- não, não sabe. Eu nunca havia visto ele chorar, até ele receber sua ligação esses dias. Por que você fugiu?

- eu não fugi.

- então por que saiu e não voltou?

Ela me observa, desconfortável e com vestígio de raiva, ou talvez ressentimento.

- você não entenderia. Eduardo, não é nada com você. Nada pessoal, de verdade. A gente não precisa ter essa conversa.

- Paula, para! Para de evitar isso. Eu sei que você deve ter seus motivos pra não aprovar a orientação sexual do Felipe, mas ele é seu filho. Ele precisa de você lá.

- eu sei. Eu queria muito estar lá, mas César e eu brigamos. Não sei se seria conveniente voltar.

- é claro que é. Eles são sua família. Estão te esperando.

Vejo que ela está quase chorando, e não sei direito o que fazer. Me aproximo dela no sofá e pego em sua mão, tentando ser amistoso.

- olha, eu entendo sua situação. Se você quiser eu tento não ir na sua casa, tento não aparecer na sua frente se isso for o melhor, mas eu amo seu filho. E eu sei que pelos seus princípios isso é errado, mas eu gostaria que entendesse o meu lado.

- Eduardo, eu não tenho absolutamente nada contra você. Eu sei que você é um garoto bom. E eu queria tanto, mas tanto arrancar esse sentimento de mim, mas não é fácil.

E então, ela começa a chorar. Eu não sei fazer mais nada a não ser consolá-la como eu estava fazendo antes, segurando sua mão. Ela vai se acalmando aos poucos, e retorna a falar.

- eu sei que é egoísmo da minha parte, mas eu havia planejado uma vida pro Felipe. E saber que ele vai se tornar algo exatamente o oposto, me machuca.

- sim, isso é muito egoísta. Ele precisa viver a vida que ele achar melhor, Paula. Você criou um garoto incrível. Ele sabe o que faz. E pode ter certeza que ele vai te dar muito orgulho, escolhendo o que ele escolher.

- eu tenho problemas no passado ligados ao meu pai...

Decido não contar pra ela que Lívia havia me falado sobre isso, e escuto ela me falar sobre tudo. Sinto que ela precisa desabafar sobre isso, colocar pra fora essa mágoa.

- eu imagino o quanto isso deve ter te traumatizado, e eu sinto muito, de verdade. Mas você precisa deixar esse rancor pra trás. Esses sentimentos ruins nunca trazem nada de bom pra ninguém. Isso vai causando um nó na garganta, e vai te deixando mais angustiada. Você vê, até da sua família você se afastou. Tenta fazer um esforço, e se livrar dessa magoa. Ou pelo menos, dê uma chance a Felipe. Ele precisa de você lá, e eu sei que ele se preocupa muito com sua opinião. Mostra pra ele que você o ama acima de qualquer coisa, e lhe dê apoio. Isso vai significar muito pra ele.

Paula fica em silêncio, mergulhada em pensamentos por alguns instantes.

- você me perdoa?

Ela me pega um pouco de surpresa. Seu olhar é sincero.

- claro que perdôo.

- eu tive tempo de sobra pra pensar aqui, sozinha. E sinto tanto pelo mal que eu te causei. Seu pai estava transtornado quando eu sai de lá.

- tá tudo bem, eu falo sério. Passado é passado.

Ela me estende os braços, me pedindo um abraço, e eu lhe retribuo. Sinto que um peso enorme foi tirado de nós dois.

- só vou precisar de um tempo pra me acostumar, mas eu vou me esforçar.

- isso é ótimo.

Me desvencilho dela e lhe olho por algum tempo, e vejo um vestígio de um sorriso em seu rosto.

- amigos? – lhe pergunto com expectativa.

- amigos.

Estou no portão da casa de Felipe, e toco o interfone.

- quem é?

- sou eu, Eduardo. Vem aqui?

- claro, pera ai.

Depois de mais ou menos um minuto, ele abre o portão, e leva um susto ao ver sua mãe ao meu lado. Imediatamente começa a chorar, e Paula lhe abraça emocionada.

- mãe? Quanto tempo! Como eu senti sua falta.

- eu também meu filho, eu também.

Me sinto um pouco emotivo também, e sinto que devo ir pra casa. Esse é um momento íntimo da família. Vou embora com um sorriso bobo, e com a sensação de dever cumprido. É bom ver a família de Felipe reunida novamente.

É natal, e estou em casa com minha mãe, meu pai e minha tia. O chester está no forno, e estamos todos na sala, revelando o amigo secreto. Chega minha vez, e eu me levanto, pegando meu presente que está no sofá.

- bem, meu amigo secreto é uma mulher.

Meu pai protesta em seguida, alegando já estar fora dessa rodada. Todos riem.

- ela foi uma pessoa muito importante pra mim esse ano, ainda mais do que nos anos anteriores. Ela me apoiou e me acolheu, e eu não sou bom em descrever pessoas sem dar pistas óbvias. Minha amiga secreta é você tia.

Ela se levanta e vem me abraçar. Eu lhe dou seu presente, e ela o abre com cuidado.

- espero que goste.

Ao desembrulhar, ela fica feliz com o que vê. Um jogo de cama floral, com bordados. Eu não sabia muito bem o que dar pra ela, então achei que isso seria útil.

- amei Edu! Obrigado.

Terminamos a brincadeira e vemos que passa da meia noite. Minha mãe retira o chester do forno e minha tia arruma a mesa. Eu pego meu celular e mando uma mensagem para Felipe.

“Feliz natal pra todos. Estou morrendo de saudades. A gente se vê amanhã? Te amo.”

Sem demora, recebo a resposta.

“Feliz natal pra vocês também, meu amor. Eu também estou com muita saudade. Todos aqui mandam beijos e abraços pra vocês. Amanhã eu quero você só pra mim. Te amo.”

Suspiro ao ver a última frase. Acho que nunca vou deixar isso se tornar banal. Uma frase tão curta mas tão poderosa. Isso me aquece.

Passo a semana ansioso pelo resultado da prova. Atualizo meu e-mail de minuto em minuto, e nada. Será que não havia passado? Na quarta feira, Felipe me liga eufórico dizendo que havia passado no vestibular pra publicidade na PUC. Eu estava tão perdido em minhas preocupações que havia esquecido que ele havia feito o vestibular no final de semana passado. Saímos para comemorar, mas eu não consigo parar de pensar na UFCSPA. Será que eu vou ter que adiar meus planos para o ano que vem?

Estou no restaurante, preparando o jantar. Esse precisa ser o melhor que eu já fiz na vida. Meu avental protege a roupa que eu já havia escolhido no dia anterior. Estou vestindo uma camisa social branca, com uma calça jeans e sapato. Já está anoitecendo, e o jantar ainda não está pronto. Felipe está pra chegar daqui a uma hora. Preciso me apressar. O barulho dos fogos de artifício me assustam um pouco, e isso está assim o dia todo. As pessoas estão animadas com a virada do ano, e comemoram desde a tarde. Piece By Piece do Taylor Henderson está tocando no rádio. Não pensei que fazer comida japonesa seria tão difícil. Mas está tudo dando certo. Quando estou quase terminando, ouço alguém bater na porta. Vou até o salão e vejo Felipe do lado de fora, absurdamente lindo com essa camisa branca e bermuda da mesma cor. Está carregando na mão uma taça de champanhe. Destranco a porta, e ele entra, me recebendo com um beijo caloroso.

- oi.

- oi. Como vai as coisas ai?

- to quase terminando.

Volto à cozinha e alguns minutos depois, tudo está pronto. O salão está todo decorado com velas aromáticas, espalhadas pela mesa, e a música ambiente deixa tudo ainda mais romântico. Trago as travessas com sushis, nigiris e uramakis, e depois volto para pegar as taças e a última travessa com temakis. Felipe olha tudo com surpresa.

- isso que eu chamo de jantar romântico. Faz o meu ter parecido um jantar amador.

Eu sorrio e reviro os olhos, pois eu amei seu jantar romântico no meu aniversário. Mas fico feliz que ele tenha gostado do meu, estou aqui desde cedo preparando tudo. Estamos jantando, e confesso ter uma certa dificuldade de usar os hashis, e quase penso em pegar um garfo. Felipe ri da situação, e me ensina sua técnica, que facilita muito minha vida.

- você já recebeu o e-mail?

- não, ainda não.

Minha expressão muda, e eu fico aflito.

- você parece nervoso.

- eu atualizo meu e-mail a cada segundo, e nada. Tenho medo de não ter conseguido.

Abaixo minha cabeça, tentando não pensar nessa possibilidade. Eu me esforcei tanto, isso não seria justo.

Ele pega em meu queixo, levantando minha cabeça novamente.

- não fica assim, eles vão mandar. Aproveita o tempo que você ainda tem na cidade, porque depois você vai virar um garoto de cidade grande. Sem cachoeira, gramado e ar puro a sua disposição o tempo todo.

Eu sorrio e ele me beija. Sei que ele tem razão. Preciso aproveitar mais, principalmente com meus pais. Mas eu estou tão ansioso para saber como me fui, que acabo não pensando direito.

Passamos o resto da noite conversando sobre nosso futuro. Quando nos mudaríamos, onde ficaríamos, onde poderíamos procurar emprego primeiro. Ele me fala que vai tentar alguma agência, pra praticar e já estar dentro do meio que vai se formar, pra pegar experiência. Eu ainda não tenho ideia de onde vou tentar, mas assim que chegar lá eu vou procurar. Felipe também insiste em morarmos no apartamento de sua família, mas eu não sei se é uma boa ideia. Ele fala que seu pai insistiu, e que se preocupa conosco, e eu prometo considerar. Não quero ficar às custas de ninguém. Se preciso eu pago aluguel. Mas eu sei que poupar com moradia seria ótimo. Decidimos parar com assuntos pesados e irmos até o terraço. Faltam menos de 15 minutos pra meia noite, e os fogos já estão a todo o vapor. O céu está estrelado, nessa noite quente de verão. Quando chega meia noite, o show de fogos fica ainda mais incrível, tampando totalmente o céu da cidade nas mais diversas cores e formatos. Eu olho para Felipe, e seu rosto está iluminado pela luz da lua, e em flashes dos fogos de artifício.

- que esse seja o primeiro de muitos anos que a gente vai passar juntos.

- com certeza.

- eu te amo.

- eu te amo.

E então, lhe dou um beijo. Um dos mais intensos e emotivos de todos, eu acho. Estar com ele no primeiro segundo do novo ano é mágico pra mim. Acredito que irá nos dar boa sorte. Estamos aqui, e eu não consigo pensar em mais nada. Quero apenas aproveitar esse momento.

Estou sentado no sofá da sala de Felipe, e ele está na cozinha preparando sanduíches enquanto o filme não começa. Havíamos acabado de sair da piscina, e estamos famintos. Seus pais e Pedro saíram, e estamos sozinhos em casa. Estou com o notebook ligado, logado em meu e-mail, como sempre. Acho que devo desistir. Eu tento no próximo ano. Estou me levantando para ajudar Felipe quando escuto o sinal de nova mensagem. Veio do computador. Corro e pego-o em meu colo, abrindo o novo e-mail.

De: administração UFCSPA

Para: Eduardo Cardoso

Assunto: bem vindo a nossa universidade.

Caro(a) Eduardo, é com imensa satisfação que informamos que você foi aprovado no processo seletivo da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Entre em contato conosco o mais breve possível para a realização de sua matrícula.

Atenciosamente, administração UFCSPA.

Ai meu Deus. Eu não posso acreditar. Isso só pode ser sonho, eu devo ter pensado tanto nisso que estou sonhando. Ai meu Deus de novo.

- Felipe!

- oi Edu.

- Felipe corre aqui!

Ele larga tudo e vem correndo ver o que houve, e eu já estou chorando. Ele pega o notebook e lê o e-mail, e então me olha incrédulo, me pegando no colo e me girando no ar.

- eu te disse! Eu te disse que ia dar tudo certo!

Estamos os dois eufóricos no meio da sala, e eu ainda não acredito no que eu acabei de ler. Estou um passo mais perto do meu sonho. Porto Alegre, ai vou eu!

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